REFLEXÕES SOBRE OS
ENGANOS DO GOVERNO DE 2019 A 2022 E UM PENSAMENTO EM BELZEBU
por Francisco Souto Neto
No dia 22 de agosto de 2022 eu assistia pelo Jornal
Nacional a uma entrevista do candidado à presidência da República, Jair
Bolsonaro, feita por William Bonner, quando este questionou sobre a relação do
governo do candidato com o bloco parlamentar conhecido como Centrão. Bolsonaro,
esquivo como sempre, disse algo que me pareceu a um só tempo surpreendente e
escandaloso. O candidato, com ar grave, falou a seu entrevistador: “Pô, você
está me estimulando a ser ditador!”, e Bonner retrucou surpreso: “Eu, candidato?”.
Bolsonaro: “Você”. Esse curto diálogo que será encontrado ao fim deste artigo,
na parte inferior deste texto, ocorreu a partir dos 40 segundos da gravação até a 1 minuto e 6 segundos.
CONFESSO minha indignação naquele momento em que
refleti: esse homem fala com a maior naturalidade em ser ditador, isto é, em
dar um “golpe”, como se não soubesse que isso é ilegal, criminoso e imoral,
fazendo parecer que “dar um golpe” para tornar-se ditador seria algo tão
simples como ir à padaria para comprar pães. É aquilo que eu chamo de “escola
Boçalnaro”: em 2018 um de seus filhos, muito imaturo e ignorante, já tinha dito
que “basta um soldado e um cabo para fechar o Supremo Tribunal Federal”. Foi
assim que a afronta no Brasil ao Estado de Direito tomou força durante os
quatro anos do governo bolsonarista, como se o STF – que é um dos três pilares
da democracia – e seus ministros não tivessem qualquer importância.
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Um pouco adiante no vídeo anexo, mais exatamente
aos 2 minutos e 37 segundos, Bonner começou a defender-se: “É, mas a questão
que o senhor diz que o estou estimulando [ao golpe]”, porém foi interrompido
por Bolsonaro: “Está estimulando, sim!”. Bonner mostra-se determinado e
respondeu com vigor: “Por favor, candidato, longe de mim...”. Bolsonaro ainda
interveio embora não se ouça com clareza [“Está sim!”], entretanto Bonner
prosseguiu com segurança, ipsis litteris: “Eu não estimulei nada! A questão é a
seguinte: em 2008 o senhor chegou a dizer, até com propriedade, que governos
anteriores tinham feito alianças com o Centrão, mas o senhor disse criticamente
que esses governos anteriores tinham feito nomeações com interesse
político-partidário e que isso tinha tudo para dar errado; o senhor concluiu
assim: ‘por isso eu não integro o Centrão’, mas recentemente, há [poucos] dias,
com muita naturalidade o senhor disse assim: ‘Eu sempre fui do Centrão’ ”. Em
suma: além de ter vivido a ameaçar o país com a possibilidade de vir a “dar um
golpe”, Bolsonaro sempre primou por dizer algo e, horas depois com o maior
cinismo, dizer que não disse. O ex-presidente é um exímio e vergonhoso praticante
daquele velho conhecido, o mentiroso “diz que diz que” das comadres.
Isso me faz recordar quando, em 2018, com Bolsonaro
e Haddad disputando a presidência da República, às vésperas das eleições
cheguei ao edifício onde resido, em cujo hall dois vizinhos estavam à espera do
elevador que vinha descendo. Ao entrarmos os três no elevador, o mais novo (nem
tão novo, por estar aparentemente próximo da minha idade) prosseguiu dizendo ao
mais idoso: “...e por isso, neste momento, neste exato momento, o melhor é
votarmos em Bolsonaro – e então voltando-se para mim, concluiu com uma pergunta
– não é?”. Eu achava que Bolsonaro era muito reles sob todos os aspectos, o que
já demonstrava quando ainda deputado, e então dei a seguinte resposta ao meu
vizinho que me olhava nos olhos esperando aprovação. Disse-lhe eu: “Se o
Demônio, o próprio Satanás em pessoa, emergisse dos infernos para vir competir
com Bolsonaro, eu votaria no Demônio”. Os olhos do meu indagador me
pareceram por um momento petrificar no vazio e ele não disse mais uma única
palavra. O elevador parou num andar, onde desceu o mais idoso, depois parou no
pavimento do outro, que desceu dando-me “até logo”, e eu subi sozinho até ao
meu apartamento.
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Que pena que o professor Haddad não venceu naquelas
eleições. Porém que sorte que agora quem concorreu com o armamentista, foi Lula, em
quem deposito minhas esperanças por um governo sério, competente e honesto.
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Briguei com uma prima de São Paulo e retirei-a do
meu rol de amigos do Facebook, pois ela me “perguntou afirmando” com aquele
desdém e ridícula superioridade dos extremistas: “Você, um petista, um
comunista?”. Ora, vá! Não tenho estômago para isso: como se todo posicionamento
à esquerda redundasse em comunismo ou petismo! Eu não tenho predileção por
nenhum partido político e sei dos horrores que o comunismo infringiu ao povo russo e aos de outros
países onde se instalou... e fracassou. Essa minha parenta é daqueles
indivíduos que têm o ridículo medo de que Lula implante o comunismo no Brasil e
retire as suas e as nossas propriedades. Seria para rir desse pensamento
esdrúxulo se não fosse trágico. Se Lula desejasse isto (isto que é totalmente
impossível), teria tentado nos 13 ou 14 anos em que o PT esteve no poder. Só
pessoas muito ignorantes para acreditar numa possibilidade palerma como essa.
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Não pretendo comemorar nem tripudiar sobre
perdedores quando a Lei se decidir por trancafiar o incompetente. Direi apenas:
justiça foi feita. Além disso, felizmente eu não precisei votar no Capeta para
derrubar o grande boçal, porque por sorte tivemos agora uma providencial opção
infinitamente melhor do que Belzebu.
Abaixo, a gravação da entrevista (total de apenas 3
minutos e alguns segundos):
https://www.youtube.com/watch?v=-RLKJMCoUt4
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