HISTÓRIAS
DO CEMITÉRIO DO CATUMBI
PARTE
7 (de 13)
Francisco Souto Neto
A obra biográfica Visconde de Souto: Ascensão e “Quebra no Rio
de Janeiro Imperial”, escrita em coautoria por mim e minha prima Lúcia
Helena Souto Martini, conta com um APÊNDICE em sua parte final, da página 457 à
510, subintitulado O Cemitério do Catumbi,
no qual faço o relato do que foi a minha luta desde o ano de 1969 – há quase
meio século – pela preservação do setor
histórico da referida necrópole do Rio de Janeiro, onde estão sepultados os
mais importantes vultos históricos do Brasil Imperial.
O Apêndice conta com 13 capítulos.
Este é o 7º capítulo do Apêndice.
APÊNDICE
O CEMITÉRIO DO
CATUMBI:
DEPOIMENTO DE
FRANCISCO SOUTO NETO
7
OUTUBRO DE 1985 – DECEPÇÕES
No mês de
outubro do mesmo ano, 1985, retornei ao Rio de Janeiro especialmente para
conferir o estado do Cemitério do Catumbi, decidido a providenciar as
necessárias restaurações.
Na ocasião,
a atriz Mercedes Pilati, minha amiga então residindo no Rio, acompanhou-me ao
Catumbi e subimos juntos ao setor histórico da necrópole, que estava
relativamente limpo, sem matagal. Para minha decepção, encontrei o túmulo do
visconde de Souto totalmente destruído, aos pedaços, ao rés do chão. Tentei
salvar alguns fragmentos do mármore esculpido, em vão. Eram muito pesados,
e eu e minha amiga conseguimos apenas ajeitar os pedaços na cova. Em meio a
este infortúnio, um momento de alegria: a lápide tinha poucas rachaduras.
Recolhi tais pedaços e preservei-os.
Apesar da
“limpeza” efetuada, o cemitério estava todo depredado. Mármores esculpidos com
a delicadeza de renda tinham desaparecido. O jazigo do marquês de Olinda,
semidesabado sobre ele mesmo, é apenas um dos exemplos que na ocasião
fotografei para documentar a crescente degradação da necrópole.
Outro
detalhe muito estranho foi que uma vasta área localizada ao sul do cemitério
estava com a terra recentemente revolvida como que por um trator, ou outro
veículo pesado. Imensas lápides e paredes inteiras de túmulos lá estavam meio
encobertas pela terra remexida. Disseram-me, depois, que “o cemitério pretendia
lotear aquela área”. Tirei algumas fotografias para documentar a devastação e
comuniquei ao administrador que brevemente retornaria ao Rio para a
reconstrução da campa do jazigo.
De volta a
Curitiba, enviei uma longa carta ao Jornal do Brasil, que foi publicada na
íntegra, na página 10 do primeiro caderno, na sexta-feira de 1º de novembro de
1985, seção Cartas, aqui transcrita em apenas alguns trechos:
Cemitério / Ao início do ano em curso, em visita ao Cemitério do Catumbi [...]
fiquei chocado com o seu estado de abandono e depredação. [...] O JORNAL DO
BRASIL foi o primeiro a apoiar minha denúncia, mobilizando uma equipe de
repórteres para constatar, “in loco”, a situação da antiga necrópole,
publicando grande reportagem sobre o assunto na sua edição de 7/4/1985. [...]
Foram 14 as manifestações de jornais brasileiros, e todas elas encaminhei junto
a minha denúncia à SPHAN e a outras autoridades. [...] No começo deste mês
estive no Rio e fui recebido pelo arquiteto Dr. Umberto Napoli, da SPHAN, que
me exibiu a espessa pasta contendo a minha denúncia, que deu início aos estudos
visando (efetivamente) ao tombamento do setor histórico do Catumbi. Já estão no
papel os planos de reurbanização, restauração e até arborização da antiga
necrópole; e assegurou-me o arquiteto que, num curto período de tempo, o
tombamento pela SPHAN será uma realidade. Causou-me surpresa constatar que
inexiste qualquer processo, na SPHAN, para o referido tombamento, e que tal
processo se iniciou só a partir da minha denúncia. [...] O apoio que recebi de
seu prestigioso jornal foi fundamental para que a SPHAN se sensibilizasse com a
questão e encaminhasse os estudos pró-tombamento com tanta determinação, como
vem fazendo. [...] Dr. Francisco Souto Neto – Curitiba, PR. (Cemitério. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1º
nov. 1985. 1º caderno, p. 10).
O recorte do Jornal do Brasil com minha carta.
-o-
NOVAS FOTOGRAFIAS NO CEMITÉRIO:
NOVAS FOTOGRAFIAS NO CEMITÉRIO:
À esquerda, a atriz Mercedes Pilati, amiga de
Francisco Souto Neto, que o acompanhou ao Cemitério do Catumbi. Atrás de Mercedes,
no Setor 2, o túmulo da Viscondessa de Souto com sua capelinha característica.
À direita, o túmulo da Viscondessa entre os demais, encimada pela cruz
neogótica e a seta de coroamento.
Uma tremenda decepção e lástima: no Setor 1,
Francisco Souto Neto e Mercedes Pilati encontram o túmulo do Visconde de Souto
desabado. A solução foi contratar um marmorista para recuperar a lápide e
construir um novo túmulo, o que aconteceria no ano seguinte de 1986.
Na área à esquerda do setor histórico (quadros 1 e
2), Francisco Souto Neto descobriu uma situação muito estranha: naquela extensa
área havia vestígios da passagem de trator, e viu enormes pedaços de túmulos
entre a terra revolvida. A foto à esquerda mostra um dos monumentos (mausoléus)
ainda intacto e à direita um imenso pedaço de mármore esculpido, misturando-se
entre restos de túmulos despedaçados. Em 1986 ainda não existia a internet, de
modo que, morando no Paraná, não era fácil descobrir o que se passava no
Cemitério do Catumbi do Rio de Janeiro; entretanto, as informações recebidas na época foram as de que a
irmandade proprietária do cemitério tinha interesse em ver os setores mais
antigos da necrópole destruídos, porque assim poderia lotear o terreno para a
construção de outras novas sepulturas.
-o-
CONTINUA NA PARTE 8
CONTINUA NA PARTE 8
Nenhum comentário:
Postar um comentário