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AOS MEUS AMIGOS
CURIOSOS,
O POR QUÊ DO MEU VOTO EM LULA
por Francisco Souto Neto
Desde muito cedo sempre me considerei
apolítico. Eu dizia votar na pessoa e não no partido e ao mesmo tempo observava
a atitude de meus pais em seus posicionamentos políticos.
Em família
Um curioso exemplo de minha mãe,
ocorrido entre as décadas de 30 e 40 – antes do meu nascimento – quando minha
família residia na capital paulista, era contado e comentado por parentes e
amigos. Minha mãe era católica praticante e costumava ir à missa aos domingos,
com ou sem a companhia de meu pai. Numa dessas ocasiões, ela desacompanhada,
presenciou o padre subir ao púlpito para o sermão. Lá posicionado, o pároco passou
a falar apenas de política e do então presidente Getúlio Vargas. A certo
momento, o padre exclamou exaltado: “...e quem for favorável a Getúlio, que se
retire desta igreja”. Minha mãe não era favorável ao governo de Getúlio Vargas,
porém achou que aquilo não seria assunto para ser tratado ali de forma tão grosseira.
Sem dúvida, enxotar da igreja pessoas que politicamente pensavam diferente dele
se configurou num desaforo. O que ela
fez? Levantou-se e saiu calmamente da igreja. Atrás de si, vieram mais algumas
outras pessoas. Depois desse episódio, minha mãe deixou de ser católica
praticante. “Quando quero, eu rezo dentro da minha própria casa”, dizia ela.
Lembro-me de que meu pai Arary Souto,
falecido em 1963, era simpatizante da UDN, partido político que congregava grande
parte das oposições e que ao início do governo militar foi por este extinto. Os
políticos da antiga UDN redirecionaram-se para o MDB que foi criado em março de
1966 com os propósitos de fazer oposição à ditadura e a colaborar com a volta
da democracia.
Observando o primo Wilson Barbosa Martins
Iniciou-se o tempo do bipartidarismo:
o partido da direita, isto é, aquele apoiado pela ditadura, era a Arena; o de
esquerda, democrático, era o MDB. Um primo de minha mãe, um dos fundadores do
MDB, Wilson Barbosa Martins, de Mato Grosso (hoje do Sul), foi vereador,
deputado estadual, prefeito e depois deputado federal quando, em 1966, foi
cassado em seus direitos políticos por sua oposição à ditadura. Na mesma
ocasião foram cassados Juscelino Kubitschek, Fernando Henrique Cardoso, Carlos
Lacerda, Antônio Calado, Carlos Heitor Cony, Ferreira Goulart, Ênio Silva,
Mário Lago, Caio Prado Júnior, Sobral Pinto, Florestan Fernandes dentre muitos
outros políticos, intelectuais, escritores, jornalistas, músicos... cidadãos de
diferentes profissões, desafetos da ditadura.
Dez anos após sua cassação, Wilson
Martins readquiriu os direitos políticos. Ele então foi eleito presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil de Mato Grosso do Sul; passado algum tempo, por sufrágio
universal elegeu-se governador do estado e, após isso, senador da República,
ladeado por homens como Ulysses Guimarães e Franco Montoro, que na juventude
foram seus colegas na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São
Paulo. Wilson Barbosa Martins foi um grande exemplo de político brasileiro
ético, correto e honesto, a julgar pelos registros oficiais legados à
posteridade. É um dos exemplos que venho coletando através das décadas, com
reflexos na minha visão sobre a política contemporânea.
A tudo isso eu observava atentamente e aprendia. Detestei o governo
militar, primeiro pela imposição da censura ao cinema, ao teatro, à literatura,
à música e ao próprio jornalismo. A censura oficial, que sempre foi ignorante e
obtusa, mutilou obras artísticas e culturais de grande importância, calou filósofos
e reagiu com violência à criatividade. Depois descobri que o governo militar ocultava
algo ainda muito pior: o seu desrespeito ao livre pensamento redundou em tortura e morte a muitos daqueles que
aspiravam à simples liberdade de pensamento e à democracia plena.
Eu, que me via como um pensador de centro-esquerda, passei a colocar-me
à esquerda, isto é, em oposição ao governo, embora mantendo-me sempre – e até
hoje – contrário aos extremistas, sejam eles de direita ou de esquerda.
A respeito de militares e do marechal meu tio-tetravô
Algumas vezes fiz uma brincadeira com novos amigos: apontei-lhes uma veia do meu pulso e disse: “Aqui não corre o sangue de Duque de Caxias! Mas
corre o sangue de um dos seus irmãos... e dos
pais do Duque”.
