sábado, 30 de dezembro de 2017

UMA INTROSPECÇÃO SOBRE MINHA BIOGRAFIA & POEMAS E MÁXIMAS DE RUBENS FARIA GONÇALVES por Francisco Souto Neto para o Portal Iza Zilli.

Rubens Faria Gonçalves, escritor e poeta.

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Comendador Francisco Souto Neto

Uma introspecção sobre minha biografia
&
Poemas e máximas de Rubens Faria Gonçalves

Prólogo

       Um dos acontecimentos mais marcantes de 2017 foi para mim o lançamento do livro VOZES DO PARANÁ Volume 9, do celebrado jornalista Aroldo Murá G. Haygert. No começo do ano ele me entrevistou em sua residência acompanhado do também  jornalista Rodrigo de Lorenzi, integrante da equipe de reportagem e pesquisa.

       No dia 11 de agosto o livro foi lançado nas dependências do Palácio Garibaldi, contendo os traços biográficos de 21 personalidades do mundo político, empresarial e cultural do nosso Estado. Se foi grande e sincera a minha surpresa de ver-me entre entrevistados realmente ilustres, maior ainda foi descobrir o olhar do autor sobre o meu percurso de vida, por Murá intitulado Mecenas por opção e conquista. Ao chegar à entrada do grande salão que já estava repleto de convidados, adquiri o meu exemplar e antes mesmo de dirigir-me ao encontro do autor para cumprimentá-lo e agradecer, fui a um canto do recinto e fiz uma “leitura dinâmica” das quinze páginas a mim dedicadas.


A capa de VOZES DO PARANÁ Volume 9


Os 21 personagens de Aroldo Murá em VOZES DO PARANÁ Volume 9


       Assim fui descobrindo a maneira generosa como o autor se referiu a meu respeito. Percebi, de imediato, que tanto Aroldo Murá quanto o seu auxiliar Rodrigo de Lorenzi não se restringiram apenas à minha entrevista ocorrida no começo do ano, mas que ambos pesquisaram e refletiram profundamente sobre tudo o que encontraram a meu respeito na internet, desde minha infância em Ponta Grossa à minha atuação no cenário cultural do Paraná, notadamente nas décadas de 70 a 90.

       Aroldo Murá iniciou a capítulo sobre mim, escrevendo o seguinte:

       “Não exagero, examino Francisco Souto Neto no mundo real em que viveu e vive. Nem sou hiperbólico, nem o comparo a Júlio II e ou assemelhados. Sendo fiel ao que vi em Souto, sei que ele foi um mecenas no seu tempo e no nosso universo local. O que não deixa de ser bastante e importante. / Histórico. Isso foi. / Tento, com algum esforço, ficar dentro do possível neste mundo real em que o crítico de artes plásticas e animador cultural Souto Neto foi revelando e consolidando seu mecenato, tendo por cenário maior o antigo Banestado em boa parte dos anos 70 a 90 do século 20, em Curitiba. / E por isso, e outros tantos motivos, examino o personagem como a raridade do imediatamente visível no âmbito essencial da cultura. Não é essa, porventura, a qualidade que distingue pessoas com brilho muito próprio? / Com sua clara visão de futuro, ele foi utilíssimo a novas gerações de escritores, teatrólogos, músicos, artistas teatrais, e muito especialmente ao mundo das artes plásticas no Paraná. E alguns nomes consolidados, como Sylvio Back e Poty Lazzarotto”.

