sábado, 31 de dezembro de 2016

A SITUAÇÃO POLÍTICA QUE AÍ ESTÁ por FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI.

PORTAL IZA ZILLI

Comendador Francisco Souto Neto

A situação política que aí está

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões
Estão todas perdidas.
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito!
Ah! Eu nem acredito!
(Ideologia – Cazuza)

Eu tenho a felicidade de ser apolítico. Apolítico no sentido de não me interessar por nenhum partido político. Pela corrupção que vejo grassar impune em Brasília – e obviamente nos Estados federativos – os partidos me parecem todos iguais. O PT não é pior do que o PSDB, este não é pior do que o PMDB, e assim por diante. Isso tem me permitido analisar racionalmente todo esse complexo de contradições do emaranhado político e chegar às minhas conclusões sem estar obliterado pelo fanatismo, aquele mesmo fanatismo que tornou as multidões insufladas pelo ódio e cegas à realidade.

O impeachment

Bastou assistir ao processo de impeachment de Dilma Rousseff para avaliar quem são os “nossos” representantes no Congresso Nacional, mais especificamente na Câmara dos Deputados, cujas “justificativas” e beijinhos aos familiares chegaram a escandalizar e, pelo ridículo, até mesmo divertir a mídia internacional.

Dilma Rousseff foi condenada pelas chamadas “pedaladas fiscais”, porém sem a ocorrência de crime de responsabilidade. Dois dias após o impeachment, o Congresso Nacional aprovou lei que beneficia o governo Michel Temer e tornou as “pedaladas fiscais”, que consideravam crime, em procedimento legal e agora permitido ao novo presidente. Sancionada e publicada na sexta-feira 2 de setembro de 2016 no Diário Oficial da União, a Lei 13.332/2016 flexibilizou as regras para abertura de créditos suplementares sem necessidade de autorização do Congresso. Crédito suplementar é um reforço a uma despesa já prevista na lei orçamentária.

O antigo e respeitado Jornal do Brasil, em 3 de setembro publicou análise de Ricardo Lodi: “O Congresso Nacional, que nunca considerou as condutas supostamente praticadas pela Presidente Dilma como ilícitas, encerrado o processo de impeachment, passou a considerar tal conduta como absolutamente legitimada. Ou seja, o que até ontem consideravam crime, hoje é uma conduta admitida. Isso confirma o que eu disse no sábado no Senado. A conduta  de Dilma Rousseff não era ilícita antes e nem seria depois. Foi considerada crime somente para a aprovação do impeachment. Não tiveram nem o pudor de disfarçar". Em suma, em apenas dois dias o Congresso Nacional resolveu que aquilo que dizia ser crime, não era mais crime. Isto seria risível se não fosse trágico.

FOTO 1 – Dilma Rousseff

A deposição de Rousseff configurou-se num “golpe branco”, que é aquele praticado pelos caminhos legais, porém sem um crime que o justifique. Isto é um fato indubitável e indiscutível. Só não vê quem finge não ver ou, cego pelo fanatismo e histeria coletiva que abalaram todo o país, não quis ir às fontes de informação superiores à tendenciosa imprensa falada, escrita e televisionada que visou, sobretudo, a agir na defesa dos seus próprios interesses.

As capas escabrosas das revistas semanais, como aquela da cabeça de Lula decapitado e escorrendo sangue, expostas nas bancas de revistas do País, causaram repulsa pelo incitamento à violência e sugestão de linchamento físico, algo repugnante sob o aspecto moral. Foi assim que se processou a lavagem cerebral dos brasileiros, manietando-os na busca a bodes expiatórios. A corrupção que grassava no PT era verdadeira, sim, e os corruptos e corruptores do partido tiveram e têm sua merecida e exemplar punição; contudo, nenhum ato de corrupção pôde ser formalmente atribuído a Rousseff, tanto que não a tornaram inelegível. Ela foi o bode expiatório de uma luta pelo poder.

