domingo, 13 de fevereiro de 2022

EDIFÍCIO CANADÁ e EDIFÍCIO AGE 360, DOIS ÍCONES DA ARQUITETURA PARANAENSE, 60 ANOS VOS SEPARAM, por Francisco Souto Neto.

 

Edifício Canadá, de 1963, e o AGE 360, em construção, que estará erguido em 2023. 60 anos separam estes ícones da arquitetura paranaense.

 

Comendador Francisco Souto Neto

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EDIFÍCIO CANADÁ e EDIFÍCIO AGE 360,

DOIS ÍCONES DA ARQUITETURA PARANAENSE,

60 ANOS VOS SEPARAM

por  Francisco Souto Neto

 

O EDIFÍCIO CANADÁ


Edifício Canadá.

Inaugurado em 1963, o Edifício Canadá, localizado na Rua Comendador Araújo, foi o primeiro prédio no Paraná com um apartamento por andar e também o pioneiro em usar esquadrias de alumínio nas janelas de toda a construção. Até então, as esquadrias eram de ferro. Foi incorporado e construído pela empresa Vellozo & Camargo.

No começo da década de 60 eu morava em Ponta Grossa e, quando vinha a Curitiba, o ônibus entrava pela Av. do Batel (Benjamim Lins) rumo à "rodoviária velha". Quando o veículo passava pelo cruzamento das ruas Buenos Aires e Desembargador Motta, o Edifício Canadá podia ser visto de longe e, sendo único na paisagem, parecia muito alto. Era majestoso e moderno, então considerado um dos mais belos prédios de Curitiba.


Em 1963 o Edif. Canadá ao ser inaugurado era o último dos edifícios erguidos na direção centro-bairro. Foi o primeiro prédio da região, pois ainda não havia edifícios altos no bairro do Batel. Aqui visto de lado, sem perceber-se sua bela fachada, parece um prédio comum  (foto do fim da década de 60 do acervo de Antomar Figueira Pereira Júnior).

O Edifício Canadá conta com dois níveis de garagens entremeados pela portaria, e 18 pavimentos com 18 apartamentos-tipo, cada qual tomando o andar inteiro. A sala foi concebida em dois níveis diferentes, unidos por dois degraus que em alguns apartamentos são em mármore branco, o mesmo material do piso mais baixo da sala.   A área total de cada apartamento é de 295,40 m². São quatro quartos (um deles, contíguo à sala principal, pode ser usado como sala de tevê ou biblioteca). Conta com uma despensa ou “quarto de despejo” e tem ainda um quarto de empregada de apreciáveis dimensões. Tem um lavabo e mais três banheiros. O lavabo original, todo pastilhado, possui dois compartimentos separados: no primeiro está o lavatório propriamente dito, e no segundo o vaso sanitário.


O lavabo pastilhado do 17º andar, mantido na sua configuração original, tem dois compartimentos separados.

No 19º andar há um pequeno apartamento utilizado pelo pessoal da portaria e que também serve para reuniões do condomínio.

Logo após inaugurado, residiram no Edifício Canadá dois amigos de meu pai, que eram seus companheiros do Rotary Club. Um foi Ercílio Slaviero, que era o proprietário da enorme loja que vendia automóveis da marca Ford e que funcionava na esquina da Comendador Araújo com a Visconde do Rio Branco. O outro morador foi João Vargas de Oliveira, importante empresário e ex-prefeito de Ponta Grossa, que quando eleito deputado estadual veio com a família para Curitiba, e se instalou no 4º andar. Sua esposa, Dona Argentina, era amiga de minha mãe e eu era  e sou até hoje  amigo do filho caçula do casal, Joãozinho (João Vargas d’Oliveira Júnior).


Na década de 70, o Edifício Canadá ainda não tinha outros prédios muito próximos. Continuava de certo modo isolado, destacando-se na paisagem (foto do acervo de Antomar Figueira Pereira Júnior).

O arquiteto autor do projeto foi Elgson Ribeiro Gomes, que criou muitos outros altos prédios de grande importância e beleza. Ele já era muito conhecido desde que projetou o Condomínio Mapi em Caiobá, no ano de 1957, o primeiro prédio alto do litoral paranaense.


Elgson Ribeiro Gomes.

