PORTAL IZA ZILLI
Iza Zilli
Comendador Francisco
Souto Neto
DINO ALMEIDA E SUA "CAIOBÁ, A DIVINA":
HISTÓRIAS DA CRÔNICA SOCIAL.
(2ª Parte –
Final)
Francisco Souto Neto
Na primeira parte deste artigo,
referi-me aos primórdios da crônica social em meados da década de 50, da qual José Esmeraldino Bronze de Almeida, para nós apenas Dino Almeida,
foi o expoente máximo no Paraná.
FOTO 1 – Dino Almeida
Cerca de dez anos após sucesso sempre
crescente com suas colunas em jornais, Dino teve a ideia de criar dois
concursos para enaltecer a beleza da mulher paranaense. Em 1966 realizou os
primeiros “Glamour Girl” em Curitiba e “Garota Caiobá” no litoral. Na realidade,
um certame de beleza foi intentado pelo colunista muitos anos antes, porém
funcionou apenas como um ensaio, uma espécie de embrião do colossal evento que
Dino Almeida, já muito influente e poderoso, implantaria depois. Por isso, a
história dos seus concursos nos moldes criados em 1966 não menciona aqueles
anteriormente realizados.
Glamour Girl
O Glamour Girl elegia a moça mais
bonita e elegante do Paraná. Ao contrário do concurso Miss Brasil, as
candidatas não se exibiam em maiô. No entanto, a movimentação em Curitiba era
retumbante, envolvendo toda a infraestrutura de empresas de segurança e
manobristas, isto sem falar na agitação dos salões de beleza, floriculturas,
ateliês de alta costura e até das joalherias. Era uma efervescência que superava
os concursos de Miss Paraná, este ligado ao Miss Brasil e Miss Universo.
O único jornal encontrado na internet
no dia em que escrevo esta matéria, 20.7.2016, é o que se vê logo abaixo. É um
pedaço não datado de uma das colunas de Dino Almeida. Pelo texto constata-se
tratar-se da 28ª edição do concurso Glamour Girl do Paraná, e mais abaixo, no
texto, lê-se que o ano era 1992.
FOTO 2 – Pedaço da página
de uma coluna de Dino Almeida do ano de 1992 encontrada na internet,
referindo-se ao 28º concurso Glamour Girl.
Em suas primeiras versões a partir de
1966, participavam somente candidatas dos clubes da capital paranaense. Mais
tarde estendeu-se a todo o interior. Como ocorria também nos concursos Miss
Brasil, as campeãs das principais cidades do Estado vinham a Curitiba para
disputar a edição estadual.
Desde o início, o certame realizou-se
no Country Club. Dino Almeida, sempre engajado em propósitos
filantrópicos, introduziu ações beneficentes nos monumentais bailes do Glamour
Girl. Ele encabeçou duas campanhas milionárias que marcaram época na história
da filantropia em Curitiba, como o da garotinha Carolina, que sofria de câncer,
e de uma moça num rumoroso e revoltante caso, em que o próprio namorado lhe
desfigurou o rosto com ácido.
O Glamour Girl movimentava a elite
curitibana. A coluna diária de Dino Almeida era publicada pela Gazeta do Povo, na
época o jornal mais lido no Paraná.
Lélia Brown
Para que se tenha uma ideia do que
foi o concurso Glamour Girl, basta observar a fotografia abaixo, na qual aparecem
Dino Almeida, Ibrahim Sued ao microfone, seguido da primeira Glamour Girl Lélia
Brown e de Ângela Vasconcellos, a Miss Brasil 1964.
FOTO 3 – Dino Almeida,
Rafael de Lala segurando um microfone, Ibrahim Sued, Lélia Brown com a faixa de
“Glamour Girl 1966” e a Miss Brasil 1964 Ângela Vasconcellos.
Os mais importantes cronistas sociais
do Brasil eram Jacinto de Thormes (heterônimo do intelectual Manoel Bernardes
Müller) e Ibrahim Sued, este último o mais popular. Como eu já relatei na
primeira parte deste artigo, entre as décadas de 50 e 60 vivíamos a era de ouro
da crônica social. Pelo fato de receber o título de Glamour Girl das mãos de
Ibrahim Sued, a vida de Lélia Brown, que era manequim (que é como se chamavam as modelos de agora) teve um notável impulso. Recebeu como prêmio uma
viagem aos Estados Unidos e um estoque muito fino em maquiagem. Foi capa de O
Cruzeiro, Manchete, e A Cigarra, as mais importantes revistas da época, também
capa de várias revistas paranaenses. Foi convidada para desfilar como modelo
nas passarelas do eixo Rio - São Paulo. No carnaval carioca, desfilou na
Marquês de Sapucaí pelas escolas de samba São Clemente e Mangueira.
