segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

"A REGIÃO DO JUNGFRAU NO OBERLAND BERNÊS (SUÍÇA), O LUGAR MAIS BONITO DO MUNDO" artigo do Comendador FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI.

Rubens Faria Gonçalves e Francisco Souto Neto (com roupas alpinas) enquanto descem pelas trilhas rumo a Grindelwald.

PORTAL IZA ZILLI

Iza Zilli

Comendador FRANCISCO SOUTO NETO

REGIÃO DO JUNGFRAU NO OBERLAND BERNÊS (SUÍÇA), 
O LUGAR MAIS BONITO DO MUNDO

Francisco Souto Neto

Meu artigo da semana passada, sobre a fase final da vida da rainha Maria Antonieta, foi um tanto “pesado” devido às minhas referências e ilustrações aos fatos escabrosos ocorridos após a Revolução Francesa, que derivaram para o período histórico conhecido como O Terror. No meu tema de hoje, resolvi abrandar e escrever sobre os cinematográficos arredores da cidade suíça de Interlaken, onde já estive em seis diferentes ocasiões.

Muitas vezes perguntam-me que lugar eu considero o mais bonito do mundo. Respondo sempre sem titubear: do mundo que eu conheço, é a Região do Jungfrau (Jungfrau Region), no Oberland Bernês (Berner Oberland), região central da Suíça, onde a Natureza se exibe da maneira mais exuberante que se possa imaginar.

O Oberland Bernês é um maciço montanhoso dos Alpes. A mais importante cidade da região é Interlaken, situada entre os lagos Thun e Brienz, ponto de partida para dezenas de passeios. Poucos lugares do planeta encerram tantas e diferentes maravilhas, não só naturais, como também construídas pelo homem. Adiante, comentarei apenas alguns desses locais, porque para me referir a todos eles demandaria um livro inteiro.

FOTO 1 – A cidade de Interlaken (Suíça) com as montanhas Eiger, Monch e Jungrau ao fundo.

FOTO 2 – Este mapa da Região do Jungfrau mostra a cidade de Interlaken, que fica entre dois lagos, e algumas das muitas atrações para serem visitadas. A seta vermelha está indicando a estação final da estrada de ferro mais alta da Europa, que leva a Junfraujoch, "O Topo da Europa".


Interlaken

A cidade de Interlaken, extremamente limpa e ajardinada como todas as demais localidades suíças, é onde os turistas costumam hospedar-se para excursionar pela região. Os hotéis contam-se às dezenas, e os mais caros são verdadeiros palácios construídos no século XIX. O Victoria-Jungfrau Hotel, por exemplo, hospedou Mark Twain e até mesmo o imperador brasileiro D. Pedro II. Inaugurado em 1856, localiza-se no nº 41 da Höheweg, a principal avenida. Ao passar em frente ao prédio, nunca deixei de observar, através dos janelões, o cintilar dos lustres de cristal e os detalhes dourados em paredes e portas. Por uma só vez hospedei-me em Interlaken, no Hotel Carlton, situado no nº 82 da mesma Höheweg. Em outros anos fiquei durante alguns dias em Lauterbrunnen, a apenas 18 quilômetros de Interlaken, e em outras ocasiões na antiga cidade de Berna (um pouquinho mais distante de Interlaken) que é não apenas capital do Oberland Bernês, mas também da própria Suíça.

 
FOTO 3 – Hotel Carlton de Interlaken. Clicando sobre a foto e ampliando-a, Rubens Gonçalves poderá ser visto acenando da sacada do apartamento no 5º andar, na esquina do prédio.

FOTO 4 – Rubens Gonçalves à beira do Rio Aar, em Interlaken.

FOTO 5 – Rubens Gonçalves filmando o trem que passa às margens do plácido Rio Aar, Interlaken.


Lauterbrunnen

            Meu companheiro de muitas viagens, Rubens Faria Gonçalves, costuma dizer que a imagem mais próxima que ele possa fazer do Paraíso, é o Vale de Lauterbrunnen, e eu acho que ele em nada exagera. É que Lauterbrunnen, perto de Interlaken, situa-se num vale que na última Idade do Gelo foi fundo de uma gigantesca geleira. Com cerca de dois quilômetros de largura na sua base coberta de pastagens e de flores, por um comprimento de talvez uns 20 quilômetros, os paredões de ambos os lados erguem-se abruptamente, verticais, a uma altura de mais ou menos 400 metros, dos quais caem cascatas espetaculares. Devido à altura, as águas parecem cair em câmara-lenta. A mais importante de todas as aproximadamente trinta cascatas, chama-se Staubbach, que Goethe comparou com a “cauda do pálido cavalo que a Morte monta no Apocalipse”. As águas, ao caírem através de centenas de metros, formam milhões de gotas suspensas no ar.

