domingo, 17 de novembro de 2024

APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DA MUSEOLOGIA EM CURITIBA por Francisco Souto Neto: A HISTÓRIA DA SAM – SOCIEDADE DE AMIGOS DOS MUSEUS de Curitiba enquanto fiz parte de sua diretoria (1992 – 1997).

 

 

Dirigentes da SAM – Sociedade de Amigos dos Museus reunidos em 1995: Lylian Vargas, conselheira, e alguns dos membros da SAM: Dino Almeida, presidente; Nelson Ferri e Francisco Souto Neto, diretores; Moysés Paciornik, e Antônio Carlos Espíndola Schrega, vice-presidentes; e João Henrique do Amaral, curador.

 Francisco Souto Neto em 2015 aos 72 anos.

 

Apontamentos para a História da Museologia de Curitiba: 

A HISTÓRIA DA SAM – SOCIEDADE DE AMIGOS DOS MUSEUS de Curitiba enquanto fiz parte de sua diretoria (1992 – 1997)

por  Francisco Souto Neto

 

Como nasceu a Sociedade de Amigos dos Museus

Após trabalhar durante 30 anos como bancário, aposentei-me em 1991 no cargo de Assessor da Presidência do Banestado, cargo este acumulado com o de Assessor para Assuntos de Cultura do mesmo banco oficial do Paraná.

No meu período de trabalho estive muito envolvido com a vida cultural de Curitiba e, por extensão, do Paraná. Com colunas em jornais e revistas, eu acompanhava e comentava tudo o que ocorria na capital e integrava diretorias de instituições principalmente ligadas a órgãos oficiais do Município e do Estado. Por exemplo, eu era conselheiro do Sistema Paranaense de Museus e reunia-me periodicamente com o Secretário de Estado da Cultura, René Dotti, para tratar de assuntos ligados à Pasta. Era também conselheiro do Museu de Arte do Paraná, convidado por seu dirigente Ennio Marques Ferreira. Pertenci também à diretoria do Instituto Saint-Hilaire da Defesa dos Sítios Históricos, dentre outras instituições oficiais ligadas à cultura.

Reunião com o Secretário de Estado René Dotti com os conselheiros do Sistema Estadual de Museus.Aparecem na foto acima: Ubaldo Martini Pupo, Francisco Souto Neto, René Ariel Dotti, Mauri Rodrigues da Cruz, Maria das Dores Wouk, Márcia Kersten. Heloísa Monte Serrat Bindo, Jair Mendes.    

Roberto Requião sucedeu a Álvaro Dias nas eleições do fim do ano 1990, tomou posse como governador do Paraná em 15 de março do ano seguinte e levou Nadyegge Almeida e Marisa Villela às diretorias do Museu de Arte Contemporânea e Museu da Imagem e do Som, respectivamente.

EXPRESSÃO & ARTE por Francisco Souto Neto. Curitiba, 21 dez. 1992.

Logo que assumiu a diretoria do referido museu, nos primeiros dias do Governo Requião, Nadyegge deparou-se com o seriíssimo problema da falta de recursos para as atividades mais primárias dentro da sua unidade, que era justamente o mais importante museu do Estado do Paraná. Procurando por soluções urgentes, ela idealizou uma associação de amigos de museus, obtendo, incontinenti, o apoio de Marisa Villela, diretora do Museu da Imagem e do Som – MIS.

 

Nadyegge, então ex-esposa do poderoso cronista social Dino Almeida, conhecia meu trabalho como idealizador do Museu Banestado e sabia de minha atuação como conselheiro do Sistema Paranaense de Museus, por isso telefonou-me convidando-me a fazer parte da diretoria da AA-MAC/MIS (Associação dos Amigos do Museu de Arte Contemporânea e Museu da Imagem e do Som), depois conhecida com SAM – Sociedade dos Amigos dos Museus. A diretoria foi composta por apenas quatro pessoas: Lylian Betty Tamplin Vargas, presidenta; Osmar Nodari, vice-presidente; Francisco Souto Neto, diretor secretário; Nelson Ferri, diretor financeiro.

 

Alguns meses depois, o Museu Paranaense – MP passou também a integrar a Sociedade dos Amigos dos Museus.

 

O Conselho Administrativo da SAM foi composto por Ivens Fontoura, Airton C. Pissetti e Jaime Bernardo Rodrigues dos Santos. Para o Conselho Consultivo foram convidadas e empossadas personalidades das mais representativas no universo cultural de Curitiba.

 

Vale lembrar que esses cargos de diretoria e de conselheiro nos órgãos oficiais do Estado o Município, nós exercemos sempre ars gratia artis, isto é, “arte pela arte”, por diletantismo, sem remuneração.

 

Reunião da diretoria da SAM: João Henrique do Amaral, do MAC; Nadyegge Almeida, diretora do MAC e idealizadora da SAM; Francisco Souto Neto, diretor-secretário; Lylian Betty Tamplin Vargas, presidente; e o empresário Rodrigo W. de Souza.

Diretores de museus oficiais são cargos de confiança do governo e temporários, e podem ser substituídos a qualquer tempo, por motivos técnicos ou políticos. Os museus que compunham a SAM – Sociedade dos Amigos dos Museus passaram a ser assim dirigidos no novo governo estadual: o MAC por Maria Amélia Junginger; o Museu da Imagem e do Som por Regina Wallbach; o Museu Paranaense por Mauri Cruz.