Minhas influências

       Ultimamente tenho refletido sobre a minha formação intelectual em Ponta Grossa. E gostaria de registrar que a minha primeira influência foi, naturalmente, o meu pai Arary Souto, jornalista e radialista, um homem de grande cultura e extraordinária personalidade. Entretanto, foram também fundamentais na minha formação os professores Faris Antônio Salomão Michaele e Bruno Enei, ambos grandes amigos de meu pai. Depois do falecimento de meu genitor, entre as décadas de 60 e 70 duas outras personalidades influíram grandemente na ampliação do meu mundo cultural. Uma delas foi minha professora de Literatura Francesa Maria da Graça Aguiar Armellini – a quem chamávamos de “Dona Grací” – que após enviuvar, contraiu segundas núpcias e passou a assinar Maria da Graça Trény. Mãe de Lúcia, Célia e Arthur (o Tuca), abria a casa e oferecia sua rica biblioteca aos alunos e amigos. Lúcia tocava piano magnificamente e Dona Grací tinha paixão pelo jazz. Tive a felicidade de dar-lhe a conhecer a cantora Julie London, e ela ensinou-me a gostar e a entender as canções de Edith Piaf e Brigitte Bardot. A outra notável influência foi do professor Robert Karel Bowles, linguista e filólogo, com quem aprendi a compreender mais profundamente o idioma pátrio, ao ajudá-lo como revisor de obras literárias.

       Em meados da década de 70 conheci o amigo Rubens Faria Gonçalves, escritor e poeta, depois também professor e psicólogo que, embora da minha geração – com diferença de idade de pouco mais de dois anos – possibilitou a expansão e modernização dos meus conceitos sobre os diversos aspectos da cultura. Ele tinha, naquela época, uns quinze livros inéditos da sua autoria, de prosa e poesia, que me impressionaram profundamente. Rubens vivia em São Paulo, onde acompanhava tudo o que ocorria no teatro, assistindo às mais importantes montagens daquele tempo. Frequentava o Cine Bijou, um dos principais cinema de arte do Brasil, que era conhecido – se não pessoalmente, pelo menos de nome –  dos cinéfilos do país. Quando veio para Curitiba transferido pelo banco onde trabalhava, nosso contato tornou-se mais amiúde. Na prosa e poesia ele pôs-me em contato com os livros dos mais importantes autores da época. No cinema, pode-se dizer que me sugeriu conhecer os diretores que estavam mudando a cinematografia daquele tempo, a começar pelos franceses da nouvelle vague; foi quando comecei a descobrir que existia um universo cinematográfico muito mais significativo e consistente do que o dos pasteurizados filmes da Hollywood de então. No teatro, suscitou minha curiosidade por autores e montagens que revolucionaram os palcos de São Paulo e Rio de Janeiro. Na música, ofereceu-me discos que ampliaram a minha compreensão pela amplitude e abrangência de compositores eruditos modernos e de outros de todos os tempos e procedências. Mas a principal influência que recebi de Rubens Gonçalves foi sobre as artes plásticas. Posso dizer que com um atraso de mais de meio século pude compreender a revolução das artes plásticas no mundo, iniciada por Kandinsky e Picasso na primeira década do século passado, e a importância do movimento brasileiro da Semana de Arte Moderna de 1922.

       Foi assim que me desvencilhei das antigas fórmulas que definiam as pessoas cultas e universalizei o meu interesse pelos aspectos mais inovadores do pensamento e da arte. Não fosse por essa benéfica influência, hoje eu certamente não seria uma das VOZES DO PARANÁ apontadas por Aroldo Murá, nem teria sido alvo das diversas homenagens que venho recebendo a esta altura da minha jornada através da vida.

Reflexões finais

       Não tenho por hábito indicar nomes para integrarem o quadro de membros da Academia de Letras José de Alencar, onde ocupo a cadeira patronímica nº 26, de Emiliano Perneta. Nem mesmo meus familiares – como minha sobrinha Dione Mara Souto da Rosa – nem amigos muito próximos – como Rubens Faria Gonçalves – foram apresentados por mim à Academia. Nestes dois casos, quem os apadrinhou foi a própria atual presidenta da instituição, Anita Zippin. Orgulha-me vê-los tornados membros da instituição por seus próprios méritos. Por outro lado, vejo com grande simpatia todos os nomes que têm entrado para a Academia durante os anos recentes. São novos membros com renovadas ideias literárias, poéticas, artísticas e musicais, e essa soma de novas opiniões envolvendo a cultura faz por enriquecer a Academia de Letras. Pensamentos inovadores envolvendo prosa e poesia são sempre bem-vindos e influem na renovação dos conceitos gerais sobre as letras. Sim, porque devemos sempre inovar sob todos os aspectos da vida, para que não nos tornemos cristalizados e, quiçá, retrógrados e deslocados do tempo. Os novos integrantes representam a Academia de Letras José de Alencar de amanhã. Oito desses recentes colegas acadêmicos são os mesmos que compõem o Núcleo de Literatura e Cinema André Carneiro, um grupo que se reúne uma vez por mês na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Bem a propósito, meu próximo artigo, que será o primeiro de 2018, versará sobre referido Núcleo.

