terça-feira, 29 de março de 2022

VIAGEM PELA AMÉRICA DO SUL EM 1967 - 17ª PARTE - BUENOS AIRES e EL TIGRE, por Francisco Souto Neto.

 

 
Francisco Souto Neto no Delta del Paraná em 1967.

 

Comendador Francisco Souto Neto

 

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VIAGEM PELA AMÉRICA DO SUL EM 1967

 

17ª PARTE


 BUENOS AIRES e EL TIGRE

 

por  Francisco Souto Neto

 

Esta é uma transcrição do meu diário da viagem que fiz a vários países da América do Sul em 1967, iniciada na semana em que completei 24 anos de idade. Passados 55 anos, é interessante observar os detalhes de como eram feitas as viagens naquele tempo e as impressões que os lugares causaram a este então jovem viajante. A transcrição do meu diário de viagem vai entre aspas, e quando eu achar necessário intervir no texto, farei isto entre colchetes.

 

BUENOS AIRES

 

“Dia 2 de outubro de 1967 acordei-me às 8:00 horas e após o café da manhã fui Banco do Brasil cambiar alguns dólares-cheques. Passei por uma livraria porque queria comprar algum Pablo Neruda, mas só havia edição argentina, eu preferiria chilena. Enfim...

Paguei a conta do hotel e peguei um táxi que me levasse ao aeroporto. Meu avião, um DC-8 da Braniff, amarelo como o anterior, vinha de Miami com primeira escala em Lima. Agora, comigo as bordo, rumaria para Buenos Aires.

Ninguém sentou-se ao meu lado e partimos numa viagem de Pacífico a Atlântico, atravessando horizontalmente a América do Sul. Será um voo rápido, de apenas uma hora e meia.


As poderosas turbinas do DC-8.

Foi servido o almoço de bordo: uma deliciosa maionese e vinho; um presunto à milanesa, cenouras com a forma de bolas de gude, chuchu com molho e uma batata artisticamente cortada. Sobremesa: cerejas com creme de chantilly. Depois, café com leite em pó para adicionar, pão com muita manteiga, queijo cremoso, bolachas e cigarros mentolados. Começaram a servir da frente para trás, e eu estava na penúltima fila. Quando comecei a refeição, os que estavam lá na frente já a terminavam. E eu como devagar. Após a salada, o avião inteiro trepidou e uma voz informou que começávamos a descida de 20 minutos em direção ao Aeroporto de Ezeiza em Buenos Aires. Fiz um sanduíche do pão e guardei junto à garrafinha de vinho e bolachas. Mandaram que apertássemos os cintos e em cerca de 10 minutos tocávamos o solo.


Chego ao Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires. Descendo do avião, olho para trás e fotografo os passageiros que me seguem. O voo da costa do Pacífico à do Atlântico durou apenas duas horas.


Os caminhos verdes entre Ezeiza e o centro de Buenos Aires.


O enorme obelisco da Avenida 9 de Julio.

Hospedei-me num hotel muito simples, na Calle Lavalle, chamado El Cabildo. A Lavalle é a rua dos cinemas e restaurantes. Saí para ver o burburinho das ruas. Eu tinha vestido minha camisa vermelha e me senti como se tivesse duas cabeças e quatro braços. É que algumas pessoas paravam para me olhar. Observei que, tal como em Santiago, os portenhos sempre usam gravata; quando estão com roupa esporte, vestem cores escuras e discretas. Ao retornar ao hotel, guardei a camisa no fundo da mala, para não tornar a usá-la na Argentina.

Os restaurantes estão cheios de gente. As calçadas são muito largas, e várias ‘confiterias’ têm mesas e cadeiras ocupando parte delas, tudo muito parisiense.

Os cinemas, antes mesmo da bilheteria, são acarpetados com nylon de uns dois centímetros de espessura, no qual os sapatos afundam. Alguns desses cinemas têm gatos que dormem sobre os carpetes e são respeitados pelos frequentadores. Esses cinemas são imensos e muito luxuosos, como os melhores de São Paulo.

