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ENTRE 17 e 18.3.2023, o
DESABROCHAR, a VIDA e a MORTE da "HATA" ou “DAMA-DA-NOITE”.
por Francisco Souto Neto
Quando residíamos em
Ponta Grossa, no começo da década de 60 minha mãe trouxe de Campo Grande uma
planta muito interessante, a dama-da-noite, que dá uma belíssima flor, enorme,
que vive apenas uma noite.
Em 1959 tinha sido feito
um filme em Hollywood cujo tema foi justamente essa flor. O título original do
filme é “Green Mansions” e no Brasil chamou-se “A Flor que não
morreu”, estrelado por Audrey Hepburn e Tony Perkins, e dirigido por Mel
Ferrer. A apresentação do filme se faz num voo na Amazônia, sobre a floresta, e
com música de Villa-Lobos.
A flor do tema do filme e
que ali se chama “hata”, vive apenas uma noite, exatamente como ocorre na vida
real: ela começa a abrir quando anoitece e atinge seu esplendor à meia-noite,
mostrando um pistilo de extraordinária beleza e exalando um perfume que se
espalha por dezenas de metros. Lá pelas três horas da madrugada começa a
fenecer e pela manhã está morta.
No filme, a belíssima
Audrey Hepburn simboliza a própria flor. A personagem de Audrey nasce à meia-noite,
encontra o amor em Tony Perkins e após uma noite de magia, morre ao amanhecer.
Palavras do filme: “A hata! Vive durante apenas uma lua e depois desaparece...
Mas não morre; desabrocha novamente, no mesmo instante, em outra parte da
floresta. Quando ela some, não há motivo para tristeza; existe ainda, não muito
longe”.
A figura de Audrey neste
filme é etérea, virginal, e para acentuar essas características, foi anunciado
pela imprensa da época, lembro-me bem, que seu vestido branco e sem costuras
foi criado especialmente para o filme com finíssimas fibras de vidro.
A muda que minha mãe
trouxe para nós demorou algo como uns três anos para a primeira floração que
passou a ocorrer sempre no auge do verão. Entre dezembro e março sempre nascia
uma flor. Minha mãe então a colhia e a levava ao porta-retrato com foto de meu
pai, que ela mantinha sobre o seu criado-mudo. Durante vários anos nascia uma
“hata” no verão e eu acreditava que essa planta desse sempre somente uma flor
anual.
No ano de 1974 eu fiz uma filmagem da abertura da flor, com minha filmadora Super8. Naquele tempo, há quase meio século, filmagens eram de certa maneira raras porque poucas pessoas compravam filmadoras pois eram então muito caras. No meu filme inaugural, isto é, na primeira vez em que filmei em Super8 – que era filme mudo – eu incluí a abertura da flor em cena rápida (hoje diz-se “time-lapse”). No link abaixo, para não perder tempo, sugiro ao leitor que vá diretamente aos 5 MINUTOS E MEIO da filmagem, que é o começo da abertura da flor. Aos 7 MINUTOS termina a cena, com minha mãe levando a flor, que colheu, ao retrato de meu pai:
https://www.youtube.com/watch?v=--SCxkM_FDo
Uma das primeiras
fotografias que tirei da "hata" aberta, é a que se vê abaixo, com
minha mãe admirando a flor.
A fotografia acima está
com manchas de deterioração pela passagem do tempo. Afinal, foi tirada há
exatos 50 anos. A fotografia é de 1972 e estamos em 2022.
Quando minha mãe
diversificou a planta em outros vasos e pô-los em lugares mais estratégicos
(próximos da claridade, mas não expostos ao sol), começaram a brotar de três a
seis ou mais flores por verão.
Minha prima Lúcia Helena,
que reside em Paulínia, tem na varanda de sua casa alguns pés da ¨hata”, ou
dama-da-noite, plantados em vasos, onde no verão nascem dezenas de flores, num
maravilhoso espetáculo que chega a surpreender.
Em março de 2016 fiz uma
filmagem das várias atas que nasceram nos quatro vasos que eu tinha na sacada
de meu antigo apartamento. O filme começa com uma visita que recebi de meu
amigo Rubens, que morava no mesmo prédio num apartamento alguns andares acima
do meu, com seu cachorro Tibério. A filmagem das "hatas" propriamente
ditas começa aos 4 MINUTOS do seguinte filme:
https://www.youtube.com/watch?v=Nj28Rq35VUQ&t=525s
As duas fotografias
abaixo, de 2016, mostram que num único vaso nasceram nove botões. Foi uma das
maiores floradas, pois eram quatro os vasos. Na terceira fotografia vê-se
Tibério, buldogue francês do meu amigo e vizinho Rubens, quando os botões estavam
abrindo à noite.
Ao mudar-me para meu
atual domicílio, em tinha a hata em quatro vasos e podei a planta em todos
eles. Como aqui eu não tenho sacada, mantive apenas um vaso e doei
os três outros.
Com um único vaso
atualmente na área de serviço inundada de luz porque conta com um janelão de
dois metros e meio de comprimento por 1,70 de altura, a planta (a mesma que já
está com mais de 60 anos) gostou do lugar e brotou vigorosamente. Ela começa
como uma planta baixa, mas a certa altura do seu desenvolvimento, lançou um
pendão que pode crescer até mais de um metro e meia de altura e dali
nascem vários ramos. No verão passado fotografei o botão nascente, seu desenvolvimento e o a flor esplendorosamente aberta.
Desde que estou neste
atual apartamento em Curitiba, há cinco anos, a localização da planta passou a
ser na área de serviço, como se vê na foto abaixo.
Sobre a foto acima, à
esquerda, fora do alcance da câmera fotográfica, está o janelão já mencionado,
com dois metros e meio de comprimento por um metro de setenta de altura, por
onde entra muita claridade. Ao fundo está o quarto de empregada com armário
vermelho (que serve de despensa) e atrás da Deusa do Fogo (que doei à minha
sobrinha Marion) está o banheiro de empregada.
Entretanto, em março de
2023, quando nasceu um botão da "hata", eu transferi o vaso da área
de serviço, onde ele se encontrava há anos, para a sala. A planta situou-se
numa posição mais favorável por causa da luminosidade, e ao mesmo tempo no
canto do ambiente que recebe menos sol direto (tal como a "hata"
gosta). Assim a "hata" desabrochou, aspergindo seu notável perfume
por todo o ambiente e agora a planta enfeita este lado da sala.
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