domingo, 12 de novembro de 2017

HONFLEUR, OS IMPRESSIONISTAS E ERIK SATIE por FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI.

Foto 1 – O Vieux Bassin de Honfleur ao entardecer.

 PORTAL IZA ZILLI
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Iza Zilli

Comendador Francisco Souto Neto

Honfleur, os impressionistas e Erik Satie

Francisco Souto Neto

Honfleur, na França, foi importante porto defensivo no século 15, transformando-se em uma das mais atraentes enseadas da Normandia. No centro da cidade está o Vieux Bassin (antiga doca ou antigo porto), com casas de seis e sete andares do século 17. No final do século 19 tornou-se grande núcleo de atividades artísticas. Pintores como Coubert, Sisley, Pissarro, Renoir e Cézanne iam pintar no Vieux Bassin por acreditarem que ali os efeitos da luz eram deslumbrantes. Em Honfleur nasceram o pintor Eugène Boudin (1824-1898) e o compositor Erik Satie (1866-1925). Hoje a cidade é toda voltada para as artes plásticas e a música.

 Foto 2 – Artista plástico pintando às margens do Vieux Bassin.

Foto 3 – No Vieux Bassin.

Foto 4 – No Vieux Bassin.

Foto 5 – O carrossel.


Foto 6 – Praça central de Honfleur.


Ali é imenso o número de galerias de arte. Um precioso carrossel de mais de cem anos, funcionando perfeitamente, ajuda a tornar a cidade ainda mais bela e divertida. A sorveteria instalada no Vieux Bassin vende os mais gostosos sorvetes que provamos em toda a vida. Eu pedi sabores mais ou menos comuns: marzipã e baunilha. O Rubens, que gosta de experimentar sabores exóticos, comprou sorvetes de gengibre e açafrão, e fez questão de que eu provasse uma colherzinha de cada um deles. Estalei a língua de satisfação e gula, porque eram “la crème de la crème”, a delícia das delícias.

Passamos três dias em Honfleur. Nosso apartamento no Hôtel Du Dauphin era grande e confortável, com vista deslumbrantes: das janelas do nosso apartamento vislumbrávamos a maior igreja de madeira da Europa, a Eglise Sainte Catherine, construída no século 15 por carpinteiros de navios, e víamos também um canto do Vieux Bassin. A janela do banheiro era do mesmo tamanho da do quarto, uma indiscrição europeia muito frequente porque, caso alguém esqueça de fechá-la na hora do banho, exporá a privacidade do hóspede aos olhos de quem estiver na praça. Ambas as janelas, do quarto e do banheiro, eram enfeitadas com vasos de gerânios vermelhos.

Foto 7 – Rubens em frente ao nosso hotel, o Du Dauphin.

Foto 8 – O Hôtel Du Dauphin em foto atual. Nosso apartamento ocupava as duas janelas sobre o toldo onde se lê “PEINTURES - SCULPTURES”,        e abaixo do nome “HÔTEL DU DAUPHIN”. A janela da esquerda era a do nosso quarto; a da direita, do banheiro. Os gerânios vermelhos continuam até hoje a enfeitar ambas as janelas.

Foto 9 – Nosso quarto voltado para a Igreja Sainte Catherine, do século 15.

Foto 10 – Tiro uma foto com o Rubens posando na janela do nosso banheiro. À direita, vê-se a lateral da Igreja Sainte Catherine. A torre ao centro da foto, com um relógio, é o campanário da igreja, erguido na frente da mesma.

Foto 11 – Saindo do hotel, vemos de perto esta lateral da Igreja Sainte Catherine, do século 15, a maior de madeira na Europa, com o campanário à esquerda.


Foto 12 – Eu, quase no mesmo lugar da foto anterior.



Foto 13 – Rubens sentado ao lado da Igreja Sainte Catherine.


Não é raro, na França, que o preço da diária do hotel não inclua o café da manhã. Em hotéis assim, quem quiser, deverá pagar à parte. O café da manhã do Hôtel Du Dauphin, caro, era incluso ao preço da diária, mas dava direito, por pessoa, a somente um bule (suficiente para apenas duas xícaras) de leite com café ou chocolate, dois pães, duas pequenas geleias, dois tabletes de manteiga e oito cubos de açúcar. Se alguém desejasse um iogurte, um copo de suco, uma fruta, uma pequena vasilha de sucrilhos, uma manteiguinha extra ou um cubo de açúcar a mais, tudo teria que ser pago como consumo extra. Um hábito um tanto sovina.

Foto 14 – Lanche de salsichas e batatas fritas apreciando o Vieux Bassin.

O lanche mais divertido que fizemos, foi de salsichas com batatas fritas que comemos à beira do Vieux Bassin, dividindo a comida com as pombas que afluíram às dezenas, e olhando ao panorama dramático e extraordinariamente belo do alto casario e dos mastros dos barcos ali atracados.

