PORTAL IZA ZILLI
Comendador FRANCISCO SOUTO NETO
MARIA ANTONIETA: UM CASAMENTO SEM AMOR E LE HAMEAU DE LA REINE
(1ª
parte)
Pobre Maria Antonieta, a trágica
rainha de França. Era filha da poderosa Maria Teresa, arquiduquesa e soberana
da Áustria, Hungria, Boêmia, Croácia, Mântua, Milão, Galícia e Lodomeria, Parma
e Países Baixos Austríacos, que pelo casamento com Francisco I tornou-se também
Duquesa de Lorena, Grã-duquesa da Toscana e imperatriz consorte do
Sacro-Império Romano-Germânico.
FOTO 1 – Maria Antonieta aos 7 anos no
Palácio de Schönbrunn (1762). Óleo de Martin van Meytens.
Para fortalecer uma nova aliança com a
França, que era a secular arqui-inimiga da Áustria, a imperatriz Maria Teresa
usou sua filha Maria Antonieta, que estava com apenas 12 anos, como uma espécie
de anzol para conquistar a amizade dos franceses, oferecendo-a em casamento ao delfim
de França, o futuro rei Luís XVI, que contava apenas 11 anos. No ano seguinte,
em 13 de junho de 1769, com todas as formalidades cumpridas, o noivado das
crianças foi oficialmente anunciado. Em 19 de abril de 1770 foi celebrado o
casamento por procuração. Dois dias depois, Maria Antonieta, aos 14 anos e sete
meses, viajou em grande cortejo para a França, para encontrar o seu marido de
apenas 13 anos. O casamento propriamente dito dos nubentes, agora pessoalmente,
foi celebrado no dia 16 de maio, e após o jantar da família real, que pela
etiqueta devia ser presenciado por toda a corte, o casal foi para o quarto, e
seu leito nupcial abençoado pelo arcebispo de Paris. Os lacaios fecharam a
porta para que os recém-casados ficassem a sós, mas o delfim deitou-se e virou
as costas para Maria Antonieta, agora a delfina de França. O casamento não foi
consumado.
FOTO 2- Maria Antonieta aos 14 anos, em
1769, ano do seu casamento com o futuro Rei Luís XVI. Pastel de Joseph Ducreux.
FOTO 3 – O delfim de França (futuro
Rei Luís XVI) em 1769, aos 13 anos, quando se casou com Maria Antonieta. Óleo
sobre tela de Louis-Michel Van Loo
Muitos estudos foram feitos por
historiadores para entender-se o motivo de o futuro rei ter repudiado a jovem
esposa. No começo pareceu natural que duas crianças não tivessem atração pelo
sexo, mas com a passagem dos anos chegou-se à conclusão de que o problema do delfim
de França era a repulsa e o preconceito arraigado dos franceses contra os
austríacos. Sete longos anos se passaram sem que essa situação se alterasse, causando
preocupações na corte pela falta de um herdeiro. O delfim não enfrentava
problemas sexuais, porque durante esse tempo teve várias amantes, cuja
predileta foi Madame Du Barry.
FOTO 4 – Vista aérea do Palácio de
Versalhes.
FOTO 5 – Francisco Souto Neto aponta à
estátua equestre de Luís XIV, o Rei-Sol, à entrada do palácio, e pergunta:
“Tudo isto para um só homem?”. A resposta todo francês tem na ponta da língua:
“Tudo isto pela grandeza da França”.
FOTO 6 – O Salão dos Espelhos
Maria Antonieta era detestada pelo
povo e pela corte, e foi por todos demonizada. O povo apelidou-a de L’Austrichienne (a Austríaca) mas a
corte francesa, maldosa e usando uma paronomásia do idioma francês, chamava-a
de Lautre-chienne, pronúncia semelhante,
mas que significa “outra cadela”. O país inteiro sabia que o marido não a
tocava, e todos passaram a inventar que a futura rainha se divertia com
inúmeros amantes. Isto não é verdade, segundo os mais sérios biógrafos de Maria
Antonieta. Ela lutou muito para
adaptar-se aos costumes às vezes rudes do protocolo da corte francesa. Começou
a impor-se quando sua aparência foi ganhando um aspecto forte por causa dos
vestidos suntuosos e das perucas enormes e elaboradíssimas que passou a usar.
FOTO 7 – A delfina Maria Antonieta
tocando harpa no Palácio de Versalhes. Pintura de Jean-Baptiste Gautier Dagoty.
Em 19 de abril de 1774, na festa do 4º
aniversário do seu casamento, pela primeira vez Maria Antonieta foi anfitriã de
toda a família real, e foi um sucesso. Poucos dias depois o rei Luís XV passou
mal. Diagnosticado com varíola, morreu em 10 de maio. O delfim foi coroado aos
17 anos como rei Luís XVI e Maria Antonieta, aos 18 anos, tornou-se rainha da
França.
FOTO 8 – Marie Antoinette, reine de France. Pintura de Jean-Baptiste Gautier
Dagoty.
Somente quatro anos depois disso,
seguindo conselhos, Maria Antonieta conseguiu finalmente seduzir o rei seu
marido. No dia 18 de agosto de 1777 contam os historiadores que “o casamento
foi oficialmente consumado” e o casal viria a conceber quatro filhos.
A falta de respeito dos cortesãos pela
rainha acentuou-se nos anos seguintes e afastaram-na cada vez mais da corte.