Poemas, máximas e reflexões de Rubens Faria Gonçalves

       Aproveitando a oportunidade, selecionei poemas, algumas máximas e reflexões da autoria de Rubens Gonçalves, que colhi no seu mural do Facebook, e que ele pretende reunir em dois livros ainda durante o ano de 2018 prestes a iniciar.
       Assim, em homenagem ao amigo, cujo pensamento é sempre cristalino, consistente, honesto e original, encerro este artigo, anexando abaixo algumas das suas criações sem necessidade de comentá-las porque seus escritos falam por si, ao mesmo tempo desejando-lhe grande sucesso a todos os seus projetos.

Poemas:



























Máximas:












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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

JORNAL DA RUA XV: A ENTREVISTA E O VISCONDE para o Portal Iza Zilli

Lúcia Helena Souto Martini e Francisco Souto Neto em noite de autógrafos. 

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Comendador Francisco Souto Neto 

JORNAL DA RUA XV: A ENTREVISTA E O VISCONDE


Jornal da Rua XV - Edição 03 - Nov. 2017 - A capa.

Página 13

Página 14

O Jornal da Rua XV, de propriedade do jornalista José Gil de Almeida, no mês passado – novembro de 2017 – entrevistou Francisco Souto Neto pelo lançamento da biografia Visconde de Souto – Ascensão e “Quebra” no Rio de Janeiro Imperial.

Adiante, a transcrição da matéria constante do referido jornal:

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 Os autores Lúcia Helena Souto Martini e Francisco Souto Neto. Entre ambos, Rubens Faria Gonçalves, revisor da obra.

Francisco Souto Neto foi crítico de arte e militante das artes plásticas no Paraná, fundador do Museu Banestado, um importante centro de apoio aos artistas plásticos paranaenses. É escritor e jornalista. Autor, em coautoria com sua prima Lúcia Helena Souto Martini, da biografia do seu trisavô, o Visconde de Souto (1813-1880), ele é o nosso entrevistado deste mês.

A capa da biografia

Durante muitos anos Francisco Souto Neto participou como diretor ou conselheiro de órgãos oficiais ligados à Secretaria de Estado da Cultura. Nessa época chegou a assinar textos para a página dos editoriais da Gazeta do Povo, graças ao apoio do diretor do jornal, o saudoso Dr. Francisco Cunha Pereira Filho, de quem foi par de diretorias e de conselhos de algumas instituições, tais como o Conselho de Cultura da Telepar, da Sociedade dos Amigos dos Museus de Curitiba, e outras.

Os autores

Em 2014 Francisco Souto Neto recebeu o título de comendador. É membro da Academia de Letras, a cuja diretoria pertence, e onde ocupa a cadeira patronímica nº 26, de Emiliano Perneta.

Nos últimos anos Souto Neto escreveu artigos para o Jornal Água Verde, Folha do Batel e Jornal do Centro Cívico.

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A  ENTREVISTA

 – Como foi o trabalho de pesquisa que resultou no livro Visconde de Souto - Ascensão e "Quebra" no Rio de Janeiro Imperial?

