domingo, 17 de junho de 2018

PASSO A PASSO DO CATETERISMO, DA ANGIOPLASTIA E DAS ANGÚSTIAS DECORRENTES, ou PLANO DE SAÚDE versus HOSPITAL versus UTI: UMA VIA-CRUCIS.



Paciente em sua cama hospitalar


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Comendador Francisco Souto Neto


PASSO A PASSO DO CATETERISMO, DA ANGIOPLASTIA E DAS ANGÚSTIAS DECORRENTES,

ou

PLANO DE SAÚDE versus HOSPITAL versus UTI: UMA VIA-CRUCIS.

Francisco Souto Neto

Estetoscópio

No fim do ano passado, um teste da esteira ergométrica pela primeira vez apontou irregularidades no meu sistema cardiológico, o que foi logo depois confirmado por exame de cintilografia. Fez-se necessária a realização de um cateterismo, o que me foi informado pelo meu médico cardiologista no dia 29 de janeiro.

Cateterismo: os desentendimentos entre hospital e plano de saúde

Entretanto, as dificuldades e empecilhos surgidos entre hospital e plano de saúde que se desenrolaram durante semanas atrasando a realização do meu exame, são de fato inconcebíveis. Decidi-me a tornar pública esta narrativa da sucessão de equívocos nos trâmites pela liberação do procedimento, como forma de alertar sobre a falta de sintonia que pode existir entre hospital e plano de saúde, no intuito de que os dirigentes dessas instituições reflitam sobre os fatos, de molde a aperfeiçoarem seus contratos, para que os pacientes não encontrem óbices ao seu tratamento, e este flua com maior rapidez e precisão.

Hospital

Segundo o hospital, o plano de saúde deveria liberar a autorização para realizar-se o cateterismo num prazo, se estou bem lembrado, de cinco dias. Uma vez liberado o exame, o hospital me telefonaria para agendar a data do cateterismo.

Ora, quem se submete a um cateterismo, que é um exame no coração através de um cateter introduzido por uma artéria na virilha e que é levado pelo vaso sanguíneo até às coronárias, nem sempre pode esperar por muito tempo, principalmente em se tratando de paciente com obstruções críticas e sob risco de enfarto iminente.

Plano de saúde

Ultrapassado o prazo e estranhando a lerdeza, telefonei ao hospital cobrando-lhe o agendamento do meu cateterismo, mas este ainda não recebera a autorização do plano de saúde.  Tomei a iniciativa de ligar diretamente a este último para saber o motivo da demora na liberação do exame. O atendente disse-me, para minha surpresa, que o procedimento já estava autorizado, e que o hospital já deveria ter-me avisado. Agradeci, desliguei e telefonei ao hospital. Conversei com a moça encarregada e perguntei-lhe por que o hospital ainda não me havia comunicado. Porém, segundo ela, a autorização ainda não lhe fora informada pelo plano de saúde, e ficou de tomar as providências e de me telefonar para agendar a data do procedimento.

Começou então um “jogo de empurra-empurra”. O plano de saúde me informava que o procedimento para o cateterismo estava autorizado, e o hospital dizia não ter recebido a autorização. Com muito desgaste psicológico, e após extensos interurbanos para a diretoria do plano de saúde (que é em Minas Gerais) e de muitas ligações para a funcionária do hospital aqui em Curitiba, consegui desatar o nó e decifrar essa fastidiosa “Pedra da Roseta”: segundo as regras do plano de saúde, todo procedimento até ao valor de R$3.000,00 (três mil reais) não necessita de liberação, pois esta é automática. Isto é, o hospital, em regra, nem precisaria pedir a liberação para o cateterismo. Em outras palavras, o médico deve realizar o referido cateterismo e mandar a conta para o plano, que fará automaticamente e sem formalidade o pagamento ao hospital. Procurei descobrir qual teria sido o valor pedido pelo hospital para a realização do exame, e a resposta do plano foi de que haviam solicitado uma verba por volta de 800 ou 900 reais (não me recordo com exatidão qual o valor, porém seguramente era inferior a mil reais). Então, se o valor pedido era inferior a três mil reais, por quê o hospital não liberava o meu cateterismo? Porque, segundo a regra do hospital, todo procedimento, mesmo que inferior a três mil reais, teria que ser expressamente autorizado pelo plano de saúde. Que imbróglio: o plano, segundo suas regras, diz que não é necessária a liberação de valores menores de três mil reais, e o hospital se recusa a atender o paciente porque exige que o plano libere valores mesmo quando menores de três mil reais. Enquanto isso o paciente, irritado, com a pressão arterial quase explodindo pela indignação, tem que intermediar as empresas para que cheguem a um consenso. Um absurdo que chega a ser um abuso, uma afronta, um desrespeito.

O plano de saúde foi mais gentil. Sua diretoria reuniu-se para deliberar sobre o assunto. E a atenciosa assessora telefonou para minha residência, informando-me de que, embora não tivesse que fazer expressamente qualquer liberação, porque o valor pedido pelo hospital era inferior a três mil reais, a diretoria deliberou que a sua empresa faria a tal liberação que era exigida pelo hospital. Disse-me mais: que a tal liberação, totalmente desnecessária segundo suas regras, estaria sendo uma exceção feita unicamente em consideração a mim.

Então o hospital me telefonou, dizendo-me que finalmente recebera a liberação tal como exigiam as suas regras, e agendou meu cateterismo para o dia 16 de fevereiro. Foram duas semanas e meia de luta para chegarmos ao procedimento. Que perda de tempo, que burocracia infame.

A ilustração acima mostra o caminho percorrido pelo cateter, tanto no cateterismo quanto na angioplastia, que é introduzido pela artéria femoral e empurrado até ao coração.

Resolvi não informar aqui o nome do hospital, nem o do plano de saúde, para não prejudicá-los. Mas a história não termina aqui, porque há mais complicações a relatar pela frente.

Angioplastia: mais desentendimentos entre hospital e plano de saúde

O cateterismo confirmou o diagnóstico do meu cardiologista: eu trazia quatro lesões em minhas coronárias: duas menos graves e duas outras mais críticas. As duas menos graves estavam, entretanto, exatamente na bifurcação de dois vasos sanguíneos, um local que impede o tratamento com a colocação de stents. Decidiu-se então pela realização de uma angioplastia para a colocação dos referidos aparelhos apenas nas duas obstruções mais sérias.

O hospital pediu a autorização ao plano de saúde para realizar a angioplastia... e a via-crucis reiniciou-se! Durante dias, depois semanas, o contratempo repetia-se: o plano de saúde dizia-me que já tinha autorizado o hospital a realizar o procedimento, e o hospital insistia em informar que “os instrumentos” não estavam ainda autorizados, quais sejam, os stents farmacológicos e todo o restante necessário à realização da cirurgia. Para encurtar este capítulo, consegui descobrir que desta vez o erro era do plano de saúde. O que se passava era que este tinha agora autorizado a realização de um cateterismo, mas a autorização que o hospital esperava desta vez era para uma angioplastia.

Esses enganos por várias vezes me levaram a perder a paciência e, neste último caso, avisei a ambas as partes que se não autorizassem a liberação do procedimento num prazo de 24 horas, eu levaria a denúncia ao Ministério Público. A sugestão para que eu tomasse essa medida partiu de um meu colega da Academia de Letras José de Alencar, onde somos pares de diretoria. Por sorte, no fim daquela tarde o procedimento – que era emergencial – foi finalmente liberado.

De qualquer modo, há que se fazer justiça às funcionárias e à cúpula do meu plano de saúde, que agiram sem a intenção do equívoco, e que ao telefone sempre foram muito solícitas e atenciosas, a ponto de me telefonarem por duas vezes à minha residência para saberem se o hospital recebera as autorizações; e justiça também se faça às funcionárias do hospital que, do mesmo modo, sempre me atenderam com distinção, até mesmo fora do seu horário de expediente. Os erros que ocorreram nas duas ocasiões de ambas as partes, obviamente não foram propositais, e as funcionárias do hospital estavam atazanadas pelo excesso de trabalho. Eram apenas duas moças para atender a um sem número de responsabilidades. Uma delas foi despedida no transcurso desses desencontros, e então a situação ficou ainda mais complicada, porque aquela que permaneceu tinha, além das suas atribuições, que ensinar o trabalho à nova colega. Um desses trabalhos era justamente o de manter permanente contato com os planos de saúde, insistindo para que os mesmos fizessem as liberações que vinham sendo solicitadas com urgência.

Curiosamente, em ambas as instituições, as chefias foram sempre representadas por mulheres. Para as novas gerações, as mulheres exercerem funções de chefia são absolutamente naturais, e é assim mesmo que tem que ser. Para quem, como eu, nasceu no começo da década de 40 do século passado, é surpreendente observar o quanto a mulher evoluiu na conquista dos seus direitos, para finalmente poder ocupar cargos de comando. Isso me inspirou a uma crônica que publiquei em jornal há quase 10 anos, em outubro de 2009, denominada Mulheres no poder, e que poderá ser lida por quem desejar fazer uma pausa neste relato sobre planos de saúde e hospitais. Neste link:


Pelos motivos acima expostos, como já disse, não estou mencionando os nomes, tanto do hospital quanto do plano de saúde, para preservá-los. Entretanto enviarei este artigo às diretorias dos mesmos, para que tomem conhecimento dos fatos e aperfeiçoem os seus sistemas de trabalho e os contatos entre ambas as instituições, e assim seus futuros pacientes não passem pelos dissabores que eu conheci.

A angioplastia

A angioplastia é um procedimento cirúrgico que tem por objetivo revascularizar o coração, procurando normalizar o fluxo sanguíneo quando há artérias entupidas. Através de uma artéria do braço ou da perna é inserido um cateter (a pronúncia correta é “catetér”, e não “catéter”) que é empurrado até ao coração. Os médicos preferem fazer o procedimento pela perna, mais exatamente pela virilha. No meu caso, pretendia-se implantar dois stents nas artérias com obstruções. O stent é um aparelho metálico, sanfonado, que é aberto dentro do vaso sanguíneo para esmagar as obstruções contra as paredes da artéria, assim normalizando o fluxo do sangue.

Após tal procedimento, o paciente já acordando da anestesia, sente que o médico exerce forte pressão sobre o local onde foi feita a abertura para a introdução do cateter. Durante cerca de dez minutos ele pressiona fortemente o local, porque é assim que se procura evitar um sangramento, o que seria muito perigoso. Afinal, uma artéria, sempre profunda, é mais delicada do que as veias superficiais por onde corre o sangue venoso.

Em seguida, o paciente é envolvido com uma faixa apertadíssima que continua pressionando o local da punção. Mas é aí que começa aquilo que denominei “tortura chinesa”.

Maldita faixa

Os pacientes do sexo masculino começam a enfrentar os problemas da próstata antes de atingir a idade de 40 anos. Com a passagem dos anos – e das décadas – a próstata vai gradativamente aumentando o seu volume, e à medida em que essa glândula cresce, ela pressiona cada vez mais as vias urinárias e a própria bexiga. Assim comprimida, a bexiga passa a ter um espaço cada vez menor para armazenar a urina. Por isso, a partir dos 50 anos, aproximadamente, o homem tem que urinar muitas vezes mais do que os jovens. E isto torna o sono dos idosos interrompido várias vezes durante a noite para esvaziar a bexiga que, por estar comprimida, incomoda como se estivesse muito cheia.

Uma UTI

O paciente do cateterismo tem que permanecer com a faixa que mencionei há pouco, durante 48 horas, as primeiras 24 internado na UTI, a as restantes no quarto do hospital. Como essa tal faixa fica apertadíssima sobre a bexiga, o paciente idoso sente necessidade premente de urinar a cada 30 ou 40 minutos. Ou seja, não consegue dormir. Quando começa a ser vencido pelo sono, vem a vontade quase incontrolável de urinar, e ele precisa gritar por socorro quando algum enfermeiro passa à frente do box onde ele se encontra deitado e imobilizado. Sim, imobilizado, porque após a angioplastia, o paciente fica proibido de flexionar a perna cuja artéria femoral foi usada para a introdução do cateter. Ele não pode levantar-se, sob risco de sérias complicações. Isto significa que todas – eu disse todas – as suas necessidades fisiológicas devem ser realizadas deitado. O “papagaio” e a “comadre” passam a ser seus companheiros inseparáveis.

Eu gostaria de sugerir aos médicos que realizam angioplastias, duas medidas de caráter humanitário, para que os pacientes idosos não sofram de angustiante desconforto. Primeiro, fica a minha sugestão para que a faixa que deve ser obrigatoriamente colocada no paciente, não seja estendida em toda a volta do corpo à altura do púbis, mas envolvida unicamente na coxa, firmando-se fortemente – ainda que às custas de esparadrapos – na região da articulação do fêmur com a bacia. Isso evitaria a fortíssima pressão sobre a bexiga e o intenso sofrimento seria em muito atenuado.

No desenho de cima, que eu mesmo fiz, mostro como a faixa é colocada, circundando todo o púbis e nádegas, apertando a bexiga. O ponto vermelho na figura, indica o local na virilha por onde é feita a punção da artéria femoral para a introdução do cateter que é empurrado até chegar ao coração. A faixa aparece na cor verde. Na parte de baixo do desenho, mostro como acredito que a faixa deveria ser colocada sobre o local da punção, circundando apenas a coxa, deixando a bexiga livre da pressão. Assim seria infinitamente mais confortável e menos traumático, principalmente para o paciente idoso.

Encontrei na internet a fotografia abaixo, que mostra um paciente após uma angioplastia, com a faixa colocada apenas na coxa, sem pressionar a bexiga, o que comprova que essa técnica é eficiente.

Foto da internet, com paciente pós-angioplastia usando a faixa apenas na coxa.

A segunda medida seria o uso – e que se tornasse para sempre indispensável – dos seladores hemostáticos que reduzem o tempo de uso da faixa, proporcionando muito mais conforto não apenas aos idosos, mas aos pacientes de todas as idades e de ambos os sexos.

Peço encarecidamente aos médicos que levem a questão da faixa aos congressos que tratem dos temas cateterismo e angioplastia e que tomem por regra tornar a faixa menos aflitiva, sobretudo aos idosos que a ela têm que se submeter.

O meu vizinho de box recém-saído de uma cirurgia de ponte mamária

Durante as 24 horas passadas na UTI, nada me deixou mais sensibilizado do que o meu vizinho colocado no box exatamente em frente ao meu. Vi quando ele chegou cheio de tubos, proveniente de uma cirurgia cardíaca de peito aberto. Ele estava acordando e gritava muito alto. Os médicos cercavam-no e parece-me que testavam os seus reflexos. O paciente era um jovem aparentando menos de 30 anos de idade, que ali estava operado do coração. Depois de algumas horas, bem mais desperto, ele falava as palavras muito bem articuladas, era muito bem educado porque sempre que se dirigia aos enfermeiros, começava por “por favor”, e ao final jamais deixava de dizer “obrigado”. Pareceu-me que ele tinha um sotaque estrangeiro, mas eu não conseguia identificar de onde poderia ele ser. Talvez seu idioma natal fosse o inglês. Numa das ocasiões em que uma enfermeira me atendeu, perguntei-lhe sobre meu vizinho e ela me respondeu que, sim, ele fizera uma cirurgia cardíaca e que, não, ele não era estrangeiro, mas um brasileiro surdo. Era surdo, mas tinha aprendido a falar e entendia o que as pessoas lhe falavam, porque sabia fazer leitura labial. Por isso ele articulava as palavras sempre num tom mais alto que o natural, e as pronunciava com admirável perfeição.

Muitas vezes o jovem operado dizia: “sinto falta de ar”. Colocaram aqueles condutos de oxigênio em suas narinas para que respirasse melhor. Noutro momento, ele chamou uma enfermeira que passava e pediu-lhe algo, que agora não me recordo do que se tratava. Aquela enfermeira estava usando uma máscara enquanto falava com ele. O rapaz dizia para ela: “Eu não entendo nada do que a senhora está falando”. Claro que ele não entendia, pois os lábios dela estavam ocultos pela máscara. E ela respondia a ele cada vez mais alto. É lógico que ele nada ouvia. Naquele instante passou uma enfermeira usando uniforme cor-de-rosa, o que evidenciava tratar-se de uma voluntária. Chamei-a: “senhora, senhora, por favor...”. Ela aproximou-se e eu lhe pedi que contasse para a enfermeira que ali estava de máscara, que o paciente era surdo e que tinha que fazer leitura labial... e para que o paciente a entendesse, ela teria que retirar a máscara. Notei que ele me observava enquanto eu falava com a senhora de rosa. Ela passou a informação à colega, que tirou a máscara... e o paciente passou a entender tudo. Em seguida ele acenou para mim e disse-me alto e bom tom: “Muito obrigado”.

As horas passavam e eu via esse meu vizinho com os olhos meio perdidos no vazio. Ele tinha muito desconforto e sentia dores. Consternado, ouvi-o falar sozinho, com a voz um pouco chorosa: "Eu me sinto muito abandonado".

No meio da noite, um barulho ensurdecedor

Na parede ao fundo, do lado esquerdo e sobre os computadores, havia um relógio. Através dele, eu pude acompanhar minuto a minuto a passagem das horas e fazer uma contagem regressiva para o momento previsto para que eu deixasse a UTI e passasse para um apartamento. Minha bexiga comprimida pela faixa, a todo instante fazia-se sentir no limite de sua capacidade de retenção...

Num dos momentos em que, vencido pelo cansaço, eu começava a cochilar, ouvi um barulho altíssimo como se estivéssemos numa funilaria. Ouvia batidas de metal e, na minha imaginação, via ferreiros que trabalhavam martelando adagas. Olhei para o relógio. Faltavam 15 minutos para a meia-noite.

O barulho era produzido por duas mulheres que mexiam em metais e conversavam em voz muito alta, com impressionante entusiasmo e grande animação. Eu me senti como se estivesse em meio a um pesadelo. Olhei bem para aquele lado, que estava com as cortinas abertas, e vi que as mulheres ocupavam-se em desmontar camas hospitalares. Elas empurravam partes desses móveis com as mãos, e as “marteladas” eram um ferro da cama batendo contra o outro. Já passava da meia noite quando, indignado, eu disse bem alto para elas: “Mas essa barulheira e essa conversa nessa altura são coisas inadmissíveis que aconteçam no meio da noite e num hospital. Pior que isso, numa UTI. Vocês não aprenderam um pouco de educação, não? Não sabem onde estão?”. Instantaneamente a conversa animada se desfez e a bateção de metais quase silenciou. Elas terminaram o trabalho que faziam e saíram em silêncio. Então uma das moças que estavam à mesa dos computadores – não sei se ela seria enfermeira ou médica – veio a mim e me disse que eu fizera muito bem em reclamar, e que quando deixasse o hospital sugeriu que eu registrasse uma denúncia por escrito. E acrescentou que se tratava de funcionárias “terceirizadas” que não a atenderiam caso ela reclamasse.

Assim fiz. Após deixar a UTI e passar mais um dia inteiro no apartamento, ao receber alta formalizei a denúncia. Aquilo aconteceu na noite de 14 para 15 de março de 2018. Estranhamente, nunca recebi uma explicação ou um pedido de desculpas por parte do hospital. Se sua administração for organizada, encontrará minha reclamação em seus arquivos. Oxalá tenham tomado providências para que as “funcionárias terceirizadas” não façam mais happy hours na UTI no meio da noite.

Durante os dois dias em que estive internado, esta foi a única falha do hospital. Tratava-se, está visto, de uma falha administrativa e da falta de um bom treinamento a funcionários terceirizados, inteirando-os de que hospitais e UTIs não são parques de diversões. Quanto aos médicos e enfermeiros, sem distinção de gênero, foram todos atenciosos, profissionais, competentes e dedicados; sob este aspecto, tenho só a elogiar e a agradecer, pois em nenhum momento eu me senti coisificado – pois a coisificação, isto é, o ser humano tratado como objeto, deve ser uma das piores degradações da vida.

O resultado final

Para que este relato não fique incompleto, devo registrar para os leitores que tiveram a paciência de chegar aqui, qual o resultado dos procedimentos aos quais me submeti.

Um dos stents foi colocado no lugar, com sucesso. O outro, porém, não pôde ser colocado porque a obstrução encontra-se numa curva da artéria. Logicamente, o aparelho de metal ali colocado poderia causar uma perfuração. Então meu médico aplicou a técnica do balãozinho, que é levado até ao local da lesão e inflado, forçando as obstruções a serem comprimidas contra as paredes da artéria, assim possibilitando um fluxo melhor para a corrente sanguínea.

Acho oportuno acrescentar que esses procedimentos não causam dor, nem desconforto. E o local da punção fica praticamente invisível, pois é minúsculo. Mas os resultados, tanto de stents quanto dos balões, são sempre incertos. Somente após seis meses da angioplastia, é que os exames costumam ser refeitos para atestar-se que as obstruções estacionaram, ou se voltaram a crescer.

Este é quadro e estas são as expectativas de todos os pacientes que despontam com problemas coronarianos. Espero que este artigo, diferente do que habitualmente escrevo, possa ser útil a alguém. Quanto a mim, leve que sou, e lúcido, prossigo com a mesma boa disposição de sempre, e cheio de novos planos para o futuro.

-o-

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