quinta-feira, 9 de março de 2023

ATRAVÉS DAS MEMÓRIAS DE DINO ALMEIDA, UM PENSAMENTO DE AROLDO MURÁ EM MIM ou MEU PREITO DE GRATIDÃO AO PROFESSOR AROLDO por Francisco Souto Neto.

Dino Almeida e Aroldo Murá em 1988.

Francisco Souto Neto  em 2017 com seu exemplar de Vozes do Paraná Volume 9.

Francisco Souto Neto em 2017 com seu exemplar autografado por Aroldo Murá.

Francisco Souto Neto com o senador Osmar Dias em 2017 localizando-se mutuamente no livro e trocando autógrafos.



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Comendador Francisco Souto Neto

 

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ATRAVÉS DAS MEMÓRIAS DE DINO ALMEIDA, UM PENSAMENTO DE AROLDO MURÁ EM MIM

ou

MEU PREITO DE GRATIDÃO AO PROFESSOR AROLDO

 

por  Francisco Souto Neto

 

Comecei a colecionar os livros anuais VOZES DO PARANÁ – MEMÓRIAS DE PARANAENSES, da autoria do saudoso Aroldo Murá G. Haygert, quando ainda não imaginava, nem remotamente, que o autor me colocaria entre os seus convidados para figurar no volume 9 da referida obra. Isto aconteceu em 2017.


Capa de VOZES DO PARANÁ volume 9, de 2017.

Em março de 2020 a pandemia do coronavírus irrompeu no planeta, obrigando-nos a um longo período de quase três anos de isolamento social, que foi muito rigoroso no começo porque a letalidade da doença era altíssima, principalmente no “grupo de risco” do qual eu fazia e faço parte devido à minha idade.

Naquele ano de 2020 pela primeira vez não foi lançado um novo volume da coleção VOZES DO PARANÁ, mas depois o autor continuou ampliando a coleção. Em 2021 foi editado o volume 12, no qual o Aroldo Murá fez uma homenagem “in memoriam” ao jornalista e cronista social Dino Almeida.

Na metade do ano passado conversei com o saudoso Prof. Aroldo Murá, sem saber que ele já se encontrava muito doente. Ele tinha lido um texto que publiquei em meu blog a respeito do edifício onde resido, que é um ícone da arquitetura paranaense, e perguntou-me se poderia usar as fotografias do exterior e interiores do prédio que ilustravam aquele meu artigo. Respondi-lhe que sim, e que se ele quisesse conhecer o prédio por dentro, eu gostaria muito de recebê-lo. Na ocasião eu aproveitaria para comprar diretamente dele o exemplar número 12, que faltava à minha coleção. O volume 13, ainda inédito, seria lançado no mês de setembro de 2022, menos de quatro meses antes de sermos abalados com a notícia do falecimento do Prof. Aroldo.

 

Minha surpresa com a minha fotografia no volume 12

 

Agora que a pandemia parece arrefecer, há apenas uma semana resolvi comprar um exemplar do volume 12 para completar minha coleção. Interessava-me conhecer o artigo in memoriam sobre Dino Almeida e também ler os traços biográficos de Rosana Andriguetto de Carvalho, esposa de Joatan Marcos Carvalho, ambos desembargadores e meus confrades na Academia de Letras José de Alencar. Contatei André Nunes, que foi o “braço direito” da equipe do Professor Aroldo, quem me informou não dispor de exemplares do livro. Então entrei em contato com o também meu confrade Luiz Fernando Queiroz, diretor da Bonijuris, editora de VOZES DO PARANÁ, que me vendeu um exemplar do seu acervo.


Capa de VOZES DO PARANÁ volume 12, de 2021.

Ao começar a ler os traços biográficos de Dino Almeida, tive uma grande surpresa ao chegar à página 34: ali, dentro da história de Dino, encontrei a publicação de uma fotografia minha onde apareço entre as artistas plásticas Lélia Brown e Dulce Osinski, feita em minha casa.