Erik Satie: como foi e como é

Vou fazer um rápido retrospecto muito pessoal sobre Erik Satie. Por volta do ano de 1973, quando eu ainda morava em Ponta Grossa, passava com Rubens pela Rua XV de Novembro em Curitiba, quando ouvimos pelos alto-falantes um som de piano que tocava sempre a mesma frase musical. Era u’a música repetitiva, mas fascinante e nada monótona. Vimos que os alto-falantes se sucediam através de inúmeros quarteirões da Rua XV, até que descobrimos que eles estavam ligados a um piano instalado no café – isto é, num quiosque-café na rua – que pertencia à antiga Confeitaria Iguaçu, bem na esquina da Praça Osório. Um rapaz tocava o instrumento. Em pé, ao lado do piano, por pura casualidade, encontrava-se minha amiga, a pianista Lúcia Armellini. Perguntei-lhe que música era aquela, e sua resposta está bem viva na minha memória: “Trata-se de uma composição de Erik Satie [1866-1925] que tem que ser tocada ininterruptamente durante oito horas, chamada Vexations. Por isso, vários pianistas alternam-se a cada 30 minutos, mas sem parar a música”. Eu, que já gostava de eruditos modernos como Stravinsky e Béla Bartók, estava descobrindo Satie. Naquela mesma tarde, eu e meu amigo saímos dali à procura de discos do compositor... e nosso gosto pelo mesmo aprofundou-se com o passar do tempo.

Segundo dia em Honfleur: Les Maisons Satie

No nosso segundo dia em Honfleur, fomos a Les Maisons Satie (“As Casas Satie”), uma casa-museu geminada à residência do compositor Erik Satie (pronuncia-se “erríc satí”). Logo à entrada do museu, os visitantes precisam colocar fones nos ouvidos, ligados a um moderno engenho eletrônico preso à cintura, e isto lhes permite ouvir diferentes peças musicais conforme o cômodo por onde se vai passando.

Foto 15 – Francisco Souto Neto à entrada de Les Maisons Satie.

Foto 16 – Rubens filmando os cômodos da casa-museu, ao som de Erik Satie.

Foto 17– O piano que toca “sozinho” as peças musicais de Satie.

O passeio pelo museu, todo interativo, é puro encantamento. Nos cômodos há referências surrealistas à música que se ouve através do aparelho eletrônico. Na obscuridade da primeira sala, ambos sofremos um impacto ao vermos uma imensa pera amarela alada, de mais ou menos dois metros de altura, com iluminação interna. As asas, de grande envergadura, movimentavam-se e a “fruta” parecia pairar no espaço, enquanto aos nossos ouvidos um piano tocava “1 Gymnopedies”.

Após uma sucessão de emoções e encantamento, o passeio pelas “maisons” termina numa sala inteiramente branca, onde um piano também branco toca “sozinho”, isto é, movido eletronicamente.

Antes de o visitante deixar o museu, é convidado para assistir “ao show”. Entramos numa espécie de cabaré, e tudo transcorre num telão como se este fosse o palco. Embora nós fôssemos as duas únicas pessoas ali presentes, gritos, assovios e aplausos provinham das mesas vazias. Ao final da visita, na pequena loja do museu, Rubens comprou o CD denominado “Les Maisons Satie” com todas as músicas ouvidas durante a nossa visita.

Foto 18 – Passeio pelo Parque da Cidade.

Foto 19 – Passeio pelo Parque da Cidade.

Foto 20 – No Parque da Cidade, Francisco Souto Neto aponta ao “wc” de cães. Nos países europeus os cães costumam ter lugar certo para as suas necessidades fisiológicas.



Em frente ao museu localiza-se o Parque da Cidade, um verdadeiro jardim botânico com belíssimos roseirais que fotografamos sob muitos ângulos. Dalí rumamos ao setor da cidade onde se localiza a Igreja Saint-Léonard, do século 15, tão antiga que a entrada principal estava isolada por uma cerca onde se lia a advertência: “proibido transitar devido a desabamentos”. É que a igreja encontrava-se tão negligenciada que de vez em quando desprendiam-se blocos de pedra da fachada, estatelando-se no solo. Ingressamos no templo pela entrada lateral e encontramos um esplêndido interior enriquecido por preciosas esculturas. Havia ali um ar de grande solenidade e respeito.


Foto 21 – Igreja Saint-Léonard.  É proibido andar na frente da igreja pelo risco da queda de pedras. 

Foto 22  Novamente no Vieux Bassin. 

Foto 23  Novamente no Vieux Bassin.

O terceiro dia em Honfleur foi todo de descobertas e encantamentos. Quando deixamos a cidade num ônibus rumo a Le Havre, tínhamos a certeza de termos conhecido uma das cidades mais interessantes da França.


Foto 24 – Francisco Souto Neto despede-se de Honfleur.


Foto 25 – Rumando à Gare Routière (Estação Rodoviária).


No mês passado, outubro de 2017, meus amigos João Carlos Cascaes e sua esposa Tânia Rosa Ferreira Cascaes estiveram na França e visitaram Honfleur. Esta foi a primeira vez que eu soube de pessoas do meu rol de amizades que estiveram naquela linda cidade da Normandia. Isto me inspirou a escrever esse artigo, revelando um pouco das minhas memórias daquela cidade de rara beleza e tantas histórias.

Filme do passeio aos interiores de Les Maisons Satie:



Filme de passeios pela cidade de Honfleur:



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