segunda-feira, 18 de março de 2019

OS GRADUANDOS DO CURSO CIENTÍFICO, NO COLÉGIO REGENTE FEIJÓ, EM 1962 por Francisco Souto Neto.


OS GRADUANDOS DO CURSO CIENTÍFICO, NO COLÉGIO REGENTE FEIJÓ, EM 1962

 
Alunos do Curso Científico (Colégio Regente Feijó), graduandos de 1962.

 
Francisco Souto Neto
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 Adolescência feliz
Tendo concluído o curso ginasial em 1959, no ano seguinte ingressei no Curso Científico do Colégio Regente Feijó. Eu era um adolescente aos 16 anos.
Esse período do Curso Científico representou uma reviravolta em minha vida, quando meu pai adoeceu. Meu pai, Arary Souto, que entre as décadas de 40 e 50 fora o diretor de redação do matutino Jornal do Paraná, era, desde o final de 1955, o diretor da Rádio Central do Paraná, uma época anterior ao advento da televisão em Ponta Grossa, quando o rádio era o mais importante veículo de comunicação de massas. Vivíamos – meus pais, eu e meus irmãos Olímpio e Ivone – num amplo e lindo casarão na Rua Augusto Ribas nº 571, entre a Rua XV de Novembro e a Rua Marechal Deodoro, ao lado do antigo prédio da Assembleia Legislativa, onde hoje existe uma gigantesca agência do Banco do Brasil.

Minha casa na Rua Augusto Ribas, 571. À esquerda vê-se uma pequena parte da Assembleia Legislativa, com mais ou menos um metro de sua parede pintada de um azul bem desbotado.

O pai Arary Souto (1908-1963) em casa, em 1957.

A mãe dona Edith Barbosa Souto (1911-1997) em casa, em 1957.

Olímpio Souto (1934-2007), o irmão mais velho, em casa, em 1957.

Ivone Barbosa Souto (Souto da Rosa após o casamento), a irmã do meio (1938-2010), em casa, em 1957.

Francisco Souto Neto, o irmão caçula, em casa, em 1957, aos 14 anos.

O primeiro dos três anos do Científico, em 1960, transcorreu muito tranquilamente, eu sentindo-me seguro e sossegado na casa paterna, frequentando o Cine Ópera que ficava a apenas uns 50 metros do meu portão, e levando uma vida de adolescente cheio de planos e sonhos. Já pensava no curso universitário para dali a três anos e sentia-me dividido entre dois: de Medicina (para especializar-me em Psiquiatria) ou de Arquitetura.

Dona Edith Barbosa Souto e a filha Ivone atravessando a Rua Augusto Ribas em dia de chuva.

 A doença do pai
Entre o final de 1961 e começo de 1962 meu pai adoeceu. Soubemos que ele tinha um câncer agressivo. Meu mundo desabou como um castelo de cartas. Após esgotados os recursos para o seu tratamento em Ponta Grossa, minha mãe levou-o para São Paulo, onde ficaram hospedados com minha avó paterna, enquanto ele se submetia a tratamentos com os médicos professores Mélega e Loverso, uns dos mais importantes oncologistas do Brasil na época.
Meu irmão, que já estava residindo em São Paulo, casou-se. Ficamos eu e minha irmã em Ponta Grossa, cuidando da casa e então trabalhando para ajudar nas despesas.
Com essa reviravolta em nossas vidas, meu curso científico ficou como que num plano secundário. Estranhamente, com a passagem dos anos, acabei por esquecer-me de muitos dos professores e os nomes de alguns dos colegas de classe. A causa de tal esquecimento talvez provenha do trauma sofrido pelo falecimento de meu pai. Se até agora, que estou tão bem estruturado emocionalmente aos 75 anos de idade, a morte de parentes e amigos é-me muitíssimo pesarosa, durante a adolescência a dor teria sido ainda mais intensa.

 Os professores do Curso Científico

Eram duas as turmas que concluíam o Curso Científico em 1962.  E também, como disse acima, não me recordo muito bem de meus professores. Os três únicos dos quais me lembro com clareza, são Cyro Martins, de Matemática, Glacy Sêcco, de Português, e Maria da Graça Aguiar Armellini (Grací Armellini), de Literatura Francesa.
Cyro Martins está bem claro na minha memória, talvez porque fosse amigo do meu pai e colega do Rotary Club, e também porque foi um professor afável e moderno, que ensinava matemática sem que nós, os alunos, nos sentíssemos ameaçados, tal como ocorria em relação à minha irritada e agressiva professora da mesma matéria nos tempos do ginásio.
Se durante os quatro anos do Curso Ginasial contei com a sorte de ter Egdar Zanoni como professor de Português, durante os três anos do Curso Científico Glacy Secco sucedeu-o à altura. Foi uma grande professora que também me inspirou às Letras.

