quinta-feira, 30 de março de 2017

O QUE FOI O PROGRAMA DE CULTURA DO BANESTADO - APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA por FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI.


PORTAL IZA ZILLI
- O maior portal de comunicação social do Paraná -



Iza Zilli

 
Comendador Francisco Souto Neto

O que foi o Programa de Cultura do Banestado:
apontamentos para a História

Francisco Souto Neto


FOTO 1 – Francisco Souto Neto em 1975, quando foi convidado por Paulo Schultz Filho para deixar a inspetoria do Banestado e assumir o cargo de Assessor na Direção Geral, e logo em seguida o cargo de confiança de Assessor de Diretor.

          Após o longo período da ditadura, quando os governadores eram impostos pelo Regime Militar através das “eleições indiretas”, o primeiro eleito no Paraná em sufrágio universal foi José Richa, que assumiu em 15 de março de 1986. Na composição da nova diretoria do Banestado, ele levou Léo de Almeida Neves à presidência da instituição, e indicou seu amigo Octacílio Ribeiro da Silva para o cargo de diretor de Crédito Rural e Agroindustrial. Eu, que já era assessor daquela diretoria desde os tempos do Governo Jayme Canet Júnior, fui mantido no cargo.

FOTO 2 – Dr. Paulo Schultz Filho (sentado ao lado de Adão Vilmar de Oliveira) foi o criador da Carteira Rural do Banestado, isto é, o enorme complexo que deu origem à Diretoria de Crédito Rural e Agroindustrial. Em pé: Laertes e Waltenir Pereira Porto, quando a diretoria do Banestado funcionava na Rua Monsenhor Celso, a poucos metros da Praça Carlos Gomes.

Afortunadamente a Carteira Rural, criada por Paulo Schultz Filho, tornara-se um exemplo de trabalho sério e disciplinado, que servia de modelo para inúmeros outros bancos e era respeitada e enaltecida pelo Banco Central do Brasil. Os antecessores de Octacílio Ribeiro naquela diretoria, desde Mário Saporiti e Ivo Meirelles de Almeida (governo Jayme Canet Júnior) a Lourival Guebert (governos Nei Braga e José Hosken de Novais), tinham sido muito sérios e capazes, e deixaram a diretoria perfeitamente organizada, sem ingerências de políticos, num patamar altamente elogioso.

FOTO 3 – Diretor Ivo Meirelles de Almeida, durante o Governo Jayme Canet Júnior (1975-1979), o primeiro diretor a quem Francisco Souto Neto assessorou no Banestado.

 
FOTO 4 – Diretor Lourival Guebert, a quem Souto Neto assessorou durante os Governos Ney Braga (1979-1982) e José Hosken de Novais (1982-1983).

FOTO 5 – A foto deste imbróglio foi tirada por Francisco Souto Neto na Av. Cândido de Abreu esquina com Rua Comendador Fontana no fim de 1983, que mostra o grau de violência entre governadores e candidatos a governador, envolvendo (em ordem de aparição dos nomes) José Richa, Álvaro Dias, Ney Braga, Saul Raiz e Jayme Canet Júnior.
                                                                       
       FOTO 6 – Francisco Souto Neto e o diretor Octacílio Ribeiro da Silva, a quem assessorou durante o Governo José Richa (1983-1986), o Governo João Elísio Ferraz de Campos (1986-1987) e durante o primeiro ano do Governo Álvaro Dias (1988-1991).

          Era natural que os diretores do primeiro governo eleito pelo povo chegassem desconfiados, imaginando que o Banestado poderia ser um ninho de víboras. No primeiro encontro que tivemos, Octacílio Ribeiro disse-me: “o senhor fica até que a poeira assente”. Mandou convocar os chefes da Divisão e dos Departamentos para uma reunião “em quinze minutos, sem atrasos”. Nessa reunião o novo diretor esmurrava a mesa com tanta força, que cinzeiros e copos trepidavam. Ele tinha certeza do seu poder e intimidava a todos. A mim, ele falou: “eu sou muito exigente com a Língua Portuguesa”, ao que lhe respondi: “Então nós nos daremos bem, pois eu também sou muito exigente com o idioma pátrio”. E foi o que de fato aconteceu.

FOTO 7 – Três secretárias da diretoria que atuaram em diferentes ocasiões: Cida (Aparecida Cabral), Elzi Zanotto Hohmann e Marlene Jakubiu.

