---------o--------
VIAGEM PELA AMÉRICA DO
SUL EM 1967
15ª PARTE
VALPARAÍSO E VIÑA DEL MAR
por Francisco Souto Neto
Esta é uma
transcrição do meu diário da viagem que fiz a vários países da América do Sul
em 1967, iniciada na semana em que completei 24 anos de idade. Passados 55
anos, é interessante observar os detalhes de como eram feitas as viagens
naquele tempo e as impressões que os lugares causaram a este então jovem
viajante. A transcrição do meu diário de viagem vai entre aspas, e quando eu
achar necessário intervir no texto, farei isto entre colchetes.
SANTIAGO
No dia 29 de setembro, muito cansado,
fui cedo para o Hotel Cervantes, como de hábito tomei o meu segundo banho do
dia e dormi pesadamente.
No dia seguinte, dia 30, esperei no hotel por Don Castro e sua esposa.
Pensei que ele não se lembraria do compromisso, porém às 8 da manhã
pontualmente, ele estacionou o carro na porta do hotel acompanhado de sua
esposa. Era um Volvo último tipo, bem confortável, assim fomos os três, com
espaço de sobra, no banco da frente, rumo a Valparaiso.
VALPARAÍSO e VIÑA
Don Castro, aparentemente, teria por volta de uns 40 anos, e a esposa é
mais jovem, ambos muito simpáticos. Após duas horas de viagem chegamos a
Valparaiso, o principal porto do Pacífico. Achei a cidade com jeito de Salvador
da Bahia. Fomos ao cais para tirar fotografias. Rumamos para Viña del Mar. É
que, na verdade, a casa de praia de Don Castro localiza-se em Viña, o balneário
de alto luxo de Valparaíso, com prédios modernos, avenidas arborizadas e
residências muito bonitas. Até parece que estamos em Miami.
Primeiro fomos à residência do casal, grande, vários quartos, tudo sem
luxo, como convém a uma casa para fim de semana, mas bem confortável. Saímos em
seguida e fomos ao Mercado de Peixes. Enquanto a esposa fazia as compras, Don
Castro acompanhou a “exploração” que fiz, curioso, enquanto eu descobria
balcões com as mais variadas criaturas marinhas. Ostras, mariscos e outros
seres muito feios e impressionantes, são vendidos vivos. Centollas e percebes
são verdadeiros monstros. Tudo se move de um jeito meio macabro. Uns põem a
cabeça para fora das cascas. Não vi o que a senhora de Don Castro comprou.
Voltamos à casa. E enquanto ela começou a preparar o almoço, demos um giro de
carro por Viña, muito moderna. Fomos pela avenida beira-mar, tendo de um lado
casas cinematográficas e do outro os coloridos jardins que dão acesso à praia.
Vimos o relógio de flores e retornamos.
[Devo acrescentar neste ano de 2022, 55 anos após a visita a Viña del
Mar, que eu, muito jovem e inexperiente, talvez tivesse uma mentalidade
imatura, quiçá ainda muito adolescente, sem o que seria de se esperar de um
adulto. Deveria eu ter percebido que o almoço seria de frutos do mar. Quem sabe
se pensei que teríamos pratos habituais no Brasil como, por exemplo, camarões? A realidade é que eu
nunca havia provado aquilo que estava por me ser oferecido.]
Um choque: em meu prato, mariscos e outros seres mais feios. O marido
elogiava os pratos da esposa e ela falava dos mariscos com amor e gula. Como
não ofendê-los? Eu teria que provar! Lesmas e algo que não sabia identificar.
Uma garfada e... senti-me mastigando borracha, enquanto os anfitriões
explicavam que as ostras agonizavam quando se espremia limão sobre elas. Em
suma, comi pouquíssimo desses pratos e servi-lhe dos vegetais e legumes que me
eram habituais. De certo modo, procurei desculpar-me por não “conhecer” aqueles
pratos. Um fiasco!
Depois do almoço ainda fizemos um passeio pela cidade, e às 14:30 horas eu teria que embarcar de trem para retornar a Santiago. Eu tinha dito a Don Castro, ainda em Santiago, que eu poderia passar somente algumas horas em Valparaíso e Viña, porque na manhã seguinte eu estava com uma excursão comprada para ir às neves de Farellones.
Na estação ferroviária ainda tiramos algumas fotos e, muito grato por
tudo, embarquei para Santiago.
A composição do trem era com uns dez ou quinze vagões. Viajei apreciando
as paisagens, muito bonitas. Além disso, o trem é o meu meio predileto de
viajar.
Cheguei a Santiago às 16:30 horas. ‘Voei’ ao hotel e saí quase correndo
para alcançar ainda aberto o Museu de História Natural. Tive que vê-lo rapidamente,
pois logo chegou a hora de fechar.
Jantei no restaurante ao lado do meu hotel, pensando que minha lembrança
de Santiago e seu litoral está vinculada às cores azul e verde, e às flores,
que existem por aqui, de todos os tamanhos e cores. Os campos e as montanhas
que são apenas os contrafortes da Cordilheira dos Andes, estão cobertos de
flores silvestres.
Percebi que fiquei sem estoque de filmes para a minha máquina
fotográfica. Saí à noite à procura de um lugar para comprar mais alguns filmes,
em vão. Fui me deitar cansado e preocupado, pois na manhã teria que viajar para
ver as neves de Farellones. Imaginei que pela manhã acharia algum lugar aberto,
ainda mais no lugar turístico donde partem os ônibus de excursões...
-o-
ASPECTOS DE VIÑA DEL MAR EM 2022,
55 ANOS APÓS A VIAGEM ACIMA DESCRITA.
-o-
O AUTOR EM MARÇO DE 2022
-o-
Nenhum comentário:
Postar um comentário