quinta-feira, 21 de julho de 2016

DINO ALMEIDA E SUA "CAIOBÁ, A DIVINA": HISTÓRIAS DA CRÔNICA SOCIAL (2ª Parte – Final)

PORTAL IZA ZILLI

Dino Almeida discursando, ladeado por Lylian Vargas e Francisco Souto Neto.

Iza Zilli


Comendador Francisco Souto Neto

DINO ALMEIDA E SUA "CAIOBÁ, A DIVINA"
HISTÓRIAS DA CRÔNICA SOCIAL.
(2ª Parte – Final)
Francisco Souto Neto
Na primeira parte deste artigo, referi-me aos primórdios da crônica social em meados da década de 50, da qual José Esmeraldino Bronze de Almeida, para nós apenas Dino Almeida, foi o expoente máximo no Paraná.

FOTO 1 – Dino Almeida

Cerca de dez anos após sucesso sempre crescente com suas colunas em jornais, Dino teve a ideia de criar dois concursos para enaltecer a beleza da mulher paranaense. Em 1966 realizou os primeiros “Glamour Girl” em Curitiba e “Garota Caiobá” no litoral. Na realidade, um certame de beleza foi intentado pelo colunista muitos anos antes, porém funcionou apenas como um ensaio, uma espécie de embrião do colossal evento que Dino Almeida, já muito influente e poderoso, implantaria depois. Por isso, a história dos seus concursos nos moldes criados em 1966 não menciona aqueles anteriormente realizados.

Glamour Girl

O Glamour Girl elegia a moça mais bonita e elegante do Paraná. Ao contrário do concurso Miss Brasil, as candidatas não se exibiam em maiô. No entanto, a movimentação em Curitiba era retumbante, envolvendo toda a infraestrutura de empresas de segurança e manobristas, isto sem falar na agitação dos salões de beleza, floriculturas, ateliês de alta costura e até das joalherias. Era uma efervescência que superava os concursos de Miss Paraná, este ligado ao Miss Brasil e Miss Universo.

O único jornal encontrado na internet no dia em que escrevo esta matéria, 20.7.2016, é o que se vê logo abaixo. É um pedaço não datado de uma das colunas de Dino Almeida. Pelo texto constata-se tratar-se da 28ª edição do concurso Glamour Girl do Paraná, e mais abaixo, no texto, lê-se que o ano era 1992.


FOTO 2 – Pedaço da página de uma coluna de Dino Almeida do ano de 1992 encontrada na internet, referindo-se ao 28º concurso Glamour Girl.

Em suas primeiras versões a partir de 1966, participavam somente candidatas dos clubes da capital paranaense. Mais tarde estendeu-se a todo o interior. Como ocorria também nos concursos Miss Brasil, as campeãs das principais cidades do Estado vinham a Curitiba para disputar a edição estadual.

Desde o início, o certame realizou-se no Country Club. Dino Almeida, sempre engajado em propósitos filantrópicos, introduziu ações beneficentes nos monumentais bailes do Glamour Girl. Ele encabeçou duas campanhas milionárias que marcaram época na história da filantropia em Curitiba, como o da garotinha Carolina, que sofria de câncer, e de uma moça num rumoroso e revoltante caso, em que o próprio namorado lhe desfigurou o rosto com ácido.

O Glamour Girl movimentava a elite curitibana. A coluna diária de Dino Almeida era publicada pela Gazeta do Povo, na época o jornal mais lido no Paraná. 

Lélia Brown

Para que se tenha uma ideia do que foi o concurso Glamour Girl, basta observar a fotografia abaixo, na qual aparecem Dino Almeida, Ibrahim Sued ao microfone, seguido da primeira Glamour Girl Lélia Brown e de Ângela Vasconcellos, a Miss Brasil 1964.


FOTO 3 – Dino Almeida, Rafael de Lala segurando um microfone, Ibrahim Sued, Lélia Brown com a faixa de “Glamour Girl 1966” e a Miss Brasil 1964 Ângela Vasconcellos.

Os mais importantes cronistas sociais do Brasil eram Jacinto de Thormes (heterônimo do intelectual Manoel Bernardes Müller) e Ibrahim Sued, este último o mais popular. Como eu já relatei na primeira parte deste artigo, entre as décadas de 50 e 60 vivíamos a era de ouro da crônica social. Pelo fato de receber o título de Glamour Girl das mãos de Ibrahim Sued, a vida de Lélia Brown, que era manequim (que é como se chamavam as modelos de agora) teve um notável impulso. Recebeu como prêmio uma viagem aos Estados Unidos e um estoque muito fino em maquiagem. Foi capa de O Cruzeiro, Manchete, e A Cigarra, as mais importantes revistas da época, também capa de várias revistas paranaenses. Foi convidada para desfilar como modelo nas passarelas do eixo Rio - São Paulo. No carnaval carioca, desfilou na Marquês de Sapucaí pelas escolas de samba São Clemente e Mangueira.