O governo Temer

O presidente que agora aí está, de fala nervosa e cheio de dedos afetados por gestos rococós, chegou tentando impor um ministério formado só por homens, maioria de “ficha suja”. Desde então, cada erro do presidente tem correspondido a um retrocesso, aparentemente não provocado por uma tentativa de correção, mas por temor à reação popular. Temos presenciado na metade final de 2016, um desfile de aberrações. Exemplo gritante é o de Temer ter perdoado a dívida das empresas de telecomunicações.  60 bilhões de reais, em detrimento a milhões de reclamações de brasileiros que reivindicam seus direitos feridos por prejuízos provocados pelas telefônicas. Título da notícia: “Para o povo aumento de 20% na conta do celular, para as teles bilhões dados pelo governo”. Outra manchete de jornal: “Imprensa francesa diz que Brasil está entregando reservas estratégicas do pré-sal a ‘preço de banana’”. Ainda outra: “Ministro da Educação Mendonça Filho quer fim do ensino noturno”. Pior ainda: “Ministro da Saúde diminui número mínimo de médicos por UPA”.

 As más notícias e os escândalos se sucedem em impressionante velocidade. Desde as brutais propostas do governo pelo fim do ensino universitário gratuito e pela reforma da previdência social, atos que prejudicarão a milhões de trabalhadores, os brasileiros sentem-se sob permanente bombardeio da mídia. Incomoda-nos até mesmo saber que a lista de compras para o avião presidencial de Temer incluiu, dentre outros itens de luxo, sorvetes Häagen-Dazs. Se o leitor for curioso, é só olhar quanto custa num supermercado um pequeno pote desse sorvete importado. Como de costume, temeroso da reação popular, Temer retrocedeu e mandou cancelar a licitação.

FOTO 2 – Michel Temer

Além disso, temos acompanhado ocorrências das mais bizarras no Congresso Nacional. Vou ilustrar um só exemplo: Quem quiser ouvir a declaração do deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) sobre a PEC 241, para quem a Universidade deverá ser paga, e quem for pobre que não puder pagar, que não estude, este é o link:


Abaixo, a transcrição. Entretanto, a íntegra do diálogo poderá ser localizada na internet.

Repórter: Não é melhor cortar de quem tem?
Deputado Nelson Marquezelli – Não! Tem que cortar universidade, tem que cortar. Quem pode pagar, vai ter que pagar.
Repórter: Mas o...
Deputado Nelson Marquezelli – Meus filhos vão pagar!
Repórter: Pois é, mas os filhos do senhor têm condições, né?  Maioria da população brasileira não tem. O senhor acha justo?
Deputado Nelson Marquezelli – Quem não tem condições, não faz universidade.
Repórter: É mesmo? Então quem não tem condições, não deve fazer universidade?
Deputado Nelson Marquezelli – Quem não tem dinheiro não faz!

A previsão, segundo experts, é a de que o Congresso Nacional promoverá o impeachment de Temer no primeiro semestre de 2017. Só não o fizeram antes, porque a partir de 1º de janeiro, no caso de impedimento do atual presidente, segundo a nossa Constituição o sucessor não será eleito pelo democrático voto direto do povo, mas pelos políticos do próprio Congresso Nacional.

 
FOTO 3 - Onde está o dinheiro?
O gato comeu, o gato comeu
E ninguém viu
O gato fugiu, o gato fugiu
O seu paradeiro
Está no estrangeiro
Onde está o dinheiro.
(Onde está o dinheiro? - Gal Costa)



Obviamente o país não suportará uma eleição em que um novo presidente seja eleito por uma casa – o Congresso Nacional – que conta com tantos políticos suspeitos de corrupção e que estão sendo investigados. Neste caso, caindo Temer, a Constituição terá que ser alterada para que seu sucessor seja eleito pelo povo, e não pelo Congresso Nacional. O que os políticos agora querem, é escolher um deles que aceite todas as condições que lhe forem impostas e que, guindado à presidência da República, os proteja das falcatruas em que se envolveram, sem que sejam levados às barras da Justiça. Eleição indireta servirá apenas para consolidar a corrupção que está matando o nosso País.