Francisco Souto Neto – Eu e minha prima Lúcia Helena Souto Martini, que reside na cidade paulista da Paulínia, iniciamos as pesquisa sobre nosso trisavô em 2006 e no ano seguinte começamos a escrever a biografia. Além das viagens que fizemos ao Rio de Janeiro para conhecermos as fontes primárias nos registros das instituições que guardam a memória do Brasil, tais como Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e diversos outros, pesquisamos na internet e consultamos o impressionante número de 620 livros graças a "Livros de Google". Também compramos mais de uma centena de livros em sebos, alguns editados no século XIX, através da Estante Virtual, que são parte dos alicerces da biografia do Visconde de Souto. Após uns sete anos de trabalho intenso, contratamos uma ONG, a Unicultura, para enquadrar a obra à Lei Rouanet e publicar o livro através de sua própria editora. O enquadramento foi feito, com publicação no Diário Oficial da União. Essa ONG, entretanto, disse-nos não ter conseguido patrocínio de empresas e que o livro não seria publicado. Sentimo-nos lesados pela tal ONG, e frustrados, pois só tivemos prejuízo, decepção e perda de tempo. Até que surgiu uma editora de Curitiba, a Prismas, que no começo deste ano de 2017 se interessou pela obra e editou o livro com quase 600 páginas.

– Fale sobre esse seu parente distante que foi o primeiro banqueiro particular do Brasil.

Francisco Souto Neto – O português António José Alves Souto, o Visconde de Souto, meu trisavô, veio para o Brasil em 1828 aos 15 anos, criou a primeira casa bancária particular do país, conhecida popularmente como Casa Souto, que chegou a rivalizar com o Banco do Brasil. Fundou a Junta de Corretores que se transformou na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, fez parte da primeira diretoria da Caixa Econômica e presidiu a Beneficência Portuguesa. Através de decreto, tornou-se o banqueiro oficial da Casa Imperial do Brasil. Por volta de 1850 formou um jardim zoológico em sua chácara, importando animais de três continentes; foi a primeira vez que os brasileiros viram leões, ursos, elefantes. Aos domingos ele abria o zoológico ao público, sem nada cobrar. Abolicionista, comprava escravos para alforriá-los. Sustentou creches, amparou crianças órfãs e assegurou-lhes a educação. Sua casa bancária faliu em 10 de setembro de 1864, acontecimento noticiado até em países remotos como Nova Zelândia e Austrália. Esse episódio, registrado na História como "Quebra do Souto", é tratado na segunda metade do livro biográfico.

– Quais as diferenças entre o banqueiro do Rio de Janeiro Imperial e os atuais?

Francisco Souto Neto – O que realmente surpreende até a nós que somos os autores do  livro, é que a inculpabilidade e a probidade do Visconde no episódio da "Quebra do Souto" foram enaltecidas pela Comissão de Inquérito, que o inocentou, e confirmadas através de centenas de autores que escreveram sobre o assunto. Nosso livro não teve o propósito de defender o Visconde de Souto, mas apenas tirar do esquecimento um dos mais importantes personagens do Brasil Imperial. Daí, lendo os editoriais dos três jornais do Rio de Janeiro que funcionavam na década de 60 do século XIX, bem como as revistas da época, podemos ter uma certeza: o Visconde de Souto e os outros banqueiros, tais como Gomes & Filho, Montenegro, Lima & Cia, Oliveira & Bello – que foram de roldão nas mais de cem falências arrastadas pelo "Quebra do Souto" – eram extremamente honestos e entregaram às suas respectivas massas falidas todos os seus bens, até mesmo as alianças de casamento, para pagamento aos credores. As diferenças daqueles banqueiros com os atuais "banqueiros usurários" e alguns corruptos, denunciados pela mídia nacional, são de tal modo ululantes que nem precisarei me estender nesta reflexão; basta procurar na internet por "10 banqueiros que se enrolaram nos últimos 15 anos".

– Fale sobre o lançamento do livro no Palacete dos Leões em Curitiba.

Francisco Souto Neto – Graças às gentilezas do BRDE, proprietário do Centro Cultural que funciona no histórico e belo Palacete dos Leões aqui em Curitiba, eu e minha prima tivemos uma notável noite de autógrafos. Foi um sucesso, com a presença de muitos amigos que lá estiveram e participaram do coquetel. Referido palacete é sede da Academia de Letras José de Alencar, da qual sou membro, onde ocupo a cadeira patronímica nº 26, de Emiliano Perneta.