VOZES DO PARANÁ VOLUME 12, aberto nas páginas 34 (na foto de um recorte de jornal da coluna de Dino Almeida na Gazeta do Povo, estão Lélia Brown, Francisco Souto Neto e Dulce Osinski) e 35 (Dino em seu escritório). A mão de Souto Neto serve para perceber que as dimensões das folhas da coleção VOZES DO PARANÁ são enormes: 23 x 28 cm.


Detalhe da fotografia de Francisco Souto Neto em sua residência, entre Lélia Brown e Dulce Osinski.


A notícia referia-se ao VII Salão Banestado de Artistas Inéditos – SBAI, um evento por mim criado na época em que eu, funcionário de carreira do extinto Banco do Estado do Paraná S.A., cumulava dois cargos de confiança: assessor de diretor e assessor para assuntos de cultura do Banestado. No certame de artes plásticas de 1989, convidei para comporem a comissão julgadora os artistas plásticos Domício Pedroso, Lélia Brown e Dulce Osinski. Numa reunião em minha casa, num sábado, tiramos muitas fotografias para serem distribuídas aos jornais de Curitiba. Pois uma dessas fotografias – ou recorte de jornal – divulgando nossa reunião, certamente estaria no acervo de Dino Almeida ou de Aroldo Murá, e este último selecionou-o para figurar no livro.

 

Como conheci Dino Almeida na década de 50, em minha casa

 

Em março de 1958 eu era um menino aos 14 anos de idade. Morava com meus pais e meus irmãos Olímpio (aos 23 anos) e Ivone (aos 19) em Ponta Grossa, interior do Paraná. Meu pai, Arary Souto, tinha sido diretor de redação do diário Jornal do Paraná, e era o diretor geral da Rádio Central do Paraná, quando a televisão não tinha ainda chegado aos Campos Gerais e o rádio era o principal meio de comunicação de massas. Residíamos num belo casarão na Rua Augusto Ribas nº 571, entre a Rua XV de Novembro e a Marechal Deodoro, pegado à Câmara Municipal de um lado, e a uns 50 metros do Cine Ópera do outro lado.

Àquele tempo as famílias mais tradicionais costumavam dar grandes festas que movimentavam a sociedade local. Meus pais não gostavam muito dessas festas, mas meus irmãos, sim. Eu, aos 14 anos, nem pensava em festas de adultos, pois me ocupava das tarefas escolares (iniciava aquele período letivo matriculado no 3º ano ginasial), lia gibis, ia muito ao cinema estimulado pelo meu pai, e me enturmava com os colegas da Academia, como era chamado o Ginásio Ponta-grossense.

Naqueles dias, Bernardo Sávio Filho e Vera Nascimento Sávio costumavam ser os anfitriões mais notáveis da cidade. Era a época dourada da crônica social, e o mais importante cronista de Ponta Grossa chamava-se Fadlo Auak, heterônimo de Sebastião Nascimento Filho, que assinava a coluna “Cortina de Seda” no Jornal da Manhã. Se numa festa não houvesse a presença de um cronista social, ela seria considerada irrelevante. Num exemplar de jornal que tenho em arquivo, de janeiro de 1958, Auak noticiou um “jantar americano” oferecido pelos Sávio para o hight Society, no qual meus irmãos Olímpio e Ivone são citados.


 
“Cortina de Seda”, de Fadlo Auak, de janeiro de 1958, onde o cronista social menciona meus irmãos Olímpio e Ivone.

Durante o almoço meu irmão comunicou ao nosso pai: “Papai, ontem eu convidei um moço que está fazendo sucesso com uma coluna social em Curitiba, para a “festinha” programada para hoje à noite aqui em casa”. Acrescentou que ele Olímpio e minha irmã tinham-no conhecido na casa dos Sávio, e que se tratava de um rapaz muito bem educado e fino. Os convidados para a “festinha” não seriam mais do que apenas umas 15 pessoas, dentre elas Nilton Romanowski, Michel Acras, Zilá Lopes, Marli Mascarenhas,  Vera Gaertner, Marlene Sant’Anna, Loil e Haydée Noemberg, João Copla e alguns outros. Meus pais concordaram. 

