segunda-feira, 27 de março de 2017

ALUMINOSA, A CIDADE DO FIM DO MUNDO por FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI.


O Profeta de Aluminosa, a Cidade do Fim do Mundo.

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Iza Zilli

 
Comendador Francisco Souto Neto

Aluminosa, a Cidade do Fim do Mundo
Francisco Souto Neto

Eu chamo de “tempos heroicos” àqueles idos da década de 70, quando eu era inspetor do Banco do Estado do Paraná, o Banestado. Eu viajava de ônibus aos mais remotos rincões do nosso Paraná, quando aqui existiam somente três rodovias asfaltadas: Curitiba a Paranaguá, Curitiba a Foz do Iguaçu e Curitiba a Londrina e Maringá, as duas últimas passando por Ponta Grossa. No restante, as estradas se resumiam a poeira na estiagem e a veículos encalhados na chuva.

O extinto banco oficial do Paraná não só apoiava o desenvolvimento do Estado, como também tinha uma relevante função social. Por isso, eram instaladas agências até em cidades – melhor seria chamá-las “povoados” – insignificantes. Na função de inspetor, conheci muitos desses lugares onde ocorreram histórias que, se narradas, até Deus duvidaria.

Em setembro de 1975 fui designado para inspecionar a agência de Colorado, no extremo norte paranaense. Era uma localidade minúscula, mas muito simpática, diferente de outros lugares absolutamente detestáveis que contavam com hotéis de madeira dotados de um único banheiro coletivo. Lembro-me vagamente do gerente e dos poucos funcionários da agência de Colorado, solícitos e atenciosos. Um deles, Florêncio Corrêa, falou-me a respeito de um cidadão muito conhecido em Colorado, que era então considerado um misto de profeta e louco, e que em suas terras estava construindo uma estranha cidade mística, chamada “Aluminosa” que seria, segundo ele, o único lugar do mundo que estaria imune do fogo do Apocalipse que haveria de destruir o restante do planeta. Por isso, Aluminosa era chamada também de “Cidade do Apocalipse” e “Cidade do Fim do Mundo”.

No sábado, dia de folga, meu colega do Banestado levou-me para conhecer o lugar. Entrava-se em Aluminosa passando-se sob um arco rústico com inscrições que alardeavam ser aquele o local sagrado imune à grande catástrofe. Uma dessas inscrições indicava que o mundo ao redor de Aluminosa seria consumido pelo fogo às quatro horas da tarde do dia 28 de dezembro de 1999.

Fomos recebidos pelo Profeta – assim ele gostava de ser tratado – que se chamava José de Freitas Miranda. Embora tivessem me prevenido de que o Profeta não gostava de visitantes, ele recebeu a mim e a meu colega bancário com muita gentileza e fez questão de nos acompanhar enquanto explicava o significado das torres de tijolos e cimento, casas, portais, capela, santuário e outros símbolos que se espalhavam por Aluminosa.

FOTO 1 – Entrada da propriedade do Profeta, Aluminosa, que contava até com uma capela.

FOTO 2 – Os vários portais de Aluminosa, a Cidade do Fim do Mundo.

 
FOTO 3 – Um dos principais portais de Aluminosa. Ampliando-se a foto vê-se à esquerda o poste com o sino que badalaria no Dia do Apocalipse.

 
FOTO 4 – Duas das muitas estátuas que eram autorretratos do Profeta.

FOTO 5 – Francisco Souto Neto segurando a mão de uma das estátuas.

 
FOTO 6 – Francisco Souto Neto em frente ao arco de uma das entradas para Aluminosa, a Cidade do Apocalipse.

 
FOTO 7 – Francisco Souto Neto no telhado de uma das casinhas, entre duas estátuas esculpidas pelo Profeta.

 
FOTO 8 – Aspectos de Aluminosa cheia de estranhos engenhos.

 
FOTO 9 – Ampliando-se a fotografia, vê-se com mais detalhes a variedade de engenhos espalhados pelas praças de Aluminosa.

Por toda parte, nas ruas, em terraços, em nichos, viam-se estátuas em tamanho natural, de cimento, todas moldadas com os traços do Profeta, cujos olhos brilhavam como bolas de gude. Eram inúmeras essas estátuas. Ele levou-nos ao porão de uma das casas, para mostrar-nos onde estavam enfileiradas outras dezenas e dezenas de estátuas à feitas à sua imagem, que seriam distribuídas por Aluminosa, à medida em que esta fosse sendo edificada.

Senti-me fascinado pela rústica e estranha Aluminosa, uma cidade fantasma de pequenas casas inabitadas e monumentos inconcebíveis, um verdadeiro desvario arquitetônico bizarro, mas cheio de criatividade. De fato, talvez levado pelo fascínio daquele estranho lugar, cheguei a ver algo de poético naquelas frágeis edificações.

Meu colega do banco contou-me que o Profeta começara a construir Aluminosa na década de 50, dentro da fazenda de sua família. Dizia ele estar seguindo as ordens de Deus, com quem acreditava dialogar no meio da noite, sentado fora de casa, na soleira da porta, com uma toalha na cabeça. Acreditava também falar com Nossa Senhora de Aparecida, com anjos e com os espíritos, e que o assunto versava sempre sobre o fim do mundo que estaria próximo. O Profeta afirmava que com o planeta destruído pelo Apocalipse, Aluminosa seria um novo início da Civilização.

FOTO 10 – Dentro do nicho, mais uma escultura do Profeta, que aqui posa ao lado do visitante Francisco Souto Neto. 

Ontem, revendo meu antigo álbum de fotografias, encontrei os registros que fiz de Aluminosa, após 42 anos sem notícias daquele lugar místico. Procurei na internet e encontrei uma notícia publicada no jornal O Diário, de Maringá, de 19 de outubro de 2014, assinada pelo jornalista Luiz de Carvalho, contando que o Profeta ficou cego em 1975, justamente no ano em que estive na Cidade do Fim do Mundo, e sem poder prosseguir na construção, ele passou a percorrer as obras apoiando-se numa bengala. Faleceu em 1994, a fazenda foi vendida pelos descendentes dele e de seus irmãos, e Aluminosa foi logo destruída para dar lugar a uma plantação de milho e soja.

O pobre Profeta teve seus sonhos destruídos e as autoridades municipais, insensíveis, perderam a oportunidade de preservar a Cidade do Fim do Mundo que poderia ter-se tornado uma atração turística em Colorado. Mas reportagem de O Diário termina revelando que, felizmente, um painel com fotografias de Aluminosa e algumas das estátuas esculpidas pelo Profeta encontram-se preservadas no Museu Histórico de Colorado.

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OBSERVAÇÃO

SE ALGUÉM TIVER CURIOSIDADE SOBRE MINHAS PERIPÉCIAS NO TEMPO EM QUE FUI INSPETOR DO BANESTADO, ENCONTRARÁ ABAIXO O LINK PARA O TEXTO "DURA VIDA DE INSPETOR", COM O QUAL CONCORRI NUM CONCURSO LITERÁRIO E FUI PREMIADO:


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Um comentário:

  1. Eu conheci essas construções e é uma pena elas terem sido destruídas, pois fazem parte da hiatoria de colorado.

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