sábado, 20 de novembro de 2021

20 DE NOVEMBRO, DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA por Francisco Souto Neto.

 

20 DE NOVEMBRO, DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA


 

Comendador Francisco Souto Neto

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20 DE NOVEMBRO, DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

por  Francisco Souto Neto


Dia da Consciência Negra

Há muito tempo venho encontrando no Facebook manifestações no sentido de que não deveria haver um “Dia da Consciência Negra”, mas um “Dia da Consciência Humana”. Lembro-me claramente de que há muitos anos um ator negro, se não me engano estadunidense – não me recordo do seu nome –, manifestou-se dizendo isso, e tal ideia vem se multiplicando através do tempo. No Facebook vários amigos meus têm repetido tal estribilho.

Tenho pensado muito nesse assunto e acho que, sem dúvida, seria realmente maravilhoso se houvesse uma “consciência humana” que despertasse em todos o absurdo que é o preconceito de cor e de raça. Só que isso não existe, sobremaneira num país onde o humanismo não chega igualmente a todos e onde o preconceito explícito ou dissimulado, mas sempre hipócrita, continua existindo sob os nossos narizes.

Alguns acham que a referência a uma só etnia ou a uma raça – no caso as etnias negras – inferioriza ou subestima as outras... Se fosse o caso, vejamos o labirinto que será encontrado se nos referirmos ainda que a um pequeno segmento das etnias (imagina se fosse possível referirmo-nos a todas!), as indígenas: segundo o IBGE, há cerca de 900 mil índios no Brasil, que se dividem entre 305 etnias e falam ao menos 274 línguas. Isto sem fazermos referência aos grupos que formam os pardos, os mulatos, os caboclos e os cafuzos, e sem nem de longe mencionarmos os amarelos do Extremo Oriente (os admiráveis japoneses são muito numerosos aqui no Brasil) e os representantes da raça vermelha. Falar de raças seria mais simples, por serem tão poucas no mundo. Mas a negra tem um sentido mais forte e abrangente, por isso precisamos falar especificamente dela. Não pelas centenas de etnias africanas existentes, mas pela sua própria história no contexto mundial.

 Reivindicar direitos à maior das etnias, a gigantesca etnia dos negros, é dar mais abertura a TODAS as outras minorias. Os negros têm sido historicamente os mais espezinhados, então eles fazem muito bem em reivindicar. Muitíssimo bem contextualizado e bem cabido, é o protesto de Zezé Motta com a sua “Aquarela da Consciência Negra”, que está hoje pipocando no Facebook e sobre a qual me referirei logo adiante.

Vale lembrar que navios portugueses e brasileiros fizeram mais de 9 mil viagens com africanos escravizados e 4,8 milhões deles foram transportados para o Brasil e vendidos como escravos, ao longo de mais de três séculos, isto sem mencionar outros 670 mil que morreram no caminho.

Os negros foram arrancados de seus países, trazidos acorrentados à força para o Brasil, suas famílias separadas e tratadas aqui como bichos. Não eram pessoas; eram coisas. Objetos de trabalho. Mas nem a tardia Lei Áurea melhorou a situação dos negros: continuaram em sua maciça maioria tratados como escravos, inferiorizados e discriminados, salvo raras exceções. Hoje, em plenos anos 20 do século XXI, os negros continuam sofrendo segregação e preconceito, ainda mais quando essas etnias são estigmatizadas pelo racista presidente da República que serve de modelo para seus seguidores fanatizados. Basta ver o que diz e o que faz o infeliz presidente da Fundação Palmares.

Segundo o IBGE, os negros (pretos e pardos) eram a maioria da população brasileira em 2014, representando 53,6% da população. Os brasileiros que se declaravam brancos eram 45,5%. Há hoje bem mais de 100 milhões de negros no Brasil, maciça maioria vivendo com grandes dificuldades. Portanto, é necessário que líderes negros se levantem e exijam de volta as vitórias que conquistaram a duras penas e que lhes estão sendo roubadas. Falta, sim, respeito aos seus orixás, muito mais do que aos deuses ou semideuses das religiões de outras etnias. É preciso, sem dúvida, que os negros continuem clamando por justiça e igualdade, e que os brancos conscientes e influentes prossigam intervindo em sua defesa.