Lélia Brown casou-se com o advogado
Dálio Zippin Filho e tornou-se uma artista plástica que desenvolveu uma
carreira admirável.
FOTO 4 – “Viola” – Acrílica
sobre tela de Lélia Brown. Coleção F. Souto Neto.
Muitas vezes me referi à arte de
Lélia Brown através das minhas colunas em jornais e revistas. Quem desejar
conhecer um pouco do seu trabalho artístico, poderá encontrar alguns subsídios
na minha coluna “Expressão & Arte”, no Jornal Indústria & Comércio de
19 de agosto de 1989:
Em 1990 convidei Lélia Brown para
fazer parte da comissão julgadora do VII Salão Banestado de Artistas Inéditos,
ao lado Domício Pedroso e Dulce Osinski. Esses três artistas foram
recepcionados em petit comitée por
minha mãe em minha residência, o que foi registrado por toda imprensa, como se
vê nos recortes de jornais abaixo:
FOTO 5 – A comissão
julgadora do VII SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos na sala da
biblioteca da residência de Francisco Souto Neto. Na foto: Dulce Osinski,
Domício Pedroso, Francisco Souto Neto, Lélia Brown e Dione Mara Souto da Rosa.
Coluna Cláudio Seto (Correio de Notícias de 16.12.1989).
FOTO 6 – Lélia Brown,
Francisco Souto Neto e Dulce Osinski. Coluna Dino Almeida (Gazeta do Povo,
recorte não datado).
FOTO 7 – Na foto maior do
recorte, Lélia Brown e Dª Edith Barbosa Souto, na sala da biblioteca de Souto
Neto. Coluna Iza Zilli (Jornal do Estado de 8.1.1990).
FOTO 8 – Lélia Brown e
Francisco Souto Neto na residência deste último. Coluna Ruy Barrozo (Jornal do
Estado de 26.1.1990).
FOTO 9 – Lélia Brown e
Dulce Osinski ladeando Francisco Souto Neto. Coluna Alcy Ramalho Filho (Gazeta
do Povo, 5.1.1990).
Garota Caiobá
É surpreendente que haja tão poucos
registros, na internet, que façam referências aos concursos Glamour Girl e
Garota Caiobá, eventos que moveram a sociedade paranaense em todos os
quadrantes do Estado.
Caiobá, para quem não é paranaense e
não sabe, é um bairro da cidade litorânea de Matinhos, topograficamente
separadas pelo Rio Matinho (isso mesmo, no singular), a aproximadamente 100
quilômetros de Curitiba.
Dino Almeida, que chamava o balneário
Caiobá de “A Divina”, no ano de 1966 tirou aquele lugar do marasmo em que
existia, ao realizar ali o concurso Garota Caiobá. Seis anos antes, em 1960,
tinha sido inaugurado o Edifício MAPI, uma imensa estrutura de fachada quadrada
com 16 andares.
FOTO 10 – O Edifício MAPI
em construção na segunda metade da década de 50.
FOTO 11 – Atualmente, uma foto quase do mesmo ângulo da foto anterior.
FOTO 12 – Edifício MAPI em 1959 (Em primeiro plano, família não identificada).
FOTO 13 – Francisco Souto Neto em Caiobá em 1977. O Edifício MAPI dominava todo o panorama do balneário.
FOTO 14 – Atualmente
denominado Edifício Caiobá, forma o complexo arquitetônico Restaurante
Panorâmico, Parque das Piscinas e Caiobá Praia Hotel.
O projeto arquitetônico do Edifício
MAPI (nome da construtora), que é residencial, foi do alemão Franz Heep em
parceria com Elgson Ribeiro Gomes. Considerou-se o movimento dos ventos naquele
local, e o prédio foi projetado para dispensar o uso de ar condicionado,
aparelho que na época tinha um preço proibitivo. Os apartamentos, todos de
frente para o mar, resultaram bem ventilados. Eu me recordo de que quando uma
imobiliária de Ponta Grossa iniciou a venda dos apartamentos, colocou na parede
de pé direito muito alto do seu hall, um gigantesco painel com a foto do prédio,
que era avistado por quem passasse pela calçada. Eu, menino interessado por
arquitetura, parei, olhei e memorizei para sempre aquela imponente fachada azul
e quadrangular.
Nesse prédio então cobiçado por
investidores e afortunados veranistas, realizaram-se os primeiros concursos de
Garota Caiobá. Na formação da comissão julgadora que elegia a mais bela garota,
Dino Almeida convidava figuras relevantes da sociedade e da política do Paraná,
e também figurões nacionais, principalmente os artistas mais famosos das
novelas da Rede Globo. Alguns dos nomes: Tarcísio Meira, Glória Menezes, Tony
Ramos, Yoná Magalhães, Tônia Carrero, Arlete Salles.