FOTO 6 – O lindo cemitério florido de Lauterbrunnen, com a Cascata Staubbach ao fundo, apelidada por Goethe de “Cauda de Cavalo do Apocalipse”.

 
FOTO 7 – Passeio ao redor de Lauterbrunnen. A seta indica o Hotel Oberland, onde também ficamos hospedados. À esquerda da foto vê-se a cascata "Cauda do Cavalo do Apocalipse".

 
FOTO 8 – Rubens Gonçalves no tapete natural de flores, arredores de Lauterbrunnen.

 FOTO 9 – Francisco Souto Neto e as flores silvestres do vale de Lauterbrunnen.

FOTO 10 – Rubens Faria Gonçalves em trilha no vale de Lauterbrunnen.

FOTO 11 – Souto Neto em momento de repouso e contemplação nos arredores de Lauterbrunnen.


Trümmelbachfälle

Se a Cascata de Staubbach impressiona pela extrema beleza, as Quedas de Trümmelbachfälle, a três quilômetros de Lauterbrunnen – 45 minutos a pé –, assustam o visitante. Ao chegar ao Parque de Trümmelbach, toma-se um elevador construído há mais de um século e sobem-se cerca de 150 metros, onde está a entrada cavada na rocha, que leva às galerias naturais dentro da montanha, para ali se admirar as Quedas de Trümmelbach através de imensas fissuras cavadas pela própria água ao longo de milhões de anos. Em alguns lugares o caminho é muito estreito e tão escuro que a luz elétrica é mantida acesa ininterruptamente. As cachoeiras no interior da montanha caem ao lado do visitante, em remoinhos, batendo pelas paredes e fissuras abaixo, num ruído tão ensurdecedor que não se ouve a própria voz. É preciso comunicar-se aos gritos. Percebe-se muito bem, e sem exagero, que a montanha estremece com a violência das águas. Ao sair dos subterrâneos, o visitante, semi-encharcado, chega a agradecer pelo sol brilhando generosamente sobre a quietude do vale, e pelo perfume das flores.

FOTO 12 – Souto Neto ao lado do Hotel Oberland, com a cascata "Cauda de Cavalo do Apocalipse" ao fundo, momentos antes de iniciar a caminhada rumo às Quedas de Trümmelbach.

FOTO 13 –  Francisco Souto Neto no vale alpino de Lauterbrunnen, caminhando em direção a Trümmelbachfalle.

FOTO 14 – Rubens Gonçalves e Souto Neto, em foto tirada por câmera automática sobre tripé, no caminho rumo a Trümmelbachfalle.

FOTO 15 – Em Trümmelbach, o cartaz que anuncia o elevador que leva até à entrada da montanha, em cujo interior estão as Quedas de Trümmelbach.

FOTO 16 - Entrando nas grutas onde estão as Quedas de Trümmelbach. Dentro da gruta, no primeiro salto, havia um arco-íris.

FOTO 17 – Rubens Faria Gonçalves ao lado de uma das quedas no interior da montanha, que produzia ruído ensurdecedor.


Wengen

Subir de trem até à estação de Almend, e de lá descer a pé a Wangen, é uma experiência única para quem quiser passar por inesquecíveis trilhas e cruzar com as vacas que são comuns a toda aquela região.

FOTO 18 – Rubens Faria Gonçalves e vacas suíças de Wengen, arredores de Lauterbrunnen.


FOTO 19 – Francisco Souto Neto em trilha de Wengen com vacas suíças, perto de  Lauterbrunnen.


Allmendhubell

Ao lado direito de Lauterbrunnen, pelo paredão vertical, sobe-se em bondinho aéreo até Grütschalp, donde alcança-se a cidade de Mürren de trem, numa estrada de ferro de 4 quilômetros e meio. Em Mürren não circulam carros e a cidade é admirável e silenciosa. Uns cem metros acima de Mürren está Allmendhubel, onde chega-se através dos trilhos de um funicular. Allmendhubel não é uma vila; é apenas um lugar num planalto alpino, onde as pessoas percorrem trilhas pelo prazer de passear entre flores silvestres e vacarias entre os picos nevados das montanhas circundantes. É um dos lugares mais espetaculares dos Alpes.

FOTO 20 - Souto Neto em Allmendhubel, próximo a Lauterbrunnen.

FOTO 21 – Rubens Gonçalves em Allmendhubel, próximo a Lauterbrunnen.

FOTO 22 – Francisco Souto Neto nas trilhas de Allmendhubel, perto de Lauterbrunnen.