As festas do meu irmão eram ao som de música popular norte-americana, nas vozes de Doris Day, Jane Froman, Julie London, sempre à luz de velas. Minha mãe, Dª Edith Barbosa Souto, encomendava salgadinhos e doces. Nessas ocasiões, meu pai não permitia bebida alcoólica, mas apenas refrigerantes. E ambos, meu pai e minha mãe, permaneciam entre os convidados até ao final da festa. Todos sabiam que beijos eram impróprios, e a simples presença dos meus pais era o suficiente para que soubessem portar-se convenientemente segundo os costumes da época.

Num dos momentos em que passei por ali, meu irmão chamou-me e me apresentou ao Dino Almeida. Cumprimentei-o, comi alguns doces e fui para o meu quarto, longe do vozerio, como faria qualquer outro menino de 14 anos. 

Alguns dias depois, li a coluna “Nossa Sociedade”, que Dino publicava no Diário do Paraná, de Curitiba. O cronista referia-se à festa dos Sávio e mencionava meus irmãos Olímpio e Ivone. Na primeira das fotografias ali publicadas, via-se o próprio Dino Almeida entre Bernardo Sávio Filho e Janguta Maia seguido de André Fatuch.


 
Coluna "Nossa Sociedade", assinada por Dino Almeida no jornal Diário do Paraná, de Curitiba. Edição de 1.4.1958. No quadro CHÁ, SIMPATIA E FINESSE, Dino cita meus irmãos Olímpio Souto e Ivone Barbosa Souto. Isto aconteceu há longos 65 anos...

 

Meu reencontro com Dino Almeida em Curitiba na década de 80

 

Desde o final da década de 70 ao início dos anos 90, em Curitiba, estive em cargos de muita importância no Banestado, o extinto banco oficial do Estado do Paraná, até à minha aposentadoria  como Assessor para Assuntos de Cultura da Presidência do Banestado. Além disso, ao mesmo tempo fiz parte das diretorias e de conselhos consultivos de algumas instituições oficiais ligadas ao governo do Paraná. Era natural que eu e Dino Almeida nos reaproximássemos. Ele sempre deu muita importância à minha atividade profissional e sempre, espontaneamente, divulgou com elogios o meu trabalho em suas colunas na imprensa. Além disso, Nadyegge de Almeida, esposa de Dino Almeida, quando era diretora do Museu de Arte Contemporânea, na ocasião em que, na companhia de Marisa Villela (diretora do Museu da Imagem e do Som) criou a SAM – Sociedade dos Amigos dos Museus, convidou-me a fazer parte da Diretoria da entidade, à qual estive ligado durante três diretorias consecutivas.

 

Minha pesquisa sobre Dino Almeida em 2016

 

Tendo sido tão importante na vida cultural paranaense, é impressionante que tão pouco exista registrado na internet sobre Dino Almeida. Em homenagem à memória do estimado amigo e cronista social, escrevi para o Portal Iza Zilli (então o mais importante veículo de comunicação social do Paraná) em 13 de julho de 2016 (há quase 7 anos) a primeira parte de um artigo sobre o saudoso Dino:


https://fsoutone.blogspot.com/2016/07/dino-almeida-e-sua-caioba-divina-1-parte.html

 

No dia 21 do mesmo mês, coloquei no Portal Iza Zilli a 2ª parte do artigo sobre Dino Almeida:


http://fsoutone.blogspot.com/2016/07/dino-almeida-e-sua-caioba-divina.html


 
Divulgação feita por Aroldo Murá da 1ª parte de meu artigo sobre Dino Almeida.


Meu contato com Aroldo Murá sobre minha descoberta da filmagem de uma longa entrevista de Dino Almeida

 

Nas minhas pesquisas sobre Dino Almeida, uma das poucas mas preciosas referências que encontrei, foi a gravação que era tida como "perdida", arquivada no YouTube, de uma entrevista feita com Dino por alguns dos mais importantes jornalistas do Paraná, dentre os quais Aroldo Murá. Sabedor de que Dino e Murá eram muito amigos, enviei a gravação ao Professor Aroldo, que se surpreendeu muito. Foi isto que escrevi ao Prof. Aroldo:

 

“Caro Prof. Aroldo!

