sábado, 1 de julho de 2017

A INCRÍVEL IGREJA EXPIATÓRIA DA SAGRADA FAMÍLIA, DE GAUDÍ, EM BARCELONA, por Francisco Souto Neto para o Portal Iza Zilli.

Interior da Igreja Expiatória da Sagrada Família (Barcelona) em 2017

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Comendador Francisco Souto Neto

A incrível Igreja Expiatória da Sagrada Família, de Gaudí, em Barcelona.

Francisco Souto Neto

 
Antoni Gaudí (Antoni Placid Gaudí i Cornet) em foto de 15 de março de 1878, Barcelona, foi um famoso arquiteto catalão.

       No final da década de 70 desembarquei em Barcelona, na Catalunha, com um objetivo principal: conhecer a Igreja Expiatória da Sagrada Família, obra iniciada (e ainda inacabada) em 1884 por um dos mais controversos arquitetos de todos os tempos, e o mais importante da Espanha: Antoni Gaudí (1852-1926). 

       Decidido a construir a maior e mais inovadora catedral do mundo, e antevendo que a obra duraria séculos, ocorreu a Gaudí que a fachada leste – a Fachada da Natividade – deveria ser levantada antes das demais e completada ainda durante a sua geração. Deu início à construção em 1884, trabalhando nisso ao longo de ininterruptos 40 anos, até ver as primeiras quatro torres prontas, adornadas com a sua Porta da Fé, Esperança e Caridade, e sentiu-se satisfeito com a conclusão da primeira parte da obra.

 Início da construção, por volta de 1890.

A Sagrada Família em 1892.

 
Antes do fim do século XIX, com uma parede lateral à esquerda (que será a parede da abside) e o começo da Fachada da Natividade, aqui vista do seu lado interno.

 
Parte interna da Fachada da Natividade por volta de 1899-1900.

A elevação das quatro primeiras torres, de um total previsto de dezoito torres.

 
Em 1935, as quatro primeiras torres concluídas

 
Detalhe da Fachada da Natividade.

       Gaudí morreu aos 74 anos atropelado por um bonde, e as obras pararam. Somente após a Guerra Civil Espanhola, a construção foi retomada, mas muito lentamente, porque sem apoio governamental, apenas com doações dos visitantes.

       No final da década de 70, eu em Barcelona:

Francisco Souto Neto numa ponte entre duas torres.

Perigosos caminhos externos entre as torres. Foto Souto Neto.

As paredes da futura abside era tudo o que existia entre os dois conjuntos a céu aberto das torres.

As quatro torres da Fachada da Natividade.

Detalhe da Fachada da Natividade.

       Na minha primeira visita ao templo, a construção das quatro torres da fachada oeste já tinha alcançado o seu ápice, mas estava ainda em obras. A entrada fazia-se pela Fachada da Natividade.

Galgando as alturas

       Naquela ocasião, a igreja apresentava-se assim: de um lado, as quatro torres da fachada leste; do outro, as quatro torres da oeste... e todo o espaço entre tais fachadas estava a céu aberto, com grama no seu centro vazio!

Maquete que mostra as oito torres separadas de quatro em quatro em 1980. Fachada da Natalidade.

A Fachada da Paixão em construção em 1980. Fachada da Paixão.

       Eram, portanto, duas fachadas isoladas, monumentais em altura e beleza, mas que pareciam cenários de teatro. Com a altura de 125 metros, equivaliam a um prédio de cerca de 40 andares. A entrada à igreja fazia-se pela Fachada da Natividade, que é a original de Gaudí.

       O elevador da torre da Natividade não estava funcionando, e eu me dispus a subir os 400 degraus para poder apreciar o panorama de Barcelona. Mais que isto, a escalada serviu para que eu pudesse observar o espetáculo visual sem precedentes da construção de Gaudí, e sentir de perto a magnificência das suas paredes de pedra.