Em outras palavras, estou aplaudindo a interpretação de Zezé Motta em “Aquarela da Consciência Negra” e desejando que outros sigam seu exemplo. A gravação foi feita por Zorra (globoplay) em 24 de novembro de 2018, mas mostra-se atemporal. Parece ter sido feita hoje, além do que, a Consciência Negra talvez seja ainda mais necessária nos dias atuais do que foi nos horrendos tempos da escravidão.

Vale ouvir Zezé Motta em sua “Aquarela da Consciência Negra”.  É uma gravação curtíssima, de apenas um minuto e nove segundos:


https://www.facebook.com/watch/?v=361443434433376

https://globoplay.globo.com/v/7186190/


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Mas há muitas manifestações na internet em defesa do “Dia da Consciência Negra”. Uma delas é de meu amigo Rubens Faria Gonçalves, que no dia 10 do corrente publicou em seu mural do Facebook:

“Você é contra o DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA e diz que o que devemos promover é apenas a consciência humana? O problema é que ainda está longe de existir na cabeça de muita gente uma consciência humana que respeite os direitos humanos de todos os grupos humanos. Portanto, há muita necessidade, SIM, de chamar a atenção para aqueles que se encontram em desvantagem social, como NEGROS, PORTADORES DE DEFICIÊNCIAS FÍSICAS OU MENTAIS, MULHERES OPRIMIDAS PELO MACHISMO, POVOS INDÍGENAS, POPULAÇÃO POBRE SACRIFICADA PELAS CLASSES DOMINANTES, HOMOSSEXUAIS ETC.

Parar de pensar nos direitos desses e de outros grupos em desvantagem social só interessa a quem não pertence a nenhum deles. (Rubens Faria Gonçalves)”


Rubens Faria Gonçalves e as capas de alguns discos de Zezé Motta

 

Hoje, 20 de novembro, encontrei mais um texto de Rubens Faria Gonçalves em seu mural, que vale ser transcrito:

Nunca encontrei órfão que se oponha ao Dia das Mães ou ao Dia dos Pais, sugerindo que, ao invés disso, seja comemorado apenas o Dia da Família. Nunca vi nenhuma pessoa, sadia ou não, opor-se ao Mês Róseo de Prevenção ao Câncer de Mama, ao Mês Azul de Prevenção ao Câncer de Próstata ou a qualquer dia, semana ou mês referente à prevenção de alguma doença, e sugerir que tudo isso seja substituído por um Ano Dourado da Prevenção a Todas as Enfermidades. Nunca vi alguém reclamar seriamente do Dia Internacional da Mulher e propor sua substituição pelo Dia do Ser Humano de Todos os Sexos. Nunca vi alguém criticar o Dia do Professor, o Dia do Médico, o Dia do Veterinário, o Dia do Psicólogo, o Dia do Engenheiro, o Dia do Advogado, o Dia do Padeiro, o Dia do Músico etc, sugerindo que se substitua tudo isso por um único dia, o Dia do Profissional. Por que, então, toda essa implicação contra o Dia da Consciência Negra e outras datas ou eventos que só pretendem resgatar direitos de grupos que o pensamento elitizado dominante tenta desqualificar ou ignorar? Querem banalizar o que não lhes interessa e, para tanto, enfiam tudo num saco ingênua ou hipocritamente chamado de Consciência Humana, para desse modo mascarar os preconceitos do dia a dia, que têm, sim, que ser NOMEADOS COM TODAS AS LETRAS E DENUNCIADOS ENQUANTO EXISTIREM. (Rubens Faria Gonçalves)”

Ao encerrar, devo dizer: BRAVA Zezé Motta, com toda a minha admiração pela admirável atriz e cantora. E um VIVA ao Dia da Consciência Negra.