Lélia Brown casou-se com o advogado Dálio Zippin Filho e tornou-se uma artista plástica que desenvolveu uma carreira admirável.


FOTO 4 – “Viola” – Acrílica sobre tela de Lélia Brown. Coleção F. Souto Neto.

Muitas vezes me referi à arte de Lélia Brown através das minhas colunas em jornais e revistas. Quem desejar conhecer um pouco do seu trabalho artístico, poderá encontrar alguns subsídios na minha coluna “Expressão & Arte”, no Jornal Indústria & Comércio de 19 de agosto de 1989:


Em 1990 convidei Lélia Brown para fazer parte da comissão julgadora do VII Salão Banestado de Artistas Inéditos, ao lado Domício Pedroso e Dulce Osinski. Esses três artistas foram recepcionados em petit comitée por minha mãe em minha residência, o que foi registrado por toda imprensa, como se vê nos recortes de jornais abaixo:


FOTO 5 – A comissão julgadora do VII SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos na sala da biblioteca da residência de Francisco Souto Neto. Na foto: Dulce Osinski, Domício Pedroso, Francisco Souto Neto, Lélia Brown e Dione Mara Souto da Rosa. Coluna Cláudio Seto (Correio de Notícias de 16.12.1989).


FOTO 6 – Lélia Brown, Francisco Souto Neto e Dulce Osinski. Coluna Dino Almeida (Gazeta do Povo, recorte não datado).


FOTO 7 – Na foto maior do recorte, Lélia Brown e Dª Edith Barbosa Souto, na sala da biblioteca de Souto Neto. Coluna Iza Zilli (Jornal do Estado de 8.1.1990).


FOTO 8 – Lélia Brown e Francisco Souto Neto na residência deste último. Coluna Ruy Barrozo (Jornal do Estado de 26.1.1990).


FOTO 9 – Lélia Brown e Dulce Osinski ladeando Francisco Souto Neto. Coluna Alcy Ramalho Filho (Gazeta do Povo, 5.1.1990).

Garota Caiobá

É surpreendente que haja tão poucos registros, na internet, que façam referências aos concursos Glamour Girl e Garota Caiobá, eventos que moveram a sociedade paranaense em todos os quadrantes do Estado.

Caiobá, para quem não é paranaense e não sabe, é um bairro da cidade litorânea de Matinhos, topograficamente separadas pelo Rio Matinho (isso mesmo, no singular), a aproximadamente 100 quilômetros de Curitiba.

Dino Almeida, que chamava o balneário Caiobá de “A Divina”, no ano de 1966 tirou aquele lugar do marasmo em que existia, ao realizar ali o concurso Garota Caiobá. Seis anos antes, em 1960, tinha sido inaugurado o Edifício MAPI, uma imensa estrutura de fachada quadrada com 16 andares.

FOTO 10 – O Edifício MAPI em construção na segunda metade da década de 50.


FOTO 11 – Atualmente, uma foto quase do mesmo ângulo da foto anterior.


FOTO 12 – Edifício MAPI em 1959 (Em primeiro plano, família não identificada).


FOTO 13  Francisco Souto Neto em Caiobá em 1977. O Edifício MAPI dominava todo o panorama do balneário.

FOTO 14 – Atualmente denominado Edifício Caiobá, forma o complexo arquitetônico Restaurante Panorâmico, Parque das Piscinas e Caiobá Praia Hotel.

O projeto arquitetônico do Edifício MAPI (nome da construtora), que é residencial, foi do alemão Franz Heep em parceria com Elgson Ribeiro Gomes. Considerou-se o movimento dos ventos naquele local, e o prédio foi projetado para dispensar o uso de ar condicionado, aparelho que na época tinha um preço proibitivo. Os apartamentos, todos de frente para o mar, resultaram bem ventilados. Eu me recordo de que quando uma imobiliária de Ponta Grossa iniciou a venda dos apartamentos, colocou na parede de pé direito muito alto do seu hall, um gigantesco painel com a foto do prédio, que era avistado por quem passasse pela calçada. Eu, menino interessado por arquitetura, parei, olhei e memorizei para sempre aquela imponente fachada azul e quadrangular.

