domingo, 5 de fevereiro de 2023

REFLEXÕES SOBRE OS ENGANOS DO GOVERNO DE 2019 A 2022 E UM PENSAMENTO EM BELZEBU por Francisco Souto Neto.

 

 

 

 
Comendador Francisco Souto Neto

 

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REFLEXÕES SOBRE OS ENGANOS DO GOVERNO DE 2019 A 2022 E UM PENSAMENTO EM BELZEBU

 

por  Francisco Souto Neto

 

No dia 22 de agosto de 2022 eu assistia pelo Jornal Nacional a uma entrevista do candidado à presidência da República, Jair Bolsonaro, feita por William Bonner, quando este questionou sobre a relação do governo do candidato com o bloco parlamentar conhecido como Centrão. Bolsonaro, esquivo como sempre, disse algo que me pareceu a um só tempo surpreendente e escandaloso. O candidato, com ar grave, falou a seu entrevistador: “Pô, você está me estimulando a ser ditador!”, e Bonner retrucou surpreso: “Eu, candidato?”. Bolsonaro: “Você”. Esse curto diálogo que será encontrado ao fim deste artigo, na parte inferior deste texto, ocorreu a partir dos 40 segundos da gravação até  a 1 minuto e 6 segundos.

 
William Bonner entrevistando Jair Bolsonaro em 22.8.2022.

CONFESSO minha indignação naquele momento em que refleti: esse homem fala com a maior naturalidade em ser ditador, isto é, em dar um “golpe”, como se não soubesse que isso é ilegal, criminoso e imoral, fazendo parecer que “dar um golpe” para tornar-se ditador seria algo tão simples como ir à padaria para comprar pães. É aquilo que eu chamo de “escola Boçalnaro”: em 2018 um de seus filhos, muito imaturo e ignorante, já tinha dito que “basta um soldado e um cabo para fechar o Supremo Tribunal Federal”. Foi assim que a afronta no Brasil ao Estado de Direito tomou força durante os quatro anos do governo bolsonarista, como se o STF – que é um dos três pilares da democracia – e seus ministros não tivessem qualquer importância. 

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Um pouco adiante no vídeo anexo, mais exatamente aos 2 minutos e 37 segundos, Bonner começou a defender-se: “É, mas a questão que o senhor diz que o estou estimulando [ao golpe]”, porém foi interrompido por Bolsonaro: “Está estimulando, sim!”. Bonner mostra-se determinado e respondeu com vigor: “Por favor, candidato, longe de mim...”. Bolsonaro ainda interveio embora não se ouça com clareza [“Está sim!”], entretanto Bonner prosseguiu com segurança, ipsis litteris: “Eu não estimulei nada! A questão é a seguinte: em 2008 o senhor chegou a dizer, até com propriedade, que governos anteriores tinham feito alianças com o Centrão, mas o senhor disse criticamente que esses governos anteriores tinham feito nomeações com interesse político-partidário e que isso tinha tudo para dar errado; o senhor concluiu assim: ‘por isso eu não integro o Centrão’, mas recentemente, há [poucos] dias, com muita naturalidade o senhor disse assim: ‘Eu sempre fui do Centrão’ ”. Em suma: além de ter vivido a ameaçar o país com a possibilidade de vir a “dar um golpe”, Bolsonaro sempre primou por dizer algo e, horas depois com o maior cinismo, dizer que não disse. O ex-presidente é um exímio e vergonhoso praticante daquele velho conhecido, o mentiroso “diz que diz que” das comadres. Não há como expressar a minha satisfação pela queda desse homem inominável.

Bolsonaro.

Isso me faz recordar quando, em 2018, com Bolsonaro e Haddad disputando a presidência da República, às vésperas das eleições cheguei ao edifício onde resido, em cujo hall dois vizinhos estavam à espera do elevador que vinha descendo. Ao entrarmos os três no elevador, o mais novo (nem tão novo, por estar aparentemente próximo da minha idade) prosseguiu dizendo ao mais idoso: “...e por isso, neste momento, neste exato momento, o melhor é votarmos em Bolsonaro – e então voltando-se para mim, concluiu com uma pergunta – não é?”. Eu achava que Bolsonaro era muito reles sob todos os aspectos, o que já demonstrava quando ainda deputado, e então dei a seguinte resposta ao meu vizinho que me olhava nos olhos esperando aprovação. Disse-lhe eu: “Se o Demônio, o próprio Satanás em pessoa, emergisse dos infernos para vir competir com Bolsonaro, eu votaria no Demônio”. Os olhos do meu indagador me pareceram por um momento petrificar no vazio e ele não disse mais uma única palavra. O elevador parou num andar, onde desceu o mais idoso, depois parou no pavimento do outro, que desceu dando-me “até logo”, e eu subi sozinho até ao meu apartamento.

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Que pena que o professor Haddad não venceu naquelas eleições. Porém que sorte que agora quem concorreu com o armamentista, foi Lula, em quem deposito minhas esperanças por um governo sério, competente e honesto.

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Briguei com uma prima de São Paulo e retirei-a do meu rol de amigos do Facebook, pois ela me “perguntou afirmando” com aquele desdém e ridícula superioridade dos extremistas: “Você, um petista, um comunista?”. Ora, vá! Não tenho estômago para isso: como se todo posicionamento à esquerda redundasse em comunismo ou petismo! Eu não tenho predileção por nenhum partido político e sei dos horrores que o comunismo  infringiu ao povo russo e aos de outros países onde se instalou... e fracassou. Essa minha parenta é daqueles indivíduos que têm o ridículo medo de que Lula implante o comunismo no Brasil e retire as suas e as nossas propriedades. Seria para rir desse pensamento esdrúxulo se não fosse trágico. Se Lula desejasse isto (isto que é totalmente impossível), teria tentado nos 13 ou 14 anos em que o PT esteve no poder. Só pessoas muito ignorantes para acreditar numa possibilidade palerma como essa.

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Não pretendo comemorar nem tripudiar sobre perdedores quando a Lei se decidir por trancafiar o incompetente. Direi apenas: justiça foi feita. Além disso, felizmente eu não precisei votar no Capeta para derrubar o grande boçal, porque por sorte tivemos agora uma providencial opção infinitamente melhor do que Belzebu.

 

Capa da revista ISTOÉ de 25.1.2023.

Abaixo, a gravação da entrevista (total de apenas 3 minutos e alguns segundos):

 

https://www.youtube.com/watch?v=-RLKJMCoUt4

 

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