sexta-feira, 20 de maio de 2016

"PERA PALAS OTELI EM ISTANBUL, UM DOS MAIS ICÔNICOS HOTÉIS DO MUNDO: SEUS HÓSPEDES, HISTÓRIAS E LENDAS" por FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI.



Pera Palas Oteli (Pera Palace Hotel Jumeirah), “The Pearl of Istanbul”.

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Iza Zilli


Comendador Francisco Souto Neto

PERA PALAS OTELI EM ISTANBUL, 
UM DOS MAIS ICÔNICOS HOTÉIS DO MUNDO: 
SEUS HÓSPEDES, HISTÓRIAS E LENDAS.

Francisco Souto Neto

Istanbul é a maior cidade da Turquia e a quarta maior do mundo em 2016, que se localiza espalhada em dois continentes, Europa e Ásia, esses dois lados unidos por duas imensas pontes construídas sobre o Estreito de Bósforo. Conhecida como “forjadora de civilizações”, é a antiga Bizâncio até ao ano 330 d.C. e Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente até 1453, quando a cidade caiu em poder dos turcos, o acontecimento histórico que marcou o fim da Idade Média. A partir de então, levou o nome de Istanbul, grafada assim mesmo, com um charmoso “n” antes do “b”.

Pera Palas Oteli

Quando estive em Istanbul hospedei-me no legendário Pera Palas Oteli, ou Pera Palas Hotel Jumeirah – “The Pearl of Istanbul – inaugurado no ano de 1892 com a finalidade de entreter os passageiros que chegavam à Turquia pelo trem Orient Express, e se tornou um ponto de encontro elegante para as celebridades do início do século XX.


FOTO 1 – Pera Palas Oteli (Pera Palace Hotel Jumeirah), “The Pearl of Istanbul”.

FOTO 2 – Entrada do Pera Palas iluminada à noite.

O Pera Palas é hoje classificado como um dos hotéis mais icônicos do planeta. Durante cerca de 70 anos foi o mais importante de Istanbul. Alexander Vallaury, um levantino de origem francesa e residente em Istanbul, foi quem projetou o prédio. Na sua arquitetura, ele mesclou o neoclássico com o art-nouveau e estilos orientais, resultando em um edifício que é típico da arquitetura do século XIX. Os interiores do prédio apresentam um estilo mais oriental. De acordo com esta visão eclética, as citadas linhas art-nouveau são observadas em torno do elevador e na seção do café.

Na época desta viagem, eu usava traje safári em países orientais e africanos. Era a moda.


FOTO 3 – A recepção do Pera Palas.

FOTO 4 – Um dos salões.

FOTO 5 – Ao fundo, a porta de entrada.

FOTO 6 – Salão principal e seu teto.

FOTO 7 – O teto do Pera Palas

FOTO 8 – Rubens Faria Gonçalves e Francisco Souto Neto no salão do Pera Palas.

FOTO 9 – Rubens Faria Gonçalves no salão principal do Pera Palas.

FOTO 10 – Francisco Souto Neto e Rubens Faria Gonçalves no salão do Pera Palas.

Uma das suas atrações Pera Palas é o elevador, todo de ferro trabalhado e vazado, que mais se assemelha a um portal das mil-e-uma-noites. Esse elevador foi o primeiro da Turquia movido a eletricidade. O próprio hotel foi também o primeiro prédio de Istanbul, depois dos palácios otomanos, a receber energia elétrica, e o primeiro hotel da Turquia a oferecer água quente nos banheiros para os hóspedes.

FOTO 11 – Francisco Souto Neto saindo do elevador do Pera Palas.

FOTO 12 – O espaço aberto (sem paredes) do poço do elevador.

FOTO 13 – Rubens Faria Gonçalves na escadaria ao redor do poço aberto do elevador do Pera Palas.

FOTO 14 – O elevador do Pera Palas no andar térreo.

FOTO 15 – O elevador do Pera Palas no 2º andar.

FOTO 16 –  Poço do elevador e escada ao seu redor.

