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Iza Zilli
Comendador Francisco Souto Neto
Honfleur, os impressionistas e Erik Satie
Francisco Souto Neto
Honfleur,
na França, foi importante porto defensivo no século 15, transformando-se em uma
das mais atraentes enseadas da Normandia. No centro da cidade está o Vieux
Bassin (antiga doca ou antigo porto), com casas de seis e sete andares do
século 17. No final do século 19 tornou-se grande núcleo de atividades
artísticas. Pintores como Coubert, Sisley, Pissarro, Renoir e Cézanne iam
pintar no Vieux Bassin por acreditarem que ali os efeitos da luz eram
deslumbrantes. Em Honfleur nasceram o pintor Eugène Boudin (1824-1898) e o
compositor Erik Satie (1866-1925). Hoje a cidade é toda voltada para as artes
plásticas e a música.
Foto 2 – Artista
plástico pintando às margens do Vieux Bassin.
Foto 3 – No Vieux Bassin.
Foto 4 – No Vieux Bassin.
Foto 5 – O
carrossel.
Foto 6 – Praça
central de Honfleur.
Ali
é imenso o número de galerias de arte. Um precioso carrossel de mais de cem
anos, funcionando perfeitamente, ajuda a tornar a cidade ainda mais bela e
divertida. A sorveteria instalada no Vieux Bassin vende os mais gostosos
sorvetes que provamos em toda a vida. Eu pedi sabores mais ou menos comuns:
marzipã e baunilha. O Rubens, que gosta de experimentar sabores exóticos,
comprou sorvetes de gengibre e açafrão, e fez questão de que eu provasse uma
colherzinha de cada um deles. Estalei a língua de satisfação e gula, porque
eram “la crème de la crème”, a delícia das delícias.
Passamos
três dias em Honfleur. Nosso apartamento no Hôtel Du Dauphin era grande e
confortável, com vista deslumbrantes: das janelas do nosso apartamento
vislumbrávamos a maior igreja de madeira da Europa, a Eglise Sainte Catherine, construída
no século 15 por carpinteiros de navios, e víamos também um canto do Vieux
Bassin. A janela do banheiro era do mesmo tamanho da do quarto, uma indiscrição
europeia muito frequente porque, caso alguém esqueça de fechá-la na hora do
banho, exporá a privacidade do hóspede aos olhos de quem estiver na praça.
Ambas as janelas, do quarto e do banheiro, eram enfeitadas com vasos de
gerânios vermelhos.
Foto 7 – Rubens em frente ao nosso hotel, o Du Dauphin.
Foto 8 – O Hôtel Du Dauphin em foto atual. Nosso apartamento
ocupava as duas janelas sobre o toldo onde se lê “PEINTURES - SCULPTURES”, e abaixo do nome “HÔTEL DU DAUPHIN”. A janela
da esquerda era a do nosso quarto; a da direita, do banheiro. Os gerânios
vermelhos continuam até hoje a enfeitar ambas as janelas.
Foto 9 – Nosso quarto voltado para a Igreja Sainte Catherine,
do século 15.
Foto 10 – Tiro uma foto com o Rubens posando na janela do
nosso banheiro. À direita, vê-se a lateral da Igreja Sainte Catherine. A torre
ao centro da foto, com um relógio, é o campanário da igreja, erguido na frente
da mesma.
Foto 11 – Saindo
do hotel, vemos de perto esta lateral da Igreja Sainte Catherine, do século 15,
a maior de madeira na Europa, com o campanário à esquerda.
Foto 12 – Eu,
quase no mesmo lugar da foto anterior.
Foto 13 – Rubens
sentado ao lado da Igreja Sainte Catherine.
Não
é raro, na França, que o preço da diária do hotel não inclua o café da manhã. Em
hotéis assim, quem quiser, deverá pagar à parte. O café da manhã do Hôtel Du
Dauphin, caro, era incluso ao preço da diária, mas dava direito, por pessoa, a somente um bule (suficiente para
apenas duas xícaras) de leite com café ou chocolate, dois pães, duas pequenas
geleias, dois tabletes de manteiga e oito cubos de açúcar. Se alguém desejasse um
iogurte, um copo de suco, uma fruta, uma pequena vasilha de sucrilhos, uma
manteiguinha extra ou um cubo de açúcar a mais, tudo teria que ser pago como consumo extra. Um hábito um tanto sovina.
Foto 14 – Lanche de salsichas e batatas fritas apreciando o
Vieux Bassin.
O
lanche mais divertido que fizemos, foi de salsichas com batatas fritas que
comemos à beira do Vieux Bassin, dividindo a comida com as pombas que afluíram
às dezenas, e olhando ao panorama dramático e extraordinariamente belo do alto
casario e dos mastros dos barcos ali atracados.
