segunda-feira, 21 de março de 2022

VIAGEM PELA AMÉRICA DO SUL EM 1967 - 12ª PARTE - LIMA LA MAGNÍFICA, LA CIUDAD DE LOS REYES por Francisco Souto Neto.

 

 

Palácio Arquiepiscopal e Catedral de Lima (foto da internet)

 

Comendador Francisco Souto Neto

 

VIAGEM PELA AMÉRICA DO SUL EM 1967

 

12ª PARTE


LIMA LA MAGNÍFICA,

LA CIUDAD DE LOS REYES

por  Francisco Souto Neto

 

Esta é uma transcrição do meu diário da viagem que fiz a vários países da América do Sul em 1967, iniciada na semana em que completei 24 anos de idade. Passados 55 anos, é interessante observar os detalhes de como eram feitas as viagens naquele tempo e as impressões que os lugares causaram a este então jovem viajante. A transcrição do meu diário de viagem vai entre aspas, e quando eu achar necessário intervir no texto, farei isto entre colchetes.

 

LIMA, CIUDAD DE LOS REYES

 

“Cheguei a Lima proveniente de Cusco. Fiz a viagem a bordo de um ‘prop jet’ da LANSA. Ao início do voo, o avião, pequeno, parecia roncar furiosamente para conseguir ultrapassar as altíssimas montanhas da Cordilheira dos Andes, dando pinotes, corcoveando como um cavalo chucro ainda não domado. Mas depois o avião estabilizou e cheguei muito bem ao moderno aeroporto da capital do Peru.

 
Quando eu desembarcava no aeroporto de Lima, tirei esta foto.

Fiquei impressionado com a beleza da cidade! Lima, 'La Magnífica', foi a capital da América do Sul quando a Espanha era a senhora do mundo. E como fosse a 'cidade dos reis', capital de um continente, justifica-se a construção de riquíssimas igrejas, paços monumentais e belíssimas residências quando a cidade tinha apenas 100 mil habitantes. O Palácio do Governo é esplêndido. O presidente da República chama-se Fernando Belaúnde Terry.

Visitei a Universidade de San Marcos, infelizmente semi-destruída pelo recente terremoto deste mesmo ano 1967, mas que já se encontra em início de restauração. Essa foi a primeira universidade das Américas, fundada um século antes de Harvard.


Vejo o Palácio do Governo do Peru.


Lima, com 1.700.000 habitantes [em 1967] tem a mesma população da cidade do Recife. É agradável estar numa cidade onde os táxis são luxuosos carrões ‘último tipo’, como este que vai passando.

 

MEU ENCONTRO COM PIZARRO

E UMA INCRÍVEL CASUALIDADE!

 

Como de hábito, quando chego a uma cidade pela primeira vez, costumo prioritariamente conhecer as principais igrejas, não por 'religiosidade', porque não tenho religião alguma, mas para apreciar a arte sacra... e que melhor lugar do que uma catedral para iniciar as visitações a uma importante capital?

No caso de Lima, eu tinha lido, quando ainda fazia pesquisas no Brasil antes da viagem, que a sua Catedral abriga a múmia de Francisco Pizarro, guardada dentro de uma urna de cristal, sobre a qual há uma estátua de bronze de um leão adormecido.

Fui diretamente à Catedral, um dos mais belos edifícios de Lima pela arquitetura e riqueza do interior, que fica colada ao igualmente suntuoso Palácio Arquiepiscopal. Fundada em 1535 pelo próprio Pizarro, tem resistido a incêndios e terremotos. O altar-mor é todo de prata polida e trabalhada. Fui procurando pela tal urna... e à direita de quem entra, logo vi onde está a múmia daquele que mandou edificar a Catedral: Francisco Pizarro, o Conquistador, dentro do caixão de cristal, sobre o qual dormita o leão de bronze. É u’a múmia muito impressionante, ressequida, porém a desafiar os séculos. O rosto já está descarnado, mas as mãos e os pés encontram-se intactos, embora ressessos. Não foi sem emoção que meus olhos perscrutaram os restos mortais agora marrons daquele que, cruelmente, conquistou o maior império do mundo de então.

Ao meu lado, um grupo de turistas conversava. Subitamente tive a impressão de que alguém chamava por mim:

– Francisco!

Claro que não era comigo que falavam, pois eu estava só, na capital de um país estranho, onde ninguém poderia reconhecer-me. Continuei examinando com interesse a múmia do Conquistador, quando ouvi perplexo:

– Francisco Souto Neto! – repetiram duas vozes com sotaque, em coro.

Girei sobre os calcanhares: ao meu lado estavam Ronald Lehman e Susan que sorriam, sorriam... Eram os meus amigos que viajaram comigo no mesmo avião de Santa Cruz de La Sierra a La Paz, depois do trem de La Paz a Guaqui, atravessamos o Titicaca no mesmo navio, e depois viajamos no mesmo trem de Puno a Cusco. Casualmente encontrei-os em Machu Picchu, onde ficamos juntos muito tempo visitando os sítios históricos da ‘Cidade Sagrada dos Incas’. E depois, mais uma coincidência: encontrei-os no aeroporto de Cusco, mas embarcamos para Lima em aviões e horários diferentes. E agora... parece incrível, mas encontramo-nos mais uma vez casualmente, desta feita ao lado da múmia de Pizarro. Nunca mais duvidarei disto: o mundo é de fato muito pequeno. Trocamos impressões sobre a espantosa múmia de Pizarro. E mais uma vez nos despedimos, entretanto agora para nunca mais nos vermos pessoalmente".