Hóspedes famosos

Para mim, entretanto, a curiosidade maior do Pera Palas consiste nas pessoas famosas que lá se hospedaram, cuja relação completa darei ao final deste artigo. Os apartamentos têm placas de bronze nas portas, gravadas com os nomes das celebridades que ali dormiram. É divertido percorrer os corredores, o que fiz com meu companheiro de viagem Rubens Faria Gonçalves, filmando as placas fixadas nas portas dos quartos. Encontramos nomes de Greta Garbo, Ernest Hemingway, Jacqueline Kennedy Onassis, Zsa Zsa Gabor, além de presidentes, príncipes, sultões. Até a espiã Mata Hari hospedou-se ali. O mais famoso apartamento está localizado no corredor dos fundos. Trata-se do Agatha Christie Room, transformado num pequeno museu, onde a conhecida escritora viveu durante alguns meses e ali escreveu um dos seus romances mais famosos: “Assassinato no Orient Express”. Há mais um “quarto-museu” no hotel, que hospedou Ataturk. Estes dois mencionados, os quartos de Agatha Christie e de Ataturk, não recebem hóspedes, ao contrário de todos os demais quartos (“rooms”) do hotel. Eu e meu amigo ficamos hospedados no Trotsky Room (Leon Trotsky foi político, intelectual marxista, escritor e revolucionário bolchevique), um quarto espaçoso e bonito, com vista para a Ponte Gálata, dotado de um banheiro tão antigo, mas muito bem conservado, que parecia não ter sido reformado desde que foi ocupado pelo famoso líder soviético. Eu, particularmente, acharia muito divertido se tivéssemos ficado no quarto de Greta Garbo, ou de Rita Hayworth ou mais ainda de Zsa Zsa Gabor, mas infelizmente estes já estavam ocupados por outros felizes turistas.

No famoso livro As Neves do Kilimanjaro, escrito por Ernest Hemingway (que foi um filme lançado em 1952 com Gregory Peck, Susan Hayward e Ava Gardner, e que teve um “remake” em 2011), o personagem principal, o escritor Harry, permanece no Pera Palas enquanto servia nas forças armadas durante a ocupação aliada de Istanbul na I Guerra Mundial.

Outro livro importante que cita o hotel foi escrito em 1969 por Graham Greene, em que o personagem Henry e sua tia Augusta Bertram hospedam-se no Pera Palas durante sua aventura em Istanbul. 

O mais famoso dos livros vinculados ao hotel é “Assassinato no Oriente Express”, que Agatha Christie escreveu em 1934 enquanto residiu por alguns meses no Pera Palas. Como disse antes, seu quarto é mantido como um memorial à autora... um “mini-museu”.

Há muitas fofocas sobre o que teria acontecido sob os lençóis do Pera Palas, e uma delas é a de que Ataturk, presidente e criador da Turquia moderna, teria tido ali um tórrido romance com Zsa Zsa Gabor.

Liteiras para os hóspedes

Nem todos colocavam os pés no chão nos primeiros anos do Pera Palas, no século XIX, quando ainda não existiam automóveis. O transporte de pessoas fazia-se na “sedan chair”, ou seja, uma liteira, no Oriente designada como palanquim, que é uma cadeira portátil, neste caso coberta e fechada, com porta e janelas envidraçadas, suportadas por duas vigas laterais.

FOTO 17 – Liteira para transporte de hóspedes no século XIX, em exposição no Pera Palas Oteli.

FOTO 18 – Turcos transportando hóspede do Pera Palas em liteira.

FOTO 19 – Desenho de carregadores de liteira transportando cavalheiro em Istanbul.

As elegantes “sedan chairs” do Pera Palas eram carregadas por musculosos funcionários para transportar passageiros que chegavam à estação ferroviária Sirkeci pelo Orient Express. Uma delas está exposta no canto de um dos salões do hotel. Na metade do século XX, carros “último tipo” de propriedade do Pera Palas, faziam as transferências para o aeroporto, pois os hóspedes passaram a preferir as viagens aéreas. Atualmente um Plymouth sedã marrom 1949 fica estacionado na porta do hotel, lembrando os anos dourados.