– Onde encontrar o livro à venda?

Francisco Souto Neto – Como transferimos os direitos autorais à Editora Prismas para que publicasse o livro, por exigência do contrato nós tivemos que comprar muitos exemplares para revendê-los na noite de autógrafos. Para evitar que faltassem livros naquela ocasião, compramos um número bem grande de exemplares... e grande parte dos que sobraram continuam em nossas mãos. Ainda por exigência do contrato, somos obrigados a revender os livros por no mínimo R$98,00. Se alguém tiver interesse em conhecer a obra, poderá entrar em contato comigo através do Facebook "in box", ou com minha prima, que ficarei muito grato. A editora também o vende pelo mesmo preço.

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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

BELA GRAFIA E MÁ GRAFIA por FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI.


O calígrafo Ricardo Freire fazendo uma dedicatória num livro.

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Comendador Francisco Souto Neto

Bela grafia e má grafia

Francisco Souto Neto

“Caligrafia” vem do grego κάλλος (kállos), que significa “beleza”, e  γραφή (grafí), que quer dizer “escrita”. Portanto, a própria palavra tem o sentido de “bela letra”. Será redundante  portanto incorreto  dizer-se: “ele tem uma bela caligrafia”, porque toda caligrafia é sempre bela. Do mesmo modo será errado dizer-se: “ela tem uma feia caligrafia”, porque se a letra é feia, não poderá ser chamada de caligrafia. O correto seria dizer-se: “ela tem uma feia grafia” ou, mais objetivamente, “ela tem a letra feia”. Assim, “se a pessoa tem a letra feia, precisa aprender ou praticar caligrafia”.

A caligrafia do meu bisavô

Ao fazer pesquisas no Rio de Janeiro, na companhia de minha prima Lúcia Helena Souto Martini, para o livro que escrevemos em coautoria sobre a biografia do nosso trisavô, o Visconde de Souto, vimo-nos cercados de manuscritos de meados do século XIX. Naquela época, por volta de 1850, escrevia-se com canetas feitas de pena de ganso. As crianças que recebiam esmerada educação, aprendiam a desenvolver uma admirável caligrafia. Eu e Lúcia Helena encontramos exemplo disso na Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, onde está arquivado o requerimento de meu bisavô Francisco José Alves Souto, o 6º filho do Visconde de Souto, dirigido ao Vigário Capitular do Rio de Janeiro, pedindo permissão para casar-se com sua primeira esposa (Maria Luíza de França e Silva) na capela particular de seu pai, o Visconde, na sua residência que era conhecida como “Chácara do Souto”.

É muito impressionante a caligrafia do meu bisavô. As suas letras maiúsculas são todas notabilíssimas. Observe-se no requerimento que ele dirigiu ao Vigário Capitular do Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1868:

Foto 1 – Requerimento de próprio punho, escrito por Francisco José Alves Souto em 19 de fevereiro de 1868.

 
Foto 2 – Detalhe da assinatura de Francisco José Alves Souto.

Vou abrir parênteses no tema, apenas porque acredito que será oportuno lembrar que desse matrimônio nasceu em janeiro de 1872 o primogênito Francisco José Alves Souto Filho, que faleceu em Petrópolis no dia 9 de abril do mesmo ano de 1872, onde está sepultado, e que é hoje conhecido como “Anjinho de Petrópolis”, a quem são atribuídos graças e milagres. No ano de 1873 o casal viajou a Portugal para visitas a parentes, onde Maria Luíza adoeceu e veio a óbito.

Graças a pesquisas de meu primo João Eduardo Teixeira Mendes, um português que reside no Reino Unido, descobri que Francisco José sepultou Maria Luíza no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, onde mandou erigir um jazigo muito bonito, o “Jazigo de Família de Francisco José Alves Souto”, com o seguinte epitáfio: “Aqui jaz Maria Luíza Silva Souto, nascida na cidade do Rio de Janeiro, Império do Brasil, a 11 de abril de 1848, falecida em Lisboa a 8 de agosto de 1873.  À sua memória, dedica este monumento o seu esposo Francisco José Alves Souto”.

