segunda-feira, 17 de abril de 2023

ENTRE 17 e 18.3.2023, o DESABROCHAR, a VIDA e a MORTE da "HATA" ou DAMA-DA-NOITE, por Francisco Souto Neto.

 

A dama-da-noite ou “hata” aberta em seu esplendor.

 

Comendador Francisco Souto Neto

 

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ENTRE 17 e 18.3.2023, o DESABROCHAR, a VIDA  e a MORTE da "HATA" ou “DAMA-DA-NOITE”.

por  Francisco Souto Neto

 

 

Quando residíamos em Ponta Grossa, no começo da década de 60 minha mãe trouxe de Campo Grande uma planta muito interessante, a dama-da-noite, que dá uma belíssima flor, enorme, que vive apenas uma noite.

Em 1959 tinha sido feito um filme em Hollywood cujo tema foi justamente essa flor. O título original do filme é “Green Mansions” e no Brasil chamou-se “A Flor que não morreu”, estrelado por Audrey Hepburn e Tony Perkins, e dirigido por Mel Ferrer. A apresentação do filme se faz num voo na Amazônia, sobre a floresta, e com música de Villa-Lobos.


O filme “A flor que não morreu”.

A flor do tema do filme e que ali se chama “hata”, vive apenas uma noite, exatamente como ocorre na vida real: ela começa a abrir quando anoitece e atinge seu esplendor à meia-noite, mostrando um pistilo de extraordinária beleza e exalando um perfume que se espalha por dezenas de metros. Lá pelas três horas da madrugada começa a fenecer e pela manhã está morta.

No filme, a belíssima Audrey Hepburn simboliza a própria flor. A personagem de Audrey nasce à meia-noite, encontra o amor em Tony Perkins e após uma noite de magia, morre ao amanhecer. Palavras do filme: “A hata! Vive durante apenas uma lua e depois desaparece... Mas não morre; desabrocha novamente, no mesmo instante, em outra parte da floresta. Quando ela some, não há motivo para tristeza; existe ainda, não muito longe”.

 

Tony Perkins encontra a “hata”.


Audrey Hepburn que no filme é a "hata" em forma de mulher.


Tony e Audrey andando pela selva amazônica no filme “A flor que não morreu”.

 

A figura de Audrey neste filme é etérea, virginal, e para acentuar essas características, foi anunciado pela imprensa da época, lembro-me bem, que seu vestido branco e sem costuras foi criado especialmente para o filme com finíssimas fibras de vidro.

A muda que minha mãe trouxe para nós demorou algo como uns três anos para a primeira floração que passou a ocorrer sempre no auge do verão. Entre dezembro e março sempre nascia uma flor. Minha mãe então a colhia e a levava ao porta-retrato com foto de meu pai, que ela mantinha sobre o seu criado-mudo. Durante vários anos nascia uma “hata” no verão e eu acreditava que essa planta desse sempre somente uma flor anual.

No ano de 1974 eu fiz uma filmagem da abertura da flor, com minha filmadora Super8. Naquele tempo, há quase meio século, filmagens eram de certa maneira raras porque poucas pessoas compravam filmadoras pois eram então muito caras. No meu filme inaugural, isto é, na primeira vez em que filmei em Super8 – que era filme mudo – eu incluí a abertura da flor em cena rápida (hoje diz-se “time-lapse”). No link abaixo, para não perder tempo, sugiro ao leitor que vá diretamente aos 5 MINUTOS E MEIO da filmagem, que é o começo da abertura da flor. Aos 7 MINUTOS termina a cena, com minha mãe levando a flor, que colheu, ao retrato de meu pai:

https://www.youtube.com/watch?v=--SCxkM_FDo

Uma das primeiras fotografias que tirei da "hata" aberta, é a que se vê abaixo, com minha mãe admirando a flor.


Minha mãe observando a “hata” aberta em 1972.


A fotografia acima está com manchas de deterioração pela passagem do tempo. Afinal, foi tirada há exatos 50 anos. A fotografia é de 1972 e estamos em 2022.

Quando minha mãe diversificou a planta em outros vasos e pô-los em lugares mais estratégicos (próximos da claridade, mas não expostos ao sol), começaram a brotar de três a seis ou mais flores por verão.