As flores do vale de Lauterbrunnen

Os riachos que serpenteiam pelo Vale de Lauterbrunnen são formados por águas do degelo dos cumes porque, acima dos altos paredões, erguem-se as montanhas alpinas que ultrapassam os 4 mil metros. Essas águas são ligeiramente leitosas e de um admirável esverdeado. Os antigos acreditavam que fossem águas criadas pelos deuses das montanhas nevadas. Os donos de alguns dos pequenos bares ao longo das trilhas construídas às margens dos riachos, deixam os caixotes com garrafas de cerveja dentro de tais cursos d’água para mantê-las geladas.

Nos meses do verão europeu, o Vale de Lauterbrunnen enche-se de flores silvestres multicoloridas e extremamente abundantes. Se alguém fechar os olhos, abaixar-se e levar o dedo em direção ao chão, é bem mais provável que encontre uma flor, e não uma folha da grama. E isso não acontece somente em Lauterbrunnen, mas em toda a extensão dos Alpes, desde a França, passando pela Suíça, e seguindo pela Áustria e Itália. A beleza do tapete natural de flores é indescritível.

FOTO 23 – A incrível riqueza das flores silvestres, que neste trecho encontrei com cores mais variadas.

 
FOTO 24 – Francisco Souto Neto em área de flores amarelas, as mais comuns.

 
FOTO 25 – Rubens Faria Gonçalves com vaca alpina ao fundo, muito mansa.

Aí está o que considero importante: é o viajante estar livre dos “pacotes turísticos” para poder dispor do seu tempo como quiser. Passear pelas trilhas dos vales alpinos floridos, observando os contrastes com os picos nevados nas montanhas circundantes, é uma extraordinária experiência que nos remete ao transcendental. Meu amigo Rubens está coberto de razão: Lauterbrunnen é uma visão do Paraíso!


Arredores de Grindelwald

Grindelwald é uma cidade antiga, estratégica para quem pretende passear pelas atrações entre Interlaken e o Jungfrau. Um desses lugares é Pfingsteg, donde se tem magnífica visão das montanhas ao redor e da própria Grindelwald localizada num vale muito abaixo.


FOTO 26 – Arredores de Grindelwald, pelas trilhas.

FOTO 27 – Pelas trilhas nos arredores de Grindelwald.

FOTO 28 – Num dos pontos mais altos de Pfingsteg, com Grindelwald muito abaixo.


FOTO 29 – Francisco Souto Neto descendo pelas trilhas em direção a Grindelwald.

FOTO 30 – Um momento de descanso de Rubens Faria Gonçalves e Francisco Souto Neto (com roupas alpinas) enquanto descem pelas trilhas rumo a Grindelwald.


O topo da Europa

Passeio previsto para um dia inteiro é o que se faz de trem partindo de Interlaken, passando por Grindelwald, até Jungfraujoch, estação de trem encravada na montanha, à altitude de 3.475 metros. É a mais alta estrada de ferro da Europa. Os últimos 10 quilômetros são feitos em cremalheira, no caminho férreo escavado por dentro da rocha. Antes de o trem chegar ao destino, faz duas paradas em diferentes lados da montanha, para que os passageiros possam descer por uns instantes do comboio, e apreciar o panorama através de imensos janelões envidraçados, abertos de dentro para fora da montanha. Essa estrada de ferro com seu extenso túnel é considerada uma das maravilhas da Engenharia. Sua construção começou em 1896 e a estação de Jungfraujoch foi inaugurada em 1º de agosto de 1912. Esse ponto final da ferrovia localiza-se no interior da montanha. Após desembarcar, anda-se pelo Túnel Sphinx com mais de cem metros de extensão, ao fim do qual está a saída para o ar livre, num vasto topo coberto de neves eternas. 

Além de ser possível andar pelos caminhos abertos na própria neve por tratores especiais, há alguns tipos de diversão. Por exemplo, numa pista em forma de um “8”, cães da raça Husky Siberiano puxam os turistas em trenós. Retornando-se ao Túnel Sphinx, pode-se tomar um elevador que ascende até a um observatório construído a 3.571 metros. Na outra extremidade do mesmo túnel, desemboca-se num imenso restaurante e lanchonete denominado Top of Europe e, em determinado local, há uma entrada escavada na geleira do Jungfrau, que leva a um dos mais pitorescos museus do mundo: o Museu de Gelo. Corredores, paredes, teto, escadas... tudo foi entalhado no gelo eterno. Esse museu abriga esculturas... obviamente de gelo: formas de animais, figuras abstratas, e até... um Sherlock Holmes!