O Edifício Canadá em Curitiba notabilizou-se como a obra-prima de Elgson Ribeiro Gomes. A fachada de linhas curvas, onduladas, composta inteiramente por vidraças do chão ao teto, chamou a atenção de outros arquitetos e de estetas pela imponência e plasticidade. O andar térreo é formado por três poderosas estruturas em forma de V que sustentam a fachada vertical de 18 andares. Uma volumosa coluna cilíndrica no meio da ampla sala dá sustentação à área social do prédio, somada a seis outras colunas um pouco menos volumosas, que ficaram no exterior, isto é, no lado de fora da sala, dando ao prédio um aspecto que atualmente é conhecido como “exoesqueleto”, tal como se vê no edifício O-14 de Dubai, no Hotel Morpheus em Macau – China – ou mesmo o Beaubourg (Centro George Pompidou) em Paris. 

Vale acrescentar que o Edifício Canadá é administrado pela empresa Batel Administração de Condomínios, estabelecida à Rua Inácio Lustosa nº 406, que tem como gestores Fábio Luiz Lopes e Marcos Grabowski os quais, com o escritório composto por uma equipe bem treinada e atenta, atendem no que lhes compete às necessidades do prédio quanto ao seu bom funcionamento e preservação. A equipe da portaria do Edifício Canadá, administrada pela Batel, merece os melhores elogios.

 

Este é o andar-tipo do Edifício Canadá. Cada apartamento ocupa um andar inteiro. A magnífica planta isométrica acima, é da autoria da jovem arquiteta Vivian Brune, da empresa Brune Arquitetura.


 

Abaixo, fotos da sala de oito diferentes apartamentos do Edifício Canadá, que tem como características uma grande coluna em seu centro e a ampla vidraça com 12 metros de comprimento, do chão ao teto, de frente para a Rua Comendador Araújo:

Sala 

Esta 1ª foto mostra a sala de um dos apartamentos com decoração austera e tradicional. Foto de Washington Takeuchi no blog "Circulando por Curitiba".

Sala de outro apartamento, com piano de 1/4 de cauda e obras de arte, tais como pinturas e esculturas. A coluna no centro da sala é revestida com mármore. Foto cedida pelo morador Fábio Campana, de seu acervo particular.

Sala de um outro apartamento, todo reformado, com decoração moderna e móveis assinados por arquitetos da primeira metade do século XX, num estilo muito em voga nas décadas de 50 (os chamados “anos dourados”) e 60. Foto da internet, revista Topview, in Arquitetura e Decoração, de Marcos Bertoldi. Os proprietários não usam cortinas na sala para que esta seja banhada pela claridade e para que dali possa ser apreciado o magnífico panorama da capital. O projeto de interiores é de Vivian Brune.

Outra sala do Edifício Canadá, também reformada e decorada com grande requinte, contendo móveis assinados por conhecidos arquitetos, tais como a Barcelona Chair, de Mies van der Rohe, e a mesa lateral redonda com tampo de mármore, de Eero Saarinen, que aparecem acima, e telas de grandes dimensões da autoria de renomados artistas plásticos. Foto de acervo particular.

Esta é a mesma sala da fotografia anterior, em outro ângulo que demonstra a modernidade do uso de pintura preta nas paredes e na coluna central, o que também serve para evidenciar a sobriedade e o equilíbrio encontrados nessa decoração. Foto de acervo particular.

Um dos apartamentos do Edifício Canadá, nesta foto disponível na internet, da sala decorada com elegância hollywoodiana, de tons quentes, com a coluna central revestida de mármore branco.

Sala de apartamento do 12º andar com decoração característica dos clássicos das décadas de 60 e 70, inteiramente acarpetado (tal como se usava na época) em perfeito estado de conservação, e obras de arte nas paredes. Coluna revestida em mármore.

Outro apartamento que tem, como todos os outros, a grande coluna em seu centro e a ampla vidraça sobre a Comendador Araújo, que a caracteriza. A parte mais alta da sala num elegante desnível de dois degraus que existe em todos os andares do edifício, aqui recebeu uma cerca de madeira entalhada que serve como proteção e elemento decorativo. Foto colhida da internet, quando esse apartamento estava vago e à venda por uma imobiliária. 

