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EM CHUR:
“O SEGREDO MAIS BEM GUARDADO DA SUÍÇA”
PARTE 3 (FINAL)
O PASSEIO NO “CAIXOTE” OU
“CARROZZA”
RUMO A AROSA
por Francisco Souto Neto
Em nosso terceiro dia em
Chur, acordamo-nos cedo e após o café da manhã fomos para a rua da estação,
onde estava estacionado o trem que nos levaria a Arosa. O último vagão da
composição era o “caixote”, a carrozza de madeira sem teto, e foi nela
que embarcamos com outros turistas dentre crianças e idosos.
Logo o trem pôs-se em
movimento e partiu pelas ruas do centro da cidade, quase como se disputasse
espaço entre carros, ônibus e pessoas. Revezávamo-nos alegremente em fotografar
e filmar o passeio. Algumas crianças, nos bancos mais à frente, brincavam
fazendo bolhas de sabão que eram impulsionadas pela velocidade do trem.
Saindo a área urbana, a
composição corre mais depressa e nós íamos sentindo o vento no rosto, nos
cabelos. Por sorte era um dia de sol e não choveu. Mas quando passávamos dentro
de túneis, a temperatura caía bastante, chegava a fazer frio naquela escuridão,
e caíam gotas de água nos nossos rostos e cabeças, que escorriam pelos veios aquíferos
de dentro das montanhas.
As paisagens alpinas são
de tirar o fôlego, tal a beleza. Impossível tentar descrever a maravilha do
percurso. Todos, das crianças aos velhos, gritavam como se a viagem fosse uma
brincadeira de montanha-russa.
Sentimo-nos privilegiados
por podermos viajar por onde quisermos e de tornar realidade os pequenos ao
mesmo tempo extensos desejos.
Arosa
Arosa é uma cidade de
férias de verão e inverno com apenas 2.700 habitantes. As paisagens são estupendas,
mas a cidade é meio sem-graça. Seja como for, o que nos interessava de fato não
era Arosa, mas a viagem no “caixote”.
Almoçamos num lindo
restaurante, subimos a colina, vimos uma exposição de carros antigos e
passeamos pela cidade. Como Arosa se desenvolveu nas encostas de uma montanha,
a prefeitura criou um sistema de ônibus grátis para serem usados por qualquer
um que queira subir ou descer as ladeiras. Há também carruagens puxadas a
cavalo.
Na hora de voltar a Chur,
optamos por um vagão tradicional do trem, agora desprezando a carrozza aberta.
Muito cansados, até cochilamos um pouco durante a viagem de retorno.
Chegando ao Hotel Drei
Könige, encontramos o quarto arrumado, toalhas trocadas, tudo certo. Mas não
fizemos mais as refeições ali. Optamos por almoçar no “self service” de uma das
grandes lojas de departamentos da cidade, a Manor, onde também à noite fazíamos
um lanche frugal.
As vitrines da cidade são
lindas. Há lojas Svarowski, Chanel, Gucci... isto numa cidade com apenas 33.000
habitantes. E diversas lojas populares de roupas, como C&A e outras mais
importantes.
Passamos mais três dias em
Chur e aproveitamos para andar pelas trilhas das encostas das lindas montanhas
alpinas. Num desses passeios percebi, num lapso de segundo, que o Rubens que
seguia à minha frente ia pisar sobre uma cobra. Ele estava com o pé no ar, na
metade do seu passo; num ato reflexo instintivo, empurrei-o com força, gritando-lhe:
“Cuidado!”. Com o pé que estava ainda em terra, ele deu um “salto olímpico”
sobre a cobra que se agitou toda para ficar em seguida estática, mas atravessada
bem no meio da trilha. Rubens ficou no lado de cima do caminho e eu no de
baixo. Peguei um galho e consegui espantar o réptil, fazendo-a deslizar para o
mato. Agora achando a mata perigosa, resolvemos voltar à cidade.
Lembrando da Mamãe
Quando fizemos essa viagem, minha mãe tinha falecido há apenas dois anos. Então, num dos últimos dias em Chur, ao lado do cemitério havia um banco de madeira, onde ficamos por longo tempo sentados, vendo as folhas caírem das árvores num maravilhoso e suave espetáculo que prenuncia a chegada do outono. Depois de algum tempo levantamo-nos e começamos a atravessar a estreita ponte que se iniciava logo após aquele banco. Já estávamos no meio da travessia, quando vimos entrar na ponte, vindo em nossa direção, uma senhora bem idosa, muito bem arrumada, acompanhada de um belo cão. Ela aproximava-se, olhei-a detidamente e vi que ela me lembrava muito minha mãe. Não só nos cabelos louros, muito bonitos, idênticos aos de Mamãe no tom e no penteado, mas também o rosto com os mesmos traços: os olhos claros, o nariz, a linha dos lábios, a cor alegre do batom, e também o jeito já meio pesado, pela idade, de andar. O Rubens seguia um pouco à minha frente e vi que ele se afastou um pouco para que ela passasse com o cão junto ao corrimão. Ouvi-a dizer ao Rubens: “Dank!” (Obrigada). Passou por mim e pude observá-la de perfil. Fiquei olhando-a pelas costas. O Rubens comentou comigo: “Aquela senhora me lembra um pouco a dona Edith”. Vendo-a afastar-se, senti uma profunda emoção. Que saudade imensa! O Rubens prosseguiu: “Procure pensar nisso como se fosse uma homenagem”. Ele estava certo. Observei a beleza das folhas que não paravam de cair e pensei no quanto são bonitas as lembranças que tenho de Mamãe.Terminamos a travessia do rio e logo adiante vislumbramos uma casa cujos maravilhosos canteiros exibiam esplendorosas flores multicores. Sentia-me melhor e me lembrei da minha amiga Anita Zippin que me diz ver a memória de minha mãe sempre vinculada à flora e que pensa nela como “a Dama das Flores”.
No penúltimo dia de nossa hospedagem em Chur, fizemos mais uma pequena viagem. Fomos e voltamos no mesmo dia à capital de um país minúsculo e vizinho a Chur, que é o principado de Liechtenstein, a que apelidei de “O país dos narigudos”. Essa história será lida no próximo capítulo deste mesmo blog.
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ABAIXO, O FILME DA VIAGEM NO TREM CHUR-AROSA:
É só clicar abaixo:
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