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Iza Zilli
Comendador Francisco
Souto Neto
Fafá de Belém, quem diria, tem me telefonado
Francisco Souto Neto
Ontem Fafá de Belém me telefonou mais uma vez. Sempre achei a cantora
nada menos do que formidável. Grande intérprete! Quem não se lembra dela cantando
para o Papa João Paulo II e quebrando o protocolo para dar um emocionado abraço
ao Sumo Pontífice? Que dizer da sua deliciosa gargalhada? Não há como também
não me referir aos seus exuberantes atributos físicos que fizeram os fãs
apelidarem um carro da Volkswagen de “Fusca Fafá de Belém”, que fez época e se
tornou famoso.
Fafá de Belém
Ah, e certa ocasião, há muitos e muitos anos, quando embarquei num voo
Curitiba – São Paulo, fui procurando pela minha poltrona numerada e... quem diria, avistei a Fafá já sentada num poltrona do corredor sem levantar os olhos
para ninguém. Meu lugar era três filas além. Quase brequei para apreciá-la
melhor, mas me lembrei do que me dissera meu pai: “se você encontrar algum
artista na rua, não o interpele nem o interrompa; respeite a privacidade do
mesmo”. Lembrei-me também de que meu irmão mais velho, certa vez em Nova York,
ao entrar num elevador deu de cara com Maggie Smith. Contava ele que, ao
encará-la, ela baixou os olhos. Então, como todo rapaz bem educado, eu passei
direto pela Fafá como se não a reconhecesse, sem sequer lhe desejar um “bom
dia, dona Fafá”. Depois, já acomodado mais atrás, fui apreciando o topete dos
seus cabelos uns centímetros acima do encosto da poltrona. Fiquei com uma bruta
raiva de não ter tido a sorte de me sentar ao lado da musa.
Fafá de Belém
Mas... como entender essa intimidade com a Fafá, que me telefona sempre
tão bem humorada? Quando eu atendo ao telefone, ouço mais ou menos o seguinte:
“Oi, como vai? Tudo bem com você? [ouve-se a interlocutora gargalhar
inconfundivelmente] Quem está falando sou eu, a Fafá de Belém...”. Trata-se,
obviamente, de uma gravação com a voz da cantora feita por uma empresa para
vender seus produtos.
Agnaldo Rayol
Outros grandes cantores e artistas também nos chamam ao telefone: Agnaldo Rayol, Moacir
Franco... Mas que diabo! Todos eles, Fafá inclusive, fazem isso nos horários
mais impróprios: quando estou concentrado num bom livro, ou no instante em que
assisto a um filme pela televisão, ou quando me encontro num merecido cochilo
após o almoço, ou naquele momento muito impróprio em que estou no banheiro.
Moacir Franco
Se
não forem as vozes dos habituais Fafá, Moacir e Agnaldo, são o Banco Santander,
o Bradesco e outros chatos, oferecendo
cartões de crédito e diversos mimos. Ou é a incansável Legião da Boa Vontade, à
qual sempre digo educadamente que não tenho boa vontade para quem me incomoda
por telefone. Também mais variadas empresas ligam com suas irritantes gravações, uma oferecendo Viagra a preço de banana, outra
até mesmo se propondo a tratar dos meus funerais a custos módicos, e assim por
diante. A mais insistente e incômoda das empresas funerárias chama-se Ômega Assist, à qual já pedi seguidas vezes que retire meu nome de sua lista de pessoas incomodadas, porém seus preguiçosos e desatentos diretores não tomam conhecimento. Ainda bem que não estamos em época de eleições, porque senão eu
incluiria nesta crônica os telefonemas gravados por políticos que nem conheço,
pedindo votos. Observe-se o detalhe: nunca tive e nunca terei um telefone
celular porque gosto mesmo é do meu bom e velho telefone fixo e isto significa
que, para atender a uma ligação, preciso às vezes atravessar a minha casa
inteira.
Isso tudo se traduz em invasão de privacidade. Essas empresas, em vez de
serem apreciadas pelos serviços, mostram-se abusivas, insistentes, atrevidas,
incômodas. A vontade que dá é mesmo a de processá-las para que aprendam a
trabalhar com mais ética e menos invasões aos nossos domicílios. Mas cadê a
nossa sonolenta Justiça para coibir tais abusos? O problema é que a Justiça no
Brasil é tão morosa, tão preguiçosa, que teríamos que esperar por uma solução
munidos da paciência de Jó durante anos a fio.
Será que os artistas mencionados não percebem que as pessoas se irritam
com tal tipo de propaganda? Certamente os honorários que recebem são bem compensadores,
a ponto de eles se submeterem a esse gênero vexatório de trabalho: o de
incomodar pessoas desconhecidas em suas próprias casas. Será que sabem que em
vez de aplaudidos, são xingados? E as demais empresas não sentem vergonha por
não atenderem ao pedido de milhares de pessoas do outro lado da linha que
imploram para não serem incomodadas em casa?
Isso me faz sentir saudade do tempo em que tínhamos listas telefônicas
que eram renovadas anualmente e entregues em nossas casas. Desde a época remota
em que residia em Ponta Grossa, eu proibia os guias telefônicos de reproduzirem
o número do meu aparelho. Só parentes e amigos mais chegados tinham
conhecimento do meu telefone. Era uma tranquilidade!
Atualmente há outro tipo de invasão, que é aquela que vem através da
internet e que enche nossa paciência e a caixa de e-mail com ofertas as mais
indesejáveis, misturadas a armadilhas de hackers.
E a ética dessas empresas, onde é que fica?