Sala do apartamento do 17º andar, com o layout da construção original, decorado principalmente com antigos móveis de estilo (de família), mesclados com modernos, e obras de arte em pinturas e esculturas. Ao centro da foto, móveis Luís XV de madeira entalhada e revestimento em tela bordada à mão com predominância da cor azul. Foto de Washington Takeuchi no blog "Circulando por Curitiba".

Outro detalhe da mesma sala amarela da foto anterior, com duas poltronas Luís XVI à esquerda e duas victorianas vermelhas à direita. Ao fundo, duas cadeiras Luís XVI ladeando grande espelho francês Luís XV (século XIX). O piso da parte baixa da sala é em mármore branco (mármore paraná). Foto de Washington Takeuchi no blog "Circulando por Curitiba".

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O EDIFÍCIO AGE 360


Maquete por computação de como ficará o Edifício AGE 360 quando pronto.

No ano passado, os agentes midiáticos anunciaram a construção de um prédio em Curitiba que deverá ser um dos mais inovadores e espetaculares das últimas décadas, o AGE 360, da empresa AG7, dita "uma boutique de negócios imobiliários". A Construtora Teich o está erguendo. Desde então passei a acompanhar todos os passos de sua construção no bairro de Ecoville.

Acredito que a inauguração do AGE 360 será equivalente à do Edifício Canadá em 1963, em termos de obras arquitetonicamente revolucionárias, e igualmente na importância de projetos que foram criados com o propósito de tornarem-se icônicos e exemplos de inovação e admiração em suas respectivas épocas.

Da janela do edifício onde resido, tenho uma visão completa do conjunto de prédios em Ecoville, um bairro novo que foi criado principalmente para que ali se erigissem construções destinadas a uma classe mais privilegiada. O AGE 360 começou a aflorar aos meus olhos quando já estava no 12º andar. É que do meu ponto de vista de onde resido, olhando em direção a Ecoville, existe uma elevação do solo lá pela altura da Rua Luísa Dariva, com altas árvores, que ocultam os 11 primeiros andares do prédio. Na manhã deste domingo, 13 de fevereiro de 2022, fotografei as obras do AGE 360 com zoom de grande aproximação, neste momento em que ele atinge o 20º andar, quando se encontra prestes a começar a erguer os andares 20 e 21 cujas áreas serão totalmente comunitárias para os moradores, dotada de escadarias, rampas, extensos jardins com altas árvores, folhagens e flores. O prédio terá 35 andares.


Atual estágio da construção do AGE360, quando começa a erguer o 20º andar, visto de onde eu resido, com grande aproximação de zoom.

Embora aqui com zoom menos intenso, ainda é possível identificar o AGE 360 sendo construído no contexto do bairro Ecoville. 

Nesta montagem por computador, pode-se ver toda a estrutura do AGE 360, como deverá apresentar-se no fim do ano de 2023.

Assim será um dos jardins suspensos.

Assim ficará a área comunitária para uso dos moradores.

A piscina de um dos apartamentos e a exuberância futurista da impressionante arquitetura do prédio.

Uma ideia de como será o térreo do AGE 360.

Acho interessante acrescentar que a AG7 não denomina as unidades autônomas como “apartamentos”, mas como “casas (ou mansões) suspensas”... e é o que de fato elas serão, e também como “gardens suspensos”, que são as “casas” dotadas de amplos jardins.

Tal como eu disse no título deste texto, “Edifício Canadá e Edifício AGE 360, 60 anos vos separam”. Separados em suas construções por 60 anos, continuarão pelas décadas futuras a simbolizar o que de melhor os arquitetos inovadores souberam criar, cada qual a seu tempo.

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Francisco Souto Neto, o autor, em 2021.

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ADITAMENTO EM 19.1.2023

Um ano após escrever o artigo acima, o Edifício AGE 360 chega ao seu 35º andar, na sua altura máxima. Vejo-o da área de serviço do apartamento onde resido no centro de Curitiba e alcanço o bairro Alfaville aproximando-o com o zoom de minha câmera fotográfica. As duas fotografias abaixo mostram o prédio com seu aspecto atual, já um dos mais altos da capital. Deverá ser inaugurado no próximo ano.

O Edifício AGE 360 no contexto do bairro Ecoville.

O Edifício AGE 360 quando atinge 35 andares, sua altura máxima.


Francisco Souto Neto, o autor, aos 80 anos de idade, em  2023.

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