quarta-feira, 29 de junho de 2016

O SOL DA MEIA-NOITE NO CÍRCULO POLAR ÁRTICO por FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI

PORTAL IZA ZILLI

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Sol da meia-noite

Iza Zilli

Comendador Francisco Souto Neto

O Sol da Meia-Noite no Círculo Polar Ártico

Francisco Souto Neto
Viajávamos a bordo do Costa Allegra, um navio de porte médio, com um objetivo na Noruega: ver o fascinante fenômeno do Sol da Meia-Noite.

O navio atracou em Honningsvag, cidade conhecida como a mais setentrional do mundo. Eram 21 horas do dia 9 de junho de 1995. Embora estivéssemos no auge do verão do Hemisfério Norte, a temperatura beirava o zero grau.  O céu encontrava-se muito nublado e só raramente um raio de sol conseguia vencer a barreira de nuvens. Tememos que a viagem se tornasse um insucesso no que se referia a vermos o sol brilhando à meia-noite.


FOTO 1 – Honningsvag, na Noruega, a cidade mais ao norte do mundo.

Vários ônibus esperavam-nos no porto para transportar os passageiros rumo ao “fim do mundo”, que é como denominam o Cabo Norte, o ponto extremo setentrional da Europa, distante cerca de 25 quilômetros de Honningsvag.


FOTO 2 – Rubens Faria Gonçalves entre os trolls no porto de Honningsvag.

O panorama que se avistava da janela do ônibus era inacreditável, indescritível. Naquela região do mundo não nascem árvores, nem qualquer tipo de vegetação, exceto musgos. É uma completa desolação. O chão é negro em contraponto a enormes placas de neve esparramadas por todo o caminho. Era como uma cena de filme em preto-e-branco. Vez ou outra avistávamos uma rena e alguma tenda de lapões.


FOTO 3 – A bordo de um ônibus entre Honningsvag o Cabo Norte, vemos embarcações navegando entre as ilhas.

FOTO 4 – A viajando para o Cabo Norte, a paisagem cada vez mais desoladora composta de rocha negra e placas de neve, no auge do verão do Hemisfério Norte.

Aquela vasta região que abrange o norte de Noruega, Finlândia e Rússia é conhecida como Lapônia, a etnia mais antiga da Europa. Os lapões, ou “samis”, são nativos nômades, com costumes, cultura e língua próprias.


FOTO 5 – Um lapão e sua rena, em foto da internet. 

Chegamos ao Cabo Norte às 23,30 horas. Raios do sol apareciam rara e timidamente entre as nuvens. Existe lá um enorme complexo comercial encimado por um globo branco, onde funcionam muitas lojas, restaurantes e lanchonetes. Do lado de fora, caminha-se sob os fortes ventos polares, até a um globo terrestre de metal, vazado, que marca o fim do continente europeu.


FOTO 6 – O complexo comercial do Cabo Norte.

FOTO 7 – Meia-noite. Rubens Faria Gonçalves e Francisco Souto Neto, com o globo vazado ao fundo, que marca o local onde o continente europeu acaba.

FOTO 8 - Rubens Faria Gonçalves e Francisco Souto Neto à meia-noite no Cabo Norte, “onde o mundo acaba”.

FOTO 9 – À meia-noite, Francisco Souto Neto no globo vazado do Cabo Norte.


FOTO 10 - No horizonte, o Sol da Meia-Noite encoberto pelas nuvens. Francisco Souto Neto nos precipícios do Cabo Norte.

FOTO 11 – No horizonte, o Sol da Meia-Noite encoberto pelas nuvens. Rubens Faria Gonçalves nos precipícios do Cabo Norte.

FOTO 12 – Francisco Souto Neto no platô do Cabo Norte, observando as pedrinhas do chão que se estendem por quilômetros, que podem ser vistas quando não estão cobertas pela neve. Aqui não existem árvores nem plantas. A única forma vegetal que sobrevive no verão é o musgo.

O Cabo Norte é um platô nivelado pela erosão, mais de 300 metros acima do Oceano Glacial Ártico, dividindo o Mar da Noruega do Mar de Barents. Há uma escultura em bronze de mãe e filho em tamanho natural; o menino aponta a um grupo de esculturas também em bronze, com cerca de metro e meio de diâmetro, feitas com base em figuras modeladas por crianças de todos os continentes, cujo conjunto se denomina “Paz no Mundo”.