       Estive também na cripta, onde está Gaudí enterrado, e vi a maquete do que será a igreja quando pronta, com uma torre central ainda mais alta do que as anteriores, projetada para ter 170 metros de altura, mais do que um prédio de 50 andares.

Maquete que prevê como será a igreja quando concluída. A entrada será feita pela Fachada da Glória, que ainda não existe.

Aspecto de como ficará a Igreja Expiatória da Sagrada Família quando for inaugurada em 2026.

       Num desvairio de formas arquitetônicas que lembram a Natureza, tais como troncos de árvores e folhas, toda a construção e as esculturas são feitas em pedra. Lembro-me de que, naquela ocasião, embora ainda muito jovem e viajando com apertada economia, não resisti ao entusiasmo e emoção ante a beleza da obra e fiz uma doação espontânea ao cofre da igreja, pensando: “quero ajudar na construção deste templo fantástico, nem que seja com o equivalente a uma modesta pequena pedra”.

A Fachada da Paixão

       Só em 1991 retornei a Barcelona, agora na companhia do meu amigo Rubens Faria Gonçalves, e ambos logo rumamos à Sagrada Família. A Fachada da Paixão (lado oeste) já estava inaugurada, e por ali é que agora se fazia a entrada dos visitantes, em oposição à outra fachada, original de Gaudí, onde é relatada na pedra a alegria do nascimento de Jesus, a nova fachada evoca desolação, dor, sacrifício e a morte de Cristo.

       Em 1987, nomeado pela Junta de Construção, o escultor Josep María Subirachs começou a fazer a parte escultórica da nova fachada, mas impôs a condição de não imitar Gaudí para não interferir nem copiar o estilo da fachada original, deixando claro aquilo que era criação do genial Gaudí (isto é, a Fachada da Natividade), e o que seria dos artistas dos tempos por vir. E deste modo as esculturas de Subirachs resultaram “descarnadas”... e polêmicas. Mas não são justamente a polêmica e a inovação que costumam movimentar a arte? A mim, o resultado pareceu interessantíssimo.

Aspecto da nova Fachada da Paixão.

Detalhe dos conjuntos escultóricos da Fachada da Paixão.

Figura sofrida na Fachada da Paixão.

O beijo de Judas em Jesus.

Jesus coroado de espinhos.

Jesus coroado de espinhos (detalhe).

       Apesar da mudança de estilo das novas estátuas (pois Subirachs é nosso contemporâneo), está em harmonia com a arquitetura da igreja, que é toda de Gaudí. Quando for erguida a terceira fachada, que será a frente da igreja, certamente algum artista – que talvez hoje não tenha ainda nascido – irá esculpir conforme os ditames do futuro.

Atrás de Francisco Souto Neto, duas novas torres da igreja (1991).

Rubens Faria Gonçalves na ponte entre duas torres (1991).

Na segunda sacada de baixo para cima vê-se Rubens Gonçalves. Essas paredes no futuro serão INTERNAS, isto é, ficarão DENTRO da igreja. Observem-se as torres acima.

       Subimos os 400 degraus da torre e imaginei que era a última vez em toda a vida que eu me dispunha a fazer tal esforço.

A visita de 2001

       Em 2001 estive outra vez em Barcelona, e novamente com Rubens Gonçalves, meu velho companheiro de viagens. E é claro que logo acorremos à Igreja Expiatória da Sagrada Família.

       A construção avançou muito. Agora as duas fachadas laterais estão unidas pelo teto da futura nave central do templo. Ficamos longamente observando o trabalho ruidoso dos construtores serrando grandes blocos de pedra e erguendo altíssimas colunas. Pensei, assombrado, que estávamos tendo o raro privilégio de acompanhar alguns dos passos da construção da “Catedral dos Pobres” – a Sagrada Família é também assim conhecida, porque vive e cresce de pequenas “esmolas” doadas pelo povo.