O Poder Judiciário

Neste contexto, o Judiciário, que é um dos três Poderes da República, também tem passado por situações estranhas, que não são de hoje. Primeira delas é constatarmos que o povo está dividido na seguinte indagação: magistrados (juízes, desembargadores, ministros) devem ou não ser processados por abuso de autoridade ou por quaisquer outros motivos como, por exemplo, por erro na interpretação da Lei, ou até mesmo – o que é ainda pior – por corrupção? É claro que devem ser punidos, pois eles podem ser tão falíveis quanto qualquer um de nós. Isto me reporta a um episódio ocorrido no ano de 2007, portanto há dez anos, quando a revista ISTOÉ estampou na capa de sua edição nº 1958, de 9 de maio, a manchete “A JUSTIÇA NO BANCO DOS RÉUS”. A reportagem começava com esta denúncia: “Em, todo o País, existem mais de 600 investigações envolvendo falcatruas de juízes. Poucos são punidos. Muitos deles, mesmo afastados, continuam a receber salários”. Ao início do segundo parágrafo, informava: “Os casos em apuração têm origem em desvios dos mais diversos. Há processos contra juízes por retardarem o andamento de processos. Também há por favorecerem uma das partes. Mas o mais grave é que, invariavelmente, há suspeitas de venda de sentenças e corrupção. No mesmo STJ onde até dias atrás despachava o ministro Medina, tramitam 105 investigações criminais contra desembargadores estaduais, federais e da Justiça trabalhista”. Mais adiante relatou: “O levantamento feito por ISTOÉ esbarrou em algumas resistências que demonstram como a transparência ainda não é termo comum à Justiça como um todo. Dentre os 27 tribunais estaduais, oito simplesmente não responderam”. Explicou ainda mais a ISTOÉ: “Se por um lado os casos de corrupção togada têm aparecido mais, por outro ainda é preciso fazer ajustes. No Brasil, a lei até prevê a demissão como pena para juiz condenado. Mas, na prática, magistrados costumam ser punidos no máximo com aposentadoria compulsória e continuam ganhando os bons salários. Defenestrado do STJ após suspeita de favorecer narcotraficantes, o ex-ministro Vicente Leal continuou a receber os R$ 23 mil por mês e está advogando. Sua banca, aliás, atua no próprio tribunal do qual um dia ele fez parte. O próprio Paulo Medina, que acaba de se afastar, seguirá ganhando salário de ministro. Há mais problemas. Há dois anos, após intenso debate sobre a necessidade de controle externo do Judiciário, criou-se o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Hoje, o CNJ é um órgão corporativo e o ritmo das punições que tem aplicado ainda está longe daquele que se imaginava lá atrás”.

A reportagem inteira da revista ISTOÉ poderá ser lida no seguinte link:


Se não conseguir abrir o link, simplesmente coloque no Google: “istoé edição 1958 a justiça no banco dos réus”, que será levado à reportagem completa.

Escandalizado com esse estado de coisas, escrevi à revista, que na sua edição seguinte (ISTOÉ/1959-16/5/2007) publicou na seção CARTAS, à página 12, a minha indignação, que coincidentemente foi publicada ao lado de outra opinião que emiti sobre uma reportagem que se referia à biografia não autorizada de Roberto Carlos.

FOTO 4 – Página 12 inteira, da edição nº 1959 de ISTOÉ de 16/5/2007, seção CARTAS.

FOTO 5 – Detalhe da página 12 da edição nº 1959 de ISTO É de 16/5/2007, com duas cartas de Francisco Souto Neto sobre assuntos diferentes, publicadas lado a lado, a primeira delas comentando a reportagem “A JUSTIÇA NO BANCO DOS RÉUS” publicada na edição nº 1958.

Enfim, os magistrados podem ser aplaudidos, elogiados e homenageados pelos seus acertos. Mas eles não são infalíveis. No caso da Operação Lava Jato, quando começaram a ser levados à prisão os figurões corruptos da política em nível nacional, eu aplaudi entusiasticamente o juiz Sérgio Moro. E torço para que os políticos não abafem a atuação da Lava Jato, como alguns gostariam. Não é demais lembrar que, graças à Lava Jato, até o mais execrável, debochado e mentiroso dos políticos brasileiros, Eduardo Cunha, está preso já há três meses.