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2 comentários:

  1. A bem do diálogo democrático, cabem aqui algumas reflexões sobre valorosas personagens negras que realmente merecem ser lembradas e comemoradas, entre tantas que tiveram uma biografia cultural, repleta de superação, fama e êxito. Eis alguns exemplos: NILO PEÇANHA, o primeiro presidente negro do Brasil.MARIA FIRMINA DOS REIS, abolicionista, autora de “Ursula” (1859), A Escrava (1887), “Gupeva” (1861), Parnaso Maranhense (1861) e Cantos à Beira-Mar (1871), em 1880, fundadora de uma escola mista e gratuita. CAROLINA MARIA DE JESUS, autora do livro “Quarto do Despejo, Diários de Uma Favela”, negra, pobre, favelada, que acumula mais de um milhão de cópias vendidas, publicadas em mais de 14 idiomas, cabal demonstração do empoderamento feminino. Tal homenagem poderia ser na data do nascimento de MACHADO DE ASSIS, escritor, negro, pobre, que não teve acesso à Faculdade,um dos fundadores da ABL, imortalizado entre os 100 maiores escritores do mundo, com mais de 50 obras maravilhosas. Entre elas: “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Dom Casmurro”, “O Alienista”, “A Mão e a Luva”, seus Contos, entre eles se destaca “A Cartomante”. Muitos foram os personagens negros importantíssimos, que contribuíram para a grandeza de nossa Nação. Contudo, conforme Leandro Narloch revela no livro “O Quilombo dos Palmares” e o historiador Flávio dos Santos Gomes em “Palmares”, respondem quem foi de fato Zumbi: Escravizava outros negros, mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para trabalhos forçados no Quilombo dos Palmares, sequestrava mulheres, executava aqueles que quisessem fugir do Quilombo. Apenas os escravos que, voluntariamente, de própria iniciativa, conseguiam chegar aos Palmares, eram considerados livres – desde que ficassem no Quilombo dos Palmares por toda a vida, pois, se tentassem fugir, eram mortos – ao contrário daqueles que, raptados ou trazidos à força, permaneciam como escravos. Cobrava impostos do pessoal que por lá moravam – se não pagavam, tinham suas propriedades saqueadas e incendiadas, entre outros absurdos. “Apesar de ser vista por alguns movimentos e setores da sociedade como representantes da resistência à escravidão, muitos quilombos contavam com a escravidão internamente. De acordo com Edison Carneiro, em O Quilombo dos Palmares, citando Nina Rodrigues esclarece que nos Palmares havia ‘um governo central despótico’ semelhante aos da África na ocasião”, e complementa: "Se algum escravo fugia dos Palmares, (...) era executado pela severa justiça do Quilombo". Consoante Nelson Ramos Barreto, em “Quilombo dos Palmares e a falsidade da Consciência Negra”, essa prática levou vários teóricos a interpretarem a vida nos quilombos como uma práxis existente em nações hegemônicas africanas, que mantinham as diversas classes sociais existentes na África, sob o domínio ditatorial absolutista de reis, com seus generais e escravos”. Tal aura de heroísmo e santidade de Zumbi, vem do livro de Décio Freitas “Palmares, a Guerra dos Escravos”, sem apresentar as fontes e provas do que estava dizendo. Sobre esse livro, alguns historiadores foram investigar e não acharam as provas, a não ser narrativas parciais fora do contexto. Misturou na biografia de Zumbi certas imagens irreais, tirou fora do contexto informações que contradiziam a parte mais exaltada de sua narrativa imaginária.
    Essa data seria dedicada aos negros que contribuíram muito com a nossa história e tornaram a nossa cultura tão rica e diversificada. Uma minoria de pessoas se acha superior pela cor da pele, ignoram que corre em suas veias sangue negro. Ademais, o Brasil é um país de mestiços. Somos um país de mestiços. Eis onde reside a beleza, originalidade e criatividade de nosso povo.

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    1. Entretanto, Bevilacqua, fique claro: seja qual for o resultado das suas pesquisas sobre Zumbi, para mim o Dia da Consciência Negra continua perfeitamente válido, necessário e digno de aplausos. Os negros admiráveis não são apenas os mencionados; somem-se eles a Gilberto Gil, Elza Soares, Cruz e Souza, Grande Otelo, Conceição Evaristo, Benedita da Silva, Milton Nascimento, Zezé Motta... e miríades de outros, tantos, que nem dá para enumerar!

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