A partir da esquerda, em frente da estante da biblioteca da Academia de Letras José de Alencar: Francisco Souto Neto, Alberto
Vellozo Machado, Rubens Faria Gonçalves, Josane Cavallin, Geraldo Fuchs, Anita
Zippin, Celso Portugal e esposa Maria Helena, Alberto Gomes, Arioswaldo Trancoso Cruz.
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Iza Zilli
Comendador Francisco Souto Neto
A história da biblioteca da ALJA
Francisco Souto Neto
A
biblioteca da ALJA – Academia de Letras José de Alencar, de Curitiba, tem uma
história interessante. Aliás, a história da própria Academia é também muito
envolvente.
O Palacete dos Leões
Fundada
no ano de 1939, a Academia de Letras José
de Alencar teve como primeiro nome Associação de Cultura José de Alencar.
Funcionou originalmente no Colégio Parthenon, na Rua Comendador Araújo. Seu
primeiro presidente foi Luiz Aníbal Calderari. Depois de alguns anos sediada na
Biblioteca Pública, a entidade passou a usar a estrutura do Centro de Letras do
Paraná.
Palacete dos Leões (Centro Cultural BRDE)
Desde
2014 a Academia está instalada no Palacete dos Leões, também conhecido como
Espaço Cultural BRDE, graças a contatos preliminares mantidos por Celso de
Macedo Portugal com seu amigo Abel Olivet Filho, alto funcionário do Banco
Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul. A proposição da Academia foi por
não apenas usufruir do espaço físico do edifício histórico mandado erguer pela
família Leão em 1902, mas por manter uma parceria com o BRDE, tendo por
objetivo a promoção da cultura. A biblioteca da Academia, entretanto, segue um
caminho um pouco diferente...
A antiga biblioteca da ALJA
A
história da formação da biblioteca da ALJA foi contada pelo presidente de honra
da confraria, Arioswaldo Trancoso Cruz, em reunião realizada no dia 20 de
setembro de 2017. Disse ele que a biblioteca começou a ser formada quando a
Academia ocupava uma pequena sala cedida pela Biblioteca Pública do Paraná,
localizada nos fundos do último andar do prédio. Numa das mudanças da
administração da Biblioteca, uma nova diretora – Valéria Prochmann – resolveu expulsar a Academia de lá,
simplesmente porque assim ela decidiu.
A expulsão
A
seção “Entrelinhas” de 14 de junho de 1992 publicou uma nota maldosa: “A
Academia José de Alencar, que bem ou mal existia com a presidência de Vasco
Taborda, foi despejada da sua sala na Biblioteca Pública do Paraná. Alegou a
diretora Valéria Prochmann, cuja administração tem recebido muitos elogios, que
era muito espaço para coisa importante, porém pouca, era rara a frequência na
Academia; e a Biblioteca anda precisando muito dos seus espaços”.
A reação da ALJA a Valéria Prochmann, então diretora da Biblioteca Pública do Paraná
O
então presidente da ALJA, Vasco José Taborda Ribas, celebrado advogado,
escritor, jornalista, professor e linguista paranaense, que foi promotor da
Justiça Militar e secretário geral do Tribunal de Contas do Paraná, ficou muito
irritado, e para que os livros da Academia não fossem inadvertidamente
absorvidos pela Biblioteca, levou-os todos para a sua residência.
