quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

A REVOLTA DA VACINA DE 1904 e A PANDEMIA NO BRASIL DE 2020 por Francisco Souto Neto em 31.12.2020.

Em meados de dezembro de 2020, Curitiba em situação gravíssima com o aumento de contaminações pela covid-19

 

Comendador Francisco Souto Neto 

---------o----------

 

A REVOLTA DA VACINA DE 1904

e

A PANDEMIA NO BRASIL DE 2020

 

Francisco Souto Neto

 

Enquanto neste fim de 2020 dezenas de países, alguns muito menos importantes que o Brasil, estão vacinando suas populações contra a pandemia, nós continuamos sem definição de uma data para o início da vacinação em nosso país, com contaminações e mortes diárias crescendo verticalmente e atingindo níveis gravíssimos. Todos os Estados brasileiros estão com a lotação de seus hospitais chegando a um temível colapso, o que implicará em falta de leitos para tratamento de pacientes infectados pela covid-19. 

Estamos cientes de que, além de tudo, um dos problemas encontrados pelo governo para iniciar a vacinação em massa, além de ainda não existirem vacinas disponíveis, é a dificuldade para a compra de insumos, isto é, de seringas para aplicação das referidas vacinas, o que ocorre por negligência e falta de planejamento por parte do governo federal.  Enquanto isso, a escalada de contágio e de óbitos parece significar para o presidente da República apenas números sem muita importância.

Presidente Jair Bolsonaro.

 Como não bastasse, a parte da população que é mal informada, acredita no absurdo de que a vacina chinesa – que já está imunizando populações de vários países – é perigosa, que pode alterar o genoma humano, que carrega microchips e contém até vírus da aids com o propósito de prejudicar a saúde de quem for por ela inoculado.


A Revolta da Vacina de 1904



O estranho estado de coisas que se verifica em todo o país em relação à pandemia, fez-me lembrar de um capítulo da História do Brasil, que desde o tempo dos bancos escolares é conhecido de todos nós – ou pelo menos das pessoas mais bem educadas – com o título de “Revolta da Vacina”, que ocorreu em 1904.

Há 116 anos o Rio de Janeiro, capital do Brasil, era uma cidade com um deficiente, para não dizer quase inexistente, sistema de saneamento básico. Epidemias de varíola, febre amarela e peste bubônica eram frequentes e causavam grande mortalidade na população. O presidente Rodrigues Alves resolveu então implantar um sistema de reurbanização associado a inovador programa de saneamento básico, e designou o médico Oswaldo Cruz para organizar o combate às epidemias.



Foi aprovada a lei que tornou a vacina obrigatória. Teve que ser assim, porque a maciça maioria do povo desconhecia os benefícios que uma vacina traria para todos, e porque ouviram comentários de que a vacina consistia no líquido tirado das pústulas de vacas doentes, e todos ficaram temerosos de serem inoculados com tal líquido. Ainda pior eram os ridículos boatos de que homens e mulheres teriam que ficar nus para receber a vacina que seria aplicada em suas “partes íntimas”. E o populacho sem entender o que de fato representava a vacina, revoltou-se por acreditar que esta, além de humilhante, era ineficaz e perigosa.



Teve início uma grande revolta popular contra a vacina, que ocorreu entre 10 e 16 de novembro de 1904. O jornal Gazeta de Notícias registrou para a posteridade em sua edição de 14 de novembro de 1904: “Houve de tudo ontem. Tiros, gritos, vaias, interrupção de trânsito, estabelecimentos e casas de espetáculos fechadas, bondes assaltados e bondes queimados, lampiões quebrados à pedrada, árvores derrubadas, edifícios públicos e particulares deteriorados”. O governo chegou a declarar estado de sítio porque a revolta estava se transformando numa revolução. A muito custo a rebelião foi contida, porém resultou em 50 mortos e mais de 100 feridos. Houve centenas de prisões e de deportações de prisioneiros para os confins do Acre.




Sempre acreditei que esse grande incidente tenha acontecido porque o povo, há mais de um século, era desinformado, e que algo semelhante jamais ocorreria no mundo atual, neste tempo em que contamos com incríveis meios instantâneos de comunicação, como a internet.