Rubens Faria Gonçalves na Fachada da Natividade em 2001.

Francisco Souto Neto pela terceira vez subindo os 400 degraus em 2001.

Uma das alegorias das torres, vista de trás.

Souto Neto na ponte entre as duas torres em 2001.

Rubens observando a paisagem.

As quatro torres do outro lado e, à esquerda, avança a construção entre elas.

Abaixo, a parede da abside que existe desde o século XIX, e à esquerda vê-se a construção que sobe.

A construção que sobe entre as torres.

A construção no centro da igreja.

       Vimos o local onde se erguerá a Fachada da Glória e a torre do domo central que, de tão alta (170 metros) “tocará o céu”. Talvez seja concluída em 2026, quando então deverá ser a maior e mais alta igreja do mundo.

       Como de hábito, mais uma vez dispusemo-nos a subir as quatro centenas de degraus de uma das torres. A subida é muito divertida, cheia de paradas para observar a um ou outro detalhe. A meia altura, as torres intercomunicam-se através de uma ponte de pedra. As escadas espiraladas estão sempre coalhadas de turistas. Quando alguém ultrapassa, é preciso que o outro se encoste à parede para abrir espaço. Sobe-se por uma escada e desce-se por outra. Chegar ao alto da torre é tão maravilhoso que o turista logo se esquece do cansaço da subida.

Além de Gaudí


       A Sagrada Família foi “apenas” a última construção de Gaudí. As obras do assombroso arquiteto espalham-se para além da Catalunha. Por exemplo, até mesmo a Catedral de Palma de Majorca (onde estive há quatro anos) tem o altar projetado por Gaudí.

       Além disso, Barcelona não é “somente Gaudí”. Trata-se de uma cidade riquíssima, a segunda da Espanha em população, que rivaliza com a capital daquele país em cultura e beleza. Eu, particularmente, gosto muito mais de Barcelona do que de Madri. Seus habitantes não se consideram espanhóis. Barcelona, capital da Catalunha (região que aspira se separar da Espanha) quer ser a capital do “país catalão”. Até língua própria eles têm, que é, obviamente, o catalão, e nem mesmo gostam de falar o espanhol.

       Questões políticas à parte, eu penso mesmo é em um dia voltar a Barcelona para “fiscalizar” os progressos da construção e ter ainda vigor bastante para dispensar o elevador e subir os 400 degraus da extraordinária, esplendorosa e monumental Igreja Expiatória da Sagrada Família.

     Abaixo, fotografias encontradas na internet dão conta de quão fascinante está se tornando o interior do templo. Como em Gaudí a arquitetura deve seguir as linhas curvilíneas da Natureza, as colunas assemelham-se a troncos de árvores e as cores da pintura, bem como os reflexos dos vitrais, tornam a Sagrada Família um verdadeiro delírio de beleza e originalidade.

ABAIXO, 12 FOTOS ATUAIS (2017), UMA DO EXTERIOR E AS 11 RESTANTES DO SURPREENDENTE INTERIOR DA IGREJA EXPIATÓRIA DA SAGRADA FAMÍLIA:













   Adiante, um filme que mostra como continuará sendo erguida a Sagrada Família até à sua finalização em 2026:



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2 comentários:

  1. Questões políticas à parte, eu penso mesmo é em um dia voltar a Barcelona para “fiscalizar” os progressos da construção e ter ainda vigor bastante para dispensar o elevador e subir os 400 degraus da extraordinária, esplendorosa e monumental Igreja Expiatória da Sagrada Família.
    Espero que você possa voltar à Barcelona. E se quiser podemos ir juntos fiscalizar as obras da Sagrada Família. Saludos primo.

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    1. Quem será "Unknown" acima? Acredito que é a minha querida prima Luciana Reis, que vive na Espanha. Acertei? Seria divertidíssimo explorarmos as novidades da Igreja Expiatória. Um beijo!

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