Na batalha pela obtenção de recursos, a SAM, sob a presidência de Lylian Vargas, realizou leilões de arte, e após entendimentos com o banco oficial do Paraná, foi constituída a CBP (Cobrança Programada Banestado), através da qual pessoas podiam colaborar com a contribuição de apenas cinco Ufirs mensais. Ufir foi um indexador criado em 1991 em substituição ao extinto BTN, como medida de valor e parâmetro de atualização monetária de tributos e de valores expressos em cruzeiros na legislação tributária federal e os relativos a multas e penalidades de qualquer natureza.

 

Os recursos obtidos pela SAM visavam suprir as necessidades de diversas das atividades dos museus, tais como: manter contatos com entidades culturais e apoiar toda iniciativa e valorização dos acervos existentes; apoiar a realização de estudos e projetos de desenvolvimento relativos ao patrimônio artístico e cultural do Paraná; procurar propiciar maiores condições de trabalho para os funcionários dos três museus; colaborar na captação de recursos financeiros ou de contribuição de qualquer natureza para programas e projetos de interesse dos museus, e contribuir para a realização de viagens de estudos dos funcionários do MAC, MIS e MP em cursos, conferências, seminários, exposições e encontros do interesse dos mesmos.

 

A atuação da presidenta Lylian Vargas

 

Lylian Betty Tamplin Vargas era casada com Odilon Túlio Vargas (1929-2008) que foi um político, jurista, procurador de estado, historiador e escritor. Em Vozes do Paraná Volume 3, de 2010, Lylian Vargas foi descrita por Aroldo Murá como “aquela que conhece a arte de comandar e de reinventar o tempo”. Dentre os seus muitos empreendimentos, foi proprietária do Sir Laboratório de Som e Imagem, um dos mais importantes em seu ramo no Paraná, foi também diretora do Shopping Crystal de Curitiba, e conduziu a Crystal Fashion até esta tornar-se um acontecimento de porte nacional.

 

No ano de 1992, na qualidade de presidenta da SAM-MAC/MIS/MP – Sociedade dos Amigos dos Museus, Lylian Vargas obteve um excelente espaço no piso 2 do Shopping Center Todeschini Plaza para ser a sede da instituição. Tal espaço foi cedido pelo empreendedor do referido shopping, Gustavo Bermann, e inaugurado com a exposição “Vermelho”, que reuniu obras dos artistas Rogério Dias, Juliane Fuganti, Uiara Bartira, Dulce Osinski, Glauco Menta, Ronald Simon, Alexandre Magno, Teca Sandrini [Estela Sandrini], Esther Maria Braga Cortes, Bernadete Panek, e dos fotógrafos Vilma Slomp, Orlando Azevedo, Genésio Siqueira, Sérgio Sossela. O bonito convite para a mostra “Vermelho” foi criado pelo designer Rodrigo Wagner de Souza.

 

O Espaço Cultural do shopping, onde instalou-se a sede da SAM, era atendido por Sandra Maria Gutierrez.

 

Graças ao dinamismo e visão empresarial de Lylian Vargas somados ao contagiante entusiasmo dos diretores dos museus, a SAM-MAC/MIS/MP ganhou corpo e na ocasião acreditei que sobreviveria às suas idealizadoras e às constantes renovações dos governos estaduais, prestando relevantes serviços em prol da cultura deste Estado.

 

EXPRESSÃO & ARTE por Francisco Souto Neto. Curitiba, 6 dez. 1993, p. F2.

 

Na presidência da SAM, a transição de Lylian Vargas para Dino Almeida

 

Como relatei anteriormente, em 1991, logo que Nadyegge Almeida e Marisa Villela assumiram as diretorias do Museu de Arte Contemporânea, e Museu da Imagem e do Som, respectivamente, depararam-se com uma desalentadora falta de recursos financeiros para suprir até mesmo as suas necessidades mais primárias.

Tal quadro refletia o desinteresse de Brasília pelos assuntos de cultura, já que a quase miserabilidade dos nossos museus era não um fenômeno isolado, paranaense, mas uma realidade nacional. O presidente da República era o inexpressivo Itamar Franco, que sucedia a Fernando Collor de Melo, o primeiro presidente eleito por votação direta desde a eleição de 1960, que sofreu impeachment em 1992, devido a um grande escândalo de corrupção. 

Durante dois anos de gestão, Lylian Vargas trabalhou com afinco, obtendo recursos que socorreram os museus em inúmeras ocasiões, e não apenas nas suas necessidades mais básicas. A presidenta contou com o decidido apoio da diretoria da SAM, dos diretores dos museus envolvidos e com um forte e representativo quadro de conselheiros. A gestão de Lylian Vargas caracterizou-se pelo entusiasmo, dedicação e empenho absoluto. A SAM continuou instalada no Espaço Cultural Berman. A esse tempo Regina Wallbach passou a responder pelo MIS e Maria Amélia Junginger pelo MAC.

Uma das inúmeras fotografias publicadas em jornal.

Por acreditar que a renovação é salutar e necessária, Lylian Vargas afastou-se da presidência (passando a integrar o quadro de conselheiros da SAM) e foi sucedida pelo jornalista e advogado Dino Almeida. Dino foi uma boa escolha porque era dinâmico e empreendedor, com elogiadas iniciativas no campo da filantropia e na área cultural que sempre alcançaram sucessos de sobejo conhecidos. Ele passou a simbolizar, portanto, o fortalecimento da entidade. Durante sua gestão para o biênio seguinte, foi coadjuvado por uma diretoria também fortalecida, composta de três vice-presidentes (Rodrigo Wagner de Souza, Moysés Paciornick e Antônio Carlos Espíndola Schrega), dois diretores da gestão anterior, então reeleitos (Francisco Souto Neto e Nelson Ferri), e o curador João Henrique do Amaral.