FOTO 31 – Souto Neto no Jungfrau, a quase 4000 metros de altitude, sem sentir frio, entre esquiadores e cães-esquimós.

FOTO 32 - Detalhe do homem puxando o trenó, entre os Huskys Siberianos.

FOTO 33 - Detalhe do cartaz que explica os Huskys Siberianos.

FOTO 34 – Rubens Faria Gonçalves pouco acima do local onde os cães-esquimós (Husky Siberiano) puxam os trenós.

FOTO 35 – Atrás de Francisco Souto Neto vê-se, no alto do pico, o Observatório Sphinx.

FOTO 36 – Rubens Faria Gonçalves com o complexo turístico do Jungfrau à direita da foto. Pode-se também ver, na parte mais alta, o Observatório Sphinx.

FOTO 37 – Corredor do Palácio do Gelo (ou Museu de Gelo), escavado na geleira eterna do Jungfrau, onde absolutamente tudo é de gelo.

FOTO 38 – Esculturas no Palácio do Gelo (ou Museu de Gelo).

Estive em Jungfraujoch em 1993 e 1995, e guardo ainda a esperança de um dia retornar às neves e ao gelo eterno da extraordinária montanha.

Eu aqui me referi a apenas algumas das atrações turísticas do Oberland Bernês (Berner Oberland), porém há mais, muito mais. Há ali dezenas de outras maravilhas não menos espetaculares. Somando-se todas essas belezas a um povo educado, rico e privilegiado por viver num país onde não existe violência urbana e assaltos são raríssimos, quase inexistentes, não há como não afirmar que ali deve ser, mesmo, o Paraíso Terrestre.


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ABAIXO, FILMES CURTOS FEITOS POR FRANCISCO SOUTO NETO E RUBENS FARIA GONÇALVES NA REGIÃO DO JUNGFRAU:

1 – JUNGFRAUJOCH. BERNA a INTERLAKEN. GRINDELWALD (ou GRÜNEWALD), KLEINE SCHEIDEGG e JUNGFRAUJOCH em 1991, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=Ib9wV3hljNI

2 – TRÜMMELBACH FALLS e LAUTERBRUNNEN em 1993, edição de Rubens Faria Gonçalves: https://www.youtube.com/watch?v=-KmhmBx6LR8

3 – MÜRREN e ALLMENDHUBEL em 1993, edição de Rubens Faria Gonçalves: https://www.youtube.com/watch?v=09jyNq8HxI0

4 – Trem de AMSTERDAM a LAUTERBRUNNEN em 1993, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=KCFrvlsbpoo

5 – LAUTERBRUNNEN (Parte 1) em 1993, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=jTnN98qjRHk

6 – LAUTERBRUNNEN (Parte 2) com JUNGFRAUJOCH em 1993, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=2zBE1CnkeWw

7 – LAUTERBRUNNEN (Parte 3) com KLEINE SCHEIDEGG  em 1993, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=M5z7Df-pnxM

8 - LAUTERBRUNNEN (Parte 4) com ST. BEATUSHÖHLEN em 1993, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=XjSR6OpdbF8

9 – LAUTERBRUNNEN (Parte 5) com MÜRREN e ALLMENDHUBEL em 1993, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=AB0U25s_bcA

10 – LAUTERBRUNNEN (Parte 6) em 1993, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=wUuv-erOdug

11 – INTERLAKEN (Parte 4) primeiras impressões em 1995, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=Gaiwxo-PWx4

12 – INTERLAKEN (Parte 5) em 1995, GRINDELWALD, PFINGSTEG, FIRST, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=fA-lpKgdmmE

13 – INTERLAKEN (Parte 6) em 1995, LAUTERBRUNNEN e HARDER KULM, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=UWml14aK9sU

14 – INTERLAKEN (Parte 7) em 1995, ALLMEND e WENGEN, edição de Francisco Souto Neto:  https://www.youtube.com/watch?v=gRM07s1oP3k

15 – INTERLAKEN (Parte 8) em 1995, e trilhas de LAUTERBRUNNEN, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=GDeRXYCdGSw

16 – INTERLAKEN (Parte 9) em 1995, as neves de NIESEN KUML e os jardins de SPIEZ, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=DNUTVd9taV4

17 – INTERLAKEN, NIESEN KULM e SPIEZ em 1995, edição (repetida) de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=3byf2SgJ8qo

18 – LUCERNA, INTERLAKEN e BERNA em 1995, edição (repetida) de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=bRnke7Z7HqI


19 – ZURICH e giro por LUCERNA, INTERLAKEN e BERNA em 1997, edição de Francisco Souto Neto: https://www.youtube.com/watch?v=Dwx4PbjYrmk


O autor Francisco Souto Neto em 2005.

