segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

ORTISEI, OU ST. ULRICH, OU URTIJËI, UM DOS LUGARES MAIS FASCINANTES DO MUNDO, por Francisco Souto Neto para o Portal Iza Zilli.

As escarpas desafiadoras dos cumes dolomíticos

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Comendador Francisco Souto Neto


Ortisei, ou St. Ulrich, ou Urtijëi,
um dos lugares mais fascinantes do mundo.

O impactante Sassolungo ou Langkofel (3.181m)

 O impactante Sassolungo ou Langkofel (3.181m)

 Ortisei em Val Gardena com Sassolungo ao fundo


       Quando pela primeira vez eu vi uma fotografia da montanha acima, senti-me fascinado. Tratava-se do Sassolungo, também denominada Langkofel, a quarta montanha mais alta das Dolomitas, uma cadeia montanhosa dos Alpes orientais, ao norte da Itália.

       Pesquisando, descobri que a melhor localidade para contemplar o Sassolungo seria na cidade de Ortisei, capital de Val Gardena. Trata-se de uma localidade com três diferentes nomes: Ortisei em italiano, St Ulrich em alemão e Urtijëi no dialeto ladino-dolomítico.

       Meu amigo Rubens Faria Gonçalves é um ótimo companheiro de viagem porque todas as viagens que fazemos são decididas de comum acordo. E não poderia de ser de outra maneira, pois como dividimos as despesas, os roteiros têm que ser aprovados por ambos. E sempre dá certo. No caso de Ortisei, primeiro fui eu quem se encantou com a ideia de conhecer o Sassolungo, e em seguida ele, pesquisando na internet, descobriu que Ortisei é considerada a capital do entalhe em madeira da Itália. E assim incluímos aquele lugar em nosso roteiro.

As Dolomitas

       Deixando Veneza, onde passamos cinco dias, embarcamos para Bolzano viajando em trens confortáveis e rápidos. Dali em diante não há estrada de ferro e a viagem se faz em ônibus... o que não é nada fácil, considerando que as Dolomitas são parte dos Alpes, com as montanhas mais altas da Itália.


 As Dolomitas

 Vilarejos nas Dolomitas

       As estradas de rodagem são cheias de curvas, os ônibus sobem e descem por caminhos íngremes para desembarcar e apanhar novos passageiros nos vilarejos antes de chegar a Ortisei. Enjoei muito nessa parte da viagem. Foi um alívio desembarcar em Val Gardena.


 As montanhas dolomíticas ao fundo.

 As montanhas dolomíticas ao fundo.

       As Dolomitas são muito características por serem de rocha sem revestimento de terra, nem de vida vegetal, e mostram-se dramaticamente cheias de pontas gigantescas que parecem querer riscar o céu. O que mais impressiona é que essas montanhas são cheias de conchas, corais e outros fósseis marinhos. É que a região foi fundo de mar há 30 milhões de anos. Quando o planeta era jovem, as placas tectônicas da Europa e da África colidiram, fazendo erguer a mais de três mil metros as montanhas que hoje formam parte dos Alpes e mais especificamente as Dolomitas. Dentre todas as montanhas da região, o Sassolungo (3.181 m) é o mais impressionante, pois seu cume lembra uma gigantesca tocha.

 Mapa de Val Gardena. Ortisei é a primeira cidade na parte inferior, e o Sassolungo está acima, um pouco à direita.

 Ortisei com o Sassolungo ao fundo.

A localidade de Ortisei, ou St. Ulrich, ou Urtijëi.

       Tínhamos reserva no Hotel Maria, porém ao lá chegarmos encontramos nosso apartamento já ocupado. A administração resolveu da seguinte maneira: conseguiu um apartamento num hotel um pouco mais simples a poucos metros dali, a Villa Demetez, mas manteve o compromisso de nos servir os cafés da manhã e as refeições. No fim nós gostamos muito de termos ficado na Villa Demetz, porque seu proprietário, o Sr. Egon Demetez, era muito atencioso e de quem acabamos por nos tornar amigos, conforme relatarei mais adiante.

       Surpreendemo-nos com a beleza da localidade, o requinte das construções e a riqueza das vitrines, principalmente à noite, quase todas especializadas em entalhes em madeira, de todos os tamanhos imagináveis, e de uma abrangência enorme, embora com predominância dos temas religiosos.

       As igrejas também são de um luxo como só se vê na Itália. Entre a Villa Demetz e o Hotel Maria localiza-se uma capela, a Chiesetta (“igrejinha” ou capela) di Sant’Antonio. Construída em 1673, com telhado inclinado renascentista, que impressiona pela delicadeza do altar e das estátuas em madeira de santos.

 Atrás de Rubens Faria Gonçalves, a Capela de Santo Antônio.