FOTO 6 – Eduardo Cunha.

Entretanto, meu entusiasmo por Moro foi se arrefecendo quando percebi que ele parece não estar dando importância a nomes delatados pela Odebrecht, quando estes envolvem filiados ao PSDB. Esse indício de parcialidade tem sido muito evidente. Um juiz não pode proteger políticos corruptos por serem eles ligados ao partido da sua simpatia. Este fato tem sido constantemente denunciado por um segmento da imprensa brasileira e criticado pela mídia estrangeira, principalmente a europeia.

Em suma, vivemos um momento de reflexão. Esses problemas têm que ser resolvidos urgentemente, mas sem histerias e extremismos. Todos precisamos colaborar para que o País se desvie da convulsão social, porém, como já disse recentemente, sempre dentro do estado democrático de direito, este que supera o simples Estado de Direito e que defende, através das leis, todas as garantias fundamentais baseadas no Princípio da Dignidade Humana.

Dentro de poucas horas terminará o ano de 2016. Aproveito a oportunidade para desejar a meus leitores que 2017 lhes venha com empatia e tolerância às opiniões que lhes sejam antagônicas, para que alcancemos o desiderato que nos é comum, de paz, amizade, saúde e prosperidade a todos. 

Curitiba, 31 de dezembro de 2016.

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OBSERVAÇÃO ACRESCIDA EM 29.1.2017:


Meu colega acadêmico João Carlos Cascaes, da Academia de Letras José de Alencar, fez um sensível comentário que muito me sensibilizou, sobre meu artigo acima, "A situação política que aí está", que poderá ser ouvido nesta gravação do YouTube:


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domingo, 11 de dezembro de 2016

NAUSEABUNDAS CALÇADAS DE CURITIBA por Francisco Souto Neto para o Portal Iza Zilli.


Vergonhosas calçadas de Curitiba.


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PORTAL IZA ZILLI
- O maior portal de comunicação social do Paraná -

Iza Zilli

Comendador Francisco Souto Neto

Nauseabundas calçadas de Curitiba

Francisco Souto Neto

O vocábulo “nauseabundo” parece ter caído no desuso talvez porque, foneticamente, fira os ouvidos das pessoas mais sensíveis. Acredito que as novas gerações nem conheçam a palavra. Concordo que o som seja desagradável, pois me lembro de que quando criança eu já a considerava um “nome feio”. Embora usada mais habitualmente para designar algo asqueroso, repugnante, nojento, imundo, até mesmo com sentido escatológico, é também sinônimo de desprezível, desagradável, indigno, revoltante, e é assim que o título acima deve ser entendido.

Beto Richa, Luciano Ducci, Gustavo Fruet, Rafael Greca

Através de publicações em jornais, há décadas venho tecendo críticas ao estado permanentemente lastimável das calçadas curitibanas. Contudo, pequeno que sou no jornalismo, jamais encontrei receptividade na Prefeitura para este tema. Talvez agora, ao usar um vocábulo pesado como “nauseabundo”, o título deste artigo possa despertar curiosidade e assim alcance não apenas leitores dispostos a brigar em prol de boas calçadas, mas também as gerações dos ex-prefeitos, alguns ainda entre nós, para que reflitam sobre suas antigas faltas. Quem sabe consiga tocar aquele que ainda aí está por um triz, Fruet, em quem votei no passado, mas me arrependi porque nenhuma importância deu às nossas nauseabundas calçadas. Ou ainda, num golpe de sorte, chame a atenção dos alcaides que virão, ou retornarão à vida pública, a começar por Rafael Greca de Macedo.