 

Discurso de Francisco Souto Neto (à direita), diretor da Sociedade de Amigos dos Museus. Ao fundo: Dino Almeida (o novo presidente), a ex-presidente e agora conselheira Lylian Vargas, e Antônio Carlos Espíndola Schrega (novo vice-presidente).

 

EXPRESSÃO & ARTE por Francisco Souto Neto. Curitiba, 17 a 23 set. 1995.

 

Presenças na posse de Dino Almeida 

Comprei dois livros (cadernos) próprios para o registro das atas e um para colher as assinaturas dos presentes à posse de Dino Almeida na presidência da SAM – Sociedade de Amigos dos Museus MAC/MIS/MP. A afluência de convidados foi enorme. Eu mesmo me encarreguei do protocolo e conduzi a cerimônia.

O livro de assinaturas registrou, em suas três primeiras páginas, os nomes dos presentes à solenidade, na noite de 25 de novembro de 1993.

Um detalhe: os convidados, em vez de seus endereços como era habitual à época, registraram os números dos seus telefones. Note-se, por curiosidade, que todos eram telefones fixos... porque telefones celulares ainda não existiam. Hoje esses números já nada significam, porque raríssimas pessoas mantiveram os telefones fixos dos tempos da Telepar. Eu sou uma dessas exceções, porque mantenho meu telefone fixo e não uso telefone celular porque não gosto.






Abaixo, algumas fotografias que foram tiradas durante a posse de Dino Almeida na presidência da SAM, que começam comigo abrindo a cerimônia e dando a palavra ao presidente. Em seguida, o discurso de Dino Almeida e depois com alguns convidados.

Francisco Souto Neto dando início à cerimônia de posse a Dino Almeida.

Algumas palavras de Francisco Souto Neto.

O discurso de posse de Dino Almeida.

Dino Almeida e Francisco Souto Neto.

Marisa Villela, Francisco Souto Neto, Lylian Vargas e Regina Kracik Teixeira.


A SAM em 1995

A SAM passou por um longo período de inatividade por dificuldades diversas, principalmente porque o novo presidente, Dino Almeida, homem ocupadíssimo que era, não conseguia um tempo em sua agitada agenda para uma reunião conosco.

Agora já sem contar com o Espaço Cultural Bermann, anteriormente cedido pelo   Shopping Center Todeschini Plaza, finalmente reunimo-nos nas dependências do Museu da Imagem e do Som no dia 30 de agosto de 1995. A diretoria da SAM-MAC/MIS/MP (Sociedade de Amigos dos Museus de Arte Contemporânea, da Imagem e do Som e Paranaense) era agora representada pelo presidente Dino Almeida, pelo diretor-financeiro NelsonFerri e pelo diretor-secretário Francisco Souto Neto.  A reunião realizou-se, obviamente, com a presença dos representantes dos três museus interessados: Maria Cecília Araújo de Noronha (MAC), Clorís Souza Ferreira (MIS) e Jaime Antônio Cardoso (MP). Participou da reunião a ex-presidenta e agora conselheira Lylian Vargas, sempre disposta a incentivar e consolidar as atividades da instituição.

Naquela reunião, o presidente Dino Almeida implementou a Sociedade, tendo ficado decidido que esta prosseguiria como entidade “mater” dentre os museus e, ao mesmo tempo, atenderia à seguinte reivindicação: cederia espaço para que cada unidade museológica, se o desejasse, criasse suas próprias associações; e cada um dos três vice-presidentes previstos nos estatutos da SAM passariam a compor as diretorias de cada uma dessas novas associações (ou sociedades), todas elas ligadas ao presidente da entidade maior. Isso posto, as sub-associações de amigos dos museus trabalhariam pelas suas próprias necessidades mais prementes, enquanto que a SAM – Sociedade de Amigos dos Museus continuaria atuando em mega-escala, e até mesmo aberta às adesões de quaisquer outros museus além daqueles três que já a compunham.

Foi mantida, pois, toda a estrutura da SAM, que naquela reunião fez uma reentrée sob a presidência de Dino Almeida, objetivando redobrada atuação de apoio aos museus e, por extensão, às causas de cultura. Deste modo, o período em que esteve a SAM em inatividade deveria ser amplamente compensado com multiplicado trabalho.

Além dos diretores Nelson Ferri e Francisco Souto Neto, a SAM passou a contar com três vice-presidentes: Rodrigo Wagner de Souza, Antônio Carlos Espíndola Schrega e Moysés Paciornik.

Planejamos uma nova reunião com o presidente Dino Almeida para os próximos dias, para definir a composição das novas diretorias e das vice-presidências, e para resolvermos qual a estratégia a ser aplicada em prol dos museus, dos associados e da cultura paranaense. 

Esse planejamento, contudo, não prosperou. Talvez Dino Almeida  – a quem conheci na década de 50 em Ponta Grossa, na minha casa a convite de meu irmão mais velho, quando ele começava o seu ofício de cronista social, e que veio a tornar-se um querido amigo –,  estivesse não apenas assoberbado de trabalho, mas já começando a ter a saúde comprometida. Ele faleceria seis anos depois, em 2001.

 

EXPRESSÃO & ARTE por Francisco Souto Neto. Curitiba, 21 a 27 abr. 1996.