Foto 3 – Túmulo da família Francisco José Alves Souto no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.

 
Foto 4 – Detalhe do túmulo.

 
Foto 5 – O epitáfio de Maria Luíza Silva Souto: “À sua memória, dedica este monumento o seu esposo Francisco José Alves Souto”.

Foto 6 –  O túmulo no contexto das sepulturas vizinhas.

Meu bisavô retornou viúvo ao Brasil. Alguns anos depois conheceu a jovem Maria da Lapa de Salles Oliveira, com quem se casou (ela passou a assinar “de Salles Souto”), e dessa união nasceu meu avô Francisco Souto Júnior.

A caligrafia no nascimento da Caixa Econômica

Outro notável exemplo de caligrafia está numa das atas da criação da Caixa Econômica, cujo original encontra-se no Museu da CEF em Brasília. Meu trisavô, António José Alves Souto, fez parte da primeira diretoria daquela instituição. Note-se que a ata, assinada pelo secretário, o veador José Joaquim de Lima e Silva Sobrinho, é datada de 16 de maio de 1861, quando Antônio José Alves Souto era ainda conhecido como “comendador Souto”, porque somente a partir do ano seguinte, 1862 ele passou a ser tratado por “visconde de Souto” devido a ter-lhe sido outorgado esse título por D. Luís I, rei de Portugal, em decreto de 12 de dezembro de 1862.

Foto 7 – Ata de reunião da Caixa Econômica de 16 de maio de 1861.

Para facilitar a compreensão do leitor, transcrevo a ata, adiante, com a ortografia vigente neste começo do século XXI:

Ata da Reunião do Conselho Fiscal e Inspetor da Caixa Econômica e Monte de Socorro. Aos dezesseis dias do mês de maio de mil oitocentos e sessenta e um, em sala franqueada pelo Sr. Comendador António José Alves Souto na casa de sua residência na Rua Direita, sendo presentes os Exmºs Srs. visconde de Bonfim, barão de Itamaraty, veador José Joaquim de Lima e Silva Sobrinho. O Exmº Sr. Presidente visconde de Albuquerque declarou que o Governo Imperial de posse da planta e orçamento das despesas das obras que se tem de fazer na casa destinada para a Caixa Econômica e Monte de Socorro, havia aprovado tanto a planta como o dito orçamento, mas faltando ainda participação oficial, era necessário por ela esperar, mesmo para se exigir do respectivo Ministro a quantia suficiente para a mesma obra. O Sr. Comendador António José Alves Souto, solícito e oficioso como costuma ser, ofereceu-se desde logo ordenar as obras e fiscalizar os trabalhos. Aceita com agradecimento tão generosa oferta, passou o Conselho a fazer a nomeação dos empregados que faltavam. Para lugar de guarda-livros foi nomeado José Narciso de Oliveira; para avaliador, Antonio José de Souza Almeida; e para contínuo sem vencimentos de ordenado, Paulino Manoel d’Oliveira. E por nada haver mais do que tratar, deu por finda a sessão da qual se lavrou esta ata. / Visconde d’Albuquerque. / J. J. de Lima e Silva Sobrinho – Secretário.

A caligrafia na metade do século XX

No meu 1º ano do curso primário, em 1951, éramos alfabetizados usando lápis e borracha. No segundo semestre daquele ano, lembro-me muito bem, eu e todos os meus coleguinhas fomos surpreendidos de manhã ao encontrarmos tinteiros encaixados em nossas carteiras, e uma pena. Tratava-se de uma caneta com corpo de madeira – que pela tradição continuava sendo chamada de “pena” – mas a ponta era de metal. Ao lado desse material, encontrei várias folhas de mata-borrão. E foi assim que aprendemos a usar a pena, mergulhando-a no tinteiro e, é claro, derramando gotas pela carteira, caderno, mãos... tudo sendo secado com os providenciais mata-borrões. Nossos dedos ficavam permanentemente manchados de azul. Os adultos usavam canetas-tinteiro, mas estas não eram objetos para crianças em fase de alfabetização. Ganhei de meu pai a minha primeira caneta-tinteiro quando estava no 3º ano primário. A caneta esferográfica seria inventada alguns anos depois. Durante todos os anos do curso primário, uma das matérias era caligrafia. Por isso, tudo o que escrevíamos era bonito e inteligível.