Dentre outras publicações da minha autoria, localizei o artigo “As calçadas de Curitiba”, que publiquei em novembro de 2007, quando o prefeito da nossa capital era Beto Richa:


A bem da verdade, nos últimos 40 anos apenas um prefeito deu início a massiva reconstrução de calçadas em Curitiba: Luciano Ducci. Esta era uma das exigências para que Curitiba sediasse a Copa do Mundo, e Ducci obedeceu “comme il faût”. Centenas de ruas da capital do Paraná tiveram as suas horríveis calçadas renovadas. Por isso, em junho de 2011 publiquei “As novas calçadas de Curitiba”, em cujo último parágrafo escrevi:

“Recentemente notei que as pedras mal buriladas e o petit-paver esburacado ou ondulado dos passeios curitibanos estão sendo substituídos por umas placas de concreto chamadas paver. Não se trata do petit-paver (pronuncia-se “petipavê") francês – cuja técnica é de origem portuguesa –, e sim do “paver” (com pronúncia em inglês, “pêiver”), que resulta numa área plana, civilizada, sobre a qual está sendo possível caminhar sem riscos. Mas há um motivo: as calçadas de Curitiba terão que ser transitáveis por causa das condições exigidas para que a cidade possa sediar a Copa do Mundo. Até que enfim as autoridades viram-se obrigadas a tornar decentes esses passeios; contudo, é uma vergonha que os mesmos estejam sendo arrumados apenas para cumprir a exigência da Copa do Mundo, quando deveriam ter sido transitáveis desde sempre. Seja como for, pelo menos teremos agora calçamento correto, e até com ajardinamentos. A novidade já está chegando ao Centro Cívico. Antes tarde do que nunca!”.
O artigo completo poderá ser lido no seguinte link:


Entretanto, Ducci não completou o seu desiderato. Candidato à reeleição, foi vencido por Gustavo Fruet que se elegeu prefeito de Curitiba.

Fruet, que agora em fim de mandato governará a capital por somente mais três semanas, foi merecedor de aplausos pela importância que deu aos ciclistas e pela instituição das “áreas calmas” com limite de velocidade bem baixo, de até 40 quilômetros por hora, para a circulação de veículos no centro da cidade. Porém ao suceder Ducci na Prefeitura, Fruet interrompeu completamente a reconstrução das calçadas e cometeu um pecado sem remissão: quando Maurício Grabowski, diretor do Jornal Centro Cívico, publicou um excelente editorial apontando o péssimo estado das calçadas de Curitiba e propôs soluções, em vez de agradecer pelas tais sugestões e acatá-las, o que fez Fruet? Proibiu a circulação do jornal na Prefeitura, onde era distribuído gratuitamente. Foi uma atitude imatura, infantil, desqualificada.

À exceção de uma restauração que nos anos 90 Greca fez na área de pedestres da Rua XV de Novembro corrigindo o petit-paver que estava todo ondulado e esburacado, e das citadas providências adotadas em 2012 por Ducci, as calçadas continuam as mesmas há décadas, piorando a cada ano, a cada mês, a cada dia.

Qual a responsabilidade do prefeito?

É preciso salientar o seguinte: a construção de calçadas e manutenção das áreas de passeio de imóveis particulares é responsabilidade dos proprietários, conforme determina a Lei Municipal 11.596/05. A Prefeitura executa a manutenção quando as calçadas são danificadas por obras de concessionários, tais como Copel e Sanepar, e nos calçadões da área central: Rua das Flores, Senador Alencar Guimarães, trecho da Saldanha Marinho, no entorno de praças e área públicas, e em algumas ruas de maior fluxo de pedestres.

Entretanto, à Prefeitura compete fiscalizar para que as calçadas sejam construídas dentro das normas legais constantes do Plano Diretor do Município. É lógico que não será o prefeito, em pessoa, quem tratará das fiscalizações, mas os órgãos da Prefeitura que existem especificamente para essa finalidade. Entretanto a pessoa do prefeito torna-se responsável, sim, porque é em seu nome que se movem os segmentos saneadores da administração municipal. E no caso de irregularidades cabe à Prefeitura coagir os proprietários à sua correção sob pena de multa.

O que são calçadas dentro e fora das normas legais

O que os pedestres precisam, é transitar pelas calçadas sem enfrentarem dificuldades. Eventuais degraus, excessiva inclinação ou outros obstáculos como raízes de árvores e buracos no chão, se transformam em verdadeiras armadilhas, impossibilitando a passagem de idosos, deficientes, cadeiras de rodas, mães com carrinhos de bebê e pessoas com mobilidade reduzida. Uma calçada dentro dos padrões é aquela que permite a passagem de todos de forma segura e confortável.