 

O ressurgimento da SAM para o biênio 1996-1997

Sempre com o apoio de Lylian Vargas, a SAM reiniciou suas atividades com uma nova diretoria eleita para o biênio 1996-1997, que ficou assim constituída: Pedro Arthur Sampaio (presidente), João Carlos Calvo, Maurício Appel e Lauro Grein Filho (vice-presidentes), Francisco Souto Neto (diretor-secretário) e Oldemar Justus (diretor-tesoureiro). Os três museus que compunham a SAM passaram a contar com os seguintes diretores: MAC – Museu de Arte Contemporânea: Maria Cecília Araújo de Noronha; MIS – Museu da Imagem e do Som: Clorís de Souza Ferreira; MP – Museu Paranaense: Jayme Antônio Cardoso.

Durante a reunião realizada no gabinete da diretora do MAC, Maria Cecília Noronha, o arquiteto Humberto Mezzadri apresentou a maquete do futuro anexo daquele museu, que deveria ter sete andares e 2000 metros quadrados a serem construídos na área não tombada do atual conjunto, ao lado do prédio histórico situado na Rua Desembargador Westphalen, esquina com Praça Zacarias. O futuro prédio, com climatização adequada e dentro das mais modernas exigências museológicas, permitiria que recebêssemos exposições internacionais.

O custo para essa obra verdadeiramente essencial era orçado em R$ 1,5 milhão, valor este já aprovado pela Assembleia Legislativa. A intelectualidade e o mundo artístico-cultural paranaense ficaram na expectativa dessa magnífica obra, pois como Curitiba não contava com um espaço assim, só após a concretização do projeto a nossa capital poderia ser guindada ao nível das melhores do mundo, no que diz respeito a espaços para exposições.

Contudo, como aprendemos que a política pode ser enormemente decepcionante, a verba não foi liberada e, como dizíamos naquela época, “ficamos a ver navios”.

 

A atuação de Pedro Sampaio na presidência da SAM

 

Embora os diretores dos museus já nada comentassem a respeito, nós (há muito tempo ligados ao métier) sabíamos muito bem que as unidades museológicas padeciam de falta de recursos até mesmo para as suas atividades mais básicas. Isso não ocorria somente em Curitiba, nem apenas no Paraná, mas era uma constante em nosso País.

 

Pedro Sampaio, Francisco Souto Neto, Humberto Mezzadri, Márcio T. Costa, Jayme Antônio Cardoso, João Calvo, Maria Cecília Araújo de Noronha. Foto Marília O. de Brito

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Acompanhei de perto os acontecimentos de 1996 e sou testemunha de que o novo presidente da SAM, Pedro Arthur Sampaio, com a ajuda dos seus pares de diretoria, empenhou-se em obter apoio da sociedade civil e do empresariado. 

Tivemos várias reuniões e os benefícios para os museus e para o mundo cultural paranaense foram inúmeros. Além disso, foi instituído um  brilhantíssimo e atuante conselho consultivo formado por insignes personalidades que eram destaques no mundo cultural: Ana Amélia Filizola, André Zacarow, Arnaldo Rebelo, Arnaldo Rebelo Filho, Bogdan Bembenowski, Carlos Franco Amastha, Dídio Rocha Loures, Dino Almeida, Divonsir Borba Cortes Filho, Edgard Barbosa Ribas, Euro Brandão, Francisco Cunha Pereira Filho, Helena Pereira de Oliveira, Henrique Lenz César, Ingrid Bruing, Jaime Lechinski, João Casilo, Keizo Assahida, Leonardo Petrelli, Luiz Celso Branco, Lylian Vargas, Marcelo Busato, Maria Cecília Leão Rosenmann, Maria Elisa Ferraz Paciornik, Mário Celso Petraglia, Miguel Krigsner, Moysés Paciornik, Ney Braga, Oziel Moura, Regina Casillo, Ricardo Almeida, Rodrigo Wagner de Souza, Rosane Mara Stocchero, Segismundo Morgenstern, Sônia Oms.

 

EXPRESSÃO & ARTE por Francisco Souto Neto. Curitiba, 3 a 9 nov. 1996.

 

Atuante em 1996, reúne-se a diretoria da SAM – Sociedade de Amigos dos Museus

 

Em outubro de 1996 reuniu-se a diretoria da SAM, que teve uma modificação no Museu da Imagem e do Som, com a saída da diretora Clorís de Souza Ferreira, substituída por Fernando Bini. Permaneceram Maria Cecília Araújo de Noronha no MAC e Jayme Antônio Cardoso no MP. A diretoria da SAM continuou contando com Pedro Arthur Sampaio na presidência, na vice-presidência João Carlos Calvo, Maurício Appel e Lauro Grein Filho. Eu, Francisco Souto Neto, o único a permanecer ininterruptamente desde a criação da Sociedade, prossegui no cargo de diretor-secretário, e Oldemar Justus como diretor-tesoureiro.

Lylian Vargas, que foi a primeira personalidade a ocupar a presidência da SAM, da qual era agora conselheira, ofereceu as dependências de sua empresa Sir Laboratório, para a realização da reunião. Dona Lylian, mais uma vez e como de costume, punha-se inteiramente a serviço da SAM com o propósito de ajudar a referida Sociedade a alcançar o seu desiderato.

 

Em reunião da Sociedade de Amigos dos Museus: Pedro Sampaio, Jayme Cardoso, João C. Calvo, Maria Cecília Araújo de Noronha e Francisco Souto Neto.

 

Em 1997, meu afastamento da SAM

 

Dª Edith Barbosa Souto, mãe de Francisco Souto Neto, em casa, em dezembro de 1996.

 

O ano de 1997 me reservaria uma amarga realidade: minha mãe estava aparentemente bem no primeiro trimestre, mas nos meses seguintes começou a apresentar um problema cardíaco. Em princípio não pareceu ser algo muito grave, mas a situação mudou rapidamente. Após uma semana hospitalizada, às vésperas de completar 86 anos, faleceu no dia 7 de junho de 1997.

Muito abalado e emocionalmente desestabilizado, interrompi minhas publicações na imprensa e realizei duas viagens ao Exterior no segundo semestre, à guisa de terapia para distrair-me da realidade. Sem ânimo, afastei-me da diretoria da Sociedade de Amigos dos Museus. Ainda naquele ano continuei escrevendo a coluna Expressão & Arte, mas sem regularidade e apenas a partir da última semana de novembro. O mesmo aconteceu com a minha coluna no jornal de cultura Brainstorming: com dificuldade para escrever, deprimido pelo falecimento da minha mãe, interrompi também essa atividade.

 

O fim da Sociedade de Amigos dos Museus

 

Dona Lylian Vargas perguntou-me se eu gostaria de assumir a presidência da SAM. Ainda abalado pelo luto, agradeci a confiança e declinei do convite.

Então o convite, soube depois, foi direcionado ao meu amigo de longa data, o artista plástico Domício Pedroso. Esta foi uma ótima solução, porque Domício era um homem íntegro, preparado, e que poderia levar a cabo a tarefa de bem conduzir a SAM.

Não me lembro quando, mantive um contato com Domício ao casualmente encontrá-lo num supermercado, dizendo-lhe que, embora agora afastado da diretoria da SAM, poderia contar comigo para o que estivesse ao meu alcance.

Entretanto não tive ânimo para acompanhar o desenrolar dos acontecimentos. Creio que meu amigo não teve sucessores e a Sociedade de Amigos dos Museus MAC/MIS/MP extinguiu-se logo depois.

Contudo, vale frisar que as expectativas de Nadyegge Almeida e Marisa Villela alcançaram grande êxito, graças à dedicação de Lylian Vargas. Mas, sabemos agora, nada nesta vida é para sempre. O fato é que ações valorosas jamais transcorrem em vão. No caso da SAM, elas tiveram efeito a seu tempo e se refletiram para o futuro como exemplos de grandeza e de vitorioso apoio às causas da cultura, e de pessoas que se dedicaram à comunidade de peito e alma, sem nada esperar em troca, exceto o bem coletivo.

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Francisco Souto Neto em 2024 aos 81 anos.

 

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quinta-feira, 1 de agosto de 2024

ANATOMIA DE UMA QUEDA (ou parafraseando Drummond) NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM DEGRAU por Francisco Souto Neto.

Fraturas no ombro.

 

Comendador Francisco Souto Neto (foto de 2015)

 

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ANATOMIA DE UMA QUEDA

(ou parafraseando Drummond)

NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM DEGRAU

por  Francisco Souto Neto 

 

A história dos dois degraus 

Há alguns anos antes da pandemia, ao sair do prédio onde moro, por acaso encontrei-me com um velho amigo que passava por ali, João Henrique do Amaral, um intelectual que, entre outras atribuições, foi diretor do Museu de Arte Contemporânea do Paraná. Conversa vai, conversa vem, disse-lhe onde eu estava agora residindo, no prédio às minhas costas. Ele então contou-me a seguinte história: quando era ainda garoto, ele teve um amigo que morou no mesmo edifício, e que quando pela primeira vez ele ali esteve, ao adentrar ao apartamento de imediato notou os dois degraus de mármore branco que separavam os ambientes no amplo salão. “Achei aqueles degraus a coisa mais linda do mundo”, disse-me, e ambos rimos longamente. Sem dúvida as memórias juvenis via de regra ampliam a realidade das coisas e levam-nos a fantasias.

O que jamais imaginei foi que aqueles degraus me provocariam uma queda muito séria, como também aconteceu com alguns amigos, dentre eles – para citar um só exemplo – o artista plástico Carlos Eduardo Zimmermann, que perdeu a vida ao tropeçar na escada de sua casa.

  

Seja como for, de fato o arquiteto que criou o prédio onde resido pretendeu – e conseguiu – torná-lo inovador sob vários aspectos, um dos quais com aqueles desnecessários degraus no meio da sala, colocados em todos os andares como detalhe de elegância ou de originalidade.

Por uma questão talvez de instinto, eu sempre tive em algum ponto de minha consciência o alerta de que degraus no meio do caminho podem ser traiçoeiras armadilhas, principalmente para idosos.

Quero acrescentar que, tal como ocorreu com o citado João Henrique do Amaral, eu também conhecia desde minha juventude a sala do apartamento onde atualmente resido, pelo seguinte motivo: quando eu com minha família morávamos em Ponta Grossa, meu pai era amigo, companheiro de caçadas e confrade no Rotary Club, de João Vargas de Oliveira, que fora prefeito daquela cidade, enquanto minha mãe era amiga de Dª Argentina, esposa do Sr. João Vargas, ambas voluntárias da Rede Feminina de Combate ao Câncer e frequentavam-se para tomar chá e jogar buraco. Eu e o filho caçula do casal, Joãozinho, éramos melhores amigos. Quando João Vargas de Oliveira foi eleito deputado estadual, ele e sua família mudaram-se para Curitiba, onde passaram a residir no 4º andar do prédio de que trato neste artigo, e nas ocasiões em que eu vim a passeio à capital do Paraná, visitava Joãozinho. Naquele tempo nunca imaginei que no futuro eu moraria no mesmo edifício.