Fafá de Belém
Ao encerrar, vou enviar um recadinho à Fafá: “Minha adorada cantora Fafá
de Belém! Por favor, não mande mensagens telefônicas robóticas a seus
admiradores, porque até mesmo fãs, como eu, deixam escapar pesados palavrões
ante tal insistência que se arrasta há anos. Quando você quiser falar comigo,
telefone você mesma para mim, pessoalmente, sem a intermediação dos seus robôs,
que então a ouvirei com grande prazer, e até me atreverei a lhe pedir que cante um pouco para
mim, em capela, o comecinho da canção ‘Vermelho’. Serei capaz de acompanhá-la
em dueto. Com meus abraços e beijos”.
Vai também um recadinho coletivo a todos os demais invasores de privacidade:
“Xô, urubus”!
-o-
Querido Padrinho. Sensacional! Muito bom que não tenha celular, porque senão você teria que aprender, como eu, o recurso de bloquear esses "infames" que ficam enchendo a nossa paciência com ofertas que não se está interessada. Muitas vezes vêm telefonemas de localidades extremas do Brasil. É bem possível que sejam de penitenciárias. Pegando carona no seu texto, eu gostaria mesmo é de receber uma ligação do Brad Pitt, porém, não vislumbro qualquer possibilidade...
ResponderExcluirQuerida Dirosa. Isso mesmo, até de penitenciárias partem agora telefonemas para enganar as pessoas com falsos sequestros. Mas não duvido que de repente Brad Pitt lhe telefone. Por isso, vá aperfeiçoando o seu inglês...
ExcluirÉ isto mesmo,meu querido amigo. Também recebo os tais telefonemas que abomino. Até o Dedé Santana, que eu detesto,tem me oferecido um maravilhoso colchão magnético.juro que se me oferecerem plano funerário vou aceitar, propondo-me a pagar só na hora fatal e com cheque pré datado.
ResponderExcluirConcordo contigo que o celular é criação do capeta. Seria interessantíssimo se fossem utilizados como ferramenta de trabalho e não de chateação.
Parabéns por esse tema, tão "up to date".
Até março. Abração do Ari.
Caríssimo confrade Ari, não há como não rir, agora da sua experiência com esse tipo de telefonema que está se tornando habitual ao nosso cotidiano. Sinal dos tempos...
ExcluirMuito obrigado por ter escrito. Fico feliz por você ter gostado da minha crônica.
Grande abraço.
Prezado Souto! Ao receber seu e-mail, li o título da sua crônica. Confesso que fiquei me perguntando, 'É verdade mesmo que a Fafá de Belen liga para ele?'' Em seguida fiquei presa a leitura, parágrafo por parágrafo, me deliciando com o que você colocou de forma magistral: a invasão da nossa privacidade através do celular ou do telefone fixo que podemos ter em casa ou em nosso local de trabalho. Achei admirável você nào ter um celular! How come?? Fafá de Belem, pena você ligar para a Souto para oferecer merchandising... não sabe o quanto ganharia se batesse aquele papo com o Souto... um grande abraço!
ResponderExcluirOi, querida colega acadêmica Vera Rauta! Ha ha ha ha, é isso mesmo: nunca tive um telefone celular. Já recebi de presente, mas agradeci e devolvi. Para mim, é uma maquininha que mais incomoda do que ajuda, mas não digo “desta água não beberei”, porque poderei, no futuro, mudar de ideia. Obrigado pelos elogios à minha crônica... e por seu “recadinho” para a Fafá. Quem sabe se ela me liga de verdade, ha ha ha...
ExcluirPrezado Souto Neto,
ResponderExcluirCrítica perfeita encaixada em ótima crônica.
Também eu cogito, de vez em quando, abandonar o telefone celular. Nem todas as modernidades chegam para melhorar o viver.
Forte abraço,
Cardoso Filho
Caro confrade!
ExcluirA vida sem excesso de tecnologia me reporta, um pouco, à minha juventude, ao tempo em que descobri a "simplicidade voluntária" de Henry Thoreau.
Muito obrigado pelo elogio à minha crônica, com meu grande abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir02
ResponderExcluirOi, colega João Carlos!
ExcluirComo você me disse que não conseguiu me escrever aqui no meu blog, enviou-me suas palavras através de e-mail. Acabo de ler. Como achei muito divertido o que você me contou, resolvi "copiar" e "colar" o seu texto aqui, o que faço abaixo, com meu muito obrigado e um abraço. Eis o texto do seu e-mail:
"Bom dia Souto. Parabéns, belo relato sobre banalidades.
Quando Moacir Franco me ligou,apesar do susto, ri muito.
Gostaria de nomear outros atores quase robóticos.
São os "extra gentilíssimos" vendedores das Casas Bahia.
Bebel e eu. Antes de finalizarmos nossa compra nos oferecerão a esquisita garantia estendida. Insistiram e nos acuaram para adquirir aquilo.
A cada não,recebíamos um reforço ideológico.
Atuaram como três urubus nos fustigando.
Começamos a rir.
Um paradoxo sem fim.
Minha paciência na esquina.
Vencemos,levamos apenas a copiadora.
Se você algum dia precisar de celular ,vacine-se, eles também vendem.
Até a próxima.
(não consegui responder em seu blog )".
Ha algum tempo atraz,recebi pela segunda vez ,um desses sequestros relampagos, falando de minha filha,foi onde perguntei se meu neto estaria junto ,diante da afirmacao pedi para falar com ele, e consegui, so que nao tenho neto, so netas. Um abraco SOUTO
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