FIM

UM ADENDO EM MAIO DE 2023:

O autor Francisco Souto Neto em maio de 2023, prestes a chegar aos 80 anos de idade.

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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

"MARIA ANTONIETA: PRISÃO E GUILHOTINA (2ª parte - Final)" coluna do Comendador FRANCISCO SOUTO NETO no PORTAL IZA ZILLI.

PORTAL IZA ZILLI

No delírio da Revolução Francesa, a Deusa da Razão pisa sobre a cruz.

Iza Zilli

Comendador FRANCISCO SOUTO NETO


Maria Antonieta: prisão e guilhotina
(2ª parte – Final)

Francisco Souto Neto


Algumas vezes, em viagens à Europa, tenho seguido os passos de personagens históricos. Esta é a vantagem de viajar-se por conta própria, sem excursões organizadas por agências de turismo, e por isso ter a liberdade de ir onde quiser e ali ficar pelo tempo que sentir vontade. Foi assim que estive em alguns lugares onde viveu Maria Antonieta, a trágica rainha de França, conforme narrei em minha coluna anterior denominada “Maria Antonieta: um casamento sem amor e le Hameau de la Reine”. Hoje comentarei os últimos dias da rainha e sua morte na guilhotina.

FOTO 1 – Embora popularmente conhecida entre nós como “Maria Antonieta”, seu nome em português é grafado corretamente como “Maria Antônia Josefa Joana de Habsburgo-Lorena. Em alemão é Maria Antonia Josepha Johanna von Habsburg-Lothringen (os dois primeiros nomes são mesmo latinos) e em francês Marie-Antoinette Josèphe Jeanne de Habsbourg-Lorraine (o nome composto pronuncia-se “marrí antoanéte”).

Maria Antonieta e Luís XVI tiveram quatro filhos: Maria Teresa (1778-1851), Luís José (1781-1789), Luís Carlos (1785-1795) e Sofia (1786-1787). Sobreviveu à Revolução Francesa somente a primogênita Maria Teresa. Luís José e Sofia morreram na infância. Luís Carlos, que deveria vir a ser o rei Luís XVII, morreu também na infância, mas já órfão e no cárcere, com apenas 10 anos.

FOTO 2 – Rainha Maria Antonieta em 1787 com seus três filhos. A pintura feita por Madame Le Brun estava praticamente pronta, quando a recém-nascida Sofia morreu. Então o berço restou vazio, coberto com um tecido preto.

 FOTO 3 – O rei Luís XVI nesta mesma época.

A França atravessava um período de grande crise e o povo sentia-se oprimido pelos impostos, pela pobreza e até mesmo pela fome. Todos se rebelavam contra os privilégios dos nobres e a excessiva riqueza da família real. Insuflados por panfletos falsos, consideravam Maria Antonieta perdulária e apontavam-na como a fonte de todos os males.

FOTO 4 – Em seu último retrato oficial (1788) pintado por Elisabeth Vigée-Le Brun (ou Madame Le Brun), Maria Antonieta aparece com vestidos bem mais simples (para simbolizar austeridade) lendo um livro. Ela buscava melhorar a sua imagem pública.

O caso do colar

Foi quando surgiu o escândalo do colar. O joalheiro da corte, Boehmer, pensava ter vendido um caríssimo colar de centenas de brilhantes à rainha, que teria tido o cardeal de Rohan como avalista, e ambos foram cobrar a dívida a Maria Antonieta. Na verdade, ocorreu uma fraude arquitetada pela condessa Joanne de la Motte-Valois, que contratou uma atriz, Nicole d’Oliva, que se vestiu de Maria Antonieta e que nas sombras da noite, nos jardins do palácio, conseguiu enganar o joalheiro e o avalista e recebeu o colar como se fosse a soberana. Ambos pensavam ter feito um negócio com a rainha. Esta, a verdadeira Maria Antonieta, indignada por ser cobrada de uma dívida por ela desconhecida, pediu a prisão de ambos, sem saber que eles eram também vítimas de uma fraude. A história do colar é bastante complexa e extensa demais para ser pormenorizada por mim neste espaço, mas poderá ser encontrada nos livros da História da França, na internet e até mesmo num filme que, dentre os vários que foram feitos sobre esse fato histórico, o que me parece mais fiel à realidade chama-se “O Enigma do Colar” (“The Affair of the Necklace”).

FOTO 5 – Capa do DVD “O Enigma do Colar” (“The Affair of the Necklace”).