A repercussão era tão intensa, que
não apenas o Paraná punha os olhos no seu litoral, mas também o país, porque o
concurso era comentado na imprensa nacional, o mesmo que ocorria com o Glamour
Girl de Curitiba.
Depois de alguns anos, o Garota
Caiobá passou a ser realizado no Iate Clube.
Na internet há raríssimas referências
ao concurso Garota Caiobá, e absolutamente nenhuma fotografia. Buscando imagens
na data em que escrevo este texto, 20.7.2016, encontra-se apenas um único fragmento de jornal não datado versando sobre o
Garota Caiobá, este referente à 25ª edição do concurso, como poderá ser visto
logo abaixo. Na foto estampada no referido jornal, estão Carlos Marassi e Lais Mann, da Rede Paranaense de
Televisão, e também Adriana Geronassi (Garota Caiobá 89) e Célia Manfrinato
(Garota Caiobá 90). Alguns nomes conhecidos de personalidades que compareceram
à festa, podem ser identificados na parte não cortada do jornal, como por
exemplo: governador Álvaro Dias e Senhora, Ivana Hubsch (Miss Brasil), Túlio
Vargas e Dª Lylian Vargas, Rosarita e René Dotti, Marislei e Max Rosenmann, Juril Carnasciali, José Luiz e Regina
Tizzot, o presidente do Banestado Carlos Antonio de Almeida Ferreira (de quem
eu era assessor em 1991), Ruy Barrozo, Iza Zilli e inumeráveis outros nomes de
destaque. Por aí tem-se uma ideia de quem descia ao litoral para assistir à
eleição de Garota Caiobá.
FOTO 15 – Pedaço de jornal
não datado, e faltando pedaços, referindo-se ao 25º concurso Garota Caiobá
realizado em 1991. Atenção aos nomes que se salvaram do recorte que foi feito
no jornal.
O esquecimento e talvez uma questão de antropologia cultural.
Com exceção do pedaço de jornal
estampado acima, não há registros na internet dos nomes das Garotas Caiobá que
foram eleitas durante 34 anos, de 1966 até 2000, ano anterior ao falecimento de
Dino Almeida. Não há referências às histórias envolvendo o concurso, nem quem
foram as concorrentes. São igualmente raríssimas as menções ao próprio Dino
Almeida, que efetivamente movimentou a sociedade e o Estado em suas campanhas
de filantropia e de apoio a movimentos culturais. Este meu artigo, publicado em
duas partes, tem principalmente o propósito de resgatar um pouco dessa
história, e convidar a quem viveu as experiências dos referidos concursos, e a
quem conviveu com Dino Almeida, que façam comentários das suas lembranças no
espaço a isto destinado abaixo deste blog, de modo que no futuro os
pesquisadores possam encontrar subsídios para possíveis estudos que interessem
à antropologia cultural.
Caiobá hoje
Vejo a cidade de Matinhos com seu
balneário Caiobá evoluindo muito devagar e com graves falhas em seu
desenvolvimento. Percebo, através das décadas, o oceano sempre avançando sobre
a avenida beira-mar e destruindo seus calçadões, e noto as ruas mal cuidadas,
de comércio pobre. Não há movimentos políticos e sociais em prol da construção
de uma ponte que una Matinhos (isto é, Caiobá) a Guaratuba, o que representaria
um enorme impulso desenvolvimentista a ambos os municípios e ao próprio Estado.
Como pode haver tamanho silêncio a esse respeito? Guaratuba chega a parecer mais catarinense do que paranaense. Se o nosso litoral é tão
exíguo, como explicar a ausência de políticas que se debatam sobre a perigosa
rodovia que liga a capital do Paraná ao litoral do Estado? Como
admitir que a estrada Alexandra-Matinhos não tenha acostamento? Ah, é a eterna
pobreza dos cofres públicos. Nós estamos distantes anos-luz do padrão de países
desenvolvidos, que oferecem estradas unicamente para carros de passeios e
outras, ligando as mesmas cidades, destinadas exclusivamente ao tráfego pesado
de ônibus e caminhões.
A estação rodoviária ficou distante
do centro da cidade de Matinhos e nunca vi um ônibus urbano circulando, mas eu
soube que existe uma linha que vai desde aquele terminal até ao balneário, e mais
uma ou outra, que atendem à população dos bairros mais carentes e distantes das
praias. Lojinhas e restaurantes funcionam apenas na alta estação. Noutros
períodos, a maioria dos restaurantes de Caiobá não abre em dias úteis.