 

PORÉM A MÚMIA DE PIZARRO ERA... UMA FARSA!

 

[Tal como já comentei anteriormente, eu viajava com uma máquina fotográfica muito simples, não dotada de flash. Sem o recurso de flash, não adiantava fotografar em locais sem luz natural, muito menos no interior sempre escuro de igrejas. Então não fotografei a múmia de Pizarro.

Mas neste ano de 2022 em que estou fazendo a transcrição da viagem realizada há 55 anos, resolvi procurar na internet por fotografias do interior da Catedral de Lima, para ilustrar este meu artigo. Encontrei no Google várias fotos do local da múmia de Pizarro, que fica acima de alguns degraus, onde se encontra a urna de cristal com a figura de bronze de um imenso leão dormitando. Mas através do cristal não se vê mais a múmia. Parece haver um caixão comum no interior da urna que permanece com as paredes transparentes, isto é, de vidro. Pensei que por algum motivo resolveram não mais deixar à mostra a múmia de Pizarro. Eis como o Google mostra aquele lugar atualmente, mas sem fazer referências a Pizarro:


Aspecto atual (em 2022) de onde, através da transparência do cristal, via-se no passado a múmia de Pizarro, e agora nada se vê!

A falsa múmia foi removida e deram-lhe um destino cristão. Agora, dentro de um caixão de madeira que foi posto no interior da urna funerária de cristal, estão os ossos do verdadeiro Francisco Pizarro.

Aspecto, em 2022, da urna, onde os verdadeiros restos mortais de Pizarro não são mostrados.

Fiz mais pesquisas na internet e não encontrava nem uma única referência ao cadáver do Conquistador! Até que encontrei umas raríssimas fotos que mostram, embora de longe, a múmia dentro da urna de cristal.


Exatamente assim, como na foto acima, em 1967 vi bem de perto a múmia de Pizarro. Afinal, era mesmo bizarro ver-se Pizarro... (até rima!) que não era o verdadeiro Pizarro.

Detalhe da múmia em 1889

Que mistério! Aprofundei minhas pesquisas agora em espanhol, até que descobri o seguinte: aquela múmia que durante séculos lá esteve, e que eu vi, não pertencia a Pizarro. Descobriram que se tratgava de um cadáver qualquer. Uma farsa! Abaixo, o endereço de um estudo que provou que aquele não era o cadáver de Francisco Pizarro. Vale a pena clicar no link abaixo, para ver as fotografias:

 

http://www.franciscopizarro.info/www.franciscopizarro.info/La_Falsa_Momia.html

 

Embora decepcionado, devo dizer que felizmente existe a reportagem acima, para explicar a realidade da história da falsa múmia. E voltemos agora ao ano de 1967.]

 

MAS LIMA É ESPETACULAR

 

"Lima é uma cidade seca, onde nunca chove. A capital do Peru encontra-se em uma das zonas com climas mais atípicos do mundo. Se 'chove' é uma garoinha super fina. Segundo os especialistas da área, isso ocorre porque a capital peruana está entre a costa do Pacífico e a Cordilheira dos Andes. Desta forma, não há condições para a formação daquelas nuvens escuras, carregadas de chuva. Parece-me que nas ruas não há esgotos para águas pluviais, porque estas não existem ou são raríssimas [Antes da viagem li que em Lima os carros são vendidos sem limpador de parabrisa, mas não me lembrei de observar se isso é realidade]. Isto, entretanto, não impede que Lima seja uma metrópole espetacular].

Fui à agência da Braniff International para validar minhas passagens aéreas que, a partir de Lima, serão todas em jatos puros, isto é, de Lima a Santiago será em Boeing 707, que é o avião cdomercial mais rápido e o melhor do mundo para longas viagens.

Estive em La Merced, e andei pelas ruas centrais para sentir o clima cosmopolita de Lima.

Detalhe da entrada de La Merced de Lima.


O claustro de La Merced.


Um prêmio para quem me localizar na Plaza San Martín. Onde está Wally? Às minhas costas, a Av. Nicolás Pierola.


Mais uma vez a Catedral. À esquerda, a Torre Tagle.


O lindo pátio interno de uma residência.


A Universidade de San Marcos, a mais antiga das Américas, que ruiu durante o terremoto do ano passado, mas já está sendo restaurada.

Em frente ao Palácio Presidencial, a troca da guarda de honra do Presidente da República.


Em frente ao Palácio Presidencial, a troca da guarda de honra do Presidente da República.


EL CALLÁO E O OCEANO PACÍFICO

Fui a El Calláo, cidade vizinha a Lima, por um único motivo: queria ver e tocar o Oceano Pacífico. Até ali eu conhecia apenas o Atlântico. O Pacífico era o segundo Oceano de minha vida.

Chego ao porto de El Calláo para conhecer de perto o Oceano Pacífico.

Eu e o Pacífico.

Eu e o Pacífico.

As águas turbulentas do Oceano Pacífico, que é nada pacífico, deitam-se pelas exóticas ilhas dos Mares do Sul e por misteriosos países da Ásia e África.

Muito entusiasmado com o país e sua capital, no dia seguinte eu faria uma viagem a outro sítio arqueológico do Peru, Pachacamac, ao sul de Lima, onde se encontra la casa de las Mamacunas.

-o-

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