FOTO 20 – Entrada do Pera Palas com um Plymouth 1949 à porta.

Fizemos muitos passeios por Istanbul, mas o filme que estou anexando a este artigo, com 9 minutos de duração, foi todo feito dentro do Pera Palas, com destaque às placas nas portas dos quartos com os nomes das personalidades muito importantes que ali se hospedaram. Essas cenas internas são meio escuras, porque em 1991 filmava-se com câmeras VHS que não tinham a potência em visibilidade das modernas câmeras digitais. Eis o filme:


Hóspedes notáveis

Esta é a relação das pessoas muito importantes que se hospedaram no Pera Palas Oteli: Rei Edward VIII, Rainha Elizabeth da Áustria, Imperador Franz Joseph, Rei Nicolas de Montenegro, Rei Vittorio Emmanuelle III da Itália, Xá da Pérsia Reza Pahlevi, Rei Ferdinand da Bulgária, Presidente Kemal Ataturk, Leon Trostky, Winston Churchill, Marechal Tito da Iugoslávia, Presidente Valéry Giscard d’Estaing, Greta Garbo, Rita Hayworth, Alfred Hitchcock, Zsa Zsa Gabor, Ernest Hemingway, Agatha Christie, Josephine Baker, Sarah Bernhardt, Jacqueline Kennedy Onassis, Gilbert Bécaud, Julio Iglesias, Mata Hari, Mikis Theodorakis... e outros.

FOTO 21 – Alguns dos hóspedes famosos do Pera Palas.

FOTO 22 – Francisco Souto Neto na porta do quarto que hospedou Leon Trotsky.

FOTO 23 – Francisco Souto Neto no seu quarto, que foi anteriormente ocupado por Trotsky.

Istanbul é uma cidade fascinante, com mesquitas, palácios e com sua poderosa História, que é a própria História do Mundo. Mas isto será assunto para outra ocasião.

FOTO 24 – O Pera Palas Hotel Jumeirah em 2016.


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segunda-feira, 16 de maio de 2016

"A PRESIDENTA", UMA QUESTÃO DE SEMÂNTICA... OU UMA PROVA DE BOA OU MÁ EDUCAÇÃO por FRANCISCO SOUTO NETO para o PORTAL IZA ZILLI

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"Presidenta"? Corretíssimo, menos para os ignorantes.

Iza Zilli


Comendador Francisco Souto Neto

“A presidenta”, uma questão de semântica... ou uma prova de boa ou má educação.
Francisco Souto Neto

Causou-me espanto ouvir duas comentaristas políticas que trocavam impressões no Canal Globo News a respeito de Dilma Rousseff no dia em que ocorreu a sua deposição através de impeachment. Eram Eliane Cantanhêde e Cristiane Lôbo. Disse Cantanhêde: “Eu acho horrorosa essa palavra ‘presidenta’ que ‘eles’ usam”. Até aí tudo bem, porque a forma talvez possa parecer estranha para aqueles que se habituaram ao vocábulo “presidente” e que jamais antes, pela leitura, souberam que a palavra “presidenta” é correta e dicionarizada na Língua Portuguesa desde o século XIX. Além disso, é perfeitamente normal que alguém não goste do feminino presidenta, preferindo a presidente. Mas é imperdoável que uma jornalista da Rede Globo seja ignorante quanto a isto. Ao dizer “a palavra que ‘eles’ usam”, deixa claro que ela pensa, como muitos, que a palavra foi inventada por Rousseff e que é uso exclusivo “deles”, os petistas. 



FOTO 1 – A jornalista Eliane Cantanhêde maltratando o idioma português.

Essa mesma jornalista, Eliane Cantanhêde, depois repetiu: “...além disso a, aspas, presidenta, é...(etc.)”. Ainda no mesmo tom de deboche na análise com Cristiane Lôbo, ao evidenciar que colocava aspas na palavra presidenta que escolheu usar jocosamente naquele momento, deixou claro que ela pensa que a palavra está errada, e com isso certamente influenciou milhões de telespectadores ao seu erro perpetrado contra o nosso idioma.

Há anos eu venho publicando artigos em jornais sobre o referido vocábulo, que já era usado por Machado de Assis em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, livro publicado em 1880. No ano de 1991, Nadyegge Almeida (então diretora do Museu de Arte Contemporânea), que com Marisa Villela fundara a Associação dos Amigos do MAC e do MIS aqui em Curitiba, convidou-me para fazer parte da sua primeira diretoria, e trouxe para a presidência a empresária Lylian Tamplim Vargas.


FOTO 2 – Ao centro Nadyegge Almeida, Francisco Souto Neto e Lylian Vargas, ladeados pelos conselheiros João Henrique do Amaral e Rodrigo Wagner de Souza em reunião de trabalho no Museu de Arte Contemporânea.

Na qualidade de diretor-secretário, eu lavrava as atas da Associação, e nestas eu mencionava Lylian Vargas como presidenta da instituição. Lembro-me de que em 1993 Lylian Vargas passou a integrar o conselho consultivo da entidade, que então já se chamava Sociedade dos Amigos dos Museus de Curitiba (Museu de Arte Contemporânea, Museu da Imagem e do Som e Museu Paranaense) e entregou a presidência a Dino Almeida.

FOTO 3 – O diretor-secretário da Sociedade de Amigos dos Museus, Francisco Souto Neto, discursa ao microfone fazendo a transição da presidência de Lylian Vargas para Dino Almeida, estes ladeados pelos conselheiros Maury Rodrigues da Cruz, Nelson Ferri, Antônio Carlos Espíndola Schrega, João Henrique do Amaral, Moysés Paciornik e Jair Mendes.

Eu, mantido na diretoria, fiz o discurso de transição de cargo dos presidentes, cerimônia realizada na Secretaria de Estado da Cultura, e na ocasião referi-me à magnífica gestão exercida “pela presidenta senhora Lylian Vargas”. Empregar-se o vocábulo presidenta era então considerado mais erudito do que a forma presidente, isto apesar de ambas serem corretas, e tanto uma quanto a outra poderiam, como podem, ser usadas ao bel prazer do redator ou orador.

Em 1995 visitei a Islândia, onde pela primeira vez na História tinha sido eleita uma mulher para a presidência de um país em todo o mundo. Nos meus artigos publicados em jornais e revistas sobre a Islândia, referi-me sempre à presidenta daquele país, Vigdís Finnbogadóttir.



FOTO 4 – Vigdís Finnbogadóttir, presidenta da Islândia.

Quando foi eleita Dilma Rousseff para a presidência do Brasil, alguém perguntou-lhe: “A senhora prefere ser tratada por presidente ou presidenta”? Ela respondeu: “Prefiro presidenta”. Eu gostei de ouvi-la dizer isto, pois me pareceu uma escolha erudita.


FOTO 5 – Dilma Rousseff, presidenta do Brasil.

Os seus desafetos na política, entretanto, ignorantes do idioma castiço, acreditaram que a presidenta do Brasil acabava de inventar uma palavra que seria usada unicamente pelos seus sectários políticos ou simpatizantes, e imediatamente começaram a escrever artigos até mesmo acéfalos, que pretenderam desqualificar o vocábulo e a própria presidenta. Cheguei a encontrar um cartaz fotográfico no Facebook, no qual o conhecido professor Ademir Pasquale Cipro Neto aparecia ofendendo a quem usasse a palavra presidenta. No cartaz, estava escrito na foto do professor, como se as palavras fossem dele: “FALOU ‘PRESIDENTA’ JÁ SEI QUE É RETARDADO”. Levei ao conhecimento do conhecido professor, que tem uma conta no Facebook, mas coincidentemente naquele mesmo dia ele já publicara sua opinião sobre o quiproquó: “Ambas as formas, ‘a presidente’ e ‘a presidenta’ são corretas”.

FOTO 6 – O respeitado professor Pasquale.

Naquela ocasião em que o pobre vocábulo era tão desqualificado por pessoas que não tinham nem sequer a boa vontade de consultar um dicionário para tirar a dúvida, escrevi um artigo a que denominei “Quem ainda não recebeu aquele texto cabotino que pretende dar uma ‘belíssima aula’ sobre a palavra ‘presidenta’?”, que em 2013 foi publicado em dois diferentes jornais, e em 2014 reprisado no Jornal Centro Cívico e que pode ser encontrado neste link:


Não posso reclamar: este tornou-se o título com o maior número de acessos no meu blog de crônicas.
FOTO 7 – Coluna de Francisco Souto Neto: “Quem ainda não recebeu aquele texto cabotino que pretende dar uma ‘belíssima aula’ sobre a palavra ‘presidenta’?”. 

Na semana passada, um amigo me mostrou um artigo que encontrou na internet sobre a palavra presidenta, tão interessante principalmente em seus últimos parágrafos, que além de dar, logo abaixo, o seu link, faço questão de também transcrevê-lo na íntegra, porque é melhor do que os textos que eu já escrevi sobre o mesmo assunto.

Quem costuma ter respeito pela Língua Portuguesa encontrará aqui um precioso aliado, e aqueles que não são muito amigos do vernáculo e que pensam que presidenta é invenção de Dilma Rousseff ou do PT, terão a oportunidade de aprender ao menos um pouquinho sobre o nosso tão maltratado idioma pátrio.

O link, elaborado por DICIONARIOEGRAMATICA.COM, de 2 de maio de 2016, é este...


...e esta é a sua transcrição na íntegra:

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FOTO 8 – Ilustração do link DICIONARIOEGRAMATIVA.COM

“Presidenta” é mais antigo e tradicional em português do que “a presidente”


A palavra “presidenta” é feminino correto para “presidente, aceito por todas as gramáticas e presente em dicionários portugueses há séculos. Hoje, “a presidente” é considerada igualmente correto, mas a verdade é que “a presidenta” é forma muito mais antiga e tradicional na língua portuguesa do que “a presidente”.

A palavra presidenta está hoje em todas as gramáticas e dicionários portugueses e brasileiros. Gramáticos contemporâneos, como o professor Pasquale (vejam aqui) concordam: “pode-se dizer a presidente ou a presidenta”.

As gramáticas portuguesas e brasileiras tradicionais – como a Nova Gramática do Português Contemporâneo, do brasileiro Celso Cunha e do português Lindley Cintra, ou a Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara – também concordam: “Quanto aos substantivos terminados em -e, uns há que ficam invariáveis (amante, cliente, doente, inocente), outros formam o feminino com a terminação em “a”: alfaiata, infanta, giganta, governanta, parenta, presidenta, mestra, monja. Observação: “governante”, “parente” e “presidente” também podem ser usados invariáveis no feminino.”

Presidenta” está no Dicionário Aurélio desde a sua primeira edição, em 1975 (ver aqui); está no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras desde a sua primeira edição, em 1932; no Dicionário da Academia Brasileira de Letras; e estava já no primeiro Vocabulário Ortográfico sancionado pela Academia de Lisboa, de Portugal, em 1912 (o vocabulário integral pode ser acessado aqui).

Presidenta já aparecia também em textos de nossos melhores escritores dois séculos atrás: Machado de Assis, por exemplo, usa “presidenta” em Memórias Póstumas de Brás Cubas, sua obra-prima, publicada em 1881 e disponível gratuitamente aqui.

Anos antes, em 1878, o português O Universo Ilustrado narrava o enterro fictício de uma “presidenta”; em 1851, a Revista Popular de Lisboa  também se referia à “presidenta” de uma reunião.

Ainda em Portugal, podemos encontrar presidenta no primeiro vocabulário oficial da língua portuguesa, elaborado em 1912 por Gonçalves Viana (disponível aqui) .

“Presidenta” está também no vocabulário do português Rebelo Gonçalves (1966), e, desde um século antes, no Dicionário de Português-Alemão de Michaëlis (1876), no de Cândido de Figueiredo (1899), no Dicionário Universal / Texto Editores (1995), na primeira edição do Dicionário Lello (1952) e na primeira edição do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (também de 1952).

Na verdade, ainda antes disso – no ano de 1812 (antes ainda, portanto, da independência do Brasil de Portugal), a palavra “presidenta” já aparece dicionarizada: está no Dicionário de Português-Francês de Domingos Borges de Barros, que viria a ser diplomata e senador. Versão digitalizada do dicionário, de 1812, pode ser acessada aqui.

Por falar em outras línguas: não apenas no francês, mas também nas línguas irmãs do português, o galego e o espanhol,  presidenta é considerado o feminino mais gramaticalmente correto de “presidente”.

A palavra “presidenta” nada tem a ver, portanto, com Dilma Rousseff ou com o PT, e quem se recusa a usar a palavra por achar que é uma invenção recente de petistas está apenas atestando ignorância em relação à língua portuguesa.

Isso porque a forma “a presidenta” é, na verdade, mais antiga e mais tradicional na língua portuguesa que “a presidente”.

Como se pode ver em todos os dicionários e vocabulários oficiais anteriores a 1940 (por exemplo: aquiaquiaquiaquiaquiaqui), até a metade do século passado a palavra “presidente” era considerada substantivo exclusivamente masculino, e “presidenta” era o único feminino aceito para “presidente”.

Em outras palavras: apenas a partir de 1940 a forma “a presidente” passou a ser aceita por gramáticos e dicionaristas portugueses e brasileiros. Ou seja: a palavra “presidenta”, dicionarizada desde 1812, é mais antiga e tradicional em português que a forma neutra “a presidente”, apenas dicionarizada a partir de 1940.

A passagem, no século passado, de presidente” como forma exclusivamente masculina para forma neutra baseou-se no mesmo processo de “neutralização de gênero” pelo qual passaram, e vêm até hoje passando, vários outros substantivos portugueses – como “a parente”, que antes só se dizia “parenta” -, sobretudo profissões – como “a oficial” (que antes só se dizia “oficiala”), “a cônsul” (que antes só se dizia “consulesa”) ou “a poeta” (que antes só se dizia “poetisa”).

A Revista Veja, por exemplo, deixou de usar a palavra “presidenta” apenas quando Dilma Rousseff chegou ao poder e disse que gostaria de ser chamada assim. Até então, porém, a mesma Veja usava “presidenta” - vide exemplos de edições da década de 1970 (ao se referir à então presidenta deposta da Argentina), de 1980, de 1990 e mesmo 2000.

Do mesmo modo, anos antes de o PT chegar ao poder, os demais órgãos de imprensa usavam “presidenta” – como a Folha de S.Paulo – por exemplo, em 1996 (“Secretária de Turismo de Alagoas e presidenta da Fundação”), 1997 (“Segundo a presidenta da CPI, deputada Ideli Salvatti”), 2003: (“A presidenta da CDU e líder da bancada parlamentar, Angela Merkel, já deixou claro que seu partido não se dispõe a salvar a situação para o governo de Berlim.”), etc.;  O Estadão (em 2004: “Empresária de Shakira era presidenta da  companhia”; em 2008: “disse a presidenta da Plataforma, Maribel Palácios”, etc.), o Correio Braziliense, etc.

Em resumo: hoje, é indiferente o uso de “a presidenta” ou “a presidente” – ambas as formas são gramaticalmente corretas e equivalentes.

Mas, ao contrário do que diz o senso comum e do que supõem muitos em sua ignorância, “a presidenta” não é informal, não é uma invenção recente nem é “coisa de feministas” ou “de esquerdistas” (pelo contrário, é a forma mais antiga e tradicional em língua portuguesa).

Um bom exemplo de sensatez, por exemplo, vem do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB – um dos principais opositores de Dilma Rousseff, que, no entanto, nunca deixou de falar “presidenta”, por saber que essa forma é antiga, tradicional e perfeitamente correta em português.

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