Provavelmente faltam estímulos ao comércio. Pelo menos a restinga da Praia
Brava tem mantido o mar afastado da Avenida Atlântica, e esta vem sendo
modernizada desde o ano passado, o que representa, finalmente, uma tentativa de
melhorar o balneário, e os primeiros quarteirões transversais ao mar estão
sendo recapados com asfalto. Ainda assim, eu gostaria de ver uma Câmara
Municipal mais atuante, porque desde o falecimento de Dino Almeida, Caiobá vem
caindo no desinteresse popular, que percebe mais atrativos em Guaratuba... e no
litoral catarinense. Basta vermos que Camboriú se transformou numa metrópole
que atrai turistas do país inteiro e do Exterior.
Abaixo, algumas fotos que tirei em
Caiobá no mês em curso, mostrando alguns avanços na Avenida Atlântica, que se
encontra em obras desde o Edifício Caiobá, na base do Morro do Boi, até ao Rio
Matinho. Porém entre este e o centro de Matinhos, nada está sendo feito por
enquanto.
FOTO 16 – De costas para o
Edifício Caiobá (ex-MAPI), a Av. Atlântica em obras (julho de 2016).
FOTO 17 – Mesmo quarteirão
da foto acima, mas em sentido contrário, com as pistas da futura ciclovia já
delineadas e em construção, tendo o Edif. Caiobá (ex-MAPI) ao fundo (julho de
2016).
FOTO 18 – Obras avançadas
na Av. Atlântica, esquina com a Rua Cambará. Ao lado direito, os alicerces de
uma estrutura que certamente será destinada, de algum modo, a incrementar o
turismo (julho de 2016).
FOTO 19 – Detalhe dos
alicerces da estrutura referida na foto anterior (julho de 2016).
FOTO 20 – Obras apenas
iniciadas na Av. Atlântica, em frente aos edifícios Arethusa e Savannah, ao
lado dos quais passa o Rio Matinho (julho de 2016).
FOTO 21 – Trecho praticamente
concluído, mostrando bem à esquerda o leito estreito para passagem de veículos
na Avenida Atlântica, depois as duas ciclovias (de ida e volta). Do centro da foto para
a direita, vê-se o passeio para pedestres, e no jardim os alicerces de estruturas destinadas
ao turismo (julho de 2016). Foto feita na esquina da Rua Andirá.
FOTO 22 – Rua Jaguariaíva,
extensão da Rua Uniflor, paralela à Avenida Atlântica, esquina com a Rua
Andirá, é uma das mais bonitas vias públicas do balneário. Mas quando chove,
esta rua inunda, como inúmeros outros locais de Caiobá.
FOTO 23 – A mesma Rua
Jaguariaíva, esquina com Rua Andirá, inundada em dia de chuva.
Acorda, Caiobá! Enfeite-se,
engalane-se, porque A Divina, de Dino
Almeida, merece continuar conquistando corações e mentes.
-o-
Como e gratificante Souto , reviver essa epoca tao importante de nossas vidas. So mesmo voce para me proporcionar tamanha alegria
ResponderExcluirUm abraco, meu amigo
Sonia
Querida amiga Sônia, muito obrigado por ter encontrado e lido esta minha crônica sobre o Dino Almeida, e mais ainda por manifestar-se. Sim, é muito bom lembrarmo-nos dos "anos dourados", que foi o tempo da nossa juventude.
ResponderExcluirAhh Souto, concordo com você, como pode cair no esquecimento? Mamãe faleceu a 3 anos e ano passado encontrei uma caixa com alguns jornais em que saí.Coisas de mãe...que saudades.Acredito que tenha algo sobre garota Caiobá e Glamour Girl final anos 80 até final anos 90.Vou procurar. Não tive coragem de jogar fora. Vc poderia fazer outra matéria agora 5 anos depois.Gratidão por lembrar da época de ouro da nossa Curitiba.
ResponderExcluirCara Rosângela, muito obrigado por seu interesse em meu blog, particularmente nas minhas referências ao saudoso Dino Almeida. Lamento o falecimento da sra. sua mãe. Não, você não deve jogar fora os recortes dos antigos jornais, tempo em que você figurava nas colunas do Dino. Essas crônicas sociais guardam a memória das pessoas que foram importantes na sociedade local e certamente servirão para os estudiosos do futuro interessados nas vivências desta época. Grato pela ideia de eu voltar a escrever sobre o assunto. Ao terminar a pandemia que cobre o mundo de luto, voltarei ao meu apartamento de Caiobá para passear, e pensarei nessa possibilidade. Abraços para si e seus familiares (que acabo de ver no Facebook), com meus votos de felicidade e saúde.
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