Nosso amigo Dino Almeida, o mais famoso cronista social do Paraná, faleceu em 2001. É incrível que haja tão poucas informações sobre ele na internet. Pouquíssimas fotos. Resolvi escrever sobre ele no meu artigo da semana para o Portal Iza Zilli, desejando que possa ser útil a eventuais pesquisadores. Há no meu relato algumas lembranças muito pessoais, desde que, ainda menino aos 14 anos, o conheci em 1958 em minha casa paterna de Ponta Grossa. Dino Almeida estava com apenas 20 anos. Era a época dourada do colunismo social liderado no país por Ibrahim Sued. Depois reencontrei o Dino no começo da década de 80 em Curitiba. Em 1991 fui apresentado a Nadyegge Almeida. No meu artigo, eu conto através das décadas algumas histórias do colunismo social em Ponta Grossa e Curitiba, e a importância que então se atribuía aos cronistas.

Como disse acima, são duas horas e meia… que valem a pena, pelas recordações que nos trazem. Acho que o sr. gostará de lembrar da sua própria participação”.

 

Eis a entrevista com Dino Almeida, de duas horas e meia:

 

https://www.youtube.com/watch?v=HjDRkYf8aSM&t=2s

 

A reação de Aroldo Murá

 

A coluna de Aroldo Murá, publicada na edição de 17 de agosto de 2016 no Jornal Indústria & Comércio, pode ser lida no link abaixo:

 

http://www.aroldomura.com.br/dos-leitores-lembrando-dino-almeida-com-um-video-rarissimo/


Divulgação feita por Aroldo Murá em sua coluna do jornal de 17 de agosto de 2016, da 2ª parte de meu artigo sobre Dino Almeida.  

 

Detalhe de montagem fotográfica feita pelo próprio Aroldo Murá para ilustrar seu artigo no jornal, juntando três jornalistas: Francisco Souto Neto, Dino Almeida e Luiz Geraldo Mazza.


Continuação da divulgação de Aroldo Murá da 2ª parte do meu artigo sobre Dino Almeida, por ele publicada na edição de 17 de agosto de 2016 do Jornal Indústria & Comércio. 

Vou reproduzir abaixo o elogio que recebi de Aroldo Murá pelo meu trabalho na pesquisa sobre Dino Almeida, que ele fez no próprio jornal, como se vê acima, e que muito me envaideceu:

 

“Souto, você é mesmo incansável. Seria meu primeiro candidato a ocupar uma instituição cultural voltada à memória paranaense. Grato pela “descoberta”.

O vídeo deve ter sido feito lá por 1988. Acho que foi para o projeto Memória Histórica Bamerindus, do qual eu participava, com outros jornalistas: João DeDeus Freitas Neto (coordenador), Aramis Millarch, Renato Schaitza, Hélio de Freitas Puglielli, Luiz Geraldo Mazza.

Levantamos depoimentos de cerca de 250 personalidades paranaenses, em vídeo profissional.

O material, se a lei está sendo obedecida, deve estar no Museu da Imagem e do Som, a quem o acervo levantado pelo Bamerindus para o projeto citado foi encaminhado, quando o banco entrou em liquidação (decisão foi do Banco Central, de encaminhar esse acervo ao Museu).

Gratíssimo por sua atenta presença”.


Epílogo 


Eu e o Prof. Aroldo Murá mantivemos contato muito frequente. Durante cerca de onze anos, no mínimo uma vez por semana, quando eu levava minha coluna datilografada à redação do Jornal Indústria & Comércio, do qual ele era diretor de redação e cujo escritório era instalado na Rua Comendador Araújo, mais tarde na Travessa Itararé. Depois, com o advento da internet, comprei um computador, e daí as laudas datilografadas, tão usadas por nós jornalistas, caíram no total desuso.

Em tempos de internet, meu contato com o Prof. Aroldo passou a ser preferencialmente através da via digital.

Sinto-me feliz por ter podido mostrar ao meu saudoso amigo o quanto o seu trabalho (associado ao do seu assessor Rodrigo de Lorenzi) me emocionou no volume 9 de VOZES DO PARANÁ, e quão importante foi o seu apoio para que minha coluna Expressão & Arte, no seu jornal, ganhasse força no universo cultural paranaense.  A visão que o Professor Aroldo tinha a meu respeito ecoará através do tempo, até quando eu e todos nós já não estivermos mais aqui.

Quem desejar conhecer meus traços biográficos através da percepção do saudoso Professor Aroldo, poderá encontrá-los neste site enriquecido com dezenas de fotografias:

 

https://soutoneto.blogspot.com/2020/04/vozes-do-parana-retratos-de-paranaenses.html 


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Francisco Souto Neto em 2023, aos 79 anos.

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sábado, 4 de março de 2023

BANCO DO BRASIL: INCOMPETÊNCIA PERSISTENTE E INDOMÁVEL, por Francisco Souto Neto.

 

 
Banco do Brasil

 

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BANCO DO BRASIL: INCOMPETÊNCIA PERSISTENTE E INDOMÁVEL

 

por  Francisco Souto Neto


Segundo um antigo ditado, “a História sempre se repete”. É verdade... mas não apenas a História se repete: o mesmo também ocorre com pequenas histórias, e é o que vou relatar. Basta que nos recordemos do seguinte: no dia 12 de abril de 2018 postei um artigo no Portal Iza Zilli que intitulei “BANCO DO BRASIL versus ATENDIMENTO PORCARIA”. Eis a sua íntegra:

https://fsoutone.blogspot.com/2018/04/banco-do-brasil-versus-atendimento.html

Naquela ocasião, passados quase seis anos, senti-me indignado com o que vivenciei na Agência João Gualberto do Banco do Brasil, de Curitiba, porque quando me sentei nas “cadeiras de espera”, havia sete pessoas antes da minha vez. Depois foram chegando mais pessoas. Já éramos quinze. A senhora a meu lado contou-me que já estava ali há quase uma hora e que havia apenas um funcionário-caixa atendendo ao público. Levantei-me e fui olhar o que se passava atrás dos bimbos, onde se encontrava um cliente com muitos papeis nas mãos, que estava sendo realmente atendido por um único funcionário-caixa.

Claro que a culpa pela demora não era do funcionário, mas da administração por deixá-lo sozinho atendendo a uma multidão. O que se passou a seguir, vai narrado no meu artigo acima.

Anos depois, a história se repete na Agência Comendador Araújo

Agora resido no Batel. Estamos nos primeiros dias de março de 2023. Como tenho por hábito pagar minhas contas sempre bem antes da data de vencimento, e tendo já efetuado a quitação do IPVA de meu automóvel, resolvi antecipar a liquidação da outra taxa, que é o licenciamento, cujo vencimento ocorre a partir do segundo semestre do ano. O Banco onde tenho conta corrente não pode receber a taxa do licenciamento, então todo ano vou ao Banco do Brasil e ali efetuo o pagamento. A mais próxima agência do Banco do Brasil agora fica a apenas uns 150 metros de minha residência, é a Agência Comendador Araújo, de modo que é ali que nos últimos anos venho efetuando tal pagamento. Pois... por incrível que pareça, repetiu-se o episódio idêntico ao ocorrido na Agência João Gualberto, só que agora foi ainda um pouco mais complicado!

Ocorreu assim: o valor a ser pago pelo licenciamento tem que ser pego nas máquinas automáticas que ficam logo à entrada da agência. À minha frente, para pedir auxílio ao funcionário que ali está para essa finalidade, havia dois senhores. Passou-se muito tempo até que o funcionário se desvencilhasse dos dois e assim chegou minha vez. Atrás de mim a fila crescera muito. Esse funcionário, muito atencioso, extraiu da máquina o papel com o valor que eu deveria pagar, e eu agradeci dizendo-lhe que era necessário que ele tivesse mais um colega a seu lado para ajudá-lo, de modo que a fila não crescesse tanto.

Dirigi-me à porta giratória em direção aos caixas, quando vinha em sentido contrário, saindo da agência, um homem jovem que gritava palavras obscenas. Ele dizia: “Uma hora! Uma hora esperando sentado, sem chamarem minha senha! Bando de filhos da *** deste banquinho de ***”.

É preciso subir uma escada para chegar aos caixas. Subi e lá estavam os clientes, mais de dez, sentados, esperando que suas senhas fossem chamadas. Fui diretamente olhar o que ocorria atrás dos biombos. Pois é, uma única funcionária-caixa estava ali para atender a todo aquele povo. Igualito, igualito ao que aconteceu há quase seis anos naquela outra agência do Banco do Brasil.

Perguntei ao guarda onde encontraria o gerente geral da agência, para reclamar. Disse-me que era no andar térreo. Desci e perguntei pelo gerente. Um daqueles quatro ou cindo gerentes que ali atendiam, mostrou-me a mesa do gerente geral, que estava vazia. Perguntei-lhe se o gerente tinha saído, e ele respondeu que não; que o gerente estava na agência. Pedi-lhe para chamá-lo, e ele respondeu que não sabia onde localizar o gerente.

Num momento como esse, quando ultrapassam os meus limites, eu ambém extrapolo os meus próprios. “Qual o nome do gerente?”, perguntei. Ele me respondeu. Agora eu não me recordo do nome, mas imaginemos que fosse Ernesto. E eu gritei a plenos pulmões: ‘ERNEEEEEEESTO, ERNEEEEESTO, ONDE VOCÊ ESTÁ?”. Os gerentes olharam-me assustados, e eu prossegui: “ERNEEEESTO! ERNEEEESTO!”. E o Ernesto apareceu ao meu lado.

Perguntei-lhe como justificar que apenas uma pobre funcionária-caixa estivesse atendendo aos clientes, sem conseguir dar andamento à fila de espera! Respondeu-me o Ernesto, com boa educação: “Eu sou o gerente geral dos gerentes administrativos; os caixas têm um gerente próprio. É com ele que o senhor deve falar”. Agradeci e mais uma vez subi a escada. Perguntei ao guarda daquele setor qual o nome do gerente dos caixas. Seria Fábio ou algo parecido (não sei memorizar corretamente). “E onde ele está?”. A resposta: “na porta atrás dos caixas”.

Lá fui eu e procurei por ele. Veio atender-me. Disse-lhe eu que um caixa era insuficiente para atender a todos dentro do limite de tempo estipulado por lei (que é de até 20 minutos em dias normais e de até 30 minutos em véspera ou após feriados prolongados) e perguntei o por quê de apenas uma funcionária estar ali atendendo. A resposta dele: “É porque tenho só uma funcionária-caixa”. “Mas isso não pode!”, reclamei. E ele: “Então o que posso fazer? Quer que eu vá à rua procurar por algum caixa?” e deu-me as costas.

Parece ignorar ele que em casos emergenciais os próprios gerentes têm que assumir momentaneamente a função de funcionário-caixa, pois isso está previsto nas regras bancárias. Não apenas ele, o gerente dos caixas, deveria ajudar a moça que atendia sozinha, mas também poderia determinar que qualquer um dos gerentes do andar térreo viesse atender provisoriamente, até que a situação se normalizasse.

O que não pude dizer ao gerente dos caixas é que, acima de tudo, sua obrigação é a de levar o problema para a Gerência Regional e esta à própria Diretoria do Banco. A solução? Designar mais funcionários-caixas para atender ao público e jamais permitir que apenas um fique atendendo à multidão. Imagino o nível de estresse que a moça-caixa deva estar enfrentando e quantas doenças físicas e psicológicas possa estar desenvolvendo pela falta de capacidade das Gerências Regionais e das diretorias para sanar esse problema. E isso vem ocorrendo há anos, como relatei ao início deste artigo.

Sempre me manifestei contrário à privatização de bancos, tanto os  estaduais quanto os federais (Banco do Brasil e Caixa Econômica), mas para que isto não ocorra é preciso que suas administrações ajam dentro dos padrões da competência, da honestidade e da ética. E do bom-senso.

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Comendador Francisco Souto Neto na atualidade, em 2023.

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