          Com a passagem do tempo, Octacílio Ribeiro percebeu que a Carteira Rural, como era chamada a sua diretoria, funcionava com a precisão de um relógio suíço, e que todos ali trabalhavam com responsabilidade e presteza. Anos depois eu comentei, e isto ficou registrado na imprensa, que aos poucos fui descobrindo que por trás daquele homem carrancudo e furioso existia outro ainda mais forte, dotado de grande cultura e sensibilidade, e pressenti que aquele diretor combativo poderia apoiar a ideia de direcionar o banco para as causas da cultura com argumentos capazes de convencer os seus demais pares de diretoria.

          A primeira ideia partiu de Adão Vilmar de Oliveira, que após a aposentadoria de Paulo Schultz ocupava o cargo de chefe da Divisão de Crédito Rural, e de Elzi Zanotto Hohmann, secretária da diretoria, sugerindo a Octacílio Ribeiro que realizasse uma exposição revelando os artistas plásticos existentes entre os funcionários da empresa. Ampliei a ideia, propondo a criação de um salão de arte que se repetisse anualmente, que seria realizado sem despesas para o banco, porque era possível obter recursos oriundos não apenas da Lei de Incentivo à Cultura, mas também do patrocínio de empresas que seriam beneficiadas com a simples divulgação do evento através da imprensa. Sugeri ainda que o salão de artes plásticas aceitasse inscrições não apenas de funcionários, mas também de correntistas do Banestado, que fossem artistas em fase de desenvolvimento e que ainda não tivessem recebido prêmios em salões oficiais ou de reconhecido nível, caracterizando-se como “artistas inéditos”.

          Pedi ao diretor Octacílio Ribeiro que obtivesse permissão da diretoria para que Tadeu Petrin fosse autorizado a ajudar-me na criação do regulamento do certame, que teria o nome de “Exposição de artistas amadores funcionários e clientes do Banestado”. Com a anuência dos demais diretores, o presidente Léo de Almeida Neves autorizou a realização do certame. Posteriormente, na distribuição dos certificados de participação, o nome do evento foi alterado retroativamente para “1º Salão Banestado de Artistas Inéditos”, o SBAI.

FOTO 8 – Os três premiados no primeiro Salão Banestado de Artistas Inéditos: Heloísa Maria Machado Moreira, Rubens Faria Gonçalves e Dorothy de Souza Rocha, que foram escolhidos por uma comissão julgadora composta por Alberto Massuda, Jair Mendes e Mazé Mendes.

FOTO 9 – Francisco Souto Neto e Tadeu Petrin, organizadores do Salão Banestado, ao lado dos membros da Comissão Julgadora: Mazé Mendes, Jair Mendes e Alberto Massuda.

          O Banestado não tinha um espaço adequado para realizar o evento, por isso a mostra, em novembro e dezembro de 1983, realizou-se no Senac, que cedeu ao Banestado a sala de exposições da sua sede da Rua André de Barros, 750. A inauguração do foi feita por José Brandt Silva, que ocupava o cargo de presidente deixado por Léo de Almeida Neves. O sucesso foi retumbante e todos os jornais de Curitiba, e alguns de Ponta Grossa, Londrina e Maringá, noticiaram o acontecimento, que também repercutiu intensamente nas colunas sociais. Depois disso, na reunião de diretoria com o presidente, todos mostraram-se surpresos com o elogioso marketing realizado ao redor do nome do Banestado. E assim o SBAI continuou se repetindo todos os anos, até 1999, às vésperas da privatização do Banestado, tendo descoberto e projetado miríades de artistas plásticos, muitos dos quais depois tiveram projeção nacional. Em dezesseis anos de retumbante sucesso, a imprensa fez, literalmente, milhares de elogios ao Banestado, que se encontram hoje na internet, digitalizados, uma fonte quase inesgotável de informações.