FOTO 6 – Esta é uma réplica do famoso colar. Para a estética dos nossos dias, a peça parece feia e até grotesca, mas no século XVIII era considerado um colar bonito e elegante.

O boato que correu de boca em boca através do país inteiro, era de que a rainha tinha comprado aquele colar enquanto o povo passava necessidades. Inventaram também que ao se comentar com a rainha que o povo não tinha pão para comer, ela teria respondido: “Se eles não têm pão, que comam bolo”. Não se atribui o surgimento da Revolução Francesa somente ao ódio à rainha. Sua origem é muito mais ampla e profunda, e disto não me ocuparei neste texto. Basta lembrar apenas que os franceses estavam rebelados contra o absolutismo e a riqueza excessiva dos nobres em contraponto à miséria do povo. Os princípios da Revolução foram válidos, porque baseados em “liberdade, igualdade e fraternidade”. O problema é que esses princípios foram rapidamente desprezados e o povo, fanatizado e ignorante, descambou para a violência e fez dar início a um dos períodos mais negros da História Mundial, que foi a oficialização do Terror.

A prisão da família real

Em 6 de outubro de 1789, uma multidão furiosa de mulheres trabalhadoras, incitadas por revolucionários e por eles seguidas, marchou contra Versalhes, matou os guardas suíços e invadiu o palácio.

FOTO 7 – A família real acuada pela multidão furiosa que, uivando de ódio igualitário, invadia o palácio.

O casal real e os filhos foram presos na Torre do Templo. Passaram-se três anos enquanto corriam os processos contra a nobreza. Alguns artistas retrataram Maria Antonieta na prisão, certos de que seus trabalhos teriam importância naquele momento e em futuro próximo.

FOTO 8 – Retrato de Maria Antonieta em pastel, de 1792, inacabado, porque enquanto Alexandre Kucharski trabalhava nele, a rainha foi transferida para uma cela da terrível prisão de La Conciergerie, e o artista não teve mais acesso à prisioneira.

 Foi nessa ocasião que se iniciaram os Massacres de Setembro de 1792, que simbolizam o terrorismo como instrumento de controle do poder. Em Paris e em várias cidades da França, os revoltosos começaram a invadir as prisões para matar os prisioneiros políticos. A matança estendeu-se a padres e a pessoas comuns que apresentassem sinais de riqueza. O símbolo mais contundente da violência dos Massacres de 1792 é a doce princesa de Lamballe.

A princesa de Lamballe

A princesa de Lamballe era a mais íntima amiga de Maria Antonieta. Os registros históricos têm-na como um exemplo de caráter e honestidade.

FOTO 9 – Maria Teresa Luísa de Sabóia (em francês Marie-Thérèse-Louise de Savoie-Carignan), a princesa de Lamballe.

Ela foi massacrada ao sair para o pátio da prisão. Segundo um historiador, “a princesa de Lamballe foi morta na sequência de um equívoco atroz: ao sair para o pátio da prisão, ela teria passado mal, e os assassinos à espreita, armados com pedaços de pau e lanças, acreditando que ela já teria levado o primeiro golpe, mataram-na com suas armas”. Em seguida degolaram-na e espetaram sua cabeça numa estaca, que foi levada pela turba furiosa até à janela da cela onde Maria Antonieta estava presa. Ao ver a cabeça da amiga, a rainha sofreu uma vertigem e caiu desmaiada.


FOTO 10 – A princesa de Lamballe assassinada


FOTO 11 – O povo dança ante a cabeça da princesa de Lamballe numa estaca, sendo levada à janela da cela de Maria Antonieta para ser vista pela rainha.

Deus é abolido, dando lugar à Deusa da Razão

Dentre as insanidades da Primeira República Francesa, está a abolição de Deus e a introdução da Deusa da Razão como um símbolo do novo Culto da Razão. Padres e rabinos foram mortos, assim como seus seguidores. Igrejas e sinagogas foram saqueadas, a cruz foi retirada de todos os locais onde existia, e os portões dos cemitérios deveriam ter somente uma inscrição: “A morte é um sono eterno”. O Culto da Razão, mais do que a renúncia a Deus ou a mais deuses, era uma forma de religião convencional. A descristianização espalhou-se pela França, e as igrejas foram transformadas em templos para o Culto da Razão.

O primeiro Festival da Razão foi realizado simultaneamente em todo o país no dia 10 de novembro de 1793, organizado por Jacques Hébert e Antoine-François Momoro. Desmontaram o altar da Catedral de Notre-Dame e em seu lugar instalaram o altar à Liberdade. O protocolo tomou várias horas e terminou com a aparição da Deusa da Razão que, para evitar idolatria, foi apresentada como uma mulher comum.