Começaram a circular panfletos difamatórios por todo o reino, principalmente
pornográficos, e o povo passou a chamá-la de “Madame Scandale”. O povo e
os próprios cortesãos estavam envenenados pela infâmia e pela mentira, e isto
fez aumentar o ódio à monarquia.
Para ter um pouco de desligamento dos
mexericos da corte, Maria Antonieta mudou-se para o Petit Trianon, um pequeno
palacete localizado num ponto remoto dos jardins de Versalhes, a um quilômetro
e meio do palácio, que o rei antecessor, Luís XV, tinha mandado construir para
a sua favorita Madame Pompadour. Ali Maria Antonieta se sentiu um pouco mais afastada
da sufocante etiqueta de Versalhes e dos constantes escândalos dos cortesãos.
O rei não era um homem vigoroso como
os seus antepassados. Não se interessava pelos problemas que o país vivia, e
costumava passar as soluções aos ministros. Ele gostava mesmo era da sua coleção
de relógios, que ele próprio consertava quando havia a necessidade de alguns
reparos. E continuava fiel a alguns costumes muito arcaicos, como o da
Cerimônia do Despertar. O casal real dormia em quartos separados. Quando o rei
começava a acordar, seu quarto estava cheio de silenciosos cortesãos em pé, que
assistiam a tudo. O rei espreguiçava, levantava-se e era vestido na frente de
todos, melhor seria dizer “montado” pelos seus servos. Um deles recolhia o
urinol para examinar se as fezes e a urina do rei estavam com bom aspecto. A
Cerimônia do Adormecer do rei também seguia um ritual para nós igualmente absurdo.
Foi por essa época que Maria Antonieta
teve a ideia de mandar construir o seu Hameau situado a uns 600 metros atrás do
Petit Trianon.
Le
Hameau de la Reine
(Pronuncia-se “lê amô de la réne”)
“Le
Hameau de la Reine” significa “A Aldeia da Rainha”. Naquele local
praticamente inacessível aos cortesãos do Palácio de Versalhes, entre os anos
de 1782 e 1783, Maria Antonieta mandou construir uma pequena aldeia com doze
casas campestres, parecidas com as casas simples dos camponeses que viviam nas
vilas do interior do país. Os terrenos dessas casas foram dotados de hortas, videiras,
currais, galinheiros, chiqueiros e jardins. Quando a rainha se dirigia ao seu
Hameau, levava um séquito composto por algumas pessoas, casais e jovens como
ela, com as quais desfrutava de amizade possivelmente sincera. Lá a rainha e
seus convidados tiravam seus trajes formais e vestiam-se com roupas de
campônios. Maria Antonieta ia regar as flores, plantava e colhia legumes das
hortas, pegava dos ovos do galinheiro, ordenhava uma vaca ou cabra, observava
as atividades dos porcos, no que era seguida pelos amigos. Ela mesma,
acompanhada dos falsos componeses, comandava o preparo das refeições.
FOTO 9 – Uma das casas do Hameau da
Rainha, esta com roda d´água.
FOTO 10 – A casa que rainha usava no
Hameau. Na verdade eram duas casas, que Maria Antonieta mandou unir com uma
passarela coberta, assim formando um só conjunto maior que as demais
construções da sua “aldeia”.
FOTO 11 – Francisco Souto Neto ao lado
de uma das residências, na qual o busto de mármore de Maria Antonieta observa a
casa, à esquerda, que a rainha ocupava no Hameau.
FOTO 12 – Casa com horta, tal como nos
tempos da “camponesa” Maria Antonieta.
FOTO 13 – Francisco Souto Neto afagando a crista de uma galinha miúda e esquisita, mas muito mansa, do galinheiro de
Maria Antonieta.
FOTO 14 - Detalhe da cara da galinha mansa.
FOTO 14 - Detalhe da cara da galinha mansa.
Sufocada desde a infância pelo fausto
da corte austríaca, depois prisioneira da rude etiqueta do Palácio de
Versalhes, e cercada dos servos que trabalham e moravam no palácio, e também dos
ricos e influentes cortesãos do rei, que igualmente lá viviam, comiam e
dormiam, mas que a hostilizavam constantemente, tudo o que Maria Antonieta
desejava era conhecer um pouco da simplicidade da vida. Não queria os vestidos
bordados a ouro, nem os adereços de pedras preciosas, nem as perucas imensas.
Ela queria a vida simples, gostava tocar cravo e harpa, aspirava ser uma atriz
de peças teatrais e decorava textos para representar no palco assistida apenas
pela família e alguns amigos da sua confiança. Não entendia de política e o rei
não admitia que ela desse sugestões ao seu governo.
Alienada dos problemas do seu país,
hostilizada pela própria corte e pelo povo porque era uma “estrangeira
austríaca”, não merecia os horrores e sofrimentos que advieram com a Revolução
Francesa e a proclamação da república.
Abaixo, o resumo de um filme feito por Francisco Souto Neto e Rubens Faria Gonçalves em 2001 no palácio de Versalhes (4 minutos de filme) e no Hameau da Rainha (5 minutos de filme), com cenas engraçadas em ambos os casos:
Abaixo, o resumo de um filme feito por Francisco Souto Neto e Rubens Faria Gonçalves em 2001 no palácio de Versalhes (4 minutos de filme) e no Hameau da Rainha (5 minutos de filme), com cenas engraçadas em ambos os casos:
-o-
Conclui no próximo capítulo:
Maria Antonieta, prisão e guilhotina:
Maria Antonieta, prisão e guilhotina:
-o-
Nenhum comentário:
Postar um comentário