          No ano seguinte, 1985, o II SBAI ocorreu na Galeria de Arte Banestado, criada por Christóvam Soares Cavalcante, presidente da Banestado Crédito Imobiliário, no andar térreo do prédio que pertencia àquela empresa conglomerada, sito à Rua Marechal Deodoro, 333, mesmo edifício onde funcionava a presidência da BCI. Cavalcanti convidou Vera Munhoz da Rocha Marques para gerir a nova galeria de arte – no que foi coadjuvada por Clarissa Lagarrigue – que funcionava orientada por um competente Conselho Administrativo. Vera Marques era uma respeitada socialite que, a pouco e pouco, transformou a Galeria Banestado num local de encontro de artistas e intelectuais. Grandes nomes como Poty e Dalton Trevisan, dentre outros igualmente importantes, ali se encontravam para ver as obras de quem estivesse expondo, e ficavam a discutir novidades e tendências culturais. Mais tarde foram inauguradas duas outras Galerias de Arte Banestado: uma em Londrina, que era administrada por Sílvia Marconi Pavan, e outra em Ponta Grossa, administrada por Jurandir Modesto e atendida por Leda Veneri.

FOTO 10 – na Galeria de Arte Banestado reuniam-se artistas. Acima, em pé, Francisco Souto Neto entre a fotojornalista Alice Varajão e Marly Meyer de Araújo. Sentados, o artista plástico Poty Lazzarotto e a administradora da galeria, Vera Munhoz da Rocha Marques.

FOTO 11 – Francisco Souto Neto, Assessor para Assuntos de Cultura do Banestado, entre as administradoras da Galeria Banestado: Vera Munhoz da Rocha Marques e Clarissa Lagarrigue.

         A partir de 1985 eu criei a base para a instalação do Programa de Cultura do Banestado. Uma vez mais a ideia foi aprovada por todos os diretores, e Octacílio, por força de uma portaria, recebeu a atribuição de Diretor para Assuntos de Cultura, paralela à de Diretor de Crédito Rural e Agroindustrial, e eu tornei-me, além de Assessor de Diretor, também Assessor para Assuntos de Cultura.

         O Programa de Cultura incorporou o Coral Banestado, que já existia numa das empresas conglomeradas, regido por Amoz Camilo dos Santos, a quem dei condições de se expandir e aperfeiçoar, e liberdade para apresentar-se em eventos públicos e cívicos.

         Constantino Viaro, diretor do Teatro Guaíra, tivera a ideia de dotar cidades do interior do Paraná com teatros, através do seu ambicioso Projeto Barracão. Dei meu parecer favorável e o Banestado apoiou o projeto. Entretanto, sugeri que no contrato constasse a condição de que aqueles espaços fossem registrados com o nome de “Teatro Banestado”. Viaro era o idealizador, mas o Banestado o realizador.

         Em 1986 propus a meu diretor a criação do Museu Banestado. A ideia não era nova, pois outros colegas tinham tentado sem sucesso criar um museu, e até colecionavam peças da história da instituição, tais como móveis que foram usados na primeira agência do Banestado, livros das primeiras atas das assembleias, e muitos objetos, documentos e fotografias. Foram eles Emerson Casseb, Sérgio Figueiredo, José Carlos Carreira Pequeno, Wilson Ganem e José Maria Antônio, dentre outros. O apoio de Aroldo dos Santos Carneiro, diretor de Serviços Administrativos, foi também fundamental para o coroamento do projeto. A Comissão de Implantação do Museu Banestado, por mim presidida, completou-se com Paulo Schultz Filho, Rosane Fontoura, Rodrigo Otávio Collere de Oliveira e Silmara Krainer Vitta.

FOTO 12 – Comissão de implantação do Museu Banestado. Na primeira fila o diretor Octacílio Ribeiro da Silva entre Silmara Krainer Vitta e Rosane Fontoura (da comissão), Atrás: Paulo Schultz Filho e Rodrigo Otávio Collere de Oliveira (membros da comissão) e Francisco Souto Neto (presidente da comissão).

Eu tinha localizado oito telas de Theodoro de Bona retratando os primeiros presidentes do Banestado, que estavam perdidas e danificadas, que mandei restaurar. Em seguida, com o apoio do diretor Octacilio Ribeiro da Silva, mandei completar os retratos em óleo sobre tela de todos os presidentes que se seguiram, pinturas essas que foram feitas por Antonio Macedo e Vilmar Lopes. Acima, as telas em minha casa, antes de receberem as molduras, observadas por mim, por minha mãe Edith Barbosa Souto e por minha sobrinha Dione Mara Souto da Rosa, que segura o chihuahua Quincas Little Poncho. Dei o nome a esta foto de “Reunião com presidentes”.