FOTO 12 – Procissão da Deusa da Razão pelas ruas de Paris em 1793, por Henri Renaud.

FOTO 13 – Deusa da Razão em procissão por Paris, óleo sobre tela de Charles Louis Müller (1878).

FOTO 14 – Detalhe do pé da Deusa da Razão, da tela anterior, por Charles Louis Müller (1878).

No ano seguinte, 1794, Robespierre, que detinha poderes ditatoriais e que diariamente condenava à morte muitas pessoas “suspeitas”, achou melhor acabar com o Culto da Razão, e em seu lugar instituiu o Culto ao Ser Supremo. Herbert, Momoro e centenas de outros adeptos da Deusa da Razão foram mandados por ele para a guilhotina. Ambos os cultos coexistiram entre respectivos fanáticos, até serem oficialmente extintos por Napoleão I no começo do século seguinte.


Mas voltemos a Maria Antonieta. 

Os últimos dias da rainha

O rei Luís XVI, condenado à morte, foi executado na guilhotina em 21 de janeiro de 1793. Em 2 de agosto do mesmo ano a rainha, agora chamada de “Viúva Capeto”, foi transferida para a sinistra Conciergerie, onde ela chegou muito doente e com hemorragia. A pintora Sophie Prieur retratou-a em sua cela usando luto e com o rosto sofrido e envelhecido.

FOTO 15– “A Viúva Capeto na Conciergerie”, por Sophie Prieur.

Em 14 de outubro foi julgada perante o Tribunal Revolucionário, onde foi acusada de todos os problemas da França. Quarenta e uma testemunhas a denegriram e insultaram, acusando-a dos maiores absurdos, até de manter uma relação incestuosa com o filho (também prisioneiro) que estava então com 7 ou 8 anos. Ela se defendeu de todas as acusações com vigor e sem nenhuma contradição. Entretanto o seu julgamento era uma farsa e os juízes já estavam previamente combinados para condená-la à morte por unanimidade. Ela ouviu a sentença em silêncio.
Deram-lhe material para escrever seu testamento, e ela escreveu uma carta à sua cunhada, que é hoje um comovente documento de amor e respeito a seus familiares e amigos.


Eu estive na Conciergerie, conheci a cela onde Maria Antonieta esteve presa, agora transformada em capela. Ao lado dessa capela recriaram o ambiente original do cubículo, com o catre onde a rainha dormia, vigiada dia e noite por um guarda armado, em pé atrás de um biombo que chegava até somente à altura dos ombros do soldado.
A capela tem agora um altar. A janela alta, que dá para a calçada de uma rua por onde as pessoas passavam e gritavam insultos contra a prisioneira, conta hoje com um belo vitral contendo as iniciais de Maria Antonieta.

FOTO 16 – A reconstituição da cela da rainha, com as figuras em cera de Maria Antonieta, de luto, com a bílblia nas mãos, observada por um soldado.

FOTO 17 – Nesta pintura vê-se o soldado abaixado atrás do biombo e pessoas que, passando pela rua, insultam e cospem na rainha através da grade da janela.

FOTO 18 – A cela original da rainha, hoje uma capela.

FOTO 19 – A grade da janela foi substituída por um vitral com as iniciais de Maria Antonieta.


Numa das viagens a Paris, fiz um filme em VHS que resumi a apenas três minutos, mostrando a Conciergerie e a cela original de Maria Antonieta, hoje transformada em Capela Expiatória, e ao lado a reconstituição da cela, com a figura de Maria Antonieta de cera, vestida de luto pela morte de Luís XVI. Eis o filminho no YouTube:


A morte

Dois dias depois prepararam a rainha para a morte. Proibiram-na de pôr o seu vestido preto de luto, porque os condenados eram obrigados a usar roupa branca. Ela então trajou a sua camisola, que era a única peça branca que tinha para cobrir o corpo. Alguém cortou grosseiramente seu cabelo à altura da nuca e pôs-lhe um gorro. A porta por onde ela saiu da Conciergerie é hoje a entrada para um café frequentado pelas pessoas que visitam aquele prédio. Eu atravessei o portão que é antecedido de alguns degraus, e vi o local onde um carro de madeira, ou uma charrete aberta, esperava por ela.

FOTO 20 – A rainha saindo da Conciergerie rumo ao patíbulo.

Ela teve as mãos amarradas às costas, sentou-se na banqueta do carro de madeira de duas rodas e foi levada pelas ruas de Paris rumo à hoje chamada Place de La Concorde. Quando ela passou pelo prédio da Rue St. Honoré, onde se encontrava o artista Jacques-Louis David, ele fez um esboço de como viu a rainha.

