PORTAL IZA ZILLI
Iza Zilli
Comendador FRANCISCO SOUTO NETO
EM HELLBRUNN, AS FONTES MÁGICAS
DO PRÍNCIPE-ARCEBISPO MARKUS SITTIKUS
Por Francisco Souto Neto
O
poderoso príncipe-arcebispo Markus Sittikus (também grafado Marcus Sitticus)
von Hohenems (1574-1619) viveu na cidade austríaca de Salzburg, nas cercanias
de onde mandou construir um palácio de verão de grande importância
arquitetônica e decorado com requintados interiores, o Palácio Hellbrunn, numa
época em que o Brasil era ainda uma inexpressiva colônia portuguesa sob o
domínio dos reis de Portugal e da Espanha, estes últimos do período filipino
quando Portugal esteve sob a administração da coroa espanhola. O Brasil tinha
sido dividido em Capitanias Hereditárias com objetivo principal de iniciar a
colonização pelos portugueses.
FOTO 1 – Francisco Souto
Neto com Palácio Hellbrunn ao fundo.
FOTO 2 – Rubens Faria
Gonçalves na entrada do Palácio Hellbrunn.
FOTO 3 – Souto Neto e as
janelas do porão do Palácio Hellbrunn.
É
impressionante que em tempos tão remotos, há mais de 400 anos, quando na Europa
a Santa Inquisição ou Santo Ofício ainda condenava os pobres hereges à perversa
e dolorosa morte na fogueira, tenha existido um príncipe-arcebispo que pode ser
lembrado por nós como um brincalhão, antes mesmo de o considerarmos o grande
mecenas que ele realmente foi, se levarmos em conta os divertidos jogos d’água
que mandou instalar ao lado do seu palácio.
FOTO 4 – A fonte da mesa de
jantar.
As
características das fontes e dos jogos d’água não encontram similares em todo o
mundo. O passeio por lá é feito em grupos guiados. A primeira fonte que
visitamos foi uma incrível mesa de mármore, ladeada por dez bancos do mesmo
material. A mesa, bancos, e o piso ao redor desse cenário, formam o conjunto de
uma fonte fantástica... uma fonte disfarçada de mesa com assentos para
surpreender os convidados do príncipe-arcebispo, o bem-humorado anfitrião. Ele
convidava (o convite era uma ordem) as pessoas a se sentarem, e ele próprio
também tomava um assento. Então eram todos colhidos por súbitos jatos d’água
que jorravam verticalmente dos bancos (exceto do lugar ocupado pelo
príncipe-arcebispo), e de vários pontos ao redor da mesa. Ninguém poderia
levantar-se antes que o próprio anfitrião deixasse o seu lugar seguro. Era uma
brincadeira sem qualquer conotação de sadismo. Ao contrário, os felizes
convivas contariam essas histórias a seus filhos e estes as perenizariam
através de muitas gerações. A fonte da mesa é apenas a primeira das dezenas de
outras, sempre muito engenhosas e divertidas.
Os jardins de Hellbrunn contêm poços, fontes, lagos, grutas artificiais,
várias esculturas e estátuas, quase uma Disneylândia barroca criada com o único
propósito de entreter o imensamente rico príncipe-arcebispo de Salzburg e os
seus convidados. As fontes disfarçadas de Hellbrunn foram construídas por pedreiros da
própria Salzburg e também da Itália, contratados dentre os melhores artesãos do
seu tempo, que executaram as obras sob a orientação de Santino Solari, o
engenheiro então mais famoso da Áustria, autor do projeto da Catedral de
Salzburg.
A água foi desde o início o tema central no desenho
do palácio. Numerosas fontes foram instaladas escondidas na sombra de árvores
ou arbustos, ou disfarçadas em estátuas, jorrando de esconderijos inesperados
sobre os visitantes distraídos para dar-lhes sustos, e aí está o maior encantamento
que essas surpresas provocam nas pessoas.
FOTO 5 – O teatro mecânico.
A eletricidade seria descoberta só alguns séculos à
frente. Como funcionavam – e funcionam ainda – as fontes de Hellbrunn? O que
faz mover todo o mecanismo das fontes é a energia cinética da água. É a força
hidráulica que põe tudo em movimento, como por exemplo o teatro mecânico lá
existente, que conta com 138 figuras humanas de madeira que parecem ter vida
própria.
FOTO 6 – A coroa que
“levita”.
Impossível descrever todas as excentricidades das
fontes e jogos d’água. A que mais me impressionou foi a da coroa dourada na
forma de um cone, no centro de um gruta, que se eleva com um jato preciso de
água, e fica como que pairando aos olhos maravilhados dos presentes, enquanto
dá um suabilíssimo giro sobre seu próprio eixo.
São prodígios que podem ser vistos no filme
adiante, de apenas oito minutos, que fiz quando lá estive, e que agora se
encontra no YouTube neste endereço:
Devo acrescentar que os jardins de traçado italiano
são de exuberante beleza, entre lagos e espelhos d’água, contendo conjuntos de
variadas flores que se alternam com alamedas formadas por alas de altas e
antigas árvores.
FOTO 9 – Francisco Souto
Neto no gazebo de A Noviça Rebelde (The Sound of Music).
Num dos recantos desse vasto jardim está o gazebo
que se vê no cultuado filme A Noviça Rebelde (The Sound of Music), com Julie Andrews. Referido gazebo também
aparece no meu filme do YouTube acima, evocando o momento em que a filha mais
velha do Capitão von Trapp (Christopher Plummer), a adolescente Liesel
(Charmian Carr), de 16 anos, canta “I am Sixteen going on Seventeen”.
O Palácio de Hellbrunn só serviu aos arcebispos
como uma residência em casos excepcionais. Com seus salões magníficos, os encantadores jardins e as fontes
cheias de truques, o palácio foi usado principalmente como o local de
celebrações dos prazeres da vida, de luxo e festas, de eventos espetaculares e,
mais recentemente, de destaques culturais.
FOTO 10 – O Príncipe-Arcebispo Markus Sittikus Graf von
Hohenems.
FOTO 11 – Planta de Hellbrunn.
E assim se encerra a história de um antigo príncipe-arcebispo da vida real, tão antigo e criativo quanto nos contos-de-fadas, cuja memória por acaso se une em tempos recentes ao filme A Noviça Rebelde.
E assim se encerra a história de um antigo príncipe-arcebispo da vida real, tão antigo e criativo quanto nos contos-de-fadas, cuja memória por acaso se une em tempos recentes ao filme A Noviça Rebelde.
-o-