Fui ver o metrô, que tem cinco linhas como se fosse uma mão aberta sob Buenos Aires. Numa das linhas, em vez de assentos comuns a trens e ônibus, há uma espécie de sofás colocados de costas para as janelas, estofados com veludo, muito elegantes.


[A foto acima é da década de 90, quando estive com minha irmã Ivone em Buenos Aires e fotografei-a (sentada à esquerda) numa das linhas do metrô de Buenos Aires que continuava dotada de “sofás” de veludo para os passageiros. Estou colocando esta foto, que tirei décadas depois da viagem de 1967, apenas para que o leitor possa ver como o transporte público num bom metrô de uma excelente cidade pode ser agradável e confortável.]

Cansado, voltei ao hotel para dormir mais cedo.

No dia 3, acordei e por alguns segundos fiquei sem saber em que país estava. Mas logo me localizei: “na Argentina, é claro”.

Naquela manhã levantei-me com um propósito: ir conhecer o Edifício Atlas (que teve o nome alterado para Alas) o mais alto do país em 1967, inaugurado há 10 anos em 1957, com 41 andares e 132 metros de altura. Foi mandado erguer por Perón, para que a Argentina tivesse o prédio mais alto da América do Sul. Ele tem um ‘bunker’ subterrâneo para servir de refúgio no caso de uma guerra nuclear. Localiza-se na Av. Bolívia nº 1339, não muito distante da Calle Lavalle, onde eu estava hospedado. É que eu tenho o hábito de sempre querer saber ‘qual o prédio mais alto do país’. No Brasil, por exemplo, o prédio mais alto é o Mirante do Vale, em São Paulo, com 51 andares e 170 metros, inaugurado em 1960, há sete anos.

Ao Edifício Atlas, ou Alas, eu disse na portaria que gostaria de ir ao terraço para tirar fotografias. O porteiro surpreendeu-se e me falou: “Mas este é um edifício do Exército!”. O que fiz? Sorrindo, puxei minhas credenciais assinadas pelos diretores de duas Faculdades: Dr. Brasil Borba, da Faculdade de Direito, e Prof. Joselfredo Cercal de Oliveira, da de Filosofia. O porteiro pegou o telefone, falou com alguém, gesticulou, e me disse que estavam autorizando que eu subisse ao terraço e que o Sr. Cordich me acompanharia até lá. Logo surgiu um senhor idoso, cabelos brancos, que me levou ao elevador e lá fomos até ao 41º andar. Gostei demais da vista lá de cima e tirei várias fotografias. Buenos Aires é imensa, quase do tamanho de São Paulo. Segundo as estatísticas, neste ano de 1967 está com exatos 7.000.000 de habitantes e é a segunda da América Latina. Foi ultrapassada por São Paulo que agora tem 7.244.000 habitantes.

[A história do Edifício Atlas, ou Alas, está neste interessante link, com fotografias desde a sua construção:

 

http://www.arcondebuenosaires.com.ar/edificio_alas.htm ]


Fotografia que tirei no terraço do 41º andar do prédio mais alto de Buenos Aires em 1967.

O Sr. Cordich que me levou ao terraço no 41º andar.

Foto de Buenos Aires que tirei do terraço do Edif. Alas.

Foto de Buenos Aires que tirei do terraço do Edif. Alas.

Buenos Aires às minhas costas.

Aspecto de Buenos Aires em 1967.

Após sair do Edif. Atlas (ou Alas), afasto-me do prédio para poder, de mais longe, fotografá-lo inteiro.

Eu entre os pombos da Plaza de Mayo.

No Jardim Zoológico: o elefante e o beatnik.

Os interessantes e gordos hipopótamos.

A catedral de Buenos Aires.

Ao fundo, a Casa Rosada.

Um monumento em Palermo. Eu estou nesta foto. Onde está Wally?

