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COPEL EM TEMPO DE PRIVATIZAÇÕES, REVOLTAS E INCERTEZAS
Francisco
Souto Neto
Durante o Governo Fernando Henrique Cardoso houve
inúmeras privatizações de grandes empresas, incluindo-se as de economia mista,
tal o caso do Banco do Estado do Paraná e do Banco do Estado de São Paulo, para
mencionar alguns dos exemplos mais marcantes e desastrosos daquela época.
No caso do Banestado, durante o período eleitoral o
governador Jaime Lerner disse, e isto ficou registrado em imagem e som:
“Durante meu governo o Banestado não será privatizado”. Tratava-se de mentira
com fins eleitoreiros, pois decidiu-se o governador pela privatização no ano
2000, e o Banestado, uma empresa que tinha sido séria e de vital importância
para o desenvolvimento do Paraná, foi arrematado a preço vil. Na mesma ocasião, aquele governador pretendeu
também privatizar a Copel, porém encontrou fortíssima resistência,
principalmente em função dos prejuízos previsíveis e depois confirmados, que
essas privatizações causariam aos estados federativos. Cedendo às oposições,
ouvi Lerner num discurso: “A nossa querida
Copel não será privatizada”. Como sempre, o político fazendo-se de bonzinho ao chamar a Copel de “querida” e
assim ir fugindo pela tangente, quase sem rastros, após não conseguir realizar
o seu intento. E eu, que admirava Lerner das suas administrações na prefeitura
pelas benesses que, a seu tempo, ele dedicou à cidade e ao transporte coletivo,
passei a devotar-lhe desprezo.
Agora, durante outro governo federal
interessadíssimo no desmonte do país, muito mais destrutivo do que aquele dos
tempos de FHC, voltou à baila a privatização da Copel. E Ratinho Júnior, quem
agora governa o Paraná, no mês em curso vendeu inicialmente “apenas a Copel Telecom”, segundo ele “um braço” da Companhia Paranaense de
Energia.
Sempre posicionei-me contrário às privatizações
desde os anos em que mantive colunas em jornais e revistas, e agora tenho
defendido a Copel pelo menos nas redes sociais, com palavras favoráveis à
manutenção do que dela resta.
Hoje, entretanto, passei por uma raiva descomunal, envolvendo referida Copel, que me fez sofrer uma crise de hipertensão arterial. Claro que não mudo minha opinião quanto à sua não privatização, porém constatei que “há algo de podre no Reino da Dinamarca”, como disse Shakespeare, e o problema que enfrentei desvendou uma deficiência em sua administração.
Antes me
referir à Copel, uma questão de fraude bancária
Para chegarmos ao cerne da questão, devo
inicialmente comentar algo que parece nada ter em comum com o problema que enfrentei
hoje na Copel e que exporei adiante; entretanto, serve também como um alerta. É
o seguinte: tal como faço todas as manhãs, na sexta-feira dia 13 do corrente verifiquei
através de telefone o meu saldo no banco onde mantenho conta corrente, e me
surpreendi com quatro lançamentos de altos valores em minha conta, que me eram
de origem desconhecida. Imediatamente entrei em contato com a administração da
agência para saber o que estava acontecendo. Através do telefone, a instituição
bancária fez rápidas verificações e, em menos de uma hora ao telefone, disse-me
ter constatado tratar-se de uma clonagem do meu cartão de débito.
Embora eu não use cartão de crédito (porque não gosto), valho-me de um cartão de débito que, durante estes oito meses
em que me encontro em “isolamento social” por causa da pandemia, é o meio que
uso para efetuar as compras que faço necessariamente em mercado e farmácia. Mas... como
explicar a possibilidade de clonagem se não ponho meu cartão de débito nas
mãos de quem quer que seja (isto é, sempre eu mesmo insiro o cartão na “maquininha”
e o retiro), se ninguém conhece minha senha eletrônica, e se também não uso
telefone celular e, portanto, não faço qualquer negócio através do meu
computador fixo, “de mesa”, que envolva minha conta em banco?
Comecei por lembrar-me de que além das minhas
rapidíssimas idas ao mercado e à farmácia, tenho feito o uso do cartão de
débito para pagar as refeições que peço por telefone e que durante meu
“isolamento social” são trazidas à porta do meu apartamento através de
restaurantes que encomendo por telefone. Então,
usando máscara e luvas, manejo o meu cartão de débito... mas agora chego a
pensar que é possível que algumas das maquininhas de cartão venham munidas do skimming, ou chupa-cabra, aquele mesmo dispositivo criminosamente instalado em caixas eletrônicas e nas máquinas
manuais de débito e crédito, para clonar
cartões e assim ganhar acesso às contas bancárias das vítimas.