Outro detalhe de vital importância é o de que calçadas devem ser planas e com declive de mais ou menos de 10 a 15 por cento, do imóvel até a guia de sarjeta. Qualquer calçada precisa ser construída a começar pela guia ou meio-fio, com aproximadamente 15 cm de altura entre a rua e o passeio.

Nenhuma forma de degrau pode ser construída na calçada. Todas as rampas que são montadas para que fique mais facilitado o acesso de veículos ou ainda qualquer outra forma de nivelamento entre a calçada e a casa, deve ser feita apenas na parte de dentro do imóvel. É expressamente proibido, construir acesso para veículos (rampas) na parte correspondente à calçada, já que as mesmas atrapalham a movimentação dos pedestres, especialmente aqueles que possuem alguma dificuldade na locomoção. Todos esses abusos encontrei em apenas três quarteirões da Av. João Gualberto, que lá estão há anos sem conta. Como explicar que as fiscalizações da Prefeitura fechem os olhos para tais infrações?!

Av. João Gualberto

Tomei como exemplo uma avenida qualquer da cidade, a João Gualberto, cortada pelas canaletas do ônibus expresso que faz o percurso Centro – Santa Cândida. É uma das mais importantes vias públicas da capital paranaense. Como disse acima, fotografei as calçadas de apenas três quarteirões da citada avenida, entre a Rua Mauá e a Rua Alberto Bolliger, e fico me indagando: como pode haver tamanho desleixo da Prefeitura? Como pode ser tão relapsa em fiscalizações e tão permissiva nas violações às normas do Plano Diretor da cidade? O pequeno trecho que fotografei e que poderá ser visto ao fim deste artigo, foi uma escolha casual. Em qualquer outro bairro da cidade as calçadas poderão estar em situação bem pior.

Ao prefeito eleito Rafael Greca

“A esperança é a última que morre”, diz o velho ditado. Oxalá o prefeito eleito de Curitiba, que será empossado dentro de três semanas, esteja receptivo para a vergonhosa situação das calçadas curitibanas e compreenda que essas falhas prejudicam também a acessibilidade, um tema de vital importância pelo qual, através de seus blogs, vem empenhado há anos o engenheiro João Carlos Cascaes, ex-presidente da Copel, meu confrade na Academia de Letras José de Alencar.

Queremos uma cidade onde se possa caminhar com segurança, onde nem as elegantes mulheres com seus sapatos de plataforma, nem os corajosos deficientes visuais, nem os idosos titubeantes, nem as crianças buliçosas, nem os cidadãos distraídos, fraturem os pés devido ao eterno descaso e à incompetência dos seus governantes.

Fica a minha sugestão para que o leitor procure conhecer a Lei nº 14.771, de 17 de dezembro de 2015, que dispõe sobre a revisão do Plano Diretor de Curitiba de acordo com o disposto no artigo 40, § 3º, do Estatuto da Cidade, e encontre na “Seção V – Da circulação de pedestres”, Art. 48: “São diretrizes específicas da política municipal da circulação de pedestres: (...) VI - desenvolver ações voltadas à conscientização da população quanto à importância das calçadas e das adaptações de acessibilidade, bem como quanto à responsabilização dos proprietários dos imóveis na construção e manutenção das calçadas, sendo facultado o compartilhamento da responsabilidade com o poder público, o qual poderá promover meios alternativos de restituição dos custos”.

Exercite seu direito de cidadania! E as autoridades que correspondam.

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Adiante, fotografias das calçadas da Av. João Gualberto na tarde de garoa de 10.12.2016:


 
FOTO 1 – Av. João Gualberto, olhando em direção ao centro da cidade.

FOTO 2 – Av. João Gualberto, olhando em direção ao bairro do Cabral.