FOTO 13 – Francisco Souto Neto com sua mãe e sobrinha, em sua casa: “Reunião com presidentes”. Telas de Theodoro de Bona, Antonio Macedo e Vilmar Lopes.

Segundo o jornal Todos Nós nº 114, de maio de 1987, o Museu Banestado foi inaugurado no dia 13 de fevereiro daquele ano, e Rosane Fontoura tornou-se a primeira administradora. Estiveram na inauguração o governador João Elízio Ferraz de Campos, David Carneiro, Celso da Costa Sabóia, Léo de Almeida Neves, José Brandt Silva e muitas outras personalidades.


FOTO 14 – Nicolau Elias Abagge e Francisco Souto Neto descerram a placa inaugural do Museu Banestado.

FOTO 15 – Foto para a imprensa. À esquerda, quase fora da foto, o governador João Elísio Ferraz de Campos e esposa. Ao centro, Octacilio Ribeiro da Silva entre Nicolau Abagge e Finardi. À direita, Francisco Souto Neto.

FOTO 16 – A placa de inauguração do Museu Banestado.

FOTO 17 – Octacilio Ribeiro da Silva discursando na inauguração do Museu Banestado. Ao fundo Wilson Ganem (chefe dos inspetores do Banestado), Francisco Souto Neto, Edith Barbosa Souto com Dione Mara Souto da Rosa (respectivamente mãe e sobrinha de Souto Neto) e Graci Aguiar Trény.

FOTO 18 – Na inauguração do Museu Banestado, a reunião de quatro presidentes: o deputado Léo de Almeida Neves, Dr. Peixoto, José Brandt Silva e Nicolau Elias Abagge.

FOTO 19 – Na inauguração do Museu Banestado, Octacilio Ribeiro da Silva, Nicolau Elias Abagge, Francisco Souto Neto e Aroldo dos Santos Carneiro.

         Como Assessor para Assuntos de Cultura do Banestado, sugeri que editássemos um livro por mês, de autor paranaense, com apoio na Lei Rouanet – portanto sem despesas para o Banco – que seria lançado na Galeria de Arte Banestado, assim mesclando a literatura com as artes plásticas. Tudo ocorria sem ônus para o Banestado, que teve a sua imagem pública enaltecida pelos mais importantes jornais, revistas e jornalistas da época. Autores como Sílvio Back, Anita Zippin, Poty Lazzarotto, Alice Ruiz e Helena Kolody ali lançaram livros, mas o Programa de Cultura apoiou principalmente literatos ainda desconhecidos, sem livros editados até então, porém dotados de grande talento e verve literária.

FOTO 20 – Na Galeria Banestado, Sylvio Back lança um livro e autografa para Francisco Souto Neto.

         O Programa de Cultura do Banestado prestigiava todas as formas da arte: artes plásticas, música, literatura, cinema, teatro. Ao final do governo Richa, Álvaro Dias foi eleito governador. Octacílio Ribeiro, o único diretor do governo anterior mantido no governo eleito, foi convidado para assumir a presidência da Banestado Reflorestadora. Ele convidou-me para continuar a assessorá-lo naquela empresa conglomerada. A competente secretária da diretoria, Marlene Jakubiu, acompanhou-nos.

FOTO 21 – Francisco Souto Neto em seu gabinete de trabalho como Assessor de Diretor da Banestado Reflorestadora. Sobre a mesa de trabalho, um copo de leite...

         Para ocupar a Secretaria de Estado da Cultura, foi convidado René Ariel Dotti. O Paraná iria entrar numa verdadeira “era de ouro” com Dotti capitaneando a cultura do Estado. O Programa de Cultura do Banestado, por mim gerido, continuou não apenas sem interrupção, mas ampliou-se. Realizou-se o IV SBAI com sucesso crescente, porém em março de 1988, ao completar um ano o Governo Álvaro Dias, houve uma grande reformulação política em vários níveis. Octacílio Ribeiro “caiu” do Banestado e foi para uma diretoria regional do Banco do Brasil em Curitiba. Terminava assim a parceria de cinco anos entre mim e aquele diretor idealista e entusiasmado pelo apoio à Cultura.

         Após três dias em meio à “tempestade”, fui chamado pelo vice-presidente do Banestado, Edisson Eleri Faust, que era também presidente da Banestado Crédito Imobiliário, que me convidou a participar da sua assessoria, não mais como assessor pessoal, nem técnico, mas exclusivamente como “Assessor para Assuntos de Cultura”.