Explico: minha avó paterna, Annolina de Barros Souto, a quem chamávamos
de “Mãe Nina”, orgulhava-se de ser, pelo seu lado materno, bisneta do general Francisco
de Lima e Silva (irmão do Duque de Caxias) e de Dª Geraldina Roza de Oliveira
da Silva, e assim trineta do homônimo general-de-campo e senador Francisco de
Lima e Silva (o Barão de Barra Grande) e de Dª Mariana Cândida de Barra Grande,
(a Baronesa de Barra Grande), pais do Duque de Caxias. Mãe Nina era, portanto,
sobrinha-bisneta do Duque de Caxias, o que faz do grande personagem histórico
tio-trisavô de meu pai e meu tio-tetravô. Sou, portanto, descendente direto não
do Duque, mas dos seus pais e, como consequência, sobrinho-tetraneto do “Marechal
de Ferro” Duque de Caxias.
Ao contrário daqueles que, não sei por qual motivo, já me disseram
pensar que eu “não gosto de militares”, afirmo, bem ao contrário, que me orgulha o fato de trazer
em meu DNA a herança genética de tão gloriosos brasileiros, ícones do Exército,
que muito fizeram pela grandeza do nosso país. Eu não gosto, isto sim, dos
militares da ditadura, mais especificamente do tirano Garrastazu Médici e seus
seguidores, como aquele detestável general Newton Cruz, pelos motivos que a
própria História do Brasil aponta e que são por todos de sobejo conhecidos.
Fernando Henrique Cardoso e Jaime Lerner
Depois que Fernando Henrique Cardoso passou a ser presidente do Brasil
e, obviamente, de direita, percebi que apesar de sua pose de estadista e de seu
português correto, ele impôs ao país uma desastrosa campanha de privatização de
empresas públicas (vide o livro A Privataria Tucana) que resultou numa enxurrada de corrupção. No mesmo período, Jaime
Lerner, governador do Paraná, envolveu-se em erros grotescos e estendeu as
orientações do Palácio do Planalto a privatizações no Paraná. Em sua campanha
política comprometera-se a não privatizar o Banco do Estado do Paraná, mas
traiu seus eleitores e vendeu o nosso banco oficial a “preço de banana” num
escândalo que foi sufocado e criminosamente arquivado pelo governo paranaense,
no que colaborou o dedo do ex-juiz Sérgio Moro. Grotescamente acharam melhor sepultar a CPI
do Banestado do que comprometer e condenar amigos.
Eu, que fora admirador do prefeito Jaime Lerner, que votava “no
candidato sem me importar com o partido político” e que ainda votei em Lerner na
sua primeira eleição para governador, decepcionei-me e me tornei avesso ao
mesmo. Se alguém disser que eu admirava o Lerner, estará falando a verdade, e
as inúmeras fotografias nossas, juntos, publicadas em jornais e revistas,
mostra-nos sorridentes lado a lado e podem ser encontradas na internet. Mas após os embustes politiqueiros do
referido Lerner, encontrarão textos meus de indignada oposição em jornais e
até na revista ISTOÉ. Quem tiver tempo, interesse e disposição para conhecer
esses detalhes, pode clicar aqui (o assunto é muitíssimo extenso; prefira ir
diretamente à parte final, isto é, do capítulo "O ANO 2000" em diante):
Dilma Rousseff
Desde o fim do governo Dilma Rousseff, tornei-me cada vez mais indignado
pelos desmandos dos políticos da direita. Em 31 de dezembro de 2016 publiquei a
crônica A situação política que aí está, onde se lê: “Dilma
Rousseff foi condenada pelas chamadas ‘pedaladas fiscais’, porém sem a
ocorrência de crime de responsabilidade. Dois dias após o impeachment, o
Congresso Nacional aprovou lei que beneficia o governo Michel Temer e tornou as
‘pedaladas fiscais’, que consideravam crime, em procedimento legal e agora
permitido ao novo presidente. Sancionada e publicada na sexta-feira 2 de
setembro de 2016 no Diário Oficial da União, a Lei 13.332/2016
flexibilizou as regras para abertura de créditos suplementares sem necessidade
de autorização do Congresso. Crédito suplementar é um reforço a uma despesa já
prevista na lei orçamentária”. Prosseguindo: “O antigo e respeitado Jornal do
Brasil, em 3 de setembro publicou análise de Ricardo Lodi: ‘O Congresso
Nacional, que nunca considerou as condutas supostamente praticadas pela
Presidente Dilma como ilícitas, encerrado o processo de impeachment, passou
a considerar tal conduta como absolutamente legitimada. Ou seja, o que até
ontem consideravam crime, hoje é uma conduta admitida. Isso confirma o que
eu disse no sábado no Senado. A conduta de Dilma Rousseff não era ilícita
antes e nem seria depois. Foi considerada crime somente para a aprovação
do impeachment. Não tiveram nem o pudor de disfarçar’. Em suma, em
apenas dois dias após o impeachment de Dilma, o Congresso Nacional resolveu que
aquilo que dizia ser crime, não era mais crime. Isto seria risível se não fosse
trágico”.
