O Profeta de Aluminosa, a Cidade do Fim do Mundo.
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Comendador Francisco
Souto Neto
Aluminosa, a Cidade do Fim do Mundo
Francisco Souto Neto
Eu chamo de “tempos heroicos” àqueles idos da
década de 70, quando eu era inspetor do Banco do Estado do Paraná, o Banestado.
Eu viajava de ônibus aos mais remotos rincões do nosso Paraná, quando aqui
existiam somente três rodovias asfaltadas: Curitiba a Paranaguá, Curitiba a Foz
do Iguaçu e Curitiba a Londrina e Maringá, as duas últimas passando por Ponta
Grossa. No restante, as estradas se resumiam a poeira na estiagem e a veículos
encalhados na chuva.
O extinto banco oficial do Paraná não só apoiava o
desenvolvimento do Estado, como também tinha uma relevante função social. Por
isso, eram instaladas agências até em cidades – melhor seria chamá-las
“povoados” – insignificantes. Na função de inspetor, conheci muitos desses
lugares onde ocorreram histórias que, se narradas, até Deus duvidaria.
Em setembro de 1975 fui designado para
inspecionar a agência de Colorado, no extremo norte paranaense. Era uma
localidade minúscula, mas muito simpática, diferente de outros lugares absolutamente
detestáveis que contavam com hotéis de madeira dotados de um único banheiro coletivo.
Lembro-me vagamente do gerente e dos poucos funcionários da agência de Colorado,
solícitos e atenciosos. Um deles, Florêncio Corrêa, falou-me a respeito de um cidadão muito
conhecido em Colorado, que era então considerado um misto de profeta e louco, e que em suas terras estava construindo uma estranha cidade mística,
chamada “Aluminosa” que seria, segundo ele, o único lugar do mundo que estaria
imune do fogo do Apocalipse que haveria de destruir o restante do planeta. Por
isso, Aluminosa era chamada também de “Cidade do Apocalipse” e “Cidade do Fim
do Mundo”.
No sábado, dia de folga, meu colega do
Banestado levou-me para conhecer o lugar. Entrava-se em Aluminosa passando-se
sob um arco rústico com inscrições que alardeavam ser aquele o local sagrado imune
à grande catástrofe. Uma dessas inscrições indicava que o mundo ao redor de
Aluminosa seria consumido pelo fogo às quatro horas da tarde do dia 28 de
dezembro de 1999.
Fomos recebidos pelo Profeta – assim ele
gostava de ser tratado – que se chamava José de Freitas Miranda. Embora
tivessem me prevenido de que o Profeta não gostava de visitantes, ele recebeu a
mim e a meu colega bancário com muita gentileza e fez questão de nos acompanhar
enquanto explicava o significado das torres de tijolos e cimento, casas,
portais, capela, santuário e outros símbolos que se espalhavam por Aluminosa.
FOTO 1 – Entrada da propriedade do
Profeta, Aluminosa, que contava até com uma capela.
FOTO 2 – Os vários portais de
Aluminosa, a Cidade do Fim do Mundo.
FOTO 3 – Um dos principais portais
de Aluminosa. Ampliando-se a foto vê-se à esquerda o poste com o sino que
badalaria no Dia do Apocalipse.
FOTO 4 – Duas das muitas estátuas
que eram autorretratos do Profeta.
FOTO 5 – Francisco Souto Neto
segurando a mão de uma das estátuas.
FOTO 6 – Francisco Souto Neto em
frente ao arco de uma das entradas para Aluminosa, a Cidade do Apocalipse.
FOTO 7 – Francisco Souto Neto no
telhado de uma das casinhas, entre duas estátuas esculpidas pelo Profeta.
FOTO 8 – Aspectos de Aluminosa cheia
de estranhos engenhos.
FOTO 9 – Ampliando-se a fotografia,
vê-se com mais detalhes a variedade de engenhos espalhados pelas praças de
Aluminosa.
Por toda parte, nas ruas, em terraços, em
nichos, viam-se estátuas em tamanho natural, de cimento, todas moldadas com os
traços do Profeta, cujos olhos brilhavam como bolas de gude. Eram inúmeras essas
estátuas. Ele levou-nos ao porão de uma das casas, para mostrar-nos onde
estavam enfileiradas outras dezenas e dezenas de estátuas à feitas à sua imagem,
que seriam distribuídas por Aluminosa, à medida em que esta fosse sendo
edificada.
Senti-me fascinado pela rústica e estranha
Aluminosa, uma cidade fantasma de pequenas casas inabitadas e monumentos inconcebíveis,
um verdadeiro desvario arquitetônico bizarro, mas cheio de criatividade. De
fato, talvez levado pelo fascínio daquele estranho lugar, cheguei a ver algo de
poético naquelas frágeis edificações.
Meu colega do banco contou-me que o Profeta
começara a construir Aluminosa na década de 50, dentro da fazenda de sua
família. Dizia ele estar seguindo as ordens de Deus, com quem acreditava
dialogar no meio da noite, sentado fora de casa, na soleira da porta, com uma
toalha na cabeça. Acreditava também falar com Nossa Senhora de Aparecida, com
anjos e com os espíritos, e que o assunto versava sempre sobre o fim do mundo
que estaria próximo. O Profeta afirmava que com o planeta destruído pelo
Apocalipse, Aluminosa seria um novo início da Civilização.
FOTO 10 – Dentro do nicho, mais uma
escultura do Profeta, que aqui posa ao lado do visitante Francisco Souto Neto.
Ontem, revendo meu antigo álbum de
fotografias, encontrei os registros que fiz de Aluminosa, após 42 anos sem
notícias daquele lugar místico. Procurei na internet e encontrei uma notícia
publicada no jornal O Diário, de Maringá, de 19 de outubro de 2014, assinada
pelo jornalista Luiz de Carvalho, contando que o Profeta ficou cego em 1975,
justamente no ano em que estive na Cidade do Fim do Mundo, e sem poder
prosseguir na construção, ele passou a percorrer as obras apoiando-se numa bengala.
Faleceu em 1994, a fazenda foi vendida pelos descendentes dele e de seus
irmãos, e Aluminosa foi logo destruída para dar lugar a uma plantação de milho
e soja.
O pobre Profeta teve seus sonhos destruídos e
as autoridades municipais, insensíveis, perderam a oportunidade de preservar
a Cidade do Fim do Mundo que poderia ter-se tornado uma atração turística em Colorado. Mas reportagem
de O Diário termina revelando que, felizmente, um painel com fotografias de
Aluminosa e algumas das estátuas esculpidas pelo Profeta encontram-se
preservadas no Museu Histórico de Colorado.
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OBSERVAÇÃO
SE ALGUÉM TIVER CURIOSIDADE SOBRE MINHAS PERIPÉCIAS NO TEMPO EM QUE FUI INSPETOR DO BANESTADO, ENCONTRARÁ ABAIXO O LINK PARA O TEXTO "DURA VIDA DE INSPETOR", COM O QUAL CONCORRI NUM CONCURSO LITERÁRIO E FUI PREMIADO:
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OBSERVAÇÃO
SE ALGUÉM TIVER CURIOSIDADE SOBRE MINHAS PERIPÉCIAS NO TEMPO EM QUE FUI INSPETOR DO BANESTADO, ENCONTRARÁ ABAIXO O LINK PARA O TEXTO "DURA VIDA DE INSPETOR", COM O QUAL CONCORRI NUM CONCURSO LITERÁRIO E FUI PREMIADO:
Eu conheci essas construções e é uma pena elas terem sido destruídas, pois fazem parte da hiatoria de colorado.
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