quarta-feira, 13 de abril de 2016

"POMPEIA À SOMBRA DO VULCÃO" do Comendador FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI.

PORTAL IZA ZILLI


A cidade de Nápoles e o gigantesco vulcão Vesúvio.


Iza Zilli


Comendador Francisco Souto Neto


POMPEIA À SOMBRA DO VULCÃO

Francisco Souto Neto


O visitante que chega a Nápoles, ao sul da península itálica, não pode deixar de observar o Vesúvio, um vulcão que se eleva a 1277 metros ao fundo da cidade. As construções se estendem ao sopé do vulcão e sobem as suas encostas. Corajoso povo napolitano, pois o Vesúvio é um vulcão ativo que poderá, a qualquer momento, entrar em erupção, como vem acontecendo através de toda a História conhecida.



Cidade de Nápoles e seus subúrbios que sobem a encosta do vulcão Vesúvio.

A cratera do vulcão cercada pela cidade que sobe pela encosta da sua cratera.

No ano de 79 da nossa era, o Vesúvio sofreu a sua mais famosa e destruidora erupção, sepultando importantes cidades como Pompeia e Herculano. Na maior delas, Pompeia, morreram mais de duas mil pessoas.

Durante a erupção, os ventos espalharam cinzas e rochas incandescentes para o lado oposto a Nápoles, na direção para onde o vulcão derramou também seus mortais fluxos piroclásticos. Assim, Pompeia e Herculano foram sepultadas com os habitantes e animais que não conseguiram fugir ao cataclismo.


Famílias inteiras calcinadas pelo fluxo piroclástico da erupção.

O cão petrificado em sua agonia durante a erupção.

No museu, homem petrificado em Pompéia ao tentar se proteger do fluxo piroclástico do Vesúvio.

Pompeia e as outras povoações adjacentes ficaram enterradas sob uma camada de vários metros de rochas e cinzas incandescentes. Passaram-se dezessete séculos, tempo em que a terra carregada pelos ventos foi encobrindo o espesso lençol já solidificado, em cuja superfície cresceu densa vegetação. E o local das cidades foi esquecido através de muitas centenas de gerações. Até que em 1748, por acaso descobriu-se a existência da cidade congelada no tempo, quando então começaram as suas escavações.

Pompéia hoje

Muitos prédios resistiram à erupção e permaneceram intactos, assim como estátuas, objetos de decoração e utilitários das vivendas. Até as pinturas murais e as ruas calçadas revivem o passado, revelando que Pompeia era uma cidade de veraneio, muito próspera, onde as famílias ricas mantinham verdadeiras mansões para delas usufruir nas suas férias.

Passear por Pompeia é retroceder dois mil anos no tempo e ver como viviam as pessoas abastadas do Império Romano. A Via dell’Abbondanza (Rua da Abundância) era a principal artéria da cidade, cheia de lojas. Estão lá os bares onde serviam bebidas e pratos preparados, a casa que funcionava como lavanderia e tinturaria, a padaria com seus fornos e utilitários de cerâmica. Em outro setor da cidade está o Foro, que é onde se situavam os edifícios públicos, como a basílica (onde se resolviam assuntos jurídicos e comerciais), os templos de Apolo, Júpiter e Vespasiano, e também um grande mercado coberto. Havia um enorme anfiteatro, além de teatros, termas, caserna e tudo o que se poderia esperar de uma importante cidade do Império Romano.


Rua de Pompeia.

Praça central com Vesúvio no horizonte.


Há mansões que tomam quarteirões inteiros e apresentam surpreendente luxo, muitas delas com pinturas de incrível beleza, mosaicos muito bem elaborados e estátuas de bronze. A residência que mais me impressionou foi a “Casa do Fauno Dançante”, assim denominada por causa da pequena estátua que adornava o seu impluvium, um pequeno espelho d’água situado no átrio de entrada à mansão. Essa residência era extremamente luxuosa, com dois átrios, dois peristilos e uma sala de refeição para cada uma das estações do ano. Um dos maiores mosaicos, que se encontrava no quarto principal, foi transferido para o Museu de Nápoles. Mas, havia casas maiores e mais luxuosas do que esta a que me refiro.


Pintura decorando parede de mansão pompeiana.

Mural na Vila dos Mistérios.

O lupanar, bem no centro da cidade, também chama a atenção: era o prostíbulo oficial da urbe. Sobre cada uma das portas que leva aos pequenos quartos há pinturas com temas obscenos, para indicar a “especialidade” da prostituta que ali se encontrava. Nas paredes dos cubículos há ainda grafites dos pompeianos do primeiro século, relatando as impressões daqueles clientes sobre os serviços prestados...

É preciso ter sempre em mente que estou me referindo a uma cidade que foi sepultada pelo Vesúvio apenas 46 anos depois da morte de Cristo e um milênio e meio antes do Brasil ser descoberto!


 Estátua em bronze do Fauno Dançante no “impluvium” de uma mansão.


Francisco Souto Neto ao visitar Pompeia em 1980, na Casa do Fauno Dançante.

Na Casa do Criptopórtico estão as imagens em gesso de como alguns dos habitantes se encontravam no momento em que foram atingidos pelo fluxo piroclástico. Uns morreram sentados, outros abraçando-se, há crianças cobrindo o rosto com as mãos... Há até um cão petrificado no momento em que se contorcia agonizante. Esses “moldes” de pedra vulcânica formada pela cinza incandescente foram encontrados já sem vestígios dos corpos. Mas ao serem os espaços vazios preenchidos com gesso, revelaram com detalhes as formas das pessoas e animais no momento de sua morte no ano 79.

Um passeio por Pompeia acaba transformando-se em reflexão a respeito da vida e da morte: quase todas as pessoas eliminadas pelo Vesúvio tiveram seus nomes esquecidos no tempo, viraram pó, algumas deixaram o molde em gesso da sua agonia, mas foram, todas elas, seres humanos como nós, que nasceram, brincaram, sofreram, amaram, viveram e desapareceram... há quase dois milênios.

-o-

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