Quem quiser ler meu artigo na íntegra, ei-lo:
https://fsoutone.blogspot.com/2016/12/a-situacao-politica-que-ai-esta-por.html
Lula versus Moro
Quando Lula presidiu o país, por vezes critiquei-o
em jornais impressos, como por exemplo no Jornal Centro Cívico de agosto de 2011,
porque quando havia indícios de corrupção em seu governo, o presidente não
mandava pesquisar a fundo esses casos, muitos dos quais foram depois confirmados.
Como eu disse na época, o presidente varria as acusações para debaixo do
tapete. Entretanto, de algo eu duvidava e ainda duvido: que em qualquer momento
Lula tenha cometido alguma apropriação indébita. Quem quiser, confira aqui:
https://soutoneto.wordpress.com/2013/01/28/lula-e-dilma-face-a-corrupcao/
Passei a acreditar na lisura de Lula na época em que assisti pela televisão,
ao vivo, aos interrogatórios durante seu julgamento, feitos pelo então juiz
Sérgio Moro.
Quando Sérgio Moro começou a aparecer na
imprensa por estar mandando corruptos para a cadeia, eu o aplaudi. Meu
entusiasmo, entretanto, foi murchando quando percebi que o então magistrado
ocupava-se em punir apenas os políticos de esquerda, mais
objetivamente os do PT, seus desafetos, e que ele tinha amizade com
políticos envolvidos com falcatruas, como Aécio Neves.
Acho até curioso que naquele tempo se tenha
feito tanto barulho por causa de um triplex como aquele de Guarujá, que a
imprensa maldosamente taxava como “o triplex de Lula”.
Se Lula quisesse quisesse comprar o triplex, isto
teria sido algo nada proibitivo. O Condomínio Solaris, localizado na Av.
General Monteiro de Barros nº 638, compõe-se de dois prédios de 17 andares cada
um. E cada prédio tem quatro apartamentos por andar. Os dois últimos andares
são de duplexes; os apartamentos de cobertura foram completados com o
aproveitamento de uma parte do teto do 2º andar do prédio, ali construindo-se
uma pequena área coberta (daí o “triplex”) e uma piscina. Então num dos prédios
há quatro piscinas na cobertura, e no outro, idem. As dimensões da área do tal
triplex? 215m². Ele, o “triplex do Lula”, é menor
do que o apartamento onde eu resido. É ridícula tanta onda por tão pouco!
Lula foi condenado por envolvimento com “o
triplex de Guarujá” e pelo “sítio de Atibaia”. Moro afirmava que Lula seria
proprietário de ambos os imóveis, que teriam sido sorrateiramente dados ao
ex-presidente. Um momento que tenho em minha memória como se o estivesse
presenciando agora, foi quando Moro disse que tinha recibos (só não me recordo se
seriam de mensalidades de condomínio) em nome do ex-presidente. Lula respondeu
que aquilo não era possível, pois ele não era proprietário. E pediu ao juiz:
“Eu poderia ver esses recibos?”. Moro passou os documentos ao interrogado. Lula
examinou-os, devolvendo-os com as seguintes palavras: “São recibos não
assinados; não têm nenhum valor”. Além disso, nenhum documento comprovava a
posse de ambos os imóveis. O tal triplex nunca pertenceu a Lula ou a sua
falecida esposa, e o sítio de Atibaia pertencia a um amigo do presidente, que o
emprestava “sine die” para que ele e sua família o usassem sem vínculo
comercial, do mesmo modo que já emprestei um imóvel meu à minha irmã, para que ela
lá residisse até que o seu apartamento, que ela comprou num prédio em
construção, ficasse pronto.
O ex-juiz reconheceu finalmente que não havia
vínculo de posse de Lula naquelas duas propriedades, mas condenou-o porque, segundo ele, "havia em Lula a intenção de ficar com os imóveis como proprietário”. Ora,
então a condenação foi feita por uma mera suposição... Condenação “por
intenção” não é plausível em nenhum lugar do mundo. Essa condenação foi uma
verdadeira aberração. Assistir a isso deu-me vontade de rasgar o meu diploma,
de pergaminho, de bacharel em Direito! A partir daí, passei a ser favorável ao
Lula.