 Púlpito e altar da Capela de Santo Antônio.

 Detalhe do altar.

 Francisco Souto Neto e Rubens Faria Gonçalves ladeando o relógio que fica de frente para a Capela de Santo Antônio e entre a Villa Demetz e o Hotel Maria.

 A fonte em frente à Capela de Santo Antônio.

 A fonte em frente à Capela de Santo Antônio (às costas de quem fotografa).

 Centro de Ortisei

 Centro de Ortisei

       Habitualmente as igrejas são os primeiros locais que costumamos visitar quando viajamos pelos países europeus. Assim, na mesma tarde visitamos também a Chiesa di Sant’Uldarico ou Sant’Ulrico. Ao entrarmos no templo, surpreendemo-nos com a riqueza dos altares folhados a ouro. Sua inauguração deu-se em 1797 com granes festividades. Em 1798, o órgão foi instalado com 24 registros, em 1799 o altar principal foi concluído pelo artista Stampa di Milano. Apenas em 1820 o exterior da igreja foi pintado. Vale ressaltar que, nos anos seguintes, os escultores e artesãos de Val Gardena criaram bancos, confessionários e outras obras de arte para a igreja. A construção da própria igreja também foi bem sucedida graças ao apoio econômico das pessoas ricas e à força de trabalho diligente da população de Ortisei.

       A nave central da igreja de Sant’Ulrico tem um grande altar e numerosas obras de arte por escultores de Val Gardena, incluindo Ferdinand Demetz de Cademia, Ludwig Moroder de Mëune, Johann Dominik Demetz e a maravilhosa pintura principal da altar é de Josef Moroder Lusenberg, representando a adoração dos Reis Magos.

 Rubens Faria Gonçalves, tendo à direita a Chiesa di Sant’Ulrico.

 A estupenda e riquíssima nave central da Chiesa di Sant’Ulrico.

 Deixamos a Chiesa di Sant’Ulrico para trás e subimos rumo ao cemitério.

O cemitério de Ortisei

       Outro hábito que temos é de visitar os principais cemitérios da cidade. O de Ortisei surpreendeu pela singeleza das cruzes, todas de ferro batido e trabalhado, vazadas, sobre os túmulos locais. Isso deu ao cemitério uma beleza, misto de leveza, que é qualquer coisa de admirável. O cemitério é pequeno, dotado de uma linda igreja à direita de quem entra (é a Chiesa di Sant’Ana), e ao fundo está o columbário. Atrás do columbário há um campo de flores silvestres que marca o fim do perímetro urbano de Ortisei. Uma caminhada por aquelas trilhas suscita – ou inspira – uma profunda paz, pois o lugar é de uma beleza e uma infinitude como raras vezes se observa ou se sente.

 Maravilhoso cemitério de Ortisei com sua igreja, a Chiesa di Sant’Ana.

 Rubens Faria Gonçalves no cemitério de Ortisei.

 Francisco Souto Neto no cemitério de Ortisei.

Arredores de Ortisei

       No dia seguinte fizemos um belíssimo passeio a pé pelas trilhas ao redor e muito acima de Ortisei, encontrando cenas bucólicas com cães e galinhas, e uma sensação de paraíso terrestre entre relva, flores, capelinhas com crucifixos e despreocupadas conversas entre os habitantes daquele lugar de extraordinária beleza.

 Atrás de Rubens Gonçalves, a parte dos fundos da Villa Demetz (à esquerda), com a sacada do apartamento onde ficamos hospedados.

 Souto Neto numa ponte sobre a Torrente Gardena, tendo ao fundo a Villa Demetz.


 Na subida, Souto e o cachorro aloprado, mas muito amigo.


 Rubens e cachorro aloprado... mas também muito esperto.

Em quase todas as casas, ou mesmo espalhadas pelo caminho, encontram-se essas capelas com Cristos entalhados em madeira.

A relva salpicada de florinhas com Ortisei muito abaixo.


Souto Neto ouvindo a conversa entre os velhos campônios que falavam no dialeto ladino-dolomítico.


 Rubens com Ortisei no Vale de Gardena muito abaixo.


 ...e galinhas. Não era uma só, mas muitas.

Outro dia, passeando por Ortisei. Ao fundo, um pouco nublado, o Sassolungo.


 Rubens Faria Gonçalves observa a gigantesca estátua de Luis Trenker (1892-1990) entalhada num tronco de árvore. Na rua, em frente a um hotel, a estátua homenageia o alpinista que se tornou famoso artista de cinema que morreu aos 98 anos e está sepultado no cemitério de Ortisei, sua cidade natal.