FOTO 13 – Estátua da mãe com o filho que aponta ao conjunto escultórico “Paz no Mundo”.


FOTO 14 – Francisco Souto Neto e o menino do Cabo Norte (North Cape) apontam em direções diferentes.


FOTO 15 – Rubens Faria Gonçalves com a mãe e o filho do Cabo Norte (North Cape.


FOTO 16 – Quando não há nuvens, eis como se vê o Sol da Meia-Noite no Cabo Norte, em foto da internet.


FOTO 17 – Sequência fotográfica da paisagem em 180°, com fotos tiradas de hora em hora durante doze horas. À esquerda, é a altura do Sol às 6 horas da tarde, ao centro à meia-noite e à direita às 6 da manhã, sempre acima do nível do horizonte. O Sol da Meia-Noite só acontece durante o verão polar. 

À meia-noite alguns passageiros que levaram garrafas de champanhe e taças do navio, fizeram brindes. Entretanto todos estávamos decepcionados, porque vimos apenas uns raios do sol, mas não o astro brilhando por causa do obstáculo das nuvens. Duas noites depois, porém, presenciaríamos triunfantes o espetacular Sol da Meia-Noite.

Retornamos ao navio, que partiu de Honnigsvag por volta de quase duas horas da madrugada, rumo à Islândia, num percurso que duraria mais dois dias. Por volta das três e meia o navio contornou o Cabo Norte. Avistamos o globo branco sobre o complexo comercial, e também o globo vazado que marca o fim do continente europeu.

O filme que fizemos da chegada no navio a Honningsvag, pode ser visto neste endereço do YouTube:


O filme da chegada ao Cabo Norte em busca do Sol da Meia-Noite e, depois, a partida rumo à Islândia, quando o navio contorna o Cabo Norte, pode ser visto neste endereço do YouTube:


 No dia seguinte após a visita ao Cabo Norte, enfrentamos uma tempestade violentíssima que durou doze horas e que quase levou o navio ao naufrágio. No segundo dia o mar ficou plácido como um espelho, e o céu mostrou-se sem nuvens. Tivemos um maravilhoso sol à meia-noite, com o astro-rei brilhando como ouro acima do horizonte. Do convés, apesar do frio, as senhoras idosas olhavam placidamente ao espetáculo, com as pedrarias e os brilhos dos seus vestidos longos ao vento, refletindo o dourado daquele estranho e magnífico céu que não anoitece. Todos perdiam-se na contemplação ao sol, como querendo esquecer os horrores da tempestade vividos há tão poucas horas...

O filme do fulgurante SOL DA MEIA-NOITE poderá ser visto neste endereço do YouTube:



Depois de muitos dias viajando dentro do Círculo Polar Ártico com o céu nublado, justamente na nossa última noite dentro do Círculo Polar as nuvens desapareceram, o céu mostrou-se azul e pudemos ver o Sol da Meia-Noite em seu esplendor. 

O meu artigo na revista INFORME MAGAZINE sobre a tempestade e o Sol da Meia-Noite poderá ser lido no seguinte link:



FOTO 18 – Navegando dentro do Círculo Polar Ártico, entre Honningsvag (Noruega) e  Akureyri (Islândia), no Oceano Glacial Ártico (Mar do Norte), Rubens Faria Gonçalves iluminado pelo Sol da Meia-Noite através da grande escotilha do navio Costa Allegra.


FOTO 19 – Navegando dentro do Círculo Polar Ártico, entre Honningsvag (Noruega) e  Akureyri (Islândia), no Oceano Glacial Ártico (Mar do Norte), Francisco Souto Neto no convés do navio Costa Allegra, com o Sol da Meia-Noite brilhando no horizonte.

FOTO 20 – Navegando dentro do Círculo Polar Ártico, entre Honningsvag (Noruega) e  Akureyri (Islândia), no Oceano Glacial Ártico (Mar do Norte), Francisco Souto Neto iluminado pelo Sol da Meia-Noite no convés do navio Costa Allegra.


FOTO 21 – Navegando dentro do Círculo Polar Ártico, entre Honningsvag (Noruega) e  Akureyri (Islândia), no Oceano Glacial Ártico (Mar do Norte), Francisco Souto Neto iluminado pelo Sol da Meia-Noite no convés do navio Costa Allegra.