FOTO 21 – O pintor David desenhando a passagem da rainha na charrete dos condenados. Óleo dobre tela de Joseph-Emmanuel van den Büssche.

FOTO 22 – Esboço de David: a rainha sendo levada ao patíbulo.

FOTO 23 – A execução da rainha Maria Antonieta e sua cabeça espetada numa lança. Artista desconhecido.

Ao subir ao patíbulo, Maria Antonieta acidentalmente pisou no pé do carrasco. Disse-lhe: “Desculpe, senhor, foi sem querer”.

Após a execução, o corpo foi colocado num caixão e a cabeça entre as suas pernas. Seus restos mortais foram enterrados em vala comum no Cemitério de Madeleine, na Rue d’Anjou. Quando a notícia correu a Europa, todos os países decretaram luto.

Através de muitas pesquisas eu descobri o local exato, na Place de la Concorde, onde esteve instalada a guilhotina no dia da morte de Maria Antonieta. Poucas pessoas sabem que aquele foi um lugar de muita dor e desespero.

O filho, delfim de França, que deveria ser um rei sob o nome de Luís XVII, continuou preso por mais dois anos após a execução da rainha e morreu aos 10 anos no cárcere.

FOTO 24 – O herdeiro do trono morreu no cárcere aos 10 anos, provavelmente vitimado de doença infecciosa.

Depois do Reino do Terror

A História da França é cheia de “idas e vindas”. Após o Terror, com a guilhotina fazendo brotar rios de sangue, e com o próprio e cruel Robespierre guilhotinado, veio a era napoleônica. O general Napoleão Bonaparte coroou-se imperador da França com o nome de Napoleão I, e passou a viver com o mesmíssimo fausto e luxo dos tempos do Rei-Sol.

Depois de Napoleão, o Congresso de Viena levou os Bourbons de volta ao trono francês, e – quem diria? – o conde de Provença, irmão do rei Luís XVI guilhotinado, foi aclamado rei da França com o nome de Luís XVIII. Conta um historiador: “Logo ao assumir o trono, o novo soberano procurou dar um enterro digno ao irmão e à cunhada. Seus corpos foram encontrados graças ao advogado Pierre Louis Descloreaux, que vivia na rue d'Anjou à época dos sepultamentos e lembrava-se da localização da vala comum. Os restos de Maria Antonieta foram encontrados em 18 de janeiro de 1815. Embora o corpo estivesse reduzido a uma pilha de ossos, sua cabeça permanecia intacta. Os restos do rei foram encontrados no dia seguinte”.

Em 21 de janeiro de 1815 os restos mortais de Maria Antonieta foram depositados na Basílica de Saint Denis. Em 1816 o rei Luís XVIII mandou erigir um túmulo dentro da referida basílica, cujo projeto foi realizado por Pierre Pétiot, que resultou numa belíssima obra de arte.

FOTO 25 – Os túmulos de Luís XVI e de Maria Antonieta na Basílica de Saint Denis.

Depois de Luís XVIII, que foi deposto, Napoleão I voltou a governar a França... e anos depois abdicou pela segunda vez. E após isso, quem volta ao trono? O mesmo rei Luís XVIII, em 1815, e lá permaneceu até a sua morte em 1824. Sucedeu-o seu filho que levou o nome de Carlos X e que seis anos depois, em 1830, abdicou. Seu sucessor foi o rei Luís Felipe I, cujo pai, também Luís Felipe, Duque d’Orleãs, havia apoiado a Revolução Francesa, e mesmo assim foi guilhotinado durante o Reino do Terror. Ainda jovem, Luís Felipe I fugiu e passou 21 anos no exílio e foi declarado rei em 1830, depois de Carlos X ter sido forçado a abdicar. Mas também ele, Luís Felipe I, foi forçado a abdicar em 1848. E quem o sucedeu? Foi Napoleão III, neto do primeiro Napoleão, e governou por 22 anos até ter sido deposto em 1870...

Sem dúvida, uma história cheia de idas e vindas. A partir daí, distante apenas 30 anos do século XX, “tout se modifique”, como dizem os franceses... Mas ficou uma lição para o mundo: o povo manda, sim. As elites que aprendam que são minoria e que o sofrimento e a luta pela subsistência das pessoas menos favorecidas merecem respeito e atenção.

FIM

P.S.: Faço menção à rainha Maria Antonieta (Marie Antoinette) no artigo "BARBARA HUTTON E SEU VANADIS, HOJE HOTEL FLUTUANTE MÄLARDROTTNIGEN, EM ESTOCOLMO", iate este no qual hospedei-me numa das minhas estadas na capital da Suécia, neste link: