O
cartaz de João Carlos Bonat
Comendador Francisco Souto Neto
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O CARTAZ DE JOÃO
CARLOS BONAT EM HOMENAGEM A ANITA ZIPPIN
Francisco Souto Neto
Antes de
referir-me ao cartaz do amigo João Carlos Bonat que está encimando esta
crônica, devo fazer uma breve introdução sobre minha ausência deste blog durante muitos meses.
Política e hipertensão
Minha fonte
literária secara após um incêndio psicológico. No ano passado foi-se a vontade
de escrever. Em 2019 apenas escrevinhei ligeiramente para não deixar sucumbir meu
blog. Ao referir-me em março daquele ano ao reinício das atividades da Academia
de Letras José de Alencar - ALJA, da qual sou membro e conselheiro, tudo o que
fiz foi transcrever, ipsis litteris, as boas palavras que nossa colega
Vera Rauta usou no relato da reunião e que publicou em seu mural do Facebook.
Depois disso, meu blog moveu-se tropegamente em dezembro para apenas
relatar os nomes, nada mais, dos novos membros da ALJA: os novos efetivos, os
titulares e os correspondentes. E qual o motivo da minha tamanha inércia?
Explico: em
meados do segundo semestre do ano passado sofri um estranho episódio de
hipertensão arterial. Meu aparelho de pressão mostrou-me um índice altíssimo.
Acreditei que o aparelho estivesse desregulado e fui à farmácia tirar a dúvida.
A farmacêutica aferiu a pressão, arregalou os olhos e recomendou dirigir-me
imediatamente a um pronto socorro. Assustado, lá fui eu. E o médico de plantão,
apreensivo, fez-me internar para tomar medicamentos e soro até baixar a pressão
para níveis aceitáveis, assim afastando o risco iminente de um AVC.
Meses depois
o episódio de hipertensão repetiu-se. O médico, para atender à minha indagação
pelos motivos do desagradável e perigoso fenômeno, tentou encontrar respostas e
firmou-se mais nitidamente na hipótese de eu estar atravessando um período de
estresse. Perguntou-me sobre minha situação financeira, sobre problemas
familiares, sobre abismos existenciais, porém ele nada mais encontrou do que um
lago sereno de águas plácidas, tranquilas, pois assim são o meu cotidiano e a
minha vida. Entretanto “tropecei” ao comentar a minha indignação e repulsa num crescendo
diário ao atual governo federal. A meu ver o atual presidente mostra-se imaturo, mentiroso, arrogante e grotesco, cercado de ministros e secretários
que se espelham nele em sua maioria. Como consequência, ouvir diariamente as
suas falas desatinadas e o descompasso ministerial causam-me muito profunda
irritação... e daí a origem dos meus males.
Se meu
entusiasmo pelas letras ficou tolhido, tenho procurado desembrutecer o espírito
através da observação da arte, do bom cinema e da leitura, que são os caminhos
mais indicados para que minha hipertensão alcance o necessário equilíbrio.
E foi assim
que ao observar o cartaz ao qual me referi no primeiro parágrafo desta crônica,
veio-o a vontade de escrever sobre o mesmo.
O cartaz
O cartaz de João Carlos Bonat
O cartaz ao
qual me referi no primeiro parágrafo deste artigo teve origem num comunicado
que Anita Zippin – que preside a Academia de Letras José de Alencar – encaminhou
a todos nós, seus colegas acadêmicos, e aos amigos mais chegados. Anita
contou-nos que resolveu praticar sistematicamente natação há 15 anos, quando morava no bairro do
Cabral. Começou nadando – sempre de costas – 500 metros por aula. Foi
aumentando seu exercício até que passou a nadar um quilômetro. Mas não parou
aí. Depois de algum tempo, já nadava nada menos do que 3000 metros a cada vez.
Anita Zippin ao
visitar-me em 1998
Há três anos
Anita Zippin mudou-se para o Bigorrilho e então procurou pela Sociedade Thalia,
onde nadara na sua infância e adolescência, e encantou-se com a piscina de 25
metros. Ela fez as contas: a cada ida e volta na piscina, ela nadaria 50 metros.
Se fizesse isso 80 vezes, alcançaria a cifra de quatro quilômetros nadados por
dia. E foi assim que em apenas três anos exercitando-se na Sociedade Thalia,
ela nadou exatos 2005 quilômetros.
João Carlos
Bonat, nosso colega da ALJA, para homenagear esse feito de Anita Zippin, criou
um cartaz que denominou “2005 – ODISSEIA NA PISCINA”.
João Carlos Bonat ao visitar-me em 2019, ao lado do meu computador.
O bom gosto
do cartaz evidencia-se pelo emprego da ornamentação ou “moldura” com duas
ordens de frisas gregas, e por ser quase monocromático num marrom – a cor
preferida para os antigos vasos gregos com cenas mitológicas – e também pelo
tipo (ou fonte) de letras utilizadas, que no alfabeto latino evoca o grego.
Tudo isso encimado pela estação espacial do filme de Kubrick “2001 – Uma
Odisseia no Espaço”, que é ao mesmo tempo uma alusão à arte cinematográfica,
algo importantíssimo na vida de Anita Zippin, que é uma cinéfila de primeira
linha. E a parte da mitologia que diz respeito à obra de Homero, “A Odisseia”,
é na verdade, no cartaz de João Carlos, uma vinculação às várias divindades
gregas ligadas à água: Dóris, Ceto, Euríbia, Tétis, as nereidas (dentre as
quais Anfitrite), as ninfas Oceânidas e as sereias, dentre estas Parténope,
Leucósia e Lígia. A meu ver, Anita surge obviamente como parte dessas
divindades das águas, por ter nadado milhares de quilômetros na piscina do
bairro do Cabral, desde muito antes desses atuais 2005 no Clube Sociedade
Thalia.
Milhares de quilômetros nadados
Ora, façamos
uma conta: a distância entre o Monte Caburaí (RR) – onde nasce o Rio Ailã – que é o ponto
extremo norte do Brasil, ao Arroio Chuí (RS) no extremo sul, é de exatos 4.394
quilômetros. Assim, Anita precisará nadar apenas mais uns três anos e meio para
alcançar o equivalente à distância entre o norte e o sul do Brasil. E isto sem
contar, como já disse, outros milhares de quilômetros nadados quando ainda residia no Cabral.
Não deixa de
ser impressionante. Portanto, meus cumprimentos ao colega João Carlos Bonat –
seus trabalhos gráficos e artísticos são sempre esplêndidos – que muito
compreensivelmente sentiu-se inspirado para criar o belo cartaz, e meus
parabéns a Anita Zippin pelo vigor e determinação que, com certeza, deixaria
Esther Williams impressionada – quem for um bom cinéfilo compreenderá o que
estou querendo dizer.
E com isso,
no limiar do mês de fevereiro, distraio-me pela primeira vez neste ano das
minhas preocupações com o meu país, com esta guinada em direção à arte, às
letras e à cultura.
Anita Zippin atualmente
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agradeço, Souto suas belas palavras sobre minha natação, grande incentivo para que mais e mais quilômetros sejam nadados, onde paira a ligação com os deuses das águas, com certeza, e a vontade de viver ainda fica maior. que venham mais e mais crÔnicas suas, muito bem redigidas, com o coração a pulsar forte e as palavras a dançar numa sinfonia sempre bem acabada. até a próxima.
ResponderExcluirQuerida amiga Anita, nada a agradecer. Foi ótimo escrever sobre a sua prodigiosa natação. Pena que neste mês de março o mundo tenha mudado radicalmente por causa da ameaça do coronavírus. A partir de hoje, 21 de março de 2020, o restaurante da Sociedade Thalia estará fechado, e soube que a piscina do clube será esvaziada (se é que já não o foi) e teremos todos que permanecer em "isolamento social" fechados em nossas casas. Mas isto haverá de passar logo e o mundo voltará à normalidade, apesar das perdas de tantas vidas e também das sequelas históricas que ficarão para sempre. Obrigado pelas palavras acima.
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