Erik Satie: como foi e como é
Vou
fazer um rápido retrospecto muito pessoal sobre Erik Satie. Por volta do ano de
1973, quando eu ainda morava em Ponta Grossa, passava com Rubens pela Rua XV de
Novembro em Curitiba, quando ouvimos pelos alto-falantes um som de piano que
tocava sempre a mesma frase musical. Era u’a música repetitiva, mas fascinante
e nada monótona. Vimos que os alto-falantes se sucediam através de inúmeros
quarteirões da Rua XV, até que descobrimos que eles estavam ligados a um piano
instalado no café – isto é, num quiosque-café na rua – que pertencia à antiga
Confeitaria Iguaçu, bem na esquina da Praça Osório. Um rapaz tocava o
instrumento. Em pé, ao lado do piano, por pura casualidade, encontrava-se minha
amiga, a pianista Lúcia Armellini. Perguntei-lhe que música era aquela, e sua
resposta está bem viva na minha memória: “Trata-se de uma composição de Erik
Satie [1866-1925] que tem que ser tocada ininterruptamente durante oito horas,
chamada Vexations. Por isso, vários
pianistas alternam-se a cada 30 minutos, mas sem parar a música”. Eu, que já
gostava de eruditos modernos como Stravinsky e Béla Bartók, estava descobrindo
Satie. Naquela mesma tarde, eu e meu amigo saímos dali à procura de discos do
compositor... e nosso gosto pelo mesmo aprofundou-se com o passar do tempo.
Segundo dia em Honfleur: Les Maisons
Satie
No
nosso segundo dia em Honfleur, fomos a Les Maisons Satie (“As Casas Satie”),
uma casa-museu geminada à residência do compositor Erik Satie (pronuncia-se
“erríc satí”). Logo à entrada do museu, os visitantes precisam colocar fones
nos ouvidos, ligados a um moderno engenho eletrônico preso à cintura, e isto
lhes permite ouvir diferentes peças musicais conforme o cômodo por onde se vai
passando.
Foto 15 – Francisco Souto Neto à entrada de Les Maisons Satie.
Foto 16 – Rubens filmando os cômodos da casa-museu, ao som de
Erik Satie.
Foto 17– O piano que toca “sozinho” as peças musicais de
Satie.
O
passeio pelo museu, todo interativo, é puro encantamento. Nos cômodos há
referências surrealistas à música que se ouve através do aparelho eletrônico.
Na obscuridade da primeira sala, ambos sofremos um impacto ao vermos uma imensa
pera amarela alada, de mais ou menos dois metros de altura, com iluminação
interna. As asas, de grande envergadura, movimentavam-se e a “fruta” parecia
pairar no espaço, enquanto aos nossos ouvidos um piano tocava “1 Gymnopedies”.
Após
uma sucessão de emoções e encantamento, o passeio pelas “maisons” termina numa
sala inteiramente branca, onde um piano também branco toca “sozinho”, isto é,
movido eletronicamente.
Antes
de o visitante deixar o museu, é convidado para assistir “ao show”. Entramos
numa espécie de cabaré, e tudo transcorre num telão como se este fosse o palco.
Embora nós fôssemos as duas únicas pessoas ali presentes, gritos, assovios e
aplausos provinham das mesas vazias. Ao final da visita, na pequena loja do
museu, Rubens comprou o CD denominado “Les Maisons Satie” com todas as músicas
ouvidas durante a nossa visita.
Foto 18 – Passeio pelo Parque da Cidade.
Foto 19 – Passeio pelo Parque da Cidade.
Foto 20 – No
Parque da Cidade, Francisco Souto Neto aponta ao “wc” de cães. Nos países europeus os cães costumam ter lugar certo para as suas necessidades fisiológicas.
Em
frente ao museu localiza-se o Parque da Cidade, um verdadeiro jardim botânico
com belíssimos roseirais que fotografamos sob muitos ângulos. Dalí rumamos ao
setor da cidade onde se localiza a Igreja Saint-Léonard, do século 15, tão
antiga que a entrada principal estava isolada por uma cerca onde se lia a
advertência: “proibido transitar devido a desabamentos”. É que a igreja
encontrava-se tão negligenciada que de vez em quando desprendiam-se blocos de
pedra da fachada, estatelando-se no solo. Ingressamos no templo pela entrada
lateral e encontramos um esplêndido interior enriquecido por preciosas
esculturas. Havia ali um ar de grande solenidade e respeito.
Foto 21 – Igreja Saint-Léonard. É proibido andar na frente da igreja pelo risco da queda de pedras.
Foto 22 – Novamente no Vieux Bassin.
Foto 23 – Novamente no Vieux Bassin.
O
terceiro dia em Honfleur foi todo de descobertas e encantamentos. Quando
deixamos a cidade num ônibus rumo a Le Havre, tínhamos a certeza de termos
conhecido uma das cidades mais interessantes da França.
Foto 24 – Francisco
Souto Neto despede-se de Honfleur.
Foto 25 – Rumando à
Gare Routière (Estação Rodoviária).
No
mês passado, outubro de 2017, meus amigos João Carlos Cascaes e sua esposa Tânia Rosa Ferreira Cascaes estiveram
na França e visitaram Honfleur. Esta foi a primeira vez que eu soube de pessoas
do meu rol de amizades que estiveram naquela linda cidade da Normandia. Isto me
inspirou a escrever esse artigo, revelando um pouco das minhas memórias daquela
cidade de rara beleza e tantas histórias.
Filme do passeio aos
interiores de Les Maisons Satie:
Filme de passeios pela
cidade de Honfleur:
-o-
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