Faust resolvera não ocupar o seu gabinete de presidente da BCI no 7º andar do prédio sito à Av. Marechal Deodoro, 333 (em cujo andar térreo funcionava a Galeria de Arte Banestado), mas apenas o gabinete de vice-presidente do Banestado no Conglomerado Financeiro à Rua Máximo João Kopp, no bairro de Santa Cândida. Assim, ofereceu-me o seu gabinete no prédio da BCI, onde estavam locadas a secretária Flávia Moreira Salles e a auxiliar Cecília Maria Palhares.

FOTO 22 – Em 1988 Francisco Souto Neto passa a assessorar Edisson Elleri Faust, vice-presidente do Banco do Estado do Paraná e presidente da Banestado Crédito Imobiliário. No centro da foto, a vereadora Nelly Almeida, tia de Faust.

FOTO 23 – Gabinete de trabalho de Francisco Souto Neto, Assessor para Assuntos de Cultura do Banestado, no 7º andar do prédio à Av. Marechal Deodoro, 333. Sobre a mesa de trabalho, como sempre, um copo de leite...

FOTO 24 – Lembrança de alguns colegas no gabinete de Francisco Souto Neto: Emerson Seraphim, Flávia Moreira Salles, Heron da Luz Trindade, Cláudia, Souto e Cecília Maria Palhares.

         Faust conhecia o Programa de Cultura, pois costumava comparecer a exposições e lançamentos de livros, e deu-me “carta branca” para ampliar as minhas próprias atribuições. A minha primeira proposição foi uniformizar os regimentos internos das Galerias de Arte Banestado de Curitiba, Ponta Grossa e Londrina, todas orientadas por conselheiros compostos de personalidades ligadas à vida cultural de cada uma das cidades. Paralelamente, pedi permissão para estudar as possibilidades de inaugurar novas galerias de arte em Maringá e Cascavel.

         Alguns meses depois, naquele mesmo ano, em meio a uma nova tempestade política, “caiu” Edisson Faust da vice-presidência do Banestado. No dia seguinte fui chamado pelo presidente do Banestado, Carlos Antônio de Almeida Ferreira, para integrar a sua assessoria. “Dr. Almeida”, como passou a ser conhecido, formou uma “dobradinha cultural” com o Secretário de Estado René Ariel Dotti e, nos três anos que se seguiram do Governo Álvaro Dias, o Paraná conheceu um ímpeto cultural jamais antes visto e que nunca mais se repetiria em tal intensidade.

FOTO 25 – Com Carlos Antonio de Almeida Ferreira (homem da confiança de Álvaro Dias), Francisco Souto Neto passa a ser Assessor do Presidente do Banestado, cumulativamente com Assessor para Assuntos de Cultura do Banestado.

         Eu prossegui desenvolvendo o Programa de Cultura do Banestado e instituí um colegiado de experts como componentes de uma “comissão para aquisição de obras de arte”, com o propósito de depurar a compra de telas para as paredes de novas agências. A secretária da presidência da BCI – Banestado Crédito Imobiliário, Flávia Maria Moreira Salles, com sua impecável datilografia, foi um apoio de fundamental importância para que eu pudesse realizar o meu trabalho. O SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos chegou a ocupar o lugar do oficial Salão dos Novos (da Secretaria de Estado da Cultura) nos anos em que este entrou em recesso, e pelo seu alto padrão de excelência foi várias vezes comparado ao Salão Paranaense, segundo registros da imprensa da época, agora digitalizados e na internet.

         Adiante, algumas fotografias feitas em eventos culturais do Banestado:

FOTO 26 – Na inauguração de um Salão Banestado: Francisco Souto Neto (Assessor para Assuntos de Cultura), Carlos Antonio de Almeida Ferreira (Presidente do Banestado), René Ariel Dotti (Secretário de Estado da Cultura), Vera Munhoz da Rocha Marques (administradora da Galeria de Arte Banestado) e Rosane Fontoura (administradora do Museu Banestado).

FOTO 27 – Na inauguração de um Salão Banestado: Francisco Souto Neto, o artista plástico Osmar Chromiec, a jornalista Iza Zilli e mais um artista plástico.

FOTO 28 – Na Galeria de Arte Banestado, a vereadora Nelly Almeida com Francisco Souto Neto, a escritora Anita Zippin e o vereador Jair Cézar.