 O atencioso Sr. Egon Demetz, proprietário da Villa Demetz, sobre numa escada para colher doces abricós, que gentilmente nos presenteia. O Sr. Egon, também entalhador, está num dos filmes que fizemos em Ortisei e que anexaremos ao final deste artigo.


 Passeio aos pontos altos de Ortisei para vermos o Sassolungo, mas a tarde estava nublada.


 Passeio aos pontos altos de Ortisei para vermos o Sassolungo, mas a tarde estava nublada.

Sassolungo e cavalos Haflinger

       No dia seguinte fizemos um passeio de dia inteiro a uma das elevações no lado oposto ao Sassolungo, para que pudéssemos ver o conjunto dolomítico à distância. Primeiro sobe-se em skilift (cadeirinhas) até a uma região muito alta, e de lá segue-se por trilhas ao longo de alguns quilômetros montanha acima. Na parte mais alta da nossa caminhada, fomos surpreendidos por um grupo de belíssimos cavalos Haflinger que vivem livremente naquelas altitudes.

 O Sassolungo como o avistamos do alto da montanha oposta. Durante nossa subida, entretanto, a famosa montanha foi sendo coberta de nuvens.

 As trilhas são pedregosas, difíceis de vencer.

 De repente, nuvens súbitas começam a encobrir os cumes do Sassolungo e das montanhas suas vizinhas.

 Sassolungo parcialmente encoberto.

 Sassolungo parcialmente encoberto.

Rubens filmando cavalos que se aproximam para beber água.

 A chegada dos belíssimos cavalos Haflinger.

Francisco Souto Neto e o cavalo Haflinger.

Rubens Faria Gonçalves e o cavalo Haflinger.

 Francisco Souto Neto e o cavalo Haflinger.

Começando a descer pelas trilhas, o Sassolungo continua sob neblina.

Souto de costas para o Conjunto de Sella.

Descendo pela trilha rumo ao skilift.

Os pés de Souto enquanto desce rumo a Ortisei.

 Rubens desembarcando do skilift.

Vitrines de Ortisei à noite

       Surpreendentes são as vitrines de Ortisei à noite. São enormes essas janelas das dezenas ou centenas de lojas da rua principal, que passam a noite iluminadas. Praticamente todas as lojas exibem entalhes em madeira, feitas pelos artistas mais reverenciados da Itália. Talhadas à mão, suas dimensões vão de alguns centímetros a dois ou três metros de altura. Além dos entalhes que fazem jus aos mais importantes artistas do Renascimento, é feita a primorosa pintura e aplicação de folhas de prata ou de ouro. Quase toda a população dedica-se ao entalhe em madeira. Até mesmo o Sr. Egon Demetez, proprietário da Villa Demetz, levou-nos ao seu atelier onde executa entalhes de rara beleza, para que víssemos as obras de sua criação.

       Adiante, algumas das fotografias dessas vitrines noturnas.


Vitrines de Ortisei à noite.


Vitrines de Ortisei à noite.


Vitrines de Ortisei à noite.


Vitrines de Ortisei à noite.

       Ortisei, ou St. Ulrich, ou Urtijëi, são os três nomes dessa localidade italiana que é única em beleza e que merece ser visitada durante muitos dias, tal como nós procedemos.
Os filmes que fizemos em Ortisei e arredores, que culminam com as vitrines à noite, encontram-se divididos em cinco capítulos nos links abaixo.

Os filmes feitos em Ortisei:


ORTISEI PARTE 1 – Ortisei (também chamada St. Ulrich e Urtijëi) é a capital de Val Gardena, encravada num vale do complexo montanhoso das Dolomitas, também conhecida como "capital do entalhe em madeira" da Itália.


ORTISEI PARTE 2 – Ampliamos os nossos passeios pela belíssima e surpreendente cidade de Ortisei.  


ORTISEI PARTE 3 – Nesta 3ª parte (de 4 partes), Francisco Souto Neto e Rubens Faria Gonçalves, em cenas noturnas, filmam as fascinantes vitrines iluminadas de Ortisei, que comprovam a razão de esta cidade ser conhecida como "a capital do entalhe em madeira" na Itália.


ORTISEI PARTE 4 – Para poderem observar em seu esplendor o Sassolungo ou Langkofel (3.181m), das Dolomitas, Francisco Souto Neto e Rubens Faria Gonçalves vão a um platô cerca de 1.500 a 2.000m acima de Ortisei, e andam pelas trilhas da montanha. À beira do abismo fazem um "número musical" de gozação, e têm um encontro casual com os cavalos Haflinger. 


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FOTOS ATUALIZADAS DE FRANCISCO SOUTO NETO

Francisco Souto Neto em casa, no ano de 2023
Francisco Souto Neto em casa, no ano de 2023
Francisco Souto Neto em casa, no ano de 2023

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