A feia grafia neste século XXI

Tudo mudou. Até a maneira de escrever “século XXI”, porque os números dos séculos eram escritos obrigatoriamente em algarismos romanos, porém hoje escreve-se em arábicos, de maneira bem prosaica: “século 21”. Entretanto a prática da caligrafia vem caindo no desuso e a no desinteresse não apenas das novas gerações.

Vou praticar uma pequena maldade com um dos meus médicos que, bem a propósito, é competentíssimo na sua profissão e, coisa rara nos dias atuais, trata-se de um gentleman. Considero-o um amigo. Mas a sua letra não é uma caligrafia. É, como dizíamos no passado, uma garatuja. É claro que não vou revelar o nome do meu médico, nem a sua especialidade, mas apenas mostrar um exemplo de letra ruim na ilustração abaixo.

Foto 8 – Exemplo de letra quase ilegível.

A terceira e a quarta linhas são as mais difíceis de entender. No laboratório de análises clínicas, a reação da atendente foi divertida, quando perguntei-lhe se conseguia compreender quais os exames que estavam sendo solicitados. Respondeu ela: “Socorro, que alguns médicos querem me enlouquecer”.

Já o meu médico cardiologista vale-se de um sistema muito mais prático: suas requisições são todas feitas pelo computador e assim, obviamente, em letras impressas.

A caligrafia (a bela, obviamente) neste século XXI

Uma exposição no Museu Oscar Niemeyer - MON (apelidado “Museu do Olho”), que teve uma duração de cerca de três anos (de 2014 a 2017) mostrando o acervo de arte do antigo Banestado, homenageou-me ao contar um pouco da minha história profissional do tempo em que atuei no extinto banco oficial do Paraná nos cargos de assessor de diretores, de presidentes e também como assessor para assuntos de cultural da referida instituição bancária.

Foto 9 – Na exposição do MON, Francisco Souto Neto com a diretora do museu tendo, na parede, referências a seu trabalho como assessor da presidência do Banestado.

Foto 10 – Referências estampadas nas paredes.

Foto 11 – Mais referências.

O MON lançou um livro perpetuando essa exposição. Ricardo Freire, que trabalha no museu e que na época assessorava a ex-diretora Teca Sandrini, veio à minha residência trazendo para mim um exemplar da obra. Como sei que Ricardo é um dos mais importantes calígrafos do Paraná, pedi-lhe que fizesse uma dedicatória... o que ele fez muito gentilmente. Abaixo, a sequência fotográfica da dedicatória com sua caligrafia de rara beleza.

Foto 12 – O livro “Museu Oscar Niemeyer”, no qual há referências a Souto Neto.

Foto 13 – No interior do livro, fotos da exposição.


Foto 14 – Nas páginas do livro, referências a Souto Neto.

Foto 15 – Ricardo Freire acomodando-se para fazer a dedicatória. Na parede, retratos (telas) de Francisco Souto Júnior e Arary Souto, avô e pai de Francisco Souto Neto.

Foto 16 – Iniciando a dedicatória.

Foto 17 – Terminada a dedicatória.

Foto 18– Ricardo, Souto e o livro.

No próximo ano, em março, quando nos reunirmos na Academia de Letras José de Alencar, que será o nosso primeiro encontro de 2018, pretendo levar o livro acima, para que os meus colegas acadêmicos possam admirar um raro modelo de caligrafia... num exemplo a ser aplaudido e seguido.


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