Minha prima Lúcia Helena, que reside em Paulínia, tem na varanda de sua casa alguns pés da ¨hata”, ou dama-da-noite, plantados em vasos, onde no verão nascem dezenas de flores, num maravilhoso espetáculo que chega a surpreender.

Em março de 2016 fiz uma filmagem das várias atas que nasceram nos quatro vasos que eu tinha na sacada de meu antigo apartamento. O filme começa com uma visita que recebi de meu amigo Rubens, que morava no mesmo prédio num apartamento alguns andares acima do meu, com seu cachorro Tibério. A filmagem das "hatas" propriamente ditas começa aos 4 MINUTOS do seguinte filme:

https://www.youtube.com/watch?v=Nj28Rq35VUQ&t=525s

As duas fotografias abaixo, de 2016, mostram que num único vaso nasceram nove botões. Foi uma das maiores floradas, pois eram quatro os vasos. Na terceira fotografia vê-se Tibério, buldogue francês do meu amigo e vizinho Rubens, quando os botões estavam abrindo à noite.






Ao mudar-me para meu atual domicílio, em tinha a hata em quatro vasos e podei a planta em todos eles.  Como aqui eu não tenho sacada, mantive apenas um vaso e doei os três outros.

Com um único vaso atualmente na área de serviço inundada de luz porque conta com um janelão de dois metros e meio de comprimento por 1,70 de altura, a planta (a mesma que já está com mais de 60 anos) gostou do lugar e brotou vigorosamente. Ela começa como uma planta baixa, mas a certa altura do seu desenvolvimento, lançou um pendão que pode crescer até  mais de um metro e meia de altura e dali nascem vários ramos. No verão passado fotografei o botão nascente, seu desenvolvimento e o a flor esplendorosamente aberta.

 

O botão nascente em 2022.

 
O botão desenvolve-se rapidamente.

 
A flor quando começa a abrir.

 
A flor aberta à meia-noite, mostrando o maravilhoso pistilo e perfume inigualável.

 

Desde que estou neste atual apartamento em Curitiba, há cinco anos, a localização da planta passou a ser na área de serviço, como se vê na foto abaixo.

 

A localização da planta durante os últimos 5 anos. À esquerda, fora do alcance da câmera fotográfica, há um janelão com dois metros e meio de comprimento por um metro de setenta de altura, por onde entra muita claridade. Ao fundo está o quarto de empregada (que serve de despensa) com seu armário vermelho, e atrás da Deusa do Fogo (que doei à minha sobrinha Marion) está o banheiro de empregada.

 

Sobre a foto acima, à esquerda, fora do alcance da câmera fotográfica, está o janelão já mencionado, com dois metros e meio de comprimento por um metro de setenta de altura, por onde entra muita claridade. Ao fundo está o quarto de empregada com armário vermelho (que serve de despensa) e atrás da Deusa do Fogo (que doei à minha sobrinha Marion) está o banheiro de empregada.

Entretanto, em março de 2023, quando nasceu um botão da "hata", eu transferi o vaso da área de serviço, onde ele se encontrava há anos, para a sala. A planta situou-se numa posição mais favorável por causa da luminosidade, e ao mesmo tempo no canto do ambiente que recebe menos sol direto (tal como a "hata" gosta). Assim a "hata" desabrochou, aspergindo seu notável perfume por todo o ambiente e agora a planta enfeita este lado da sala.

 

A planta em seu novo ambiente, vista de longe.

 
Aproximando-me da planta com sua notável flor.

 
As folhas diáfanas da "hata" ou dama-da-noite, e seu belíssimo e complexo pistilo.

 
Francisco Souto Neto aos 79 anos de idade (às vésperas dos 80!) e a sua "hata" ou dama-da-noite.

Pela primeira vez fotografei a flor de manhã, para mostrar como ela amanhece morta. Tal como nas palavras da crítica ao filme "A Flor que Não Morreu", em que Audrey Hepburn faz o papel da flor transformada em mulher: “A hata! Vive durante apenas uma lua e depois desaparece... Mas não morre; desabrocha novamente, no mesmo instante, em outra parte da floresta. Quando ela some, não há motivo para tristeza; existe ainda, não muito longe”.

 

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