O envelhecimento 

Anos atrás, aqui em Curitiba, eu morava com minha mãe no Centro Cívico, num apartamento espaçoso e confortável. Depois do seu falecimento em 1997, permaneci no imóvel. Eu já estava perto dos 60 anos. Ao avançar na idade, soube de uma tragédia que ocorreu com a mãe idosa de uma querida amiga. Aquela velha senhora, que era muito independente e morava sozinha em Santos, sofreu um mal súbito, talvez um AVC, quando tomava banho. E ela ficou durante dois dias caída sob o chuveiro aberto, quando amigos ou parentes estranharam que ela não atendesse ao telefone e arrombaram a porta do apartamento. Resgataram-na ainda viva, foi hospitalizada, mas infelizmente não resistiu.

Pensando em casos análogos, resolvi tomar certos cuidados. Ainda no Centro Cívico, um velho amigo, Rubens Faria Gonçalves, residia uns andares acima do meu apartamento. Ele também morava sozinho e tínhamos apenas dois anos de diferença em nossas idades. Combinamos então que ele ficaria com uma cópia da minha chave, e eu com uma cópia da sua, para o caso de que pudéssemos precisar de socorro em alguma eventualidade... e isto aconteceu: certo dia senti-me mal subitamente, a visão turvou, e antes de cair fui ao telefone e pedi socorro ao Rubens. Pensei que eu poderia estar morrendo. Um alívio que ele estivesse em casa. Sei que meu amigo nem pegou o elevador, desceu correndo as escadas do prédio, abriu a porta do meu apartamento e socorreu-me. A ambulância chegou logo e o médico diagnosticou queda de pressão arterial.

A ideia de compartilhar um imóvel

Alguns anos depois, mais velhos, eu e Rubens pensamos que poderia ser bom se cada um de nós comprasse uma casa com jardim num condomínio fechado para idosos e que nossas propriedades fossem vizinhas, de maneira que pudéssemos cuidar um do outro ao avançarmos no tempo. Bons condomínios com essas características existem em Curitiba, porém são muito isolados e distantes. Desistimos da ideia, porque ambos preferíamos viver num local mais cosmopolita, até que, casualmente ao passar em frente ao prédio que tem os tais degraus na sala, vi que ali havia dois apartamentos à venda.

Daí, conversando com Rubens Gonçalves, percebemos que o imóvel era grande o suficiente para que pudéssemos ficar isolados em quartos próprios, cada um de nós com seu próprio banheiro, ao passo que compartilharíamos os espaços sociais e a área de serviço bem grande e que compõe copa, cozinha, lavanderia, despensa (que apelidei de “quarto de despejo”), espaçoso quarto de empregada (que chamamos de despensa) e ainda até um banheiro de empregada.

 

Andar-tipo do prédio. Cada apartamento ocupa um andar inteiro. A magnífica planta isométrica acima, é da autoria da jovem arquiteta Vivian Brune, da empresa Brune Arquitetura.

Compramos um dos apartamentos após quase um ano de negociações, assim concretizando nossos planos.

A queda

Tudo ocorreu num lapso de segundo: subi o primeiro degrau com o pé direito e ao subir o segundo, meu chinelo escorregou uns centímetros e sua ponta encontrou o obstáculo do segundo degrau... que me fez cair esticado, de frente, como cai um poste.


Ao bater meu corpo no piso, senti uma dor lancinante no ombro esquerdo, tão aguda que instintivamente percebi: “fraturei”! Com o braço direito desvirei-me, porém a dor tornou-se tão intensa que a partir daquele momento não consegui mover mais nenhuma parte do corpo, nem um centímetro sequer. Gritei por socorro. Rubens, que estava na sala do home theater que fica ao lado, correu para ver o que me afligia. Eu ainda não sabia que não ocorrera uma única fratura no ombro, mas três delas!

Eram mais ou menos as 16:30 horas. Rubens ligou para a Ecco Salva que o orientou: “Não toque no cidadão acidentado, deixe-o no chão tal como se encontra e cubra-o com uma manta. Nós estaremos aí rapidamente”. De fato meu corpo inteiro parecia dolorido e eu tremia de frio, embora estivéssemos no calor de uma tarde ensolarada do “veranico curitibano”. Meu amigo comunicou-se com a eficientíssima portaria do prédio, pedindo que encaminhasse o socorro ao nosso apartamento assim que chegasse.

O socorro da Ecco Salva

Olhando o movimento da rua pela vidraça da sala, Rubens logo aquietou-me: “A ambulância está chegando”. Vieram socorrer-me a médica Drª Joyce Machado de Souza e sua equipe composta de dois enfermeiros: uma moça e um homem.

Ambulância da Ecco Salva.

Percebendo que eu padecia de dor imensa, medicaram-me com uma injeção de Tramadol e tiveram muita habilidade para conseguir sentar-me no chão. Vi que o enfermeiro rasgou um tecido branco, com ele improvisando uma tipoia que serviu para apoiar meu braço e imobilizar o ombro, e assim levaram-me à ambulância acompanhado do meu amigo Rubens.

Pedi ao casal de enfermeiros que me informassem seus nomes, mas infelizmente perdi o papel com a anotação. Entretanto, o nome da médica ficou registrado na Ficha de Atendimento pré-hospitalar 177, de 17.5.2024, Unidade 171, suficiente para a Ecco Salva identificar os profissionais e assim registrar meus elogios e agradecimentos à equipe.

