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LIÇÃO DE ÉTICA:
QUANDO HOMERO SILVA,
MEU TIO, PERDEU A PREFEITURA DE SÃO PAULO POR APENAS 50 VOTOS!
MAS E QUANDO BOLSONARO
PERDEU A PRESIDÊNCIA DO BRASIL?!
por Francisco Souto Neto
Homero Silva foi um político ético e
de grande peso moral. Antes de entrar para a política, era muito conhecido como
homem de rádio e televisão. Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, uma
corporação, isto é, um conglomerado de mídia que foi a maior da história da
imprensa no país, convidou Homero Silva, principal locutor da Rádio Tupi de São
Paulo, para ser o mestre de cerimônias da inauguração da televisão no Brasil na
data de 18 de setembro de 1950. Assim, Homero foi o primeiro rosto a aparecer
numa transmissão de televisão em toda América Latina.
Quando já muito famoso por ter criado e apresentado programas para a televisão como “Clube do Papai Noel”, “Tevê na Taba”, “Ponta de Lança”, “Boa Noite, Amigos”, e o famoso “Clube dos Artistas”, Homero Silva candidatou-se pela primeira vez a vereador na capital de São Paulo, e foi o candidato mais votado. Depois de quatro anos reelegeu-se com o mesmo destaque. Nas eleições seguintes candidatou-se a deputado estadual.
Segundo David José Lessa Mattos, no
livro O Espetáculo da Cultura Paulista, pela Editora Códex, à página182,
“Homero Silva alcançou grande notoriedade, principalmente após o surgimento da
televisão em 1950. Tornou-se duas vezes vereador, duas vezes deputado estadual,
numa delas tendo sido o deputado mais votado do Brasil, e quase foi eleito
prefeito da capital paulista em 1955, numa disputada e contravertida eleição que perdeu por uma diferença de apenas 50 votos”.
Essa diferença de apenas 50 votos na disputa pela prefeitura de São Paulo não deve ser folclore, nem lenda, pois o fato está registrado em algumas publicações que encontrei na internet.
Atualmente,
em 2022, passados mais de 60 anos, há na internet poucas referências à candidatura de Homero Silva à prefeitura de São Paulo. Por
exemplo, no link Museu da TV – Rádio & Cinema, lê-se: “E foi
candidato a prefeito, perdendo apenas por 50 votos, o que até suscitou muita
polêmica, mas Homero, homem sério, quis deixar de lado o fato e não criou
celeuma. Prosseguiu sua vida. Quando deixou a TV Tupi, Homero Silva foi ser presidente
da Fundação Padre Anchieta e, posteriormente, diretor artístico da Rádio
Cultura. Homero Silva, ainda desejoso de eternamente lutar, entrou para as
lides universitárias e foi professor de Direito Constitucional na F.M.U. e nas
Faculdades de Bragança Paulista. Isso o fez rejuvenescer, pois adorava estar
com os jovens, assim como tinha adorado trabalhar com crianças”.
Link https://www.museudatv.com.br/
,
“Homero Silva”.
Apenas a título de curiosidade, acho interessante observar que Homero Silva atuou em dois filmes em 1949, ano anterior à inauguração da televisão brasileira, para que o público do país pudesse ver os rostos daqueles que eram os grandes ídolos do rádio que estavam destinados a aparecer muitas vezes na televisão. Um desses filmes foi "Quase no Céu", em que Homero fez o papel de namorado e marido de Vida Alves. Teve a direção de Oduvaldo Viana e teria servido como experiência para o diretor e o elenco participarem da implantação da televisão no Brasil, em 1950.
No elenco do filme participaram também como atores, ao lado de Homero Silva: Dionísio de Azevedo, Lima Duarte, Hebe Camargo, Lolita Rodrigues, Vida Alves. Erlon Chaves, Lia de Aguiar, Heitor de Andrade, Carmen Silva, Oduvaldo Viana Filho... e outros nomes de grande importância na história do rádio, cinema e televisão.
Quando Homero Silva faleceu, jornais
e revistas noticiaram a perda do grande comunicador.
Um
grande salto para o fim do ano de 2022
Esse episódio de um candidato que
perdeu a prefeitura de São Paulo por apenas 50 votos, tem me trazido a várias
reflexões. Homero Silva agiu com um senso de ética exemplar. Recusou-se a pedir
recontagem de votos, telefonou a seu oponente, prefeito eleito de São Paulo,
para cumprimentá-lo... e seguiu adiante na vida.
