sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

HISTÓRIAS DO CEMITÉRIO DO CATUMBI PARTE 8 (de 13) por Francisco Souto Neto.

HISTÓRIAS DO CEMITÉRIO DO CATUMBI
PARTE 8 (de 13)

Francisco Souto Neto

A obra biográfica Visconde de Souto: Ascensão e “Quebra no Rio de Janeiro Imperial”, escrita em coautoria por mim e minha prima Lúcia Helena Souto Martini, conta com um APÊNDICE em sua parte final, da página 457 à 510, subintitulado O Cemitério do Catumbi, no qual faço o relato do que foi a minha luta desde o ano de 1969 – há quase meio século –  pela preservação do setor histórico da referida necrópole do Rio de Janeiro, onde estão sepultados os mais importantes vultos históricos do Brasil Imperial.
O Apêndice conta com 13 capítulos. Este é o 8º capítulo do Apêndice.

APÊNDICE

O CEMITÉRIO DO CATUMBI:
DEPOIMENTO DE FRANCISCO SOUTO NETO

8

VETERANA VERBA DE 26 DE NOVEMBRO DE 1985


No dia 26 de novembro de 1985 o historiador David Carneiro voltava a escrever a respeito do Cemitério do Catumbi, com algumas impressões de tal modo interessantes, que fiz cópias da coluna e enviei-as ao IPHAN, a algumas outras autoridades do Rio de Janeiro e Brasília e, naturalmente, à Venerável Ordem.
Veterana Verba / Zacarias e a necrópole do Catumbi / [...] Tive a satisfação de ver que Souto Neto continua batalhando para salvar o que ainda se possa salvar de veneráveis restos existentes no Cemitério do Catumbi. / Tenho a impressão de que aqueles despojos que ficaram a cargo da irmandade da Ordem Terceira de São Francisco de Paula (ordem religiosa essa que a ela própria se denomina de “venerável” mas que ao que parece nenhuma veneração merece, visto que não cumpriu o mais elementar dos seus deveres, qual fosse o de cuidar das tumbas que estavam sob sua responsabilidade) estarão irremediavelmente perdidos. / Para que tenha essa impressão deverei justificá-la: / No Conselho Estadual de Cultura ficou decidido que nos esforçássemos para encontrar no Cemitério do Catumbi os veneráveis restos do conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcelos, para que pudéssemos trazê-los para o Paraná (cuja província, como tal foi por ele instalada) colocando esses sagrados despojos, sob a sua herma e na praça que o homenageia, lembrando-o. / O relatório de que o ilustre diretor do Museu Paranaense nos deu conhecimento foi de molde a apagar as nossas esperanças, e onde a família acreditava existirem apenas os seus ossos, mais de meia dúzia de caveiras estavam depositadas6, e os ossos correspondentes aos respectivos esqueletos estavam espalhados na tumba, que devia ser da família, mas que a família está incapacitada de dizer (porque e como) tais ossadas ali estão. / Netos e bisnetos do conselheiro que foram procurados no Rio de Janeiro consideraram digno de aplausos o gesto do Paraná; mas aturdidos ante o desleixo e a ignorância dos encarregados na Ordem Terceira de S. Francisco de Paula, inclinam-se a desistir da homenagem à memória do seu antepassado, enquanto outros descendentes estão de acordo em que as pesquisas dos encarregados do Museu Paranaense prossigam até que os veneráveis restos sejam encontrados e sejam trazidos para o Estado que teve Zacarias de Góes e Vasconcelos como seu primeiro presidente de Província. / A descrição que Francisco Souto Neto nos havia feito do desleixado cemitério do Catumbi foi que nos fez pensar em trazer para Curitiba os restos do Conselheiro Zacarias, o que talvez não se consiga fazer, muito embora não tenhamos ainda desistido. / Souto Neto diz que no Catumbi estariam também o marquês de Olinda, o barão de Mesquita, o conde de Bonfim, Teófilo Otoni, os barões de Maruim e muitos outros titulares, conselheiros, senadores do Império, gente ilustre que pertence à História e que como tal poderia estar sujeita a uma afronta subjetiva dessa espécie. / O Sr. Souto diz que uma injúria dessas jamais ocorreria numa nação que se pretenda civilizada, e com efeito assim é. / De D. Pedro I, de seu ilustre filho, do Duque e da Sra. Duquesa de Caxias os restos estão “ad aeternum” preservados; mas por quê Teófilo Otoni e Araújo Lima (Olinda) não devem merecer o mesmo respeito? / Creio que o Ministério da Cultura (se o titular tem consciência do que seu cargo representa) deve tomar a peito esse assunto, além do mais porque é vergonha nacional os cemitérios (sejam eles quais forem) não estarem sujeitos a regulamentos que garantam a integridade, a conservação, a defesa dos ossos humanos, quando nos países civilizados os cães merecem esse respeito. E não é somente isso. / Os despojos do Marquês de Olinda mereceriam um Panteon, e no entanto jazem abandonados no Catumbi, ao pé de uma favela cujos habitantes se divertem profanando túmulos. Não é possível que os descendentes não tenham vergonha de saber que o jazigo de seus ilustres antepassados está sujeito a tais profanações. [...]. / Nossa obrigação é educar os vivos de maneira que considerem os ossos dos que entraram construtivamente na História nacional fiquem resguardados dos insultos de eventual ausência de civilização. (CARNEIRO, David. Gazeta do Povo. Curitiba, 26 nov. 1985. Veterana Verba, p. 5).
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NOTAS A APÊNDICE      
6 Os familiares de Zacarias de Góis e Vasconcellos encontraram meia dúzia de esqueletos misturados aos restos do seu ancestral, do mesmo modo que Francisco Souto Neto, pouco antes, descobrira sacos de lixo entreabertos, cheios de ossos e várias caveiras, entrouxados no túmulo do visconde de Souto. Isto evidencia que essa atitude criminosa poderia ser habitual naquela época. Os responsáveis não deveriam ter sido apenas criticados publicamente pelo desleixo, mas legalmente punidos.

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A excelente crônica de David Carneiro em defesa do Cemitério do Catumbi. Referido historiador e Francisco Souto Neto refizeram seus laços de amizade, após o engano do Prof. Carneiro que levara ambos a uma situação muito constrangedora.

 Em seu museu, o Prof. David Carneiro com a mão no ombro de Francisco Souto Neto, num gesto de amizade, respeito e reconciliação.


Prova de que Souto Neto desculpou David Carneiro pelos seus erros, está numa correspondência que o historiador enviou-lhe em janeiro no ano seguinte, 1986:

O envelope que David Carneiro expediu sem especificar o endereço de Souto Neto. Mesmo assim, os Correios fizeram a entrega corretamente ao Banestado, e este fez chegar o envelope ao destino.

Data do carimbo dos Correios.

Verso do envelope de David Carneiro.

A simpática mensagem do Prof. David Carneiro para Francisco Souto Neto.


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CONTINUA NA PARTE 9

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