FOTO 29 – Na Galeria de Arte Banestado, o cronista social Dino Almeida com Francisco Souto Neto.

FOTO 30 – Na Galeria de Arte Banestado, Domício Pedroso, Carlos Antonio de Almeida Ferreira, Francisco Souto Neto, Tereza Koch e Vera Munhoz da Rocha Marques.

FOTO 31 – Na Galeria de Arte Banestado, em lançamento de livro: o reitor da UFPR, o escritor Apollo Taborda Ribas e Francisco Souto Neto.

FOTO 32 – Na Galeria de Arte Banestado: Osmar Chromiec, Álvaro Borges, Heron da Luz Trindade, Francisco Souto Neto e João Osório.

FOTO 33 – Na Galeria Banestado: Vera Munhoz da Rocha Marques, Everly Giller e Francisco Souto Neto.

FOTO 34 – Na Galeria Banestado, a reunião de cinco críticos de arte: Orlando Dasilva, Adalice Araújo, Francisco Souto Neto, Nilza Procopiak e João Henrique do Amaral.

FOTO 35 – Na Galeria Banestado, Francisco Souto Neto com Violeta Franco.

         Ao terminar o Governo Álvaro Dias, Heitor Wallace de Mello e Silva foi indicado pelo novo governador, Roberto Requião, para assumir a presidência do Banestado. Numa cerimônia realizada no Museu Banestado no princípio de 1991, o novo presidente inaugurou o retrato do seu antecessor Dr. Almeida. Em meu discurso, eu informei que me aposentaria dentro de três meses e pedi ao novo presidente Dr. Heitor que mantivesse o Programa de Cultura do Banestado, pela importância que tinha o mesmo no cenário paranaense.

FOTO 36 – Termina o Governo Álvaro Dias e começa o Governo Roberto Requião. Primo do governador, o novo presidente do Banestado é Heitor Wallace de Mello e Silva, que discursa no Museu Banestado, inaugurando o retrato do seu antecessor na Galeria dos Presidentes. Na foto: Dr. Almeida, Dr. Wallace e Francisco Souto Neto

FOTO 37 – No Museu Banestado, ao Dr. Wallace inaugurar o retrato de Dr. Almeida, Francisco Souto Neto discursa e informa que se aposentará nos próximos meses, porque no Banestado todos os funcionários eram obrigados a aposentar-se quando completavam 30 anos de serviços, e pede ao novo presidente do banco que mantenha e incentive o Programa de Cultura do Banestado.

         Ao aposentar-me em junho de 1991, fui sucedido por Tina Camargo, que ficou somente alguns meses no cargo, tendo sido substituída por Maria Amélia Junginger como Assessora para Assuntos de Cultura. Esta realizou um SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos e em 1992 aceitou o convite do governador para dirigir o Museu de Arte Contemporânea, tendo sido substituída como assessora por Vera Munhoz da Rocha Marques, que também realizou um Salão Banestado. Contudo, o Programa de Cultura começava a desabar, principalmente porque no ano seguinte o novo presidente do Banestado, Luiz Antônio Fayet, suspendeu os Salões Banestado e pretendeu transformar a Galeria de Arte num espaço para exposições apenas étnicas. Felizmente a imprensa interveio, assim como alguns políticos, explicando a Fayet a importância daquele espaço destinado às artes plásticas. Desgostosa com os retrocessos, Vera Marques aposentou-se e Domício Pedroso ocupou seu lugar, permanecendo no cargo também por pouco tempo. Mais uma mudança durante o Governo Requião afastou Fayet da presidência do Banestado e colocou Domingos T. Murta Ramalho em seu lugar. A esse tempo, a  Galeria Banestado transformou-se em Espaço Cultural Banestado, atendido por Clarissa Lagarrigue.

         No Governo Jaime Lerner assumiu o posto de responsável pelo novo Espaço Cultural Taís Horbatiuk, que conseguiu realizar o XII e XIII Salões Banestado de Artistas Inéditos e depois foi sucedida por Tânia Dallegrave Góes e Ana Cristina Rank, que inauguraram com sucesso o XIV SBAI em dezembro de 1998. Nesta derradeira edição, fui convidado para atuar como componentes da comissão julgadora ao lado de Dulce Osinski, João Henrique do Amaral, Lirdi Jorge e Nilza Procopiak.