Nos bosques de Palermo.

Carruagem para passear por Palermo.


Lindos parques de Palermo.

Minha calça de veludo, que ao sair do Brasil era bem justa, agora me parece uma peça para elefante: eu emagreci durante a viagem e minhas roupas estão agora meio desajustadas.

Passei por algumas casas de discos procurando um long play com a gravação de ‘Alturas de Machu Picchu’ (texto de Pablo Neruda), mas me parece que o disco está esgotado na Argentina. Desisti de um de Ella Fitzgerald e outro dos Swingle Singers, e acabei comprando um de Frank Sinatra. Depois fui à Cruzeiro do Sul para definir meu retorno ao Brasil. Eu havia planejado ficar dois dias em Montevidéu, mas desisti. Farei lá uma troca de aviões com algumas horas de diferença. Significa que farei apenas um pequeno passeio no Uruguai, já em seguida viajando pelo Caravelle para São Paulo com escala em Porto Alegre. Pois é, irei a São Paulo, ficarei lá por um ou dois dias e em seguida tomarei um ônibus leito direto a Ponta Grossa ou, se não houver, direto a Curitiba, e de lá outro ônibus até Ponta Grossa. Na verdade, já estou bastante cansado de viajar e querendo voltar para casa. Minhas férias estão quase acabando e quero ter pelo menos ainda um dia em casa para descansar antes de reassumir no Banco.

Ainda deu tempo de ir conhecer o Jardim Zoológico, também fui à catedral e aproveitei para ver a Casa Rosada (com tantas histórias políticas envolvendo Perón e Evita) e ainda fui aos famosos jardins de Palermo, onde passeei de carruagem. Comprei uma excursão para amanhã, que me levará a El Tigre e Delta del Paraná. 

 

PASSEIO A EL TIGRE E DELTA DO PARANÁ

 

Fiz uma bela excursão à cidade de El Tigre, onde uma embarcação levou-me para conhecer o Delta del Paraná. Foi um passeio de uma tarde inteira.

Quando o micro-ônibus passou pelo meu hotel, já carregava alguns passageiros. Passamos por mais uns três ou quatro hotéis, e um deles era o Hilton, onde embarcaram um senhor gordo e a esposa cheia de jóias. Num dos outros hotéis embarcaram uma senhora com uma linda filha com quem fiz amizade, chamada Cármen.

O caminho para El Tigre é muito bonito, pois passa por monumentos, galerias de arte, depois por uma zona residencial com grande quantidade de prédios de apartamentos, mais adiante campos de golfe e parques sem fim, onde se joga futebol e as crianças brincam. Fomos pela Avenida General Paz, com 24 quilômetros de extensão. Noutra avenida, a velocidade mínima era de 40 quilômetros por hora; eu nunca vira uma via pública com “velocidade mínima”. No Brasil temos somente limitação para “velocidade máxima”.


Chego a El Tigre e começa o passeio pelo Delta do Paraná.


Fotografo a linda Cármen.


Cármen retribui, perguntando se quero que ela me fotografe. “Si, gracias”.


A regra de etiqueta era: “Señores con corbata. ¡Jóvenes en ropa deportiva!” (Senhores com gravata. Jovens com roupa esportiva).


O senhor gordinho à esquerda da foto, era o hóspede do Hilton. Sua esposa sentou-se do outro lado do barco.


Linda e discreta Cármen…

E vamos adiante!

 
Engravatado se entende com engravatado.
 
Na hora de retornar a El Tigre, tomo meu lugar no barco.

Voltando para El Tigre.

Voltando para El Tigre.

Fim do passeio.
 

O passeio de barco foi muito agradável, pois passamos por margens pitorescas, uma região maravilhosa, e tirei muitas fotos.

Retornei ao hotel à noite. Para o dia seguinte eu planejei conhecer o famoso Cemitério de La Chacarita.

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O AUTOR EM 2022

Francisco Souto Neto em 2022, aos 78 anos de idade.

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