PORTAL IZA ZILLI
Iza Zilli
Portal Iza Zilli de 5.2.2016
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http://www.izazilli.com/2016/02/05/bernini-o-mais-extraordinario-escultor-da-italia/
Comendador FRANCISCO SOUTO NETO
BERNINI, O MAIS EXTRAORDINÁRIO
ESCULTOR DA ITÁLIA
por Francisco Souto Neto
por Francisco Souto Neto
“Mais extraordinário do que Michelangelo?”, poderia alguém
perguntar-me. Eu responderia que a questão pode ser polêmica, mas que para mim,
subjetivamente, Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) é o mais interessante escultor
de todos os tempos. Quem conhece Roma jamais terá deixado de parar para admirar
alguma – qualquer uma – escultura em mármore da autoria de Bernini, mesmo sem
saber o nome do autor. Quem nunca fez isso não é gente, é um vegetal.
Bernini nasceu em Nápoles, mas ainda menino mudou-se com a
família para Roma. Ele não foi um gigante apenas na escultura. Como arquiteto,
é o autor tanto de fachadas de admiráveis igrejas renascentistas de Roma,
quanto do traçado de muitas outras reformadas ou aumentadas por ordem de
poderosos papas. Bem a propósito, Bernini serviu a oito diferentes papas. Ele
foi também paisagista, pintor, desenhista e cenógrafo de assombroso mérito. Em
outras palavras, um dos raros gênios que vieram para enriquecer a História da
Arte.
Com apenas 25 anos ele já era o artista predileto do Papa
Urbano VIII, que lhe encomendou várias estátuas e fachadas de igrejas. Em 1624
esse Papa entregou a ele a hercúlea tarefa de criar um baldaquino para a
Basílica de São Pedro que cobrisse todo o altar, e o resultado, com suas quatro
colunas espiraladas, tornou-se um símbolo de gigantesco poder e beleza, que
hoje todos conhecemos tão bem.
O baldaquino da Basílica de São Pedro em
Roma.
Mas as esculturas, principalmente no mármore, são para mim as
mais impressionantes criações de Bernini. Elas estão em Roma por toda parte:
nas ruas, em praças, pontes, e também nos interior de museus, de palácios, de
igrejas. Vou fazer breves comentários de apenas algumas delas, as minhas
prediletas, ou por serem belíssimas, ou polêmicas, ou até mesmo engraçadas...
pois Bernini tudo podia, até mostrar bom-humor nos seus mármores esculpidos.
Quem esteve em Roma ainda que apenas uma vez, é provável que
tenha atravessado a pé a Ponte
Sant’Angelo, a mesma que fica em frente ao Castel Sant’Angelo, que através dos curtos 500 metros da Via Della Conciliazione alcança-se o
portão do Vaticano: a Praça de São Pedro. Na Idade Média, essa ponte teve
grande importância por ser o único meio possível e controlado da passagem de
peregrinos em direção à Basílica de São Pedro. O próprio Dante, em “A Divina
Comédia”, se refere a essa ponte no capítulo XVIII, “Inferno”, versículos
25-33
.
.
Bernini foi contratado em 1667 pelo Papa Clemente IX para
esculpir 10 estátuas de anjos evocando a Paixão de Cristo, referências à Via
Dolorosa de Jerusalém. Duas estátuas foram feitas pelo próprio Bernini, e as
demais pelos seus discípulos sob sua orientação. Bernini concebeu os anjos segurando
objetos da crucificação. Assim, um deles segura o manto e os dados, outro
mostra os pregos da cruz, outro tem a esponja donde escorre o vinagre amargo,
outro está com a lança que ferirá o coração de Jesus, e assim por diante.
Perspectiva da Ponte Sant'Angelo com os anjos nos pedestais.
O anjo com a lança que fere o coração de
Jesus.
Uma estátua “engraçada” desenhada por Bernini, é aquela que
lhe foi encomendada pelo Papa Alexandre VIII: um elefante em mármore que
suportasse nas costas um antiquíssimo obelisco egípcio, para ser colocado na Piazza della Minerva, em frente à famosa
igreja de Santa Maria Sopra Minerva.
Mas Bernini concebeu um elefante pequeno, “troncudo”, com olhos humanos,
sorriso maroto e uma tromba que é nitidamente irreal. Essa escultura é mais do
que apenas um gracejo de Bernini. É que a base da Inquisição em Roma – o
tenebroso Santo Ofício – funcionava na mesma praça, ao lado da igreja, e é o
local onde foi realizado o julgamento e a negação de Galileu Galilei. Era o
reduto dos dominicanos, que odiavam os hereges e principalmente as pobres
mulheres que acreditavam ser bruxas, os quais condenavam à morte na fogueira.
Essa fúria rendeu-lhes o apelido de Domini
Canes (Cães do Senhor). Segundo alguns estudiosos de Bernini, o propósito
do famoso escultor com seu elefante foi zombar daqueles religiosos fanáticos e
do Santo Ofício, que tanto mal causaram à Humanidade.
O elefante com olhos humanos e uma tromba
imaginativa.
O sorriso zombeteiro do elefante.
Francisco Souto Neto em frente ao elefante
de Bernini, para dar uma impressão mais exata das suas dimensões. O frade, à
esquerda, está onde deve ter sido a entrada para os tenebrosos julgamentos do
Santo Ofício. Por ali terão passado Galileu Galilei e o pobre Giordano Bruno para
ser condenado à morte na fogueira.
No meu filme abaixo, de apenas dois minutos, aparecem os
anjos de Bernini na Ponte de Sant’Angelo:
Vou me referir, se possível em poucas palavras, a mais duas
estátuas polêmicas de Bernini. A primeira é “O Êxtase de Santa Teresa”, que se
encontra na igreja romana de Santa Maria
Della Vitoria, representando “a transverberação”, isto é, a experiência
mística de Teresa de Ávila.
Um anjo de sorriso maroto está prestes a trespassar o coração
da santa com uma “flecha de amor divino”, enquanto esta revira os olhos como se
estremecesse de êxtase e dor. Nas paredes laterais há dois balcões onde pessoas
esculpidas em mármore olham para a cena e a comentam entre si. Essas estátuas
são do cardeal Cornaro (quem encomendou o conjunto escultórico a Bernini) e
membros da sua família.
A capela “O Êxtase de Santa Teresa”.
Observar que nas duas paredes laterais há camarotes, onde pessoas de mármore
olham a cena central como se estivessem num teatro.
O anjo abre a blusa da santa para trespassar
seu peito com a “seta do amor divino”.
A segunda estátua a que me refiro chama-se “Êxtase da beata Ludovica Albertoni”, e está na igreja de San Francesco a Ripa, em Roma. Alguns críticos de arte costumam dizer que tal êxtase é tão realista que extrapola o divino e que chega a parecer orgásmico.
O êxtase da beata Ludovica Albertoni.
Há dezenas de outras estátuas de Bernini tão ou até mais importantes do que as poucas que aqui comentei superficialmente. Não é difícil perceber que para explicar a obra de Bernini, um livro inteiro talvez ainda seja pouco.
Em 1999, passeando por Roma à noite, casualmente passei pela casa onde viveu e morreu Bernini, e fiz esta curta cena de menos de dois minutos:
https://www.youtube.com/watch?v=Jd5G3oQgCwA
Encerro este artigo com três autorretratos de Bernini em três momentos de sua vida: na juventude, na idade madura e na velhice:
Três autorretratos de Bernini em épocas bem diferentes.
-o-
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