Hospital Vita Batel

O hospital mais próximo com disponibilidade para a emergência foi o Vita Batel, para onde fui levado. Lá chegando, a equipe da Ecco Salva conduziu-me até ao jovem Dr. Gabriel Mattheus Bernardi. Tanto o médico quanto as enfermeiras que lá estavam, surpreenderam-me pela atenção e providências. Todos, até o encarregado de efetuar as radiografias, demonstraram alto nível de empatia e profissionalismo.

Hospital Vita Batel

Radiografias foram feitas para que o médico ortopedista pudesse avaliar a complexidade da fratura. Ao final de todos os exames, Dr. Bernardi deu-me saber que não se tratava de uma só fratura, mas de três delas no úmero proximal que compõe o ombro. Ao mesmo tempo, explicou-me o seguinte: como já era noite de sexta-feira, eu seria atendido somente às 9 horas da próxima segunda-feira no Instituto de Joelho e Ombro, assegurando-me que eu não precisaria de nenhuma confirmação e que, sem qualquer dúvida, um médico especialista muito respeitado estaria à minha espera, o Dr. Alaor Brenner Neto. Para eu suportar a dor até lá, receitou-me três medicamentos, um deles com um componente de morfina.

Voltando do Hospital Vita para casa

Doía-me o corpo todo. Os sedativos não eliminavam a dor, mas foram um lenitivo que valeu também para remediar o estado de espírito, isto é, a autoestima.

Nas duas noites seguintes ao trauma comecei a compreender as dificuldades de ter um braço imobilizado, de precisar conviver com a dor e de ser condescendente com as próprias limitações para realizar as tarefas mais simplórias como, por exemplo, lavar um prato ou vestir uma camisa. Felizmente meu amigo Rubens esteve sempre atento e pronto para ajudar-me em tudo.

Como nossos quartos são lado a lado no corredor dos dormitórios do apartamento, dormimos ambos com as portas abertas, para eu chamá-lo caso não conseguisse levantar-me da cama.

Foram dois dias de provação e também da constatação do quanto nós, humanos, somos frágeis e imperfeitos, e de quão comprometedora pode ser a condição física dos idosos – para não dizer de nós octogenários.

O Instituto de Joelho e Ombro 

Instituto de Joelho e Ombro, os prós e os contras.

Tal como disse há pouco, o Hospital Vita enviou as minhas radiografias diretamente ao Instituto de Joelho e Ombro, para o Dr. Alaor Brenner Neto, especialista nas características das minhas fraturas, e ele estava à minha espera na hora agendada. Eu encontrava-me preocupadíssimo com a possibilidade de precisar operar o úmero para a colocação de pinos, porque tenho muito medo da anestesia geral, algo sempre atemorizante para pacientes da minha idade. O médico disse-me que em princípio a cirurgia poderia ser evitada, a depender de novos exames e da minha obediência a algumas regras de vital importância. A mais importante delas: “Não levante o braço em nenhuma hipótese, pois isso poderá afetar o trauma e tornar a cirurgia inevitável”. Para avaliar com exatidão as fraturas, o médico pediu-me fazer uma tomografia, o que providenciei na excelente Radioclínica, cujo resultado levei ao Dr. Alaor, que confirmou: o braço propriamente dito, que consiste do úmero e se estende do ombro ao cotovelo, não poderia ser afastado do corpo durante 45 dias, tempo necessário para a calcificação consolidar-se.

Como a região do úmero proximal não pode ser engessada, por recomendação do Dr. Gabriel Bernardi comprei na Loja Vitória Régia uma “tipoia canadense de lona”.

Tipoia canadense de lona. 

Somente quem já passou pela experiência de viver durante algumas semanas com o braço imobilizado sabe como o dia-a-dia torna-se complicadíssimo. Embora as fraturas tenham ocorrido na parte mais alta do úmero, o antebraço e a mão também ficam comprometidos não apenas pela dor e inchaço, mas porque o cotovelo e o pulso tornam-se sensíveis e doloridos a qualquer tentativa de articulá-los. Os dedos não podiam fechar devido ao edema e não suportavam o peso nem de um copo d’água, porque a dor parecia provocar algo semelhante a um tipo de choque elétrico que se estendia desde a mão até ao ombro.

Uma das raríssimas visitas que recebi durante esse período, foi do “Colono Social” ou "Operário da Cultura" – como ele com criatividade se autodenomina – meu velho amigo Edson Busch Machado (irmão do artista plástico Juarez Machado) que veio com sua esposa Eula Regina Maciel trazer-me o livro de sua autoria, “Quem tem Medo da Cultura?”, no qual sou por ele citado.

 

Recebo a visita do casal Edson Machado e Eula Regina. Sobre a mesa, o exemplar que me trouxeram de presente.

 

Eu (ainda usando a tipoia canadense) com meu exemplar de “Quem tem Medo da Cultura?”, no qual sou citado pelo autor.

Dois dias antes de passados os 45 dias, fiz novas radiografias e levei-as ao médico ortopedista, o Dr. Alaor Brenner Neto. Ele examinou-as e cumprimentou-me, dizendo-me que a calcificação ocorrera corretamente e que a “tipoia canadense de lona” deveria ser dispensada a partir daquele momento, e que eu deveria começar o mais rápido possível as indispensáveis sessões de fisioterapia.

Uma rápida observação sobre a RDI - Radioclínica

Em se tratando de uma clínica de diagnóstico por imagem, quero fazer breve menção à RDI - Radioclínica, à qual me referi um pouco acima, instalada a 300 metros de minha residência. Já fui ali atendido por incontáveis vezes, mas neste episódio da fratura em meu ombro, gostaria de mencionar os nomes dos atendentes Ilma, Daiana e Tiago, e da técnica Michelle, que ali trabalham com exemplar atenção a todos aqueles que recorrem à RDI. Sempre seus funcionários e técnicos mostram-se atenciosos e solícitos. As moças, maciça maioria do quadro funcional, atuam exemplarmente em suas funções.