Dias
depois, em 2 de julho de 1991, Nelson Saldanha d’Oliveira, 1º secretário da
Academia, fez publicar na mesma Gazeta do Povo, sob o título “À guisa de esclarecimento”, o seguinte:
“Em virtude na nota estampada na coluna ‘Entrelinhas’
da Gazeta do Povo de 14 de junho último, cumpre-nos esclarecer alguns pontos um
tanto confusos, no sentido de evitar interpretações maldosas, como as que já
foram levianamente suscitadas. Dizer que a Academia de Letras José de Alencar ‘existia,
bem ou mal, na presidência do Dr. Vasco José Taborda Ribas’, é uma ironia
descabida, pois, a Academia é uma entidade cultural grandemente prestigiada,
com um número considerável de associados, abrangendo intelectuais não só do
Paraná, como do Brasil e do Exterior. Existia, vírgula, porque ela existe há 52
anos, tem estatutos aprovados e registrados no 1º Ofício de Títulos e
Documentos da Comarca de Curitiba, além de ser entidade considerada de
utilidade pública pela Lei Estadual nº 492, de 21 de dezembro de 1950, sancionada
pelo ex-governador Moysés Lupion. Portanto, note-se a maldade da nota que,
deselegantemente, ignora a posição ereta e digna do Dr. Vasco José Taborda
Ribas, como Embaixador da Cultura Paranista e Cidadão Benemérito do Estado do
Paraná (queiram ou não os eternos fariseus), para asseverar que a entidade foi
despejada, quando, a bem da verdade, ela deixou a sala da Biblioteca Pública, por
não haver mais clima para lá permanecer, diante da insensibilidade da direção,
que se vangloria com a atitude assumida, ao invés de lastimar o acontecido,
obrigando uma retirada enérgica dessa entidade representativa da cultura
paranaense. Diz, ainda, a sobredita nota, que a Academia era de pouca
importância, para estar ocupando um espaço útil naquele organismo, outra
insensatez. Portanto, convém ressaltar, que essa entidade ‘sem grande valor’
foi fundada em 4 de outubro de 1939, possui um passado glorioso como bem
registram os anais da imprensa citadina, além disso conta com sócios ilustres
não só no Brasil, como também em outros países: Argentina, Peru, Uruguai,
Chile, Portugal, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália, etc. etc.
Não obstante os maus augúrios, a Academia de Letras José de Alencar prosseguirá
a sua trajetória indomável e abençoada, trabalhando em prol da difusão e
desenvolvimento da cultura sob os aspectos literários, artísticos e
científicos, como vem fazendo até aqui, isto é, há 52 anos, sem nenhum bafejo
oficial, mesmo porque a arte e a cultura, infelizmente, são relegadas a segundo
plano pelas forças governamentais. Assim, de acordo com os estatutos, muito
breve, será convocada uma Assembleia Geral Extraordinária, para que seja
atribuída nova estrutura à entidade e eleger uma diretoria provisória, que se
encarregará de dar continuidade ao seu programa associativo e cultural.
N.R.: as declarações contestadas pelo autor deste artigo foram da diretoria da Biblioteca Pública do Paraná”.
N.R.: as declarações contestadas pelo autor deste artigo foram da diretoria da Biblioteca Pública do Paraná”.
Os
anos passaram e Vasco Taborda, já idoso, faleceu em 1997. O tempo encarregou-se
de desmentir a opinião “levianamente suscitada” – como escreveu Nelson Saldanha
d’Oliveira – por aquela antiga diretora da Biblioteca Pública do Paraná. O tempo
é testemunha: no próximo ano, 2018, a Academia de Letras José de Alencar
completará o 80º aniversário de gloriosa caminhada, agora sediada no magnífico Palacete dos Leões.
No Centro de Letras do Paraná
Há
anos a Academia estava já instalada no Centro de Letras do Paraná, porém por
falta de espaço naquela instituição, os livros permaneceram na residência do
finado presidente. Ao terminar a gestão do sucessor Nelson Saldanha, assumiu a
presidência da ALJA o professor Arioswaldo Trancoso Cruz. Muitos anos haviam
transcorrido desde a morte de Vasco Taborda. É óbvio que passado tanto tempo,
seria estranho que a Academia fosse reclamar aos herdeiros do antigo presidente
a posse daquele acervo.
A
meu ver o presidente Arioswaldo tomou uma decisão diplomática e elegante: virou
a página da história e começou a formar uma nova biblioteca para a Academia,
abrigando os volumes em sua própria residência.
A Academia no Centro de Letras e a
questão financeira
Durante
muitos anos a ALJA realizou seus encontros mensais no Centro de Letras do
Paraná, bem como as reuniões festivas de fim de ano que incluíam a cerimônia de
posse aos novos membros da confraria.
No
começo do ano de 2014 esboçou-se uma crise financeira na Academia de Letras
José de Alencar: os preços cobrados pelo Centro de Letras para o uso dos seus espaços
tornaram-se pesados e praticamente proibitivos. Como é de conhecimento geral, a
única fonte de renda das diversas Academias de Letras brasileiras é, via de
regra, nada mais do que a taxa de anuidade devida pelos seus associados... que
são recursos discretos, muito pequenos.