Nesse prédio então cobiçado por investidores e afortunados veranistas, realizaram-se os primeiros concursos de Garota Caiobá. Na formação da comissão julgadora que elegia a mais bela garota, Dino Almeida convidava figuras relevantes da sociedade e da política do Paraná, e também figurões nacionais, principalmente os artistas mais famosos das novelas da Rede Globo. Alguns dos nomes: Tarcísio Meira, Glória Menezes, Tony Ramos, Yoná Magalhães, Tônia Carrero, Arlete Salles.

A repercussão era tão intensa, que não apenas o Paraná punha os olhos no seu litoral, mas também o país, porque o concurso era comentado na imprensa nacional, o mesmo que ocorria com o Glamour Girl de Curitiba.

Depois de alguns anos, o Garota Caiobá passou a ser realizado no Iate Clube.

Na internet há raríssimas referências ao concurso Garota Caiobá, e absolutamente nenhuma fotografia. Buscando imagens na data em que escrevo este texto, 20.7.2016, encontra-se apenas um único fragmento de jornal não datado versando sobre o Garota Caiobá, este referente à 25ª edição do concurso, como poderá ser visto logo abaixo. Na foto estampada no referido jornal, estão Carlos Marassi e Lais Mann, da Rede Paranaense de Televisão, e também Adriana Geronassi (Garota Caiobá 89) e Célia Manfrinato (Garota Caiobá 90). Alguns nomes conhecidos de personalidades que compareceram à festa, podem ser identificados na parte não cortada do jornal, como por exemplo: governador Álvaro Dias e Senhora, Ivana Hubsch (Miss Brasil), Túlio Vargas e Dª Lylian Vargas, Rosarita e René Dotti,     Marislei e Max Rosenmann, Juril Carnasciali, José Luiz e Regina Tizzot, o presidente do Banestado Carlos Antonio de Almeida Ferreira (de quem eu era assessor em 1991), Ruy Barrozo, Iza Zilli e inumeráveis outros nomes de destaque. Por aí tem-se uma ideia de quem descia ao litoral para assistir à eleição de Garota Caiobá.


FOTO 15 – Pedaço de jornal não datado, e faltando pedaços, referindo-se ao 25º concurso Garota Caiobá realizado em 1991. Atenção aos nomes que se salvaram do recorte que foi feito no jornal.

O esquecimento e talvez uma questão de antropologia cultural.

Com exceção do pedaço de jornal estampado acima, não há registros na internet dos nomes das Garotas Caiobá que foram eleitas durante 34 anos, de 1966 até 2000, ano anterior ao falecimento de Dino Almeida. Não há referências às histórias envolvendo o concurso, nem quem foram as concorrentes. São igualmente raríssimas as menções ao próprio Dino Almeida, que efetivamente movimentou a sociedade e o Estado em suas campanhas de filantropia e de apoio a movimentos culturais. Este meu artigo, publicado em duas partes, tem principalmente o propósito de resgatar um pouco dessa história, e convidar a quem viveu as experiências dos referidos concursos, e a quem conviveu com Dino Almeida, que façam comentários das suas lembranças no espaço a isto destinado abaixo deste blog, de modo que no futuro os pesquisadores possam encontrar subsídios para possíveis estudos que interessem à antropologia cultural.

Caiobá hoje

Vejo a cidade de Matinhos com seu balneário Caiobá evoluindo muito devagar e com graves falhas em seu desenvolvimento. Percebo, através das décadas, o oceano sempre avançando sobre a avenida beira-mar e destruindo seus calçadões, e noto as ruas mal cuidadas, de comércio pobre. Não há movimentos políticos e sociais em prol da construção de uma ponte que una Matinhos (isto é, Caiobá) a Guaratuba, o que representaria um enorme impulso desenvolvimentista a ambos os municípios e ao próprio Estado. Como pode haver tamanho silêncio a esse respeito? Guaratuba chega a parecer mais catarinense do que paranaense. Se o nosso litoral é tão exíguo, como explicar a ausência de políticas que se debatam sobre a perigosa rodovia que liga a capital do Paraná ao litoral do EstadoComo admitir que a estrada Alexandra-Matinhos não tenha acostamento? Ah, é a eterna pobreza dos cofres públicos. Nós estamos distantes anos-luz do padrão de países desenvolvidos, que oferecem estradas unicamente para carros de passeios e outras, ligando as mesmas cidades, destinadas exclusivamente ao tráfego pesado de ônibus e caminhões.

