Corredor Vasariano, o caminho privativo da Família Médici entre seus dois palácios, sobre os telhados de Florença.
PORTAL IZA ZILLI
Iza Zilli
Portal Iza Zilli de 12.2.2012
http://www.izazilli.com/2016/02/12/64651/
Comendador FRANCISCO SOUTO NETO
PORTAL IZA ZILLI
Iza Zilli
Portal Iza Zilli de 12.2.2012
http://www.izazilli.com/2016/02/12/64651/
Comendador FRANCISCO SOUTO NETO
A FAMÍLIA MÉDICI DE FLORENÇA E SEU
INCRÍVEL CORREDOR VASARIANO
A Família Médici (Medici em italiano, sem acento) foi uma dinastia política da
Toscana, que se instalou em Florença (Firenze)
como rica proprietária de terras, dedicou-se no princípio ao comércio e logo em
seguida aos negócios bancários, tornando-se enormemente poderosa. Os Médicis
não eram monarcas, mas cidadãos comuns, que passaram a governar Florença como
líderes hereditários do Ducado e depois Grão-Ducado da Toscana. Uma das
famílias mais ricas do mundo, exerceu poder político primeiro sobre os países
que viriam a formar a Itália, e depois sobre toda a Europa. Seu apogeu
registrou-se entre os séculos XV e XVII. Os Médicis conseguiram criar ambientes
onde o humanismo e a arte pudessem florescer e assim inspiraram o surgimento da
Renascença, que fariam Firenze
conhecida como “o Berço do Renascimento”. Dessa família provieram quatro papas
(Leão X, Clemente VII, Pio IV e Leão XI) e o apoio a atividades de artistas
geniais como Michelangelo. Em suma, os Médicis eram mecenas e mudaram os rumos
da História.
No ano de 1565, Francisco I de Médici, filho
primogênito do Grão-Duque Cosimo I de Médici, casou-se com Juana de Habsburgo-Jagiello,
filha do Imperador da Áustria Fernando I e Anne da Boêmia e Hungria. Para
impressionar os convidados à cerimônia matrimonial, além de decorar toda a
cidade, Cosimo I resolveu mandar construir um corredor com um quilômetro de
extensão, acima dos telhados de Firenze,
unindo os dois palácios da família – o palácio do governo e a residência
propriamente dita – situados em margens diferentes do Rio Arno, que são o atual
Palazzo Vecchio ao lado da Galeria
Uffizi, e o Palazzo Pitti.
Construído em menos de seis meses por
Giorgio Vasari, na verdade o corredor tinha um propósito mais profundo:
possibilitar a toda a família Médici circular livremente e em segurança entre
seus palácios. Temiam-se atentados; um primo, o mecenas Juliano de Médici, já tinha
sido assassinado em 1478.
FOTO 1 – O traçado do extenso Corredor
Vasariano na planta da cidade de Firenze, passando sobre o telhado da ponte
para assim poder atravessar o rio.
Incrível é o caminho do Corredor
Vasariano, que eu percorri no ano de 1980. Ele começa numa porta disfarçada em
parede lateral interna do Palazzo Vecchio...
Quando cheguei à sala onde deveria encontrar a tal porta, perguntei a um
guarda: “Per piacere, signore, dov’è la
porta del Corridoio Vasariano?”. Com um simples gesto, ele me indicou um
porta aberta. Meu bilhete de ingresso para ambos os palácios me dava o direito
de atravessar livremente, à vontade, o corredor dos Médicis.
Hoje parece-me que a situação é
diferente: a porta para o corredor é mantida fechada, e a sua travessia custa
um bilhete especial, muito caro, e tem que ser realizada em grupos fechados e
guiados.
Percorrer o corredor tem sido o projeto principal para muitos dos
visitantes de Florença. Reis e rainhas, artistas de cinema, escritores e os
pintores mais famosos do mundo lá têm estado. Até Hitler, levado por Mussolini,
atravessou o “Corridoio”.
FOTO 5 - Após os telhados da Uffizi, o
corredor desce entre os prédios do quarteirão até à altura do 2º piso das
edificações, de onde sai e vira bruscamente à direita para margear o rio. Em
seguida, virando à esquerda, atravessa sobre o telhado da Ponte Vecchio.
FOTO 6 – No detalhe do desenho acima,
pode-se avaliar o percurso do corredor entre o seu início até ao começo da
outra margem do Rio Arno.