FOTO 22 – Navegando dentro do Círculo Polar Ártico, entre Honningsvag (Noruega) e  Akureyri (Islândia), no Oceano Glacial Ártico (Mar do Norte), Rubens Faria Gonçalves no convés do navio Costa Allegra, com o Sol da Meia-Noite brilhando no horizonte.


FOTO 23 – Navegando dentro do Círculo Polar Ártico, entre Honningsvag (Noruega) e  Akureyri (Islândia), no Oceano Glacial Ártico (Mar do Norte), as sombras de Francisco Souto Neto e Rubens Faria Gonçalves que observam o Sol da Meia-Noite do convés do navio Costa Allegra.

Agora navegávamos placidamente rumo a um dos países mais estranhos do mundo: a Islândia, terra do gelo e do fogo, onde andaríamos pelas bordas das crateras de vulcões e entre gêiseres em erupção.


-o-

segunda-feira, 13 de junho de 2016

PREFEITURA DE CURITIBA PRETENDE IMPLANTAR CINCO LINHAS DE BONDE: MARAVILHAS ESTRANGEIRAS E BALELAS CURITIBANAS, por FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI.

PORTAL IZA ZILLI

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Moderno bonde (VLT - Veículo Leve sobre Trilhos) em implantação no mundo todo, até mesmo em Jerusalém, como se vê na foto acima. Curitiba continua na rabeira do transporte público. Foi exemplo ao mundo somente no distante século passado; depois disto, congelou.


Iza Zilli


Comendador Francisco Souto Neto

Prefeitura de Curitiba pretende implantar cinco linhas de bonde: as maravilhas estrangeiras e as balelas curitibanas
Francisco Souto Neto
Antes de discorrer sobre o assunto em epígrafe, devo fazer um longo retrospecto sobre o tema.

No ano 1991 recebi convite de minha amiga Iza Zilli para participar de uma antologia que ela pretendia lançar sob o título Cartas a Curitiba, reunindo opiniões das mais destacadas personalidades da vida social, política, empresarial e cultural da capital paranaense.

Lembrando o “bonde moderno” de Lerner

Imediatamente defini o tema que eu gostaria de desenvolver na minha “Carta a Curitiba”: a implantação do bonde proposta por Jaime Lerner – então prefeito em seu terceiro mandato – que era uma das notícias mais bombásticas dos jornais locais naqueles dias. Entusiasmado, coloquei mãos à obra e em menos de uma semana entreguei o meu texto para Iza Zilli. Naquele mesmo ano o livro foi publicado e lançado pela jornalista com enorme repercussão. Os 51 coautores da antologia foram os seguintes:

Francisco Souto Neto – Página 4
Eduardo Rocha Virmond – Página 7
René Ariel Dotti – Página 10
João Batista Brotto – Página 12
Jaime Lerner – Página 14
José Macedo Neto – Página 17
João José Werbitzki – Página 19
Nelson Faria de Barros – Página 22
Túlio Vargas – Página 24
Dálio Zippin Filho – Página 30
Rodolfo Doubeck Filho – Página 33
Raul Renhardt – Página 35
Inério Bruno Marchesini – Página 37
José Carlos Gomes de Carvalho – Página 40
Marco Antonio Monteiro da Silva – Página 43
Gláucio José de Mio Geara – Página 46
Abdo Dib Abage – Página 49
Álvaro Dias – Página 52
Ali Feres Messmar – Página 54
José Maria Correia – Página 56
Aníbal Khury – Página 59
Osmário Zilli – Página 61
João Cândido Ferreira da Cunha Pereira – Página 64
Rafael Greca de Macedo – Página 67
Jorge Carlos Sade – Página 70
José Ábila Filho – Página 73
Luiz Renato Pedroso – Página 75
Ary Queiroz – Página 77
Vinícius Coelho – Página 79
Werner Egon Schrappe – Página 82
Luiz Carlos Borges da Silveira – Página 84
Alceu Vezozzo Filho – Página 86
Dino Almeida – Página 89
Joel Malucelli – Página 91
Walmir Ayala (in memorian) – Página 93
Érico da Silva – Página 96
Fernando Carneiro – Página 98
Luiz Geraldo Mazza – Página 100
Paulo Hilário Bonametti – Página 102
João Régis Fassbender Teixeira – Página 105
Nilzan Pereira Almeida – Página 108
Eros N. Gradówski – Página 110
Lauro Lobo Alcântara – Página 114
Alcy Ramalho Filho – Página 116
Calixto Haquim – Página 118
José Luiz Almeida Tizzot – Página 121
Ivânio Guerra – Página 123
Abílio Abreu Neto – Página 126
Miguel Nasser Filho – Página 128
Deco Farracha – Página 130
Fernando Antonio Miranda – Página 132

Escrevi a respeito do transporte coletivo sobre trilhos chamado por Jaime Lerner de “bonde moderno”, cuja primeira linha seria implantada entre a estação rodoferroviária e o bairro de Santa Cândida. No trecho entre a referida estação e o Passeio Público, o bonde seria subterrâneo. Dali em diante trafegaria nas canaletas já existentes do ônibus expresso. Segundo o então prefeito, o propósito era de que o bonde funcionasse inicialmente como um pré-metrô, num modelo que já fora usado com sucesso nalgumas capitais do mundo, como Bruxelas. Enquanto novas linhas do bonde moderno fossem sendo inauguradas, as mais antigas iriam transformando-se numa rede de metrô. Até os talões do IPTU distribuídos pela Prefeitura de Curitiba traziam na sua capa o desenho mostrando a estação subterrânea do bonde localizada na “Estação Correio Velho”. Deste modo, toda a população curitibana tomou conhecimento do magnífico projeto, o mesmo que com alegria aplaudi no livro de Iza Zilli. Alguns acusaram Lerner de “puxar” a linha do metrô para servir a sua própria residência (Jaime Lerner morava na Rua Bom Jesus, ao lado da Igreja do Cabral, onde haveria uma das estações do bonde moderno), mas isto não empanava a alegria popular ante a expectativa da chegada do precursor do metrô curitibano.


FOTO 1 – Capa do livro Cartas a Curitiba, de Iza Zilli

Quem desejar ler o livro “Cartas a Curitiba”, encontrará o meu texto, que é o primeiro que desponta no livro, e os de alguns outros coautores, no seguinte link:


Na minha coluna Expressão & Arte de 6 de janeiro de 1992, do Jornal Indústria & Comércio (cujo diretor de redação era Aroldo Murá), comentei o lançamento do livro de Iza Zilli e também transcrevi o teor do meu texto, neste link:


FOTO 2 – Coluna Expressão & Arte, de Francisco Souto Neto, de 6 de janeiro de 1992.

Alguém viu o transporte coletivo sobre trilhos anunciado por Jaime Lerner? Nem eu! Era pura balela eleitoreira. Ficamos todos a ver navios.

O metrô de Cássio Taniguchi

O prefeito Cássio Taniguchi fez algo muito parecido: ao final do primeiro mandato, também ilustrou a capa do IPTU com o seu projeto para a construção do metrô. Esse novo projeto-fantasma, estranhamente, não atravessaria o centro da capital: as composições férreas vindas dos bairros ao sul, apenas tocariam a região central à altura do lugar onde hoje está instalado o Shopping Estação. A desculpa pública ao final do mandato, foi a de que a prefeitura não obteve os recursos necessários para o início das obras. Balela com fins eleitoreiros. Esse episódio pode ser conferido no seguinte link:


FOTO 3 – Crônica de Francisco Souto Neto para o Jornal Centro Cívico em setembro de 2008.

            O metrô de Beto Richa e a pendenga com Jaime Lerner

Em 2008, quando Beto Richa, prefeito candidato à reeleição – e depois vitorioso – anunciou que iniciaria a construção da primeira linha norte-sul do metrô, Lerner, com foto na primeira página da Gazeta do Povo, afirmou que se tratava de uma promessa eleitoreira (sic) do jovem Richa e que o metrô não seria construído. A revista VEJA de 15 de abril de 2009, na seção Autorretrato, entrevistou Lerner a respeito do projeto de Richa pela implantação do metrô, ocasião em que o velho ex-prefeito, mais uma vez contraditório, se manifestou visceralmente contrário às obras de um sistema sobre trilhos para Curitiba, coisa que ele, quando prefeito, desejava implantar. Agora diz Lerner que o transporte coletivo ideal é aquele feito na superfície, por ônibus em canaletas exclusivas, e que o metrô é um sistema caro e que não resolverá o problema do transporte coletivo da capital do Paraná. Por isso escrevi a crônica “Richa versus Lerner”, publicada em abril de 2009, comentando que Lerner se tornara contrário ao transporte sobre trilhos devido a rivalidades políticas e porque ele não queria ver a sua obra predileta – os “vermelhões” que trafegam em canaletas exclusivas – preterida por qualquer outro sistema mais moderno. Eis o link contendo referida crônica:


FOTO 4 – Crônica de Francisco Souto Neto para o Jornal Centro Cívico em abril de 2009.

Pouco tempo depois descobri, surpreso, que o respeitado site norte-americano “publictransit.us”, especializado em transporte público no planeta...


...encontrara na internet o artigo “Metrô curitibano: Richa versus Lerner” publicado por mim no Jornal Centro Cívico. Public Transit teve o trabalho de verter o meu texto para o Inglês sob o título “Columnist Francisco Souto Neto attributes Lerner’s opposition to political rivalries” e divulgou-o a seu público internacional, o que poderá ser lido ao pé da página da já referida crônica:


FOTO 5 – Símbolo do link norte-americano publictransit.com

Ainda Beto Richa: além do metrô, o bonde turístico

Além de anunciar o início da construção do metrô, o prefeito comunicou que, simultaneamente ao metrô, seria inaugurado um bonde turístico no centro de Curitiba, numa experiência que lembrava o bem sucedido bonde turístico da cidade de Santos, que eu, ainda crédulo, aplaudi nesta crônica de setembro de 2009:


FOTO 6 - O bonde turístico de Curitiba em 2009.

Repetindo o mote: alguém viu o metrô e o bonde turístico anunciado pelo prefeito Beto Richa? Nem eu! Era pura balela eleitoreira. Ficamos todos a ver navios.

Viajando pelo mundo e sofrendo choques culturais

O bonde, banido das ruas de Paris há 70 anos, acaba de voltar à Cidade Luz neste corrente 2016, numa versão elegantíssima. É moderno, amplo, silencioso e ecológico. Aparentemente Paris nem precisaria de bondes, porque o seu metrô abrange toda a Cidade Luz e área metropolitana. Não há uma única residência em Paris distante mais do que 500 metros de uma estação de metrô. Mesmo assim, o bonde voltou... e não apenas em Paris. Está voltando nas principais cidades do mundo, como Istanbul, e foi também recentemente implantado em capitais remotas como Túnis, na Tunísia. Por incrível que pareça, até no Rio de Janeiro um moderno bonde, o VLT, voltou como uma proposta de melhoria ao transporte coletivo da Cidade Maravilhosa.


FOTO 7 – O novo bonde de Paris em 2016.

FOTO 8 – Francisco Souto Neto em Strasbourg (Estrasburgo), parodiando “O Grito” de Munch, faz de conta que sofre um “choque cultural” ao ver o moderníssimo transporte público francês.

FOTO 9 – Novo bonde em Lyon, interior da França.

FOTO 10 – O novo bonde de Istanbul (Turquia).

FOTO 11 – O moderníssimo bonde da Rússia.

FOTO 12 – Bonde até mesmo em Túnis, na Tunísia, um país ao norte da África.


FOTO 13 - Através do blog de João Carlos Cascaes, descobri que Jerusalém, onde estive há alguns anos, tem agora o seu moderno bonde (VLT) com vidros à prova de bala. Incrível e admirável. Neste link: http://otransportecoletivourbano.blogspot.com.br/


FOTO 14 – O Rio de Janeiro despertou para o retorno aos trilhos e inaugurou em 2016 o seu bonde. Curitiba, enquanto isso, dorme eternamente no berço esplêndido das canaletas dos ônibus expressos, tão avançados na década de 70 do século passado, quanto ultrapassados e exangues neste momento em que a capital do Paraná atravessa a segunda década do século XXI.

O metrô de Gustavo Freut

Em sua campanha para a prefeitura de Curitiba, Gustavo Fruet comprometeu-se a iniciar a construção do metrô. Acreditei e votei no candidato. Na edição de 2/10/2011 da Gazeta do Povo está o registro bem detalhado que conta a vinda de Dilma Rousseff a Curitiba, confirmando a liberação de verba dos projetos do PAC “Mobilidade Grandes Cidades” no valor de R$1 bilhão destinados ao início das obras do metrô curitibano , cuja primeira linha se estenderia da Cidade Industrial ao centro da capital.

Passou o tempo. Nada foi feito. O dinheiro parado desvalorizou e ficou insuficiente para o projeto? Era o que todos se perguntavam.

Em 2013 Dilma Rousseff voltou a Curitiba para incrementar o metrô. Ao retornar pela terceira vez em 2014 com seu reiterado apoio ao metrô curitibano, a notícia repercutiu em todo o país. A Folha de São Paulo, por exemplo, em sua edição de 09/05/2014, anunciou sob o título “Em Curitiba, Dilma anuncia verba para a mesma obra pela terceira vez”: “A presidente Dilma Rousseff visita Curitiba nesta sexta-feira (9) para anunciar, pela terceira vez consecutiva, verbas para o metrô da cidade, que ainda não saiu do papel. A petista já esteve na capital paranaense em outubro de 2011 e em outubro do ano passado [2013] pelo mesmo motivo. De lá para cá, a gestão [de Luciano Ducci que dava continuidade ao mandato de Beto Richa, afastado para concorrer ao governo do Estado] passou às mãos de um aliado, o pedetista Gustavo Fruet, o projeto foi alterado e o custo subiu. Hoje, a presidente participa do lançamento do edital de licitação da obra. Das outras vezes, esteve na cidade para anunciar que o projeto seria contemplado no PAC, primeiro com R$ 1 bilhão, depois, com R$ 1,8 bilhão. (...) O metrô é visto como a principal forma de ampliar a capacidade de locomoção de passageiros. No total, serão investidos R$ 4,5 bilhões no projeto. (...) A diferença é que, agora, a verba fica disponível e a licitação dos projetos pode começar”.

Quem não souber, quem esqueceu e quem queira comprovar, basta ler no arquivo da própria Folha de São Paulo:


Com todo esse dinheiro disponível para projetos específicos, em novembro de 2013 escrevi a crônica que intitulei “Finalmente será construído o metrô de Curitiba”, que publiquei no Jornal Centro Cívico de novembro de 2013, Ano 11, Edição 110:


FOTO 15 – Crônica de Francisco Souto Neto de novembro de 2013.

Estamos quase na metade do ano de 2016. Mais uma vez repetindo o mote: alguém presenciou o início das obras? Nem eu! O que assistimos pelos jornais são somente discussões, empecilhos, ajustes técnicos, falhas nos projetos, impugnações, e o metrô voltando à estaca zero. São 30 anos de incompetência. O metrô de Curitiba já deveria ser antigo, com muitas linhas abrangendo toda a capital. As grandes cidades do mundo, com situação geológica muito mais complicada do que a de Curitiba, resolvem rapidamente seus problemas e inauguram seus metrôs. 

De repente, surge uma luz no fim do túnel. Se for como parece, o prefeito Gustavo Fruet será o primeiro, após as inovações de Lerner há 42 anos, a merecer a nossa reverência, e isto certamente ocorrerá com os recursos financeiros trazidos pela presidenta agora afastada Dilma Rousseff. Entretanto, após tantas e sucessivas decepções, tornei-me desconfiado como São Tomé: “ver para crer”. As boas expectativas vão comentadas abaixo.

Agora são anunciadas cinco linhas de bonde para Curitiba

A Gazeta do Povo de 20/5/2016 publicou uma notícia de relevante importância: “Curitiba lança edital para implantar bonde elétrico em até cinco trajetos”, tal como se lê adiante:



FOTO 16 - A primeira linha seria entre o Centro Cívico e o Aeroporto Afonso Pena.

Já que o metrô não será construído, as anunciadas cinco linhas de bondes poderão suprir a necessidade de um transporte moderno e eficiente operando na cidade. Será, se realizada, uma obra revolucionária que colocará o transporte coletivo da nossa capital num nível bem mais elevado de excelência. Sem dúvida, o sistema dos ônibus expressos correndo em canaletas exclusivas foi uma brilhante inovação. Mas desde então passaram-se mais de 40 anos, e algumas linhas dos “vermelhões” estão exauridas.   Se o atual prefeito Gustavo Fruet incrementar esse projeto dos grandes bondes, e se seu sucessor, seja quem for, der prosseguimento à obra, deixarão na História uma marca indelével de modernidade nesta capital que já foi notável exemplo de admiração no Brasil e no mundo. Mas se novamente nada acontecer, estarei aqui para juntar mais um capítulo de decepção a esta tão longa história de enganações e balelas sobre trilhos.  


FOTO 17 – Noutro dia, mas ainda em Strasbourg, Francisco Souto Neto (novamente parodiando “O Grito” de Munch) aparece sofrendo mais um violento “choque cultural”, impressionado pelo avançado sistema de transporte coletivo francês, que está anos-luz à frente do dorminhoco sistema curitibano.

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