 
FOTO 3 – Esquina da Av. João Gualberto com a Rua Mauá, onde se localiza do maior edifício do Juvevê e onde está instalado o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). Pelo lado da Mauá, há um inaceitável desnível entre o imóvel e o meio-fio. Pobres mulheres que tentam subir aquela rampa calçando sapatos de salto alto. Comenta-se que a Prefeitura finge não perceber a irregularidade porque tem medo de mexer com o Poder Judiciário, porém eu não posso acreditar nessa bobagem. Além do mais, juízes e desembargadores têm que ser os primeiros a dar o bom exemplo e a colaborar para que o Plano Diretor de Curitiba e o Estatuto da Cidade sejam respeitados e cumpridos. Mesmo da distância em que foi tirada a foto, dá para perceber a anomalia da calçada.

FOTO 4 – Calçada do TJ-PR: como se não bastasse a inclinação excessiva, formou-se um degrau escorregadio no lugar onde o meu dedo aponta.

FOTO 5 – Calçada do TJ-PR: se a foto fosse tridimensional, ver-se-ia quão irregular é a inclinação.

FOTO 6 – Esquina da Av. João Gualberto com a Rua Mauá (TJ-PR), no lado ímpar da avenida.

FOTO 7 – Uma “criativa” armadilha da URBS para quebrar o pé de transeuntes distraídos.

FOTO 8 – Esquina da Av. João Gualberto com a Rua Mauá (loja Camarotti), no lado par da avenida: mais um perigoso desnível da calçada, detalhado nas FOTOS 9 e 10.

FOTO 9 – Detalhe do perigoso desnível verificado na FOTO 8.

FOTO 10 – Detalhe do perigoso desnível verificado na FOTO 8.

FOTO 11 – Atoleiro? Não; é a entrada para a garagem do prédio nº 1134.

FOTO 12 – Calçada esburacada na Av. João Gualberto, 1125.

FOTO 13 – Calçada esburacada no mesmo endereço da FOTO 12.

FOTO 14 – Calçada-convite-para-tropeção na entrada da garagem (Av. João Gualberto, 1131, onde funciona o Banco do Brasil). Note-se a imperfeição da calçada ao longe, no alto da foto.

FOTO 15 – Na calçada do prédio nº 1181, vestígios do tronco de uma árvore cortada, que provoca tropeços, em meio às pedras do petit-paver porcamente colocadas.


FOTO 16 – Em frente ao Urban Office da Av. João Gualberto, um raríssimo trecho inteiramente dentro das normas, com a calçada em paver.


FOTO 17 – Av. João Gualberto nº 1237, porta de entrada do Banco do Brasil “Estilo”. Fizeram um semi-círculo elevado como uma bolha  em forma de rampa, para que os clientes entrem sem subir um degrau. Uma atitude a favor do cliente e contra os transeuntes de Curitiba. A calçada deverá voltar a ser reta, e o desnível construído DENTRO da agência. Veja detalhe na FOTO 18.


FOTO 18 – Por aqui vê-se o quanto foi elevada a calçada, ferindo o Plano Diretor de Curitiba.


FOTO 19 – Este é um trecho da Av. João Gualberto, entre as ruas Constantino Marochi e a Alberto Bolliger (onde, para o lado noroeste, tem o nome de Deputado Mário de Barros). Este é o mais crítico dos três quarteirões comentados.


FOTO 20 – Em frente ao nº 1351.


FOTO 21 – Em frente ao nº 1353.


FOTO 22 – Em frente ao nº 1365.


FOTO 23 – Inclinação excessiva e buraco em frente ao nº 1375. Vide detalhe na FOTO 24.


FOTO 24 – Detalhe da foto anterior, na mesma Av. João Gualberto nº 1375: além do violento desnível da calçada, as águas pluviais da calha são direcionadas aos pés dos transeuntes. O quebra-tornozelo à direita pertence ao nº 1395.


FOTO 25 – Buracos em frente ao nº 1423.


FOTO 26 – Um verdadeiro tobogã escorregadio no desnível da calçada em frente ao nº 1449.