Muitíssimo rápido, no dia seguinte (sábado 14) o
banco devolveu à minha conta corrente o valor total do dinheiro que me fora
furtado. Ato contínuo, informou-me que cancelara meu cartão de débito e a senha
eletrônica, e que o novo cartão deveria chegar em no máximo dez dias. Bem,
assunto resolvido... e doravante, por medida de segurança, continuo pedindo as
refeições aos restaurantes, mas pagando-as
exclusivamente em cash, isto é, em
dinheiro vivo.
Em
seguida, as raízes do problema com a Copel
Mais uma vez, um necessário preâmbulo antes de
chegarmos ao cerne do problema com a Copel: em agosto eu aluguei um apartamento
que tenho no Centro Cívico. Embora a minha administradora de imóveis tivesse
orientado o meu inquilino, um Sr. David, a transferir a conta da Copel, que
estava em meu nome, para o nome dele, isto não foi feito. As contas
correspondentes aos meses de agosto e setembro (vencíveis em 2 de setembro e 2
de outubro respectivamente) continuaram sendo debitadas em minha conta
corrente. Entretanto, informei à minha administradora de imóveis que esses dois
débitos foram de valores tão insignificantes, de apenas 15 reais e alguns
centavos cada um, que pedi dar conhecimento ao meu inquilino, para a comodidade
dele, que isso não representava problema e que ele não precisaria me restituir os
citados valores. Mas insisti para que ele regularizasse essa questão na Copel,
para que as próximas contas estivessem em seu nome. E foi assim que percebi que
em 2 de novembro não houve débito em
minha conta corrente das despesas do apartamento alugado e então fiquei
tranquilo pensando que a situação estivesse solucionada. Mas que doce
ilusão!
No dia 14 de novembro recebi da Copel, através de
e-mail, o comunicado de que uma dívida em meu nome, no valor de R$84,35 estava
vencida desde o dia 2 do mesmo mês, e que se não fosse quitada num prazo de 45
dias, meu nome seria incluído no Cadastro de Inadimplentes.
Muito irritado, percebi que pelo 3º mês consecutivo
a conta de energia elétrica de meu inquilino continuava sendo cobrada em meu
nome. Em contato com a minha administradora de imóveis relatei a persistência
da falha e pedi que fosse quitada a dívida com a máxima urgência, dívida esta
que ficou em meu nome, embora o consumo de energia e a inadimplência tenha sido
do meu inquilino.
O que ocorreu foi que o inquilino devolveu-me os
R$84,35 através da administradora por intermédio de um crédito em minha conta
corrente na data em que escrevo este artigo, dia 20 de novembro de 2020.
Entretanto, um débito em minha conta obviamente não quita a dívida do meu
inquilino, dívida esta que está erroneamente em meu nome na Copel. Ou seja, eu
teria que, pessoalmente, ir pagar tal dívida. Apesar de estar eu em “isolamento
social”, ainda mais neste momento em que a contaminação pela covid-19 apresenta
um violento recrudescimento, “explodindo” em índices crescentes em Curitiba, no
Paraná, no Brasil, e nos principais países do Hemisfério Norte, resolvi, para
evitar aborrecer-me ainda mais, que eu mesmo faria o pagamento da dívida do meu
inquilino, objetivando liquidar o problema o mais rápido possível. E foi aí que
encrespei com a Copel e passei a cuspir fogo.
Ainda antes, tentando
pagar a dívida de meu inquilino.
Como estou ainda sem o meu cartão de débito,
coloquei um pouco de dinheiro no bolso e fui ao Banco Itaú para pagar a dívida
do meu inquilino. A agência mais próxima do banco onde tenho conta, fica a uns
100 metros da minha residência. Lá chegando, encontrei a agência fechada para o
público, porque ontem uma funcionária constatou contaminação pela covid-19, e a
agência ficará lacrada por alguns dias por justificado motivo de segurança. Fui
então a outra agência do mesmo banco, distante mais uns 500 metros. Embora
muitíssimo bem atendido como sempre, deparei-me com um fato inesperado: a
agência não pode receber pagamentos da Copel no caixa, mas unicamente através
dos caixas eletrônicos. Como estou sem o meu cartão de débito, o que me impede
o uso daqueles caixas automáticos, a sugestão foi de que eu efetuasse o
pagamento com dinheiro em alguma casa lotérica. Achei uma ótima ideia e fui à
lