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ATRAVÉS DAS MEMÓRIAS DE
DINO ALMEIDA, UM PENSAMENTO DE AROLDO MURÁ EM MIM
ou
MEU PREITO DE GRATIDÃO
AO PROFESSOR AROLDO
por Francisco Souto Neto
Comecei a colecionar
os livros anuais VOZES DO PARANÁ – MEMÓRIAS DE PARANAENSES, da autoria do
saudoso Aroldo Murá G. Haygert, quando ainda não imaginava, nem remotamente, que
o autor me colocaria entre os seus convidados para figurar no volume 9 da
referida obra. Isto aconteceu em 2017.
Em março de 2020 a
pandemia do coronavírus irrompeu no planeta, obrigando-nos a um longo período
de quase três anos de isolamento social, que foi muito rigoroso no começo
porque a letalidade da doença era altíssima, principalmente no “grupo de risco”
do qual eu fazia e faço parte devido à minha idade.
Naquele ano de 2020
pela primeira vez não foi lançado um novo volume da coleção VOZES DO PARANÁ,
mas depois o autor continuou ampliando a coleção. Em 2021 foi editado o volume 12, no
qual o Aroldo Murá fez uma homenagem “in memoriam” ao jornalista e cronista social
Dino Almeida.
Na metade do ano
passado conversei com o saudoso Prof. Aroldo Murá, sem saber que ele já se
encontrava muito doente. Ele tinha lido um texto que publiquei em meu blog a
respeito do edifício onde resido, que é um ícone da arquitetura paranaense, e
perguntou-me se poderia usar as fotografias do exterior e interiores do prédio
que ilustravam aquele meu artigo. Respondi-lhe que sim, e que se ele quisesse
conhecer o prédio por dentro, eu gostaria muito de recebê-lo. Na ocasião eu
aproveitaria para comprar diretamente dele o exemplar número 12, que faltava à
minha coleção. O volume 13, ainda inédito, seria lançado no mês de setembro de
2022, menos de quatro meses antes de sermos abalados com a notícia do
falecimento do Prof. Aroldo.
Minha surpresa com a minha fotografia no volume 12
Agora que a pandemia
parece arrefecer, há apenas uma semana resolvi comprar um exemplar do volume 12
para completar minha coleção. Interessava-me conhecer o artigo in memoriam sobre
Dino Almeida e também ler os traços biográficos de Rosana Andriguetto de
Carvalho, esposa de Joatan Marcos Carvalho, ambos desembargadores e meus
confrades na Academia de Letras José de Alencar. Contatei André Nunes, que foi o
“braço direito” da equipe do Professor Aroldo, quem me informou não dispor de
exemplares do livro. Então entrei em contato com o também meu confrade Luiz
Fernando Queiroz, diretor da Bonijuris, editora de VOZES DO PARANÁ, que me
vendeu um exemplar do seu acervo.
Ao começar a ler os
traços biográficos de Dino Almeida, tive uma grande surpresa ao chegar à página
34: ali, dentro da história de Dino, encontrei a publicação de uma fotografia
minha onde apareço entre as artistas plásticas Lélia Brown e Dulce Osinski,
feita em minha casa.
A notícia referia-se
ao VII Salão Banestado de Artistas Inéditos – SBAI, um evento por mim criado na
época em que eu, funcionário de carreira do extinto Banco do Estado do Paraná
S.A., cumulava dois cargos de confiança: assessor de diretor e assessor para
assuntos de cultura do Banestado. No certame de artes plásticas de 1989,
convidei para comporem a comissão julgadora os artistas plásticos Domício
Pedroso, Lélia Brown e Dulce Osinski. Numa reunião em minha casa, num sábado,
tiramos muitas fotografias para serem distribuídas aos jornais de Curitiba.
Pois uma dessas fotografias – ou recorte de jornal – divulgando nossa reunião, certamente
estaria no acervo de Dino Almeida ou de Aroldo Murá, e este último selecionou-o
para figurar no livro.
Como conheci Dino Almeida na década de 50, em minha
casa
Em março de 1958 eu era um menino aos 14 anos de idade. Morava com meus pais e meus irmãos Olímpio (aos 23 anos) e Ivone (aos 19) em Ponta Grossa, interior do Paraná. Meu pai, Arary Souto, tinha sido diretor de redação do diário Jornal do Paraná, e era o diretor geral da Rádio Central do Paraná, quando a televisão não tinha ainda chegado aos Campos Gerais e o rádio era o principal meio de comunicação de massas. Residíamos num belo casarão na Rua Augusto Ribas nº 571, entre a Rua XV de Novembro e a Marechal Deodoro, pegado à Câmara Municipal de um lado, e a uns 50 metros do Cine Ópera do outro lado.
Àquele tempo as famílias mais tradicionais costumavam dar grandes festas que movimentavam a sociedade local. Meus pais não gostavam muito dessas festas, mas meus irmãos, sim. Eu, aos 14 anos, nem pensava em festas de adultos, pois me ocupava das tarefas escolares (iniciava aquele período letivo matriculado no 3º ano ginasial), lia gibis, ia muito ao cinema estimulado pelo meu pai, e me enturmava com os colegas da Academia, como era chamado o Ginásio Ponta-grossense.
Naqueles dias, Bernardo Sávio Filho e Vera Nascimento Sávio costumavam
ser os anfitriões mais notáveis da cidade. Era a época dourada da crônica
social, e o mais importante cronista de Ponta Grossa chamava-se Fadlo Auak,
heterônimo de Sebastião Nascimento Filho, que assinava a coluna “Cortina de
Seda” no Jornal da Manhã. Se numa festa não houvesse a presença de um cronista
social, ela seria considerada irrelevante. Num exemplar de
jornal que tenho em arquivo, de janeiro de 1958, Auak noticiou um “jantar
americano” oferecido pelos Sávio para o hight Society, no qual meus
irmãos Olímpio e Ivone são citados.
Durante o almoço meu irmão comunicou ao nosso pai: “Papai, ontem eu convidei um moço que está fazendo sucesso com uma coluna social em Curitiba, para a “festinha” programada para hoje à noite aqui em casa”. Acrescentou que ele Olímpio e minha irmã tinham-no conhecido na casa dos Sávio, e que se tratava de um rapaz muito bem educado e fino. Os convidados para a “festinha” não seriam mais do que apenas umas 15 pessoas, dentre elas Nilton Romanowski, Michel Acras, Zilá Lopes, Marli Mascarenhas, Vera Gaertner, Marlene Sant’Anna, Loil e Haydée Noemberg, João Copla e alguns outros. Meus pais concordaram.
As festas do meu irmão eram ao som de música popular norte-americana, nas vozes de Doris Day, Jane Froman, Julie London, sempre à luz de velas. Minha mãe, Dª Edith Barbosa Souto, encomendava salgadinhos e doces. Nessas ocasiões, meu pai não permitia bebida alcoólica, mas apenas refrigerantes. E ambos, meu pai e minha mãe, permaneciam entre os convidados até ao final da festa. Todos sabiam que beijos eram impróprios, e a simples presença dos meus pais era o suficiente para que soubessem portar-se convenientemente segundo os costumes da época.
Num dos momentos em que passei por ali, meu irmão chamou-me e me apresentou ao Dino Almeida. Cumprimentei-o, comi alguns doces e fui para o meu quarto, longe do vozerio, como faria qualquer outro menino de 14 anos.
Alguns dias depois, li a coluna “Nossa
Sociedade”, que Dino publicava no Diário do Paraná, de Curitiba. O cronista
referia-se à festa dos Sávio e mencionava meus irmãos Olímpio e Ivone. Na
primeira das fotografias ali publicadas, via-se o próprio Dino Almeida entre
Bernardo Sávio Filho e Janguta Maia seguido de André Fatuch.
Meu reencontro
com Dino Almeida em Curitiba na década de 80
Desde o final da década de 70 ao início dos
anos 90, em Curitiba, estive em cargos de muita importância no Banestado, o
extinto banco oficial do Estado do Paraná, até à minha aposentadoria como Assessor para Assuntos de Cultura da
Presidência do Banestado. Além disso, ao mesmo tempo fiz parte das diretorias e
de conselhos consultivos de algumas instituições oficiais ligadas ao governo do
Paraná. Era natural que eu e Dino Almeida nos reaproximássemos. Ele sempre deu
muita importância à minha atividade profissional e sempre, espontaneamente,
divulgou com elogios o meu trabalho em suas colunas na imprensa. Além disso,
Nadyegge de Almeida, esposa de Dino Almeida, quando era diretora do Museu de
Arte Contemporânea, na ocasião em que, na companhia de Marisa Villela (diretora
do Museu da Imagem e do Som) criou a SAM – Sociedade dos Amigos dos Museus,
convidou-me a fazer parte da Diretoria da entidade, à qual estive ligado durante
três diretorias consecutivas.
Minha pesquisa
sobre Dino Almeida em 2016
Tendo sido tão importante na vida cultural
paranaense, é impressionante que tão pouco exista registrado na internet sobre
Dino Almeida. Em homenagem à memória do estimado amigo e cronista social,
escrevi para o Portal Iza Zilli (então o mais importante veículo de comunicação
social do Paraná) em 13 de julho de 2016 (há quase 7 anos) a primeira parte de
um artigo sobre o saudoso Dino:
https://fsoutone.blogspot.com/2016/07/dino-almeida-e-sua-caioba-divina-1-parte.html
No dia 21 do mesmo mês,
coloquei no Portal Iza Zilli a 2ª parte do artigo sobre Dino Almeida:
http://fsoutone.blogspot.com/2016/07/dino-almeida-e-sua-caioba-divina.html
Meu contato com
Aroldo Murá sobre minha descoberta da filmagem de uma longa entrevista de Dino Almeida
Nas minhas pesquisas sobre Dino Almeida, uma das poucas mas preciosas referências que encontrei, foi a gravação que era tida como "perdida", arquivada no YouTube, de uma entrevista feita com Dino por alguns dos mais importantes jornalistas do Paraná, dentre os quais Aroldo Murá. Sabedor de que Dino e Murá eram muito amigos, enviei a gravação ao Professor Aroldo, que se surpreendeu muito. Foi isto que escrevi ao Prof. Aroldo:
“Caro Prof. Aroldo!
Nosso amigo Dino Almeida, o mais famoso
cronista social do Paraná, faleceu em 2001. É incrível que haja tão poucas
informações sobre ele na internet. Pouquíssimas fotos. Resolvi escrever sobre
ele no meu artigo da semana para o Portal Iza Zilli, desejando que possa ser
útil a eventuais pesquisadores. Há no meu relato algumas lembranças muito
pessoais, desde que, ainda menino aos 14 anos, o conheci em 1958 em minha casa
paterna de Ponta Grossa. Dino Almeida estava com apenas 20 anos. Era a época
dourada do colunismo social liderado no país por Ibrahim Sued. Depois
reencontrei o Dino no começo da década de 80 em Curitiba. Em 1991 fui
apresentado a Nadyegge Almeida. No meu artigo, eu conto através das décadas
algumas histórias do colunismo social em Ponta Grossa e Curitiba, e a
importância que então se atribuía aos cronistas.
Como disse acima, são duas horas e meia… que
valem a pena, pelas recordações que nos trazem. Acho que o sr. gostará de
lembrar da sua própria participação”.
Eis a entrevista com Dino Almeida, de duas horas e meia:
https://www.youtube.com/watch?v=HjDRkYf8aSM&t=2s
A reação de
Aroldo Murá
A coluna de Aroldo Murá, publicada na edição de
17 de agosto de 2016 no Jornal Indústria & Comércio, pode ser lida no link
abaixo:
http://www.aroldomura.com.br/dos-leitores-lembrando-dino-almeida-com-um-video-rarissimo/
Vou reproduzir abaixo o elogio que recebi de
Aroldo Murá pelo meu trabalho na pesquisa sobre Dino Almeida, que ele fez no
próprio jornal, como se vê acima, e que muito me envaideceu:
“Souto, você é mesmo incansável.
Seria meu primeiro candidato a ocupar uma instituição cultural voltada à
memória paranaense. Grato pela “descoberta”.
O vídeo deve ter sido feito lá por
1988. Acho que foi para o projeto Memória Histórica Bamerindus, do qual eu
participava, com outros jornalistas: João DeDeus Freitas Neto (coordenador),
Aramis Millarch, Renato Schaitza, Hélio de Freitas Puglielli, Luiz Geraldo
Mazza.
Levantamos depoimentos de cerca de
250 personalidades paranaenses, em vídeo profissional.
O material, se a lei está sendo
obedecida, deve estar no Museu da Imagem e do Som, a quem o acervo levantado
pelo Bamerindus para o projeto citado foi encaminhado, quando o banco entrou em
liquidação (decisão foi do Banco Central, de encaminhar esse acervo ao Museu).
Gratíssimo por sua atenta presença”.
Epílogo
Eu e o Prof. Aroldo Murá mantivemos contato
muito frequente. Durante cerca de onze anos, no mínimo uma vez por semana,
quando eu levava minha coluna datilografada à redação do Jornal Indústria &
Comércio, do qual ele era diretor de redação e cujo escritório era instalado na
Rua Comendador Araújo, mais tarde na Travessa Itararé. Depois, com o advento da
internet, comprei um computador, e daí as laudas datilografadas, tão usadas
por nós jornalistas, caíram no total desuso.
Em tempos de internet, meu contato com o Prof. Aroldo passou a ser preferencialmente através da via digital.
Sinto-me feliz por ter podido mostrar ao meu saudoso amigo o quanto o seu trabalho (associado ao do seu assessor Rodrigo de Lorenzi) me emocionou no volume 9 de VOZES DO PARANÁ, e quão importante foi o seu apoio para que minha coluna Expressão & Arte, no seu jornal, ganhasse força no universo cultural paranaense. A visão que o Professor Aroldo tinha a meu respeito ecoará através do tempo, até quando eu e todos nós já não estivermos mais aqui.
Quem desejar conhecer meus traços biográficos através da percepção do saudoso Professor Aroldo, poderá encontrá-los neste site enriquecido com dezenas de fotografias:
https://soutoneto.blogspot.com/2020/04/vozes-do-parana-retratos-de-paranaenses.html
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