A obra arquitetônica de Varasi, saindo
do Palazzo Vecchio, segue sobre
telhado da Galeria Uffizi em forma de “U”, atravessa mais uma rua e prossegue
entre as casas do quarteirão, donde vai descendo por escadas até à altura do 2º
andar dos prédios, e continua até à margem do Rio Arno, porém ainda em grande
altura sobre arcos monumentais, até alcançar o telhado da famosa Ponte Vecchio. Bem na metade da ponte, o
“Corridoio” tem amplas janelas com
magníficas vistas sobre o rio e a cidade, e assim alcança a outra margem, onde
continua acima das ruas.
O arquiteto Giorgio Vasari teve que
fazer o corredor contornar a Torre dei
Mannelli porque, ao contrário de outros proprietários que foram
desapropriados para o corredor passar dentro ou por cima de suas moradias, a
influente família Mannelli recusou-se a demolir a sua torre e conseguiu
preservar integralmente a propriedade. Embora o Corredor Vasariano tenha sido
construído por fora da referida Torre, ele ficou grudado a ela e envolve-a
completamente, como se vê na foto abaixo.
Foto 7 – O corredor teve que contornar
a mansão e torre da família Mannelli, que se recusou a demolir sua propriedade
para a passagem dos Médicis.
Após a Torre Mannelli, o corredor
prossegue através dos quarteirões por dentro de prédios e sobre as ruas da
outra margem, até passar em frente e por dentro da Igreja de Santa Felicidade (Chiesa di Santa Felicita), donde, de um
balcão disfarçado, os Médicis podiam assistir à missa sem que fossem vistos
pelos fiéis bem abaixo.
FOTO 8 – O Corredor Vasariano, saindo
de dentro do prédio à esquerda, passa em frente à fachada da Chiesa di Santa Felicita (Igreja de
Santa Felicidade). Foi aberta uma porta (na verdade, com uma grade) entre o
corredor e a loggia sobre a porta de entrada do templo, para os Médicis poderem
ver e ouvir sem serem notados. A direita, o corredor segue atravessando o interior dos prédios do
quarteirão.
FOTO 9 – Este é o interior da Chiesa di Santa Felicita. Através de uma
passagem do Corredor Vasariano sobre a fachada da igreja, os Médicis podiam até
assistir à missa do alto, sem que o povo notasse a sua presença.
FOTO 11 - A Gruta “del
Buontalenti” nos Jardins de Bóboli. À esquerda, sobre o muro, vê-se o
Corredor Vasariano. A pequena porta cinza à esquerda, ao nível do chão, é a
saída do corredor para os jardins ao lado do Palazzo Pitti.
E assim o “Corridoio Vasariano” passa ao lado de “il Giardino di Boboli” e termina no Pallazzo Pitti. Os turistas podem descer por uma escada até à Gruta
dos Bons Talentos e assim alcançar o palácio contíguo.
Devo acrescentar que quando o “Corridoio” foi inaugurado, na Ponte
Vecchio estavam instalados os açougueiros, e o cheiro da carne incomodava os
Médicis quando passavam pelo corredor sobre a ponte. Então o Grão-Duque ordenou
que aqueles profissionais fossem afastados dali, e no seu lugar instalassem os
ourives, onde continuam até hoje, quase meio milênio depois, vendendo seus
produtos de ouro. Como se vê, a vontade dos Médicis tinha força de lei sobre os
mais pobres, e estes, afinal, tinham suas razões para odiar a poderosa família.
A Galeria Uffizzi e o Palazzo Pitti
são hoje museus que expõem os mais importantes artistas de todos os tempos. A
coleção começou com o acervo particular dos próprios Médicis. O Corredor
Vasariano tem agora a mais famosa coleção de autorretratos do mundo.
18 -
Autorretrato de Rembrandt.
Por tudo isso e muito mais, o percurso
torna-se um passeio de extraordinária importância, isto sem falar do riquíssimo
acervo que os visitantes podem apreciar nos dois museus.
Atravessar o “Corridoio Vasariano” e parar nas suas janelas, tal como faziam os
Médicis para observar o povo muito abaixo agitando-se pelas ruas, é também
pensar nos privilégios daqueles que são enormemente ricos, e na injusta desigualdade
representada pela extrema pobreza que naqueles tempos remotos imperava nas
cidades europeias, até mesmo ali em Firenze, o luminoso berço do Renascimento.
-o-
Fantástico artigo! Parabéns por compartilhar imagens e riqueza de conhecimentos!
ResponderExcluirQuerida sobrinha e afilhada Mara, obrigado por estar sempre me acompanhando e me estimulando com a sua leitura. Um beijo!
ExcluirAdorei o artigo. Que fascinante história da Itália antiga!
ResponderExcluirOi, Rossana. Foi você quem escreveu acima? Se foi, fico contente que tenha gostado.
ResponderExcluir