Um empecilho no IJO

Embora o Instituto de Joelho e Ombro tenha uma das equipes mais gabaritadas de fisioterapeutas de Curitiba, sua localização é no bairro Seminário, muito distante de minha residência e, além disso, não aceita pagamento em cheque, nem com cartão de débito. O tal “pix” e dinheiro em espécie, isto é, “cash”, são as formas de pagamento aceitas pelo Instituto. Eu não uso telefone celular porque não gosto; portanto, não tenho acesso ao “pix”. Em razão disto, consultei formalmente a diretoria do IJO sobre a possibilidade de receber meus cheques (já que ali o meu plano de saúde não é aceito) e dei-lhes o telefone da minha gerente do Banco onde tenho conta, para assegurar-lhe a confiabilidade dessa conta que abri há 49 anos. Afinal, uma conta corrente prestes a ter meio século de existência deveria ser confiável por si mesma. Como não recebi resposta, percebi que o IJO não tem exatamente uma diretoria (pois não há referência a diretores no site do Instituto) e que este é administrado pela senhora Elisângela Ongaro, a quem redirecionei meu pedido. Imaginei que a resposta poderia ser negativa, o que seria compreensível por uma questão de norma interna... Neste caso, é claro que eu receberia uma negativa com naturalidade, pois assim é entre pessoas civilizadas, e levaria no bolso o dinheiro das futuras consultas; entretanto, jamais recebi uma resposta de Dª Elisângela. Não gostei disso.   

O que me decepcionou foi o silêncio do IJO, porque empresas bem organizadas não deveriam cometer a indelicadeza de ignorar uma consulta feita em tom cortês, por cidadão ou paciente habituado à boa educação.

Felizmente o meu médico – o citado Dr. Alaor – também atende no Hospital São Vicente, localizado a somente uns 100 metros ou menos de minha residência, o que é muito mais cômodo, pois posso alcançá-lo à distância de apenas alguns passos. Além disso, esse hospital aceita o meu plano de saúde. Então, nada a reclamar, pois continuo sob os cuidados do mesmo excelente médico.

Fisioterapia na CLINIMED

Em 9 de julho de 2024, 53 dias após o trauma das fraturas, tive a minha primeira sessão de fisioterapia na CLINIMED – Clínica de Medicina Física e Reabilitação do Paraná, na Rua Emiliano Perneta, a não mais que uns 250 metros de minha residência, o que me permite fazer o percurso a pé. E acrescento um indício de bom agouro: o nome da rua faz-me lembrar da cadeira patronímica nº 26 que eu ocupo na Academia de Letras José de Alencar, do grande poeta curitibano Emiliano Perneta. Além disso, a CLINIMED aceita pacientes do meu plano de saúde. A proprietária da clínica é a Srª Rosângela Grigoli. São duas as fisioterapeutas que atendem no local, as jovens Srª Sofia Bechara Bark e Srª Karla Fideles. Fui designado para receber o tratamento fisioterápico da primeira citada, Sofia, uma excelente profissional que está conseguindo devolver os movimentos ao meu braço que sofreu o trauma, mas sei que sua colega Karla também atende seus pacientes com idêntica atenção e competência. 

Devo registrar o seguinte fato para o leitor que desejar detalhes sobre o estado físico de quem passa quase dois meses com o braço imobilizado por fraturas múltiplas no úmero proximal: ao deixar a tipoia, o braço, antebraço e mão ficam enrijecidos e inchados. A dor no local das fraturas – o ombro – expande-se por onde não houve qualquer trauma: cotovelo, pulso e dedos. O braço inteiro, do ombro aos dedos, torna-se “duro” devido à prolongada imobilidade, com regiões “empedradas”. A mão, lá na ponta aberta da tipoia, não suporta nem o peso de um copo d’água. Os dedos, avolumados pelo edema, não conseguem articular para fecharem-se.

 

Parecem mãos de duas pessoas diferentes? Pois ambas são as MINHAS! Retirei momentaneamente a “tipoia canadense” para fazer a fotografia, porém o braço precisou do apoio de um improvisado cinto de couro para suportar manter-se nessa posição. O inchaço 10 dias após o acidente estava assim, do ombro à mão. 

Os exercícios na clínica são obviamente dolorosos, mas costumo dizer: esta é uma dor benfazeja, porque visa à superação da imobilidade, isto é, tem por objetivo devolver a funcionalidade ao membro afetado. Além disso, Dª Sofia recomenda algumas “lições de casa”. Esses exercícios vão devolvendo os movimentos que, pelo esforço, são reconquistados centímetro a centímetro.

Dentro de alguns meses, possivelmente no começo do próximo ano de 2025, poderei voltar a dirigir meu carro. E estarei livre para poder tornar a passear em países do Hemisfério Norte, com a certeza de que meu braço esquerdo estará apto a permitir-me acomodar minha bagagem de mão no bagageiro dos aviões e dos trens europeus, dentre tantas outras ações semelhantes.

Ao encerrar, deixo aqui meus agradecimentos aos excelentes profissionais que me ajudaram, e ajudam ainda, a voltar às minhas atividades normais. Ao mencionar seus nomes nestes registros, rendo-lhes minha estima e sinceras homenagens.

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O autor em foto de 2022. 

O autor em foto de 2024, prestes a completar 81 anos de idade. 

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