         Em 2000, envolto em terrível escândalo de corrupção, o Banestado foi dolorosamente privatizado por Jaime Lerner, na equivocada campanha de privatizações do presidente Fernando Henrique Cardoso. Lerner, que aspirava candidatar-se à presidência da República, ao concordar com o leilão do Banco oficial do Paraná a preço de banana, viu encerrarem-se as suas pretensões políticas. Terminava a gloriosa caminhada do Banco do Estado do Paraná, que desde 1928 vinha ajudando a desenvolver e construir o “Estado dos pinheirais”, e que nas décadas de 80 e 90 também impulsionou admiravelmente a cultura do Paraná no seu sentido mais amplo.

         As novas gerações já não sabem o que foi e o que significou o Banestado. Mas a grandeza e a dedicação dos que trabalharam na empresa com amor e respeito ficarão perpetuadas nos registros jornalísticos e na internet para as gerações futuras. Todos, dos diretores aos contínuos, são legítimos representantes da instituição que impulsionou o panorama industrial, agrícola e cultural do Paraná, ajudando a prover o nosso Estado dos alicerces que possibilitaram elevá-lo ao estágio em que ora se encontra, motivo de orgulho dos paranaenses e de admiração e respeito de todos os brasileiros.

        Numa exposição que durou dois anos no Museu Oscar Niemeyer (Museu do Olho), de 2015 a 2016, o meu Programa de Cultura foi lembrado em grande estilo, o que poderá ser visto nos links abaixo:





-o-

segunda-feira, 27 de março de 2017

ALUMINOSA, A CIDADE DO FIM DO MUNDO por FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI.


O Profeta de Aluminosa, a Cidade do Fim do Mundo.

PORTAL IZA ZILLI
- O maior portal de comunicação social do Paraná -

Iza Zilli

 
Comendador Francisco Souto Neto

Aluminosa, a Cidade do Fim do Mundo
Francisco Souto Neto

Eu chamo de “tempos heroicos” àqueles idos da década de 70, quando eu era inspetor do Banco do Estado do Paraná, o Banestado. Eu viajava de ônibus aos mais remotos rincões do nosso Paraná, quando aqui existiam somente três rodovias asfaltadas: Curitiba a Paranaguá, Curitiba a Foz do Iguaçu e Curitiba a Londrina e Maringá, as duas últimas passando por Ponta Grossa. No restante, as estradas se resumiam a poeira na estiagem e a veículos encalhados na chuva.

O extinto banco oficial do Paraná não só apoiava o desenvolvimento do Estado, como também tinha uma relevante função social. Por isso, eram instaladas agências até em cidades – melhor seria chamá-las “povoados” – insignificantes. Na função de inspetor, conheci muitos desses lugares onde ocorreram histórias que, se narradas, até Deus duvidaria.

Em setembro de 1975 fui designado para inspecionar a agência de Colorado, no extremo norte paranaense. Era uma localidade minúscula, mas muito simpática, diferente de outros lugares absolutamente detestáveis que contavam com hotéis de madeira dotados de um único banheiro coletivo. Lembro-me vagamente do gerente e dos poucos funcionários da agência de Colorado, solícitos e atenciosos. Um deles, Florêncio Corrêa, falou-me a respeito de um cidadão muito conhecido em Colorado, que era então considerado um misto de profeta e louco, e que em suas terras estava construindo uma estranha cidade mística, chamada “Aluminosa” que seria, segundo ele, o único lugar do mundo que estaria imune do fogo do Apocalipse que haveria de destruir o restante do planeta. Por isso, Aluminosa era chamada também de “Cidade do Apocalipse” e “Cidade do Fim do Mundo”.

No sábado, dia de folga, meu colega do Banestado levou-me para conhecer o lugar. Entrava-se em Aluminosa passando-se sob um arco rústico com inscrições que alardeavam ser aquele o local sagrado imune à grande catástrofe. Uma dessas inscrições indicava que o mundo ao redor de Aluminosa seria consumido pelo fogo às quatro horas da tarde do dia 28 de dezembro de 1999.

Fomos recebidos pelo Profeta – assim ele gostava de ser tratado – que se chamava José de Freitas Miranda. Embora tivessem me prevenido de que o Profeta não gostava de visitantes, ele recebeu a mim e a meu colega bancário com muita gentileza e fez questão de nos acompanhar enquanto explicava o significado das torres de tijolos e cimento, casas, portais, capela, santuário e outros símbolos que se espalhavam por Aluminosa.