Inesquecível foi o professor Pascoal Salles Rosa, que fora meu professor de Francês durante os quatro anos do Curso Ginasial na Academia (Ginásio Ponta-grossense). Agora no Curso Científico, lecionava Espanhol. Sua técnica, leve e agradável, proporcionou-me ensinamentos que, até agora, permitem-me ler e falar naqueles dois idiomas.
A professora de Literatura Francesa, a mais extraordinária dentre os mestres que tive durante toda a vida, tinha o apelido de Grací (era Maria da Graça Aguiar Armellini, que após enviuvar e casar-se em segundas núpcias, passou a assinar Maria da Graça Trèny), abria sua casa aos seus alunos para discutir sobre literatura, pintura, música, cinema, teatro, tal como a Madame de Rambouillet, do século XVII, que abria seu Salão Azul para reuniões com a intelectualidade parisiense, que inspiraram inovações sociais, culturais, arquitetônicas e literárias. Dona Graci foi preciosa amizade que levei por toda a vida.

 Colegas: todos bons, exceto um...

Amigos constantes da minha sala de aula, do 1º ao 3º ano do Curso Científico, foram Waldemar Serman e os gêmeos James Jordan e Júlio César Gizzi, todos, infelizmente, já falecidos. Os gêmeos tornaram-se médicos. James foi-se num acidente de automóvel e Júlio num colapso cardíaco. 

  
Na minha casa da Rua Augusto Ribas, meus amigos gêmeos James e Júlio, na foto comigo e João Vargas d’Oliveira Júnior (este último não pertencia à turma de formandos de 1959).

Eu entre os gêmeos James e Júlio no dia da formatura.

 
Lembrança da visita que recebi de Cristóvão Gaia, que fotografei segurando A Divina Comédia, de Dante Alighieri.

 
Eu entre o colega Waldemar Bocchi Serman e seu irmão Rogério Serman, em minha casa, servindo-lhes um drink.

Tornei-me amigo dos filhos de Dona Grací Armellini (Tuca, Lúcia e Célia) e também da própria professora. Na foto acima, uma das visitas que ela nos fez. Fotografei-a ouvindo um dos meus discos de Julie London.

Apenas de um dos colegas do Curso Científico deixou na minha memória uma lembrança extremamente negativa. Chamava-se Stanislawczuk, e seu “nome de guerra” era simplesmente Zuk. Durante os intervalos entre uma e outra aula, ele perambulava pelos corredores do colégio, acompanhado de alguns amigos semelhantes – eu falava com meus botões que eles eram “a gang” – e ele mantinha sempre uma expressão num misto de má e apalermada que carregava no bojo o seu sorriso esquisito, debochado e malfazejo, apavorando sadicamente aos colegas de aparência mais indefesa. Ali mesmo, nos corredores cheios de estudantes para lá e para cá, costumava chegar de surpresa, enquanto o jovem estivesse distraído, e num golpe lhe agarrava os testículos, apertando-os e retendo-os entre seus dedos até quase desfalecer a vítima. Vi-o por várias vezes praticar essa obscenidade a que hoje denominaríamos bullying. Nunca fez isso comigo, talvez porque eu cuidasse para que ele não se aproximasse sorrateiramente. Eu sentia por ele um misto de medo e indignação. Foi o pior colega que conheci em toda vida. Hoje, ao lembrar-me disso, impressiona-me que um indivíduo com tal índole tenha conseguido fazer uma carreira política de sucesso... Talvez tivesse se regenerado quando adulto.
Meu pai esteve em tratamento durante todo o ano de 1962. Quando os médicos de São Paulo não encontraram mais nenhum recurso para sua saúde que declinava, permitiram que ele retornasse a Ponta Grossa, onde ele viria a falecer em abril de 1963.
Meu terceiro ano do Curso Científico foi, portanto, um caos, mas consegui concluí-lo. Tudo o que me restou são algumas fotografias que tiramos em frente ao Regente Feijó no domingo 16 de dezembro de 1962.

Alunos do Ginásio Ponta-grossense (Academia), graduandos de 1962. Nesta foto estão mesclados os alunos de duas diferentes turmas. Ao lado direito, o senhor calvo é o diretor Paulo Grott. Dentre os rapazes, lembro-me dos nomes de Cristóvão Gaia, dos gêmeos James Jordan Gizzi e Júlio César Gizzi (os três infelizmente já falecidos), Guilherme Natel de Paula Xavier, Érico Marques Figueira, Dalton Nadal. Dentre os homens, eu (Francisco Souto Neto) sou o único a usar óculos. Dentre as moças, identifico apenas Sônia Maria Thomaz, quase no centro da foto com blusa branca, filha do casal Nadil e Nadir Thomaz (quase homônimos), pessoas de destaque na sociedade local.

 
Na foto acima, apenas os componentes da minha turma.

Aqui, somente os homens da minha turma. Eu (Francisco Souto Neto) estou na fila mais baixa, o último do lado direito. Nesta foto, além de mim, também o Júlio César Gizzi está usando óculos.

As fotografias dos colegas reunidos antes da colação de grau, foram tiradas no dia 16 de dezembro de 1962.
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UM ADENDO:


Meu Jardim de Infância e Curso Primário:


Meu Curso Ginasial


Meu Curso Superior de Direito:



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Francisco Souto Neto atualmente.

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