Que diferença do presidente da
República em seus últimos dias de mandato, Bolsonaro, em 2022. Numa de suas
passagens por Curitiba, ele declarou que só Deus o tiraria da presidência. Várias
vezes ameaçou não aceitar o resultado das eleições caso não fosse eleito pelos
votos das urnas e preocupou o Brasil e mundo civilizado com contínuas ameaças
de golpe. É que ele, em seu habitual desvairio, acreditava cegamente que seria
reeleito.
Após o debate para o segundo turno
com seu oponente Lula, ao ser entrevistado pela repórter Renata Lo Prete e
perguntado se ele respeitaria o resultado da votação, fosse a ele favorável ou
não, ele respondeu “Quem for mais votado, leva”.
https://www.youtube.com/shorts/-hnWiVX7bUM
Acontece que, como de hábito, o que
esse presidente afirma num dia, ele mesmo desdiz no dia seguinte. O que estamos
presenciando desde a data em que escrevo este artigo, 22 de novembro de 2022, é
uma ridícula tentativa de Bolsonaro para invalidar as eleições que perdeu. Isso
tem provocado piadas que pipocam na internet, como se vê na montagem abaixo:
Bolsonaro, através do Partido Liberal, continua buscando meios, obviamente sem qualquer
fundamento, de invalidar as eleições para a presidência da República, em que o
candidato Luiz Inácio Lula da Silva foi o vencedor. O PL procedeu deste modo: entrou
com um pedido ao TSE de “verificação do resultado” do 2º turno das eleições.
Isto equivale ao que antigamente chamaríamos de “recontagem dos votos”. Em
outras palavras, segundo divulgado pela mídia, o PL pediu a invalidação dos
votos de mais ou menos 250.000 urnas que representam mais da
metade do total das eleições em todo o país.
Isto não passa de uma insana
tentativa de Bolsonaro de se manter no poder a qualquer custo, mesmo que represente uma descarada e descabida tentativa de golpe contra a democracia. A eleição de Lula foi absolutamente
legítima, mas Bolsonaro não se conforma com o seu próprio fracasso e quer
encontrar algum meio, ainda que escuso, de continuar agarrado de unhas e dentes
ao cargo que ocupa. Para mim, isso é um exemplo explícito de imaturidade, de desequilíbrio
emocional e delírios de poder. Que falta de dignidade!
É bom lembrar que entidades
fiscalizadoras do Brasil e também internacionais atestaram o perfeito funcionamento
das nossas urnas eletrônicas. O PL pediu a invalidação de determinadas urnas usadas apenas
no 2º turno, e não também no 1º turno, já que foram usadas as mesmas urnas em
ambas as ocasiões. É que no 1º turno foi eleita a maior bancada da Câmara dos Deputados,
e também eleitos 27 senadores e os governadores de 14 estados, mais o Distrito
Federal, ligados a Bolsonaro... e "mexer" no 1º turno, se fosse isso legal, anularia todos aqueles já eleitos e seria um "tiro no pé". Entretanto, essa pretensão de alterar o resultado das urnas é absolutamente ridículo. Segundo Renata Fernandes Vasconcellos,
da Rede Globo, “todos os modelos de urnas utilizadas na eleição deste ano foram
usadas por mais de dez etapas de testes de verificação, de inspeções; essas
análises foram realizadas interna e externamente, envolvendo especialistas das
mais diversas áreas e entidades. Após as eleições, essas entidades
fiscalizadoras nacionais e observadores internacionais já atestaram a
integridade e segurança das urnas e do sistema eleitoral brasileiro”. O presidente do TSE,
Alexandre de Moraes, deu um prazo de 24 horas para que o PL apresente os dados
completos de sua solicitação apesar de ser a mesma absurda.
No noite seguinte, como era de
esperar por ser justamente a decisão justa, o pedido do PL foi indeferido pelo
Ministro Alexandre de Moraes nos seguintes termos:
Concluindo, vivenciei dois momentos políticos bem diferentes um do outro na História do Brasil: em minha tenra juventude, uma eleição para prefeito
em São Paulo na década de 50 do século XX, e na minha idade avançada, em 2022,
uma eleição para a presidência da República. No primeiro caso, o exemplo de um
político ético e equilibrado; no segundo, o exemplo daquele que, para mim, foi
o pior presidente da História do Brasil.
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EPÍLOGO
As fotografias adiante, de páginas do meu álbum de 1980, são da última visita que fiz a meus tios enquanto Homero Silva vivia. Meu tio faleceria exatamente um ano depois disso. Fica aqui como registro de minha saudade desses queridos tios.
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