FOTO 1 – Entrada da propriedade do Profeta, Aluminosa, que contava até com uma capela.

FOTO 2 – Os vários portais de Aluminosa, a Cidade do Fim do Mundo.

 
FOTO 3 – Um dos principais portais de Aluminosa. Ampliando-se a foto vê-se à esquerda o poste com o sino que badalaria no Dia do Apocalipse.

 
FOTO 4 – Duas das muitas estátuas que eram autorretratos do Profeta.

FOTO 5 – Francisco Souto Neto segurando a mão de uma das estátuas.

 
FOTO 6 – Francisco Souto Neto em frente ao arco de uma das entradas para Aluminosa, a Cidade do Apocalipse.

 
FOTO 7 – Francisco Souto Neto no telhado de uma das casinhas, entre duas estátuas esculpidas pelo Profeta.

 
FOTO 8 – Aspectos de Aluminosa cheia de estranhos engenhos.

 
FOTO 9 – Ampliando-se a fotografia, vê-se com mais detalhes a variedade de engenhos espalhados pelas praças de Aluminosa.

Por toda parte, nas ruas, em terraços, em nichos, viam-se estátuas em tamanho natural, de cimento, todas moldadas com os traços do Profeta, cujos olhos brilhavam como bolas de gude. Eram inúmeras essas estátuas. Ele levou-nos ao porão de uma das casas, para mostrar-nos onde estavam enfileiradas outras dezenas e dezenas de estátuas à feitas à sua imagem, que seriam distribuídas por Aluminosa, à medida em que esta fosse sendo edificada.

Senti-me fascinado pela rústica e estranha Aluminosa, uma cidade fantasma de pequenas casas inabitadas e monumentos inconcebíveis, um verdadeiro desvario arquitetônico bizarro, mas cheio de criatividade. De fato, talvez levado pelo fascínio daquele estranho lugar, cheguei a ver algo de poético naquelas frágeis edificações.

Meu colega do banco contou-me que o Profeta começara a construir Aluminosa na década de 50, dentro da fazenda de sua família. Dizia ele estar seguindo as ordens de Deus, com quem acreditava dialogar no meio da noite, sentado fora de casa, na soleira da porta, com uma toalha na cabeça. Acreditava também falar com Nossa Senhora de Aparecida, com anjos e com os espíritos, e que o assunto versava sempre sobre o fim do mundo que estaria próximo. O Profeta afirmava que com o planeta destruído pelo Apocalipse, Aluminosa seria um novo início da Civilização.

FOTO 10 – Dentro do nicho, mais uma escultura do Profeta, que aqui posa ao lado do visitante Francisco Souto Neto. 

Ontem, revendo meu antigo álbum de fotografias, encontrei os registros que fiz de Aluminosa, após 42 anos sem notícias daquele lugar místico. Procurei na internet e encontrei uma notícia publicada no jornal O Diário, de Maringá, de 19 de outubro de 2014, assinada pelo jornalista Luiz de Carvalho, contando que o Profeta ficou cego em 1975, justamente no ano em que estive na Cidade do Fim do Mundo, e sem poder prosseguir na construção, ele passou a percorrer as obras apoiando-se numa bengala. Faleceu em 1994, a fazenda foi vendida pelos descendentes dele e de seus irmãos, e Aluminosa foi logo destruída para dar lugar a uma plantação de milho e soja.

O pobre Profeta teve seus sonhos destruídos e as autoridades municipais, insensíveis, perderam a oportunidade de preservar a Cidade do Fim do Mundo que poderia ter-se tornado uma atração turística em Colorado. Mas reportagem de O Diário termina revelando que, felizmente, um painel com fotografias de Aluminosa e algumas das estátuas esculpidas pelo Profeta encontram-se preservadas no Museu Histórico de Colorado.

-o-

OBSERVAÇÃO

SE ALGUÉM TIVER CURIOSIDADE SOBRE MINHAS PERIPÉCIAS NO TEMPO EM QUE FUI INSPETOR DO BANESTADO, ENCONTRARÁ ABAIXO O LINK PARA O TEXTO "DURA VIDA DE INSPETOR", COM O QUAL CONCORRI NUM CONCURSO LITERÁRIO E FUI PREMIADO:


-o-