Numa
das reuniões mensais, o presidente Arioswaldo debateu a questão com sua
diretoria e demais membros do sodalício, que reconheceram a necessidade de a
ALJA deixar de usar os espaços do Centro de Letras, e decidiu-se que todos
ajudariam a encontrar um local que fosse menos dispendioso para a realização
das futuras reuniões mensais.
Eu
mesmo, para ajudar a resolver o problema da Academia, ofereci o espaço da sala
principal da minha residência que poderia acomodar confortavelmente os
participantes das reuniões mensais, obviamente sem eu nada cobrar da nossa confraria,
até que um local melhor e definitivo fosse encontrado. O oferecimento foi bem
aceito pelos presentes; entretanto, poucos dias depois, o colega acadêmico
Celso Portugal conseguiu o espaço franqueado do Palacete dos Leões, assim
resolvendo brilhantemente o momentâneo problema da ALJA.
As
diretorias do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul sucedem-se e os
novos dirigentes têm sempre se mostrado receptivos à confraria como, por
exemplo, quando o atual superintendente do BRDE, Paulo César Starke Júnior,
compareceu a uma das recentes reuniões em agosto último, com palavras de
boas-vindas e de solidariedade aos acadêmicos, como se vê na foto abaixo:
A partir da esquerda, em pé: Paulo César Starke Júnior, Anita Zippin, Josane Cavallin e Sandra Moreira Oliveira. Sentados: Arioswaldo Trancoso Cruz, Valter Cardoso, Keetrin Oliveira, Rubens Faria Gonçalves, Dione Mara Souto da Rosa, Rafael Golob e Francisco Souto Neto.
A nova biblioteca
O
presidente Arioswaldo continuou ampliando em sua casa a biblioteca da ALJA, e
zelando por ela.
Em
2014 Arioswaldo precisou ausentar-se durante algum tempo para tratar de
assuntos de saúde, e então Anita Zippin assumiu a presidência da instituição,
passando ele a ocupar a vice-presidência, cumulando o cargo de presidente de
honra. Logo depois, inteiramente restabelecido, Arioswaldo continuou zelando
pela biblioteca da ALJA, cujo acervo alcança o notável número de 1.200 títulos
neste corrente mês de outubro de 2017.
Organizado
e dirigente que é, Arioswaldo Trancoso convidou a todos os colegas acadêmicos
para uma recepção em sua residência no dia 19 do corrente, com a finalidade de
“apresentar-lhes a biblioteca da ALJA”. Recepcionados por ele e sua esposa Yara
com toda a simpatia que é peculiar ao casal, compareceram os seguintes colegas acadêmicos:
Alberto Gomes, Alberto Vellozo Machado, a presidenta Anita Zippin (com o marido
Geraldo Fuchs), Celso de Macedo Portugal (com a esposa Maria Helena), Francisco Souto Neto,
Josane Cavallin e Rubens Faria Gonçalves.
O acervo
da biblioteca tem temática eclética, embora acentuadamente paranista. Da antiga
biblioteca, Arioswaldo – memorialista que é – conseguiu manter os títulos de
algumas estantes, perpetuados em placas bronze, que levam os nomes de Manoel
Luiz de Matos, Newton Sampaio, Pedro Saturnino, Rachel Prado, expoentes da
história da ALJA, e Moysés Lupion, um dos governadores (este em seu primeiro
mandato de 1947 a 1951) homenageados pela Academia de Letras.
Num
breve discurso, Arioswaldo Trancoso Cruz observou, dentre outros, que a
Academia de Letras continuará orientada na busca de um local para sua sede
própria, quando a biblioteca poderá ser instalada também nesse local
definitivo. Num gesto simbólico, o véu que encobria o acervo foi descerrado
pela presidenta Anita Zippin na
companhia de Celso Portugal e do próprio Arioswaldo, e os livros expostos e
verificados por todos, enquanto serviam-se aos convivas as delícias culinárias preparadas
por dona Yara.
Uma
noite memorável para os anais da Academia. Abaixo, algumas fotografias do
evento:
-o-
Excelente reportagem, confrade. É um grande estímulo ao resgate histórico das atividades acadêmicas, bem como de suas permanentes lutas em prol da cultura paranaense de orientação paranista. Parabéns. Forte abraço do Arioswaldo.
ResponderExcluirReportagem consistente graças a membros da ALJA como você, estimado colega acadêmico Arioswaldo, que é um memorialista de primeira linha. Parabéns pelo estímulo que você representa.
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