A estação rodoviária ficou distante do centro da cidade de Matinhos e nunca vi um ônibus urbano circulando, mas eu soube que existe uma linha que vai desde aquele terminal até ao balneário, e mais uma ou outra, que atendem à população dos bairros mais carentes e distantes das praias. Lojinhas e restaurantes funcionam apenas na alta estação. Noutros períodos, a maioria dos restaurantes de Caiobá não abre em dias úteis. Provavelmente faltam estímulos ao comércio. Pelo menos a restinga da Praia Brava tem mantido o mar afastado da Avenida Atlântica, e esta vem sendo modernizada desde o ano passado, o que representa, finalmente, uma tentativa de melhorar o balneário, e os primeiros quarteirões transversais ao mar estão sendo recapados com asfalto. Ainda assim, eu gostaria de ver uma Câmara Municipal mais atuante, porque desde o falecimento de Dino Almeida, Caiobá vem caindo no desinteresse popular, que percebe mais atrativos em Guaratuba... e no litoral catarinense. Basta vermos que Camboriú se transformou numa metrópole que atrai turistas do país inteiro e do Exterior.

Abaixo, algumas fotos que tirei em Caiobá no mês em curso, mostrando alguns avanços na Avenida Atlântica, que se encontra em obras desde o Edifício Caiobá, na base do Morro do Boi, até ao Rio Matinho. Porém entre este e o centro de Matinhos, nada está sendo feito por enquanto.


FOTO 16 – De costas para o Edifício Caiobá (ex-MAPI), a Av. Atlântica em obras (julho de 2016).

FOTO 17 – Mesmo quarteirão da foto acima, mas em sentido contrário, com as pistas da futura ciclovia já delineadas e em construção, tendo o Edif. Caiobá (ex-MAPI) ao fundo (julho de 2016).

FOTO 18 – Obras avançadas na Av. Atlântica, esquina com a Rua Cambará. Ao lado direito, os alicerces de uma estrutura que certamente será destinada, de algum modo, a incrementar o turismo (julho de 2016).

FOTO 19 – Detalhe dos alicerces da estrutura referida na foto anterior (julho de 2016).

FOTO 20 – Obras apenas iniciadas na Av. Atlântica, em frente aos edifícios Arethusa e Savannah, ao lado dos quais passa o Rio Matinho (julho de 2016).

FOTO 21 – Trecho praticamente concluído, mostrando bem à esquerda o leito estreito para passagem de veículos na Avenida Atlântica, depois as duas ciclovias (de ida e volta). Do centro da foto para a direita, vê-se o passeio para pedestres, e no jardim os alicerces de estruturas destinadas ao turismo (julho de 2016). Foto feita na esquina da Rua Andirá.

FOTO 22 – Rua Jaguariaíva, extensão da Rua Uniflor, paralela à Avenida Atlântica, esquina com a Rua Andirá, é uma das mais bonitas vias públicas do balneário. Mas quando chove, esta rua inunda, como inúmeros outros locais de Caiobá.

FOTO 23 – A mesma Rua Jaguariaíva, esquina com Rua Andirá, inundada em dia de chuva.

Acorda, Caiobá! Enfeite-se, engalane-se, porque A Divina, de Dino Almeida, merece continuar conquistando corações e mentes.
  

-o-

4 comentários:

  1. Como e gratificante Souto , reviver essa epoca tao importante de nossas vidas. So mesmo voce para me proporcionar tamanha alegria
    Um abraco, meu amigo
    Sonia

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  2. Querida amiga Sônia, muito obrigado por ter encontrado e lido esta minha crônica sobre o Dino Almeida, e mais ainda por manifestar-se. Sim, é muito bom lembrarmo-nos dos "anos dourados", que foi o tempo da nossa juventude.

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  3. Ahh Souto, concordo com você, como pode cair no esquecimento? Mamãe faleceu a 3 anos e ano passado encontrei uma caixa com alguns jornais em que saí.Coisas de mãe...que saudades.Acredito que tenha algo sobre garota Caiobá e Glamour Girl final anos 80 até final anos 90.Vou procurar. Não tive coragem de jogar fora. Vc poderia fazer outra matéria agora 5 anos depois.Gratidão por lembrar da época de ouro da nossa Curitiba.

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  4. Cara Rosângela, muito obrigado por seu interesse em meu blog, particularmente nas minhas referências ao saudoso Dino Almeida. Lamento o falecimento da sra. sua mãe. Não, você não deve jogar fora os recortes dos antigos jornais, tempo em que você figurava nas colunas do Dino. Essas crônicas sociais guardam a memória das pessoas que foram importantes na sociedade local e certamente servirão para os estudiosos do futuro interessados nas vivências desta época. Grato pela ideia de eu voltar a escrever sobre o assunto. Ao terminar a pandemia que cobre o mundo de luto, voltarei ao meu apartamento de Caiobá para passear, e pensarei nessa possibilidade. Abraços para si e seus familiares (que acabo de ver no Facebook), com meus votos de felicidade e saúde.

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