FOTO 27 – Acabaram de refazer o petit-paver da galeria por onde se acessa a garagem do prédio nº 1467. Duas incógnitas: primeira, que tratamento darão à sequência da calçada para evitar um degrau ou acentuado declive; segunda: e a excessiva inclinação da calçada, tal como se vê em detalhe nas FOTOS 27-A e 28?


FOTO 27-A – Boa inclinação para uma pista de esqui na calçada do prédio nº 1467.


FOTO 28 – Como o prédio nº 1467 resolverá os problemas enunciados na duas fotos anteriores? O que sugeriria a fiscalização da Prefeitura?


FOTO 29 – Um degrau entre a Maxifarma e o Bradesco.


FOTO 30 – Entre o nº 1430 (Edif. Quebec) e o nº 1448 (Edif. Golden Place) há um obstáculo injustificável: uma viga de concreto restou atravessada no meio da galeria. Como a calçada é péssima, uma cadeira de rodas não conseguirá passar nem pela calçada, muito menos pela galeria.  As duas fotografias seguintes explicam melhor a situação do obstáculo.


FOTO 31 – O problema do obstáculo mostrado na foto anterior, aqui está mais evidenciado. O estranho é que em ambos os lados o piso é quase da mesma altura, de modo que se não existisse essa anomalia, a circulação de pedestres seria normal por ali. A foto seguinte dá uma visão em sentido contrário.


FOTO 32 – Em sequência às duas fotos anteriores, esta complementa a estranheza do obstáculo horizontal. Uma britadeira destruiria com certa facilidade esse concreto incômodo. Mais um detalhe: vasos com plantas são sempre elementos que decoram com bom gosto e elegância, mas quando colocados rentes à parede, e não obstruindo ainda mais a passagem por uma galeria.


FOTO 33 – Em frente ao nº 1418 (Loterias Juvevê), crateras absurdas. Que mau exemplo para uma cidade que tem a pretensão de ser uma das melhores do país.


FOTO 34 – Esquina da Av. João Gualberto com a Rua Deputado Mário de Barros (prédio do Bradesco) com a calçada toda irregular e esburacada.


FOTO 34-A – Na mesma esquina indicada na foto anterior existe uma armadilha para fraturar os pés dos transeuntes. Se esta fotografia fosse tridimensional, daria para notar que meu dedo aponta a uma cratera, uma depressão profunda surgida naquele ponto.


FOTO 35 – Detalhe da esquina mostrada na FOTO 34.


FOTO 36 – Voltando ao lado par da João Gualberto, onde a Rua Alberto Bolliger começa como uma sequência da Rua Deputado Mário de Barros, há uma confeitaria, onde o desnível da calçada também é irregular. O degrau ou rampa para compensar o desnível tem que ser feito DENTRO da propriedade.


FOTO 37 – Em frente ao prédio nº 1452.


FOTO 38 – Ainda na João Gualberto, mas atravessando a Mário de Barros – e portanto avançando um pouquinho no quarto quarteirão – localiza-se o Mercadorama que ocupa a quadra inteira. Uma curiosidade: observando-se a foto acima, vê-se que do lado direito está a galeria (num nível mais baixo) que ainda mostra vestígios de ter sido restaurada. De fato, o restauro terminou há apenas uma semana e foi muito bem feito. Do lado esquerdo está a calçada, que continuou esburacada. Ao Mercadorama interessou restaurar apenas a galeria, mas não de importou com os transeuntes da calçada. A foto seguinte revela mais um detalhe.


FOTO 39 – Prosseguindo sobre o exposto na foto anterior, restou uma armadilha na calçada do Mercadorama – o tronco de uma árvore – para fraturar o pé de algum pedestre ou proporcionar-lhe um tremendo tombo.


FOTO 40 – Deixando a Av. João Gualberto e subindo apenas 30 metros pela Rua Constantino Marochi (vide FOTO 19), encontra-se esta situação esdrúxula: uma rampa para garagem que destrói a calçada, um degrau e... parafraseando Carlos Drummond de Andrade, “tinha uma árvore no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma árvore”. Pobres e nauseabundas calçadas de Curitiba! Quem acorrerá a seu socorro?


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