A própria ONU, e não apenas ela, reconheceu que Lula foi condenado
sem culpa e que Moro foi parcial em seu julgamento. Por favor, veja e ouça;são menos de dois
minutos e meio:
https://www.youtube.com/watch?v=wdUjv3e4lMY
É óbvio também que aquele julgamento contou com
o apoio indireto de Aécio Neves e outros interessados para afastar Lula das
eleições. A imprensa igualmente influiu muito sobre a opinião pública, publicando aberrações
sobre Lula, como a revista Veja com a capa onde aparecia a cabeça de Lula
decapitada e ensanguentada.
Tudo foi feito para que Lula fosse condenado mesmo que sem culpa, tirando-o das eleições presidenciais de 2018 e, assim, Bolsonaro foi eleito presidente da República. Tudo criminosamente planejado com base em mentiras. Moro estava encantado com os seus bajuladores e durante um ano e meio serviu-se como ministro de Bolsonaro para protegê-lo – e a seus filhos – da Justiça, porque lhe fora prometido o cargo vitalício de ministro do Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro, percebendo que seu ministro preparava-se também para a eventualidade de concorrer à presidência nas eleições de 2022, deu-lhe um chute no traseiro. Tanto a revista Veja quando a Rede Globo, dentre outros, demonizaram Lula com inverdades e assim, subliminarmente, foram criando um clima de ódio em todo o país contra o candidato da oposição. Ainda assim, tanto a referida revista quando a rede de televisão provaram do seu próprio veneno, porque ao colaborarem com a eleição de Bolsonaro por demonizarem Lula perante os leitores e ouvintes mais crédulos e influenciáveis, receberam do presidente eleito os xingamentos no linguajar mais chulo, cafajeste e escatológico que se possa conceber.
Lembrei-me agora de um episódio ocorrido em
2018, na semana anterior às eleições presidenciais. Foi assim: quando cheguei
ao prédio onde resido, entrei e encontrei dois vizinhos que estavam à espera do
elevador que descia. Entramos e subimos os três juntos. Eles continuaram
conversando, o mais novo para o mais idoso: “...e neste momento... acho que neste
momento, será melhor votar no Bolsonaro...” e voltou-se para mim, perguntando-me
interrogativo: “...não é?”. Minha resposta foi: “Se o Demônio, o Satanás
em pessoa, emergisse dos Infernos especialmente para concorrer com Bolsonaro,
eu votaria no Demônio”. Ele me olhou com os olhos arregalados, surpreso. Fez
como se não tivesse ouvido o que falei, e calou-se. Saiu um do elevador, depois
saiu o outro, e prossegui agora sozinho até ao meu andar.
Um detalhe curioso e até risível que me lembrei neste exato momento: vejo que as pessoas temem que Lula torne o Brasil comunista. O tempo em que Lula esteve no poder foi de 8 anos; somados a 6 anos de Dilma Rousseff, totaliza 14 anos. Em 14 anos nenhum deles tentou fazer o Brasil comunista; muito pelo contrário. E quem, e como, alguém tentaria uma coisa dessas? Só mesmo na imaginação de mentalidades com defeito. Não existe bobagem maior. Esse temor parece ser resquício dos tempos do senador estadunidense Joseph MacCarthy que, lá pelo anos de 1950, iniciou um movimento político que foi denominado macartismo, para tentar combater o comunismo no país, mesmo que isso significasse violar o direito civil à opinião pública. O resultado foi o de artistas de Hollywood serem perseguidos e destruidos pela imprensa, numa avalanche que envolveu o país inteiro causando uma absurda "perseguição às bruxas", como na Idade Média. Quem não sabe desse período negro da História dos Estados Unidos, informe-se e verá que o macartismo foi e é um absurdo, e que absurdo maior é que hoje, passados 70 anos, ainda haja esse tipo de temor no Brasil. O comunismo que serviu de ameaça ao mundo era o da antiga União Soviética que acabou juntamente com a queda do Muro de Berlim, e também o da fechadíssima e horrível China dos tempos de Mao Tsé Tung, um país hoje aberto ao comércio mundial que no momento é um líder do comércio no planeta. O mundo em que vivemos é agora outro. O nosso país não pode ser tão retrógrado como vem ocorrendo há quatro anos. E não é que há gente que ainda pensa que a Terra é plana e que a ciência deve ser combatida?
Bolsonaro
Tudo, absolutamente tudo o que eu escrevi até
agora neste longo texto, foi para desembocar em Bolsonaro. É que faltam apenas alguns dias, pouco
mais de uma semana, para as eleições. Entretanto, agora nada vou escrever sobre
tal candidato. Desde 2018 escrevo sobre essa criatura; quem quiser que busque,
neste mesmo blog, tudo quanto já escrevi a respeito.
Hoje fico apenas publicando, abaixo, o link
para que possa ser ouvido o “Hino” ao Inominável, na esperança de que a
abominação seja varrida deste país:
https://www.youtube.com/watch?v=OuQKqWIcF1U&t=311s
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