Nova reação contra a vacina 116 anos depois


Por incrível que pareça, neste ano de 2020, uma antes inimaginável pandemia envolve inteiramente o planeta numa apavorante escalada de contaminações aos milhões e de mortes incontáveis. O Brasil, contudo, parece continuar habitado por pessoas que têm a mentalidade e ignorância ao nível daqueles  que há 116 anos revoltaram-se ante a obrigatoriedade da vacina. Essas pessoas atuais mas de mentalidade primitiva, manifestam-se pelas redes sociais contra a vacina, influenciadas pelo incompetente, obscurantista e negativista atual presidente da República. Desde o começo do contágio no Brasil em fevereiro do ano que está terminando, ao contrário do que se poderia esperar de um estadista, Bolsonaro insurgiu-se contra a existência de uma pandemia, e depois, face ao desesperador aumento de contágios e mortes, desestimulou ao máximo a utilização de vacinas para conter o mal. Sempre que se referiu à pandemia pela covid-19, provocada pelo novo coronavírus, ele menosprezou e até debochou das preocupações dos mais bem informados, e mostrou-se contrário ao uso de máscaras. Há apenas três dias ouvimo-lo, pela televisão, insistindo – em seu doentio negacionismo – que a epidemia no Brasil está “no finalzinho”, quando na verdade ela acaba de atingir índices de expansão catastróficos.

Embora as recomendações das autoridades sanitárias insistam na necessidade de manter-se isolamento social, distanciamento entre as pessoas e uso de máscara, no Natal houve aglomerações e festas por todo o país, e multidões lotam as praias para comemorar o réveillon.  Não respeitam as recomendações para que fiquem em casa nestes feriados de fim de ano. O que veremos será o fatal recrudescimento da nefasta moderna peste, com milhares de crescentes mortes diárias em todo o país, vitimadas pela covid-19.


Classe média sai da quarentena direto para os braços da covid-19 e lota hospitais do Brasil.

Sinto-me inerme para prosseguir comentando as vilanias desse patético e inescrupuloso homem que foi posto na presidência da República, e desanimado ao constatar a profunda ignorância de larga parcela da população brasileira que o segue, aplaude e apoia.  Por isso, para dar um desfecho a este meu artigo, ao ler uma publicação feita ontem pelo meu amigo Rubens Faria Gonçalves, resolvi transcrevê-la na íntegra, já que aquele texto diz exatamente o que eu gostaria de expressar aqui:

Rubens Faria Gonçalves

Palavras de Rubens Faria Gonçalves


“Fico perplexo quando acompanho pela imprensa o aumento vertiginoso dos casos diários de mortos e contaminados pela Covid-19, e mais perplexo fico ao observar o desleixo irresponsável das autoridades políticas e de um grande número da população em relação aos cuidados necessários nas atuais circunstâncias.

Confesso que tudo isso só leva a sentir-me muito triste por ser brasileiro e morar neste país que afunda diariamente qual barco sem rumo com o casco furado, sem tripulação competente e sem capitão, nas ondas de um deus-dará.

Quando o novo governo foi eleito, era fácil antever que viriam tempos nada bons, porém jamais, em momento algum, eu poderia imaginar o cenário desses últimos meses.

No calendário gregoriano, que rege o ano civil no país, o ano termina, outro começa, há comemorações, renovam-se as esperanças, trocam-se votos de Feliz Ano Novo...

Mas que Feliz Ano Novo é esse? Não consigo imaginar um Ano Novo feliz no atual momento histórico.

Não haverá um Feliz Ano Novo enquanto as pessoas não estiverem imunizadas, e isto somente poderá ocorrer quando houver vacinas disponíveis para toda a população.

E não apenas vacinas!

Vacinas, seringas e competência política em quantidade suficiente”.









-o- 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

BEM-VINDO O TOQUE DE RECOLHER EM TODO O PARANÁ e UMA CRÍTICA AO PREFEITO DE CURITIBA por Francisco Souto Neto.

 

Em 1º.12.2020: Curitiba em situação gravíssima com o aumento de contaminações pela covid-19. Acima, o gráfico dos casos mês a mês, de março a novembro de 2020.

 

 Comendador Francisco Souto Neto em setembro de 2015

 

-------------o--------------

 

BEM-VINDO O TOQUE DE RECOLHER NO PARANÁ 

e

UMA CRÍTICA AO PREFEITO DE CURITIBA.

 

Francisco Souto Neto

 

 

Rafael Valdomiro Greca de Macedo, prefeito de Curitiba.

Em outubro estávamos numa linha decrescente de contaminações e mortes pela covid-19. A pandemia vinha diminuindo, entretanto é óbvio que permanecia tão perigosa quanto letal. Porém no “feridão” do Dia de Finados curitibanos resolveram descer a serra para passear nas praias paranaenses. Escrevi sobre isso: muitas pessoas acreditando na miragem de que estávamos quase livres da pandemia, resolveram relaxar no protocolo de recomendações de segurança. Assisti pela televisão a reprováveis cenas de praias lotadas não só no Paraná, mas em todo país, e bares repletos de pessoas ignorando a necessidade do isolamento social. Somando-se o mencionado “feriadão” às aglomerações do dia das eleições, era previsível que sofreríamos um retrocesso sob o aspecto epidemiológico ao longo de novembro.

Rafael Greca no pronunciamento de 20.11.2020. Foto que tirei da imagem do meu televisor.

Na noite de 20 de novembro – portanto há apenas dez dias, quando a pandemia já estava em meteórica ascensão em Curitiba e no Paraná – assisti a um pronunciamento do prefeito Rafael Greca através do programa Boa Noite Paraná pela RPC, que me aborreceu. Num desagradável tom professoral, com aquele ar de superioridade bem irritante que é peculiar a esse prefeito, disse ele, ipsis literis: “Não me move a vontade de implantar restrições na cidade. Eu sou um profissional do cuidado. Eu não estou no mundo pra contar culpados. Mas eu quero chamar você [com dedo em riste] a cooperar com a cidade. As medidas restritivas só serão tomadas se houver abusos”. Todavia abusos estavam acontecendo há muito. Só Rafael Greca não via. E mesmo com os índices de contaminações subindo verticalmente, continuava o prefeito com sua conversa mole, obviamente cego às evidências e preocupado principalmente com os empresários que sabem muito bem como encurralá-lo para que ele tome decisões mais favoráveis àquela classe. Nós, a população em geral, não estamos interessados no “Natal de Luz”, aquele capricho de luzes e cores ontem anunciado pelo prefeito. O tempo não é para comemorações, mas para juntar recursos com a finalidade de aumentar o socorro àqueles que precisarão de leitos de UTI nas próximas semanas ou meses.

Rafael Greca no pronunciamento de 20.11.2020

Rafael Greca disse ainda na noite de 20 de novembro: “Também não é verdade que nós cancelamos da agenda da cidade a pandemia durante o tempo eleitoral. O site covid-19 e todo mobiliário urbano, e também as comunicações da Secretaria da Saúde foram mantidas, e por esse registro é que nós sabemos que estávamos com 700 casos por dia, no outro dia tivemos 900 e ontem infelizmente [e com um “dar de ombros” como quem quer dizer “não tenho culpa”] tivemos 1300”. Agora, 1º de dezembro, quando escrevo este artigo, já são mais de 1500 casos diários, e é óbvio que se o prefeito tivesse imposto medidas restritivas bem mais severas e há mais tempo, não estaríamos nesta atual situação aflitiva. Se eu e tantos outros prevíamos, há um mês, as consequências nefastas de um afrouxamento às medidas necessárias, como o prefeito vem empolado declarar que “não me move a intenção de implantar restrições à cidade”? Na verdade, neste recrudescimento da pandemia, restrições são sem dúvida necessárias. Podem ser casos de vida ou morte.

Abaixo, uma sequência de fotografias que fiz em 1º.12.2020 da tela do meu televisor, no momento em que eram divulgados pela RPC os índices que mostram o crescimento explosivo do coronavírus em Curitiba durante o mês de novembro.












Hoje, felizmente, tivemos a primeira decisão do governo estadual no sentido de tentar conter a propagação da covid-19, que decretou a partir de amanhã toque de recolher em todo o Estado do Paraná. Amanhã o decreto será publicado, e espero que não apenas "recomende", mas determine, isto é, imponha a obrigação dos cidadãos paranaenses ao toque de recolher. Das 22 horas às 5 da manhã, ninguém poderá circular pela cidade, excetuados, logicamente, os casos de comprovada necessidade. Alguns municípios, hoje mesmo, 1º de dezembro, já decretaram a cobrança de multas; por exemplo em Umuarama a multa será de até R$5 mil; em Cianorte será o dobro: R$10 mil às pessoas físicas que desobedecerem. Vamos ver se Greca terá a coragem de também cercear eventuais infratores aplicando-lhes multas em caso de desobediência. Não adianta as autoridades apenas afirmarem – e pelo menos isto fazem com determinação – que as pessoas precisam colaborar praticando o distanciamento social, usando máscara e álcool gel, pois o que não falta em grande número são cidadãos relapsos e indisciplinados, que só “colaborarão” se forem forçados a agir civilizadamente ao sentirem-se ameaçados por multas.

Beto Preto, Secretário de Estado da Saúde.

Beto Preto, Secretário de Estado da Saúde, em pronunciamento há pouco, mostra-nos boa vontade no combate ao coronavírus, apesar da imposição do governador Ratinho Júnior pela proteção – prioritária? – aos interesses dos empresários.

Em suma, a situação apresenta-se gravíssima para nós. E se contaminações e mortes continuarem num crescendo, teremos que pressionar as autoridades por um confinamento ou isolamento total do Paraná – isto é, pelo lockdown.


----------------o---------------


 Comendador Francisco Souto Neto em dezembro de 2020

-o-

domingo, 22 de novembro de 2020

A COPEL EM TEMPO DE PRIVATIZAÇÕES, REVOLTAS E INCERTEZAS por Francisco Souto Neto.

Diretoria da Copel na Rua Coronel Dulcídio, entre a Rua Comendador Araújo e a Avenida do Batel. Foto por Francisco Souto Neto.

 

 
Comendador Francisco Souto Neto 

---------o----------

A COPEL EM TEMPO DE PRIVATIZAÇÕES, REVOLTAS E INCERTEZAS

 

Francisco Souto Neto

 

Durante o Governo Fernando Henrique Cardoso houve inúmeras privatizações de grandes empresas, incluindo-se as de economia mista, tal o caso do Banco do Estado do Paraná e do Banco do Estado de São Paulo, para mencionar alguns dos exemplos mais marcantes e desastrosos daquela época.

No caso do Banestado, durante o período eleitoral o governador Jaime Lerner disse, e isto ficou registrado em imagem e som: “Durante meu governo o Banestado não será privatizado”. Tratava-se de mentira com fins eleitoreiros, pois decidiu-se o governador pela privatização no ano 2000, e o Banestado, uma empresa que tinha sido séria e de vital importância para o desenvolvimento do Paraná, foi arrematado a preço vil.  Na mesma ocasião, aquele governador pretendeu também privatizar a Copel, porém encontrou fortíssima resistência, principalmente em função dos prejuízos previsíveis e depois confirmados, que essas privatizações causariam aos estados federativos. Cedendo às oposições, ouvi Lerner num discurso: “A nossa querida Copel não será privatizada”. Como sempre, o político fazendo-se de bonzinho ao chamar a Copel de “querida” e assim ir fugindo pela tangente, quase sem rastros, após não conseguir realizar o seu intento. E eu, que admirava Lerner das suas administrações na prefeitura pelas benesses que, a seu tempo, ele dedicou à cidade e ao transporte coletivo, passei a devotar-lhe desprezo.

Agora, durante outro governo federal interessadíssimo no desmonte do país, muito mais destrutivo do que aquele dos tempos de FHC, voltou à baila a privatização da Copel. E Ratinho Júnior, quem agora governa o Paraná, no mês em curso vendeu inicialmente “apenas a Copel Telecom”, segundo ele “um braço” da Companhia Paranaense de Energia.

Copel Telecom

Sempre posicionei-me contrário às privatizações desde os anos em que mantive colunas em jornais e revistas, e agora tenho defendido a Copel pelo menos nas redes sociais, com palavras favoráveis à manutenção do que dela resta.

Hoje, entretanto, passei por uma raiva descomunal, envolvendo referida Copel, que me fez sofrer uma crise de hipertensão arterial. Claro que não mudo minha opinião quanto à sua não privatização, porém constatei que “há algo de podre no Reino da Dinamarca”, como disse Shakespeare, e o problema que enfrentei desvendou uma deficiência em sua administração.


Antes me referir à Copel, uma questão de fraude bancária


Para chegarmos ao cerne da questão, devo inicialmente comentar algo que parece nada ter em comum com o problema que enfrentei hoje na Copel e que exporei adiante; entretanto, serve também como um alerta. É o seguinte: tal como faço todas as manhãs, na sexta-feira dia 13 do corrente verifiquei através de telefone o meu saldo no banco onde mantenho conta corrente, e me surpreendi com quatro lançamentos de altos valores em minha conta, que me eram de origem desconhecida. Imediatamente entrei em contato com a administração da agência para saber o que estava acontecendo. Através do telefone, a instituição bancária fez rápidas verificações e, em menos de uma hora ao telefone, disse-me ter constatado tratar-se de uma clonagem do meu cartão de débito.

Embora eu não use cartão de crédito (porque não gosto), valho-me de um cartão de débito que, durante estes oito meses em que me encontro em “isolamento social” por causa da pandemia, é o meio que uso para efetuar as compras que faço necessariamente em mercado e farmácia. Mas...  como explicar a possibilidade de clonagem se não ponho meu cartão de débito nas mãos de quem quer que seja (isto é, sempre eu mesmo insiro o cartão na “maquininha” e o retiro), se ninguém conhece minha senha eletrônica, e se também não uso telefone celular e, portanto, não faço qualquer negócio através do meu computador fixo, “de mesa”, que envolva minha conta em banco?

Comecei por lembrar-me de que além das minhas rapidíssimas idas ao mercado e à farmácia, tenho feito o uso do cartão de débito para pagar as refeições que peço por telefone e que durante meu “isolamento social” são trazidas à porta do meu apartamento através de restaurantes que encomendo por telefone. Então, usando máscara e luvas, manejo o meu cartão de débito... mas agora chego a pensar que é possível que algumas das maquininhas de cartão venham munidas do skimming, ou chupa-cabra, aquele mesmo dispositivo criminosamente  instalado em caixas eletrônicas e nas máquinas manuais de débito e crédito, para clonar cartões e assim ganhar acesso às contas bancárias das vítimas.

Muitíssimo rápido, no dia seguinte (sábado 14) o banco devolveu à minha conta corrente o valor total do dinheiro que me fora furtado. Ato contínuo, informou-me que cancelara meu cartão de débito e a senha eletrônica, e que o novo cartão deveria chegar em no máximo dez dias. Bem, assunto resolvido... e doravante, por medida de segurança, continuo pedindo as refeições aos restaurantes, mas pagando-as exclusivamente em cash, isto é, em dinheiro vivo.


Em seguida, as raízes do problema com a Copel


Mais uma vez, um necessário preâmbulo antes de chegarmos ao cerne do problema com a Copel: em agosto eu aluguei um apartamento que tenho no Centro Cívico. Embora a minha administradora de imóveis tivesse orientado o meu inquilino, um Sr. David, a transferir a conta da Copel, que estava em meu nome, para o nome dele, isto não foi feito. As contas correspondentes aos meses de agosto e setembro (vencíveis em 2 de setembro e 2 de outubro respectivamente) continuaram sendo debitadas em minha conta corrente. Entretanto, informei à minha administradora de imóveis que esses dois débitos foram de valores tão insignificantes, de apenas 15 reais e alguns centavos cada um, que pedi dar conhecimento ao meu inquilino, para a comodidade dele, que isso não representava problema e que ele não precisaria me restituir os citados valores. Mas insisti para que ele regularizasse essa questão na Copel, para que as próximas contas estivessem em seu nome. E foi assim que percebi que em 2 de novembro não houve  débito em minha conta corrente das despesas do apartamento alugado e então fiquei tranquilo pensando que a situação estivesse solucionada. Mas que doce ilusão!

No dia 14 de novembro recebi da Copel, através de e-mail, o comunicado de que uma dívida em meu nome, no valor de R$84,35 estava vencida desde o dia 2 do mesmo mês, e que se não fosse quitada num prazo de 45 dias, meu nome seria incluído no Cadastro de Inadimplentes.

Muito irritado, percebi que pelo 3º mês consecutivo a conta de energia elétrica de meu inquilino continuava sendo cobrada em meu nome. Em contato com a minha administradora de imóveis relatei a persistência da falha e pedi que fosse quitada a dívida com a máxima urgência, dívida esta que ficou em meu nome, embora o consumo de energia e a inadimplência tenha sido do meu inquilino.

O que ocorreu foi que o inquilino devolveu-me os R$84,35 através da administradora por intermédio de um crédito em minha conta corrente na data em que escrevo este artigo, dia 20 de novembro de 2020. Entretanto, um débito em minha conta obviamente não quita a dívida do meu inquilino, dívida esta que está erroneamente em meu nome na Copel. Ou seja, eu teria que, pessoalmente, ir pagar tal dívida. Apesar de estar eu em “isolamento social”, ainda mais neste momento em que a contaminação pela covid-19 apresenta um violento recrudescimento, “explodindo” em índices crescentes em Curitiba, no Paraná, no Brasil, e nos principais países do Hemisfério Norte, resolvi, para evitar aborrecer-me ainda mais, que eu mesmo faria o pagamento da dívida do meu inquilino, objetivando liquidar o problema o mais rápido possível. E foi aí que encrespei com a Copel e passei a cuspir fogo.


Ainda antes, tentando pagar a dívida de meu inquilino.


Aos 77 anos, interrompendo o “isolamento social” e pegando o meu elevador (porta do elevador às minhas costas) para descer à rua.

Como estou ainda sem o meu cartão de débito, coloquei um pouco de dinheiro no bolso e fui ao Banco Itaú para pagar a dívida do meu inquilino. A agência mais próxima do banco onde tenho conta, fica a uns 100 metros da minha residência. Lá chegando, encontrei a agência fechada para o público, porque ontem uma funcionária constatou contaminação pela covid-19, e a agência ficará lacrada por alguns dias por justificado motivo de segurança. Fui então a outra agência do mesmo banco, distante mais uns 500 metros. Embora muitíssimo bem atendido como sempre, deparei-me com um fato inesperado: a agência não pode receber pagamentos da Copel no caixa, mas unicamente através dos caixas eletrônicos. Como estou sem o meu cartão de débito, o que me impede o uso daqueles caixas automáticos, a sugestão foi de que eu efetuasse o pagamento com dinheiro em alguma casa lotérica. Achei uma ótima ideia e fui à lotérica mais próxima, por coincidência em frente àquela agência bancária fechada devido à contaminação pela peste.

Chegando à lotérica encontrei uma longa fila, porque hoje é dia 20, ou seja, “dia de pagamento”. Tive que reclamar para que a pessoa, atrás de mim, respeitasse uma distância de dois metros. Mesmo assim havia muita gente ali acumulada, o que simboliza um atentado à saúde ou mesmo à vida do próximo. Chegando minha vez, ao pretender pagar a dívida do meu inquilino, fui informado de que não havia como pagar integralmente aquele valor, porque entre o dia 2, do vencimento, e hoje, 20, transcorreram 18 dias, e juros teriam que ser cobrados, porém aquela lotérica estava autorizada a receber apenas o valor original de R$84,35. Os juros, uma insignificância de uns dois reais ou menos, me seriam cobrados pela Copel no próximo dia 2 de dezembro. Contudo, eu estava disposto a cortar o mal pela raiz e resolvi que eu fazia questão de pagar tudo, integralmente, sem deixar absolutamente nenhum centavo pendente para o próximo mês. Lembrei-me então de que a administração da Copel, com suas diretorias e presidência, fica na Rua Coronel Dulcídio, entre a Rua Comendador Araújo e a Av. do Batel, perto de onde moro. E foi para onde me dirigi.

Entrada para o edifício-sede da Copel (foto da internet)

Agora, o problema com a Copel


Cheguei à Copel para pagar a malfadada dívida do meu inquilino. Para minha surpresa, na portaria me informaram que lá não havia ninguém que pudesse receber pagamentos. Nenhum caixa, nada. Lembrei-me então de que existe um escritório da Copel na Rua Carlos de Carvalho, a poucas centenas de metros dali. Disse eu ao atendente que então iria até lá para pagar a dívida. Mas... o rapaz informou-me que aquele escritório da Carlos de Carvalho estava fechado para reforma e que o único lugar onde eu poderia pagar a dívida seria no bairro Novo Mundo.

Copel

Então eu teria que voltar à minha residência, pegar o meu carro que não dirijo há meses, e ir a um bairro onde nunca estive antes, sem saber nem em que direção da cidade se situa?! Não! Pedi então para falar com alguma chefia, naquele prédio da Copel, que pudesse me orientar melhor sobre a forma como resolver o problema, sem eu ter que fazer uma viagem a um endereço que desconheço. A informação foi a de que não havia quem pudesse me orientar. Profundamente irritado, disse ao rapaz que queria falar com algum assessor, ou com um diretor, ou com o presidente, principalmente para entender o porquê de usuários da Copel não terem quem os atenda ali, enquanto ocorre a tal reforma do prédio da Carlos de Carvalho. Porém, não, ninguém poderia atender-me.

É uma indignidade que as centenas de funcionários que trabalhem naquele prédio de onze andares não tenham uma sala equipada para receber todos os casos em que os usuários de energia elétrica precisem de contato direto com com a empresa. Exigir que nós façamos uma viagem a esse bairro Novo Mundo é uma afronta à população. E quem reside nos bairros em direção oposta a Novo Mundo e precisa atravessar a cidade inteira para chegar a tal ponto de atendimento? E nós, que moramos praticamente ao lado do prédio da Copel, termos que nos resignar a não ser ali atendidos? O senhor presidente da Copel não tem ao menos um pouco da sensibilidade para pôr fim a uma situação tão patética? Oras bolas, enquanto o escritório da Carlos de Carvalho está fechado para reforma, que crie um lugar decente no seu luxuoso prédio, num provisório canto qualquer, para aí instalar um caixa que possa atender aos usuários da Copel, sem obrigá-los a uma viagem de muitos quilômetros.

Se é tão grande a incompetência da Copel para resolver problema tão simples, o que faria num caso dramático como o que estamos presenciando no Amapá? Não seria por motivos pessoais que eu pararia de defender a nossa Copel, pois sou contra as privatizações. Mas sua diretoria tem a obrigação de tirar o seu traseiro do assento e tratar de encontrar soluções urgentes para quem não aceita as regras ridículas que a empresa nos apresenta. Ora, é um absurdo que não haja quem possa atender aos usuários aí na sede da Coronel Dulcídio. Antes de incapacidade, isto é, de malemolência, é falta de vontade ou competência para resolver até mesmo os mais simples problemas. Continuo defendendo a Copel, mas não a atual administração.

O proprietário da administradora de imóveis que me atende, hoje mesmo, nesse fim de tarde, tomou a iniciativa de solucionar para mim o problema que deveria ter sido do meu inquilino, que não pagou sua conta dentro do prazo.

Considero-me muito bem educado. Mas paciência tem limite, e a nossa indignação não tem.

-o-

UM ADENDO NO DIA SEGUINTE, 23.11.2020

Hoje descobri que tendo sido paga ontem a fatura de R$84,35 , ficaram ainda pendentes de pagamento duas faturas de meu inquilino, ambas em meu nome: uma de R$3,57 e outra de R$0,01 (um centavo), correspondentes aos juros pelo não pagamento no prazo correto, dos R$84,35 referidos acima. E teriam que ser pagas hoje, dia 23. Telefonei à Copel e fui muito bem atendido por dois funcionários: primeiro Sheila e depois Arthur. Ambos merecem votos de louvor por terem me orientado com grande boa vontade quanto a essas pequenas dívidas (insisto, não minhas!) que resolvi acatar para não ter o meu nome levado ao "cadastro de inadimplentes", o que jamais ocorreu em toda minha vida.

Os funcionários informaram-me que qualquer casa lotérica poderá receber a fatura de R$3,57 porém talvez se recusem a receber a de R$0,01. Então, para que eu tenha sucesso no pagamento  de ambas, seria melhor pagar, nas caixas do banco, as cópias das faturas que ambos me enviaram através de e-mail. Entretanto, meu computador direcionou ambos os e-mails da Copel para a minha pasta de "lixo eletrônico". Encontrei-os ali, porém, ao serem direcionados para o "lixo eletrônico", seus anexos (isto é, as faturas) foram neutralizados. Voltei a telefonar à Copel, ocasião em que o atendente Arthur disse-me que eu deveria então anotar os números dos códigos de barras de ambas as faturas (um conjunto com 12 grupos de 4 dígitos cada para cada fatura) e, atenciosamente e com paciência, informou-me os 96 números. 

Embora estivesse na hora de chegar o meu almoço (que é trazido à porta do meu apartamento diariamente), vesti-me, coloquei minhas luvas e a máscara para sair, e no exato momento em que chamei o elevador, o telefone tocou. Era o Sr. Luiz Augusto, cuja administradora da sua propriedade cuida dos meus imóveis, dizendo-me para eu não me preocupar, que ele já estava providenciando os dois pagamentos.

E, agradecido, eu finalmente pude relaxar, enquanto espero por um pronunciamento da Copel sobre minhas reclamações e sugestões. E que possam os seus dirigentes refletir também sobre o absurdo de gastarem papel e tinta para cobrar uma dívida no valor de um centavo. Quosque tandem abutere Catilina patientia nostra?  

-o-


terça-feira, 17 de novembro de 2020

EM NOVEMBRO DE 2020, CURITIBA E O PARANÁ EM ALTA NOS CONTÁGIOS PELA COVID 19 por Francisco Souto Neto.

Foto tirada da tela do televisor em 15.11.2020:  covid-19 em alta. 

 
Comendador Francisco Souto Neto 

---------o----------

 

EM NOVEMBRO DE 2020, CURITIBA E O PARANÁ EM ALTA NOS CONTÁGIOS PELA COVID 19

 

Francisco Souto Neto

 

Comecei a escrever este texto hoje, 16 de novembro de 2020, dia seguinte às eleições para prefeitos e vereadores em todo o país.

Ontem o Jornal Nacional divulgou os assustadores índices do aumento em Curitiba e no Paraná dos contágios pela covid 19. Nos Estados Unidos e em alguns países europeus ocorre o que chamam de “segunda onda” da pandemia, o mesmo que, lamentavelmente, começa a acontecer também entre nós.

A bem da verdade, o brasileiro médio não está dando a importância que a pandemia requer. No mundo todo os índices não param de crescer e a situação é cada vez mais preocupante.


Acho estranho que tantas pessoas estejam politizando a pandemia. Os bolsonarianos têm dito seguidamente nas redes sociais que o presidente da República não tem culpa pelo avanço do coronavírus, porque, segundo eles, cuidar-se é responsabilidade de cada um e que isto nada tem a ver com Bolsonaro. Mas a realidade é que o presidente, desde o começo do flagelo, minimizou o poder do coronavírus, dizendo no princípio que isto não passava de uma “gripezinha”, que o uso de máscara era para “os fracos” e estimulou seus seguidores a sair às ruas sem máscara, ignorando o isolamento social. Ele próprio há meses é visto sem máscara nas suas incursões pelas ruas, abraçando admiradores – muitos sem máscara – e tirando “selfies” com as vítimas do descuido. Não bastou que fosse acometido pela covid-19, pois tendo tido a sorte de curar-se, continuou no seu habitual mau exemplo. Há duas semanas ele declarou que o Brasil é um país de maricas, referindo-se àqueles que têm medo do contágio. Em julho Bolsonaro chegou ao absurdo de vetar lei sobre obrigatoriedade de uso de máscaras aprovada pelo Congresso Nacional que determinava que o uso obrigatório em locais fechados onde há reunião de pessoas, como estabelecimentos comerciais e industriais, templos religiosos e locais de ensino.

Tirei esta foto da tela do meu televisor no dia 15, antes de ontem. Nos dois últimos dias o salto atingiu um nível ainda muito mais alto de contaminações.

Detalhe da foto anterior.

Foto também do dia 15, antes de ontem.

Detalhe da foto anterior.

 E assim todos os que são fanatizados pelo tal “mito” – que de "forças da natureza" nada tem – e extremistas, seguem o péssimo exemplo do presidente e influenciam negativamente familiares e amigos. Portanto, declarar que o presidente “nada tem a ver” com o aumento das contaminações verificado nos últimos dias, é um atestado de ignorância aos preceitos mais básicos da profilaxia.


Antes de ontem este era o salto do Paraná em contaminações. Hoje, 17 de novembro, apenas dois dias após o índice acima, houve um salto ainda maior, de mais 40% de contaminações. Isto significa que lamentavelmente estamos entrando em um período muito mais crítico do que todos os anteriores.  Todo cuidado é pouco.

O Brasil tem 5.864.943 casos e 165.858 mortes por coronavírus hoje confirmados. No mundo já são 54.678.159 casos registrados e 1.321.403 mortos. Esses dados que englobam todos os países do planeta são atualizados de hora em hora neste link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Predefini%C3%A7%C3%A3o:Dados_da_pandemia_de_COVID-19

Os dez piores países em contaminação de pessoas pela covid-19 são neste momento os seguintes: Estados Unidos, Índia, Brasil, França, Rússia, Espanha, Argentina, Reino Unido, Colômbia e Itália.

Felizmente nos Estados Unidos Donald Trump foi derrotado em sua tentativa de reeleição, um presidente abjeto e ridículo avesso à própria democracia, aos direitos individuais, ao respeito às minorias, à cultura e até mesmo à ciência... um exemplo que foi seguido e ampliado pelo presidente brasileiro.

Em julho Bolsonaro chegou ao absurdo de vetar lei sobre obrigatoriedade de uso de máscaras aprovada pelo Congresso Nacional que determinava o uso obrigatório em locais fechados onde há reunião de pessoas como estabelecimentos comerciais e industriais, templos religiosos e locais de ensino.


O fato é que o Bolsonaro é um entrave até mesmo no tocante nos episódios que temos presenciado, que envolvem as tão esperadas vacinas contra a peste. Por questões políticas, esse homem opôs-se à vacina chinesa, uma dentre várias outras que estão em avançado estágio de testes e que já está sendo produzida no Brasil. Não vale a pena estender-me sobre esses fatos que estão todos registrados na internet e são de sobejo conhecidos pelas pessoas bem informadas. Isso faz-me acreditar que no futuro esse homem poderá vir a ser julgado por um tribunal internacional. Abjeto, ignorante, incompetente. Mentalidade medieva, continua negando a ciência e minimizando a pandemia. Uma família de sanguessugas envolvidos com milicianos e criminosos: é a corrupção em seu grau mais nefasto.

Felizmente maior parte dos candidatos (a prefeito e a vereador) apoiados por Bolsonaro não se elegeram na votação de ontem. Agora que estamos chegando à metade do tempo do mandato de quatro anos do presidente, é bom tratarmos de ajudar a empurrá-lo ladeira abaixo, para que o próximo presidente possa afastar o nazifascismo do Brasil e representar um tempo de respeito à ciência, à ética, aos direitos individuais, ao  jornalismo e à verdadeira democracia, jogando tudo o que não presta à lata de lixo da História.

-o-


OBSERVAÇÃO EM 18.11.2020, APENAS TRÊS DIAS APÓS AS FOTOS QUE APARECEM AO INÍCIO DO ARTIGO ACIMA.







As fotos acima, que tirei da tela do televisor em 18.11.2020, durante o Jornal Nacional, mostram as linhas ascendentes do pavoroso avanço das contaminações e mortes pela covid-19 no Brasil. Podem ser comparadas com as estampadas ao início do artigo, tiradas há apenas 3 dias.

Em apenas três dias as contaminações e mortes pela covid-19 tiveram um avanço assustador. Isto significa que antes mesmo de cessada a "primeira onda" da pandemia entre nós, já ingressamos na segunda. Como o coronavírus manifesta-se no organismo aproximadamente 15 dias após o contágio, pode-se atribuir este avanço ao "feriadão" do Dia de Finados, com as pessoas andando sem máscara pelas ruas e viajando às praias como se já estivéssemos livres da peste.  Durante as eleições o prefeito Rafael Greca manteve a "bandeira amarela" em Curitiba, fazendo parecer que o controle à covid-19 estaria estável, quando ele deveria ter alertado à realidade de Curitiba nesse contexto. Creio que no começo de dezembro nós teremos mais um lamentável e triste aumento de contaminações e mortes devido à concentração de pessoas em vários locais de votação no dia 15 último. Todos teriam que dar um basta à política negacionista de Bolsonaro e demonstrar que temer a contaminação e usar máscara não é "ser maricas", nem "ser fraco", conforme o pensamento asqueroso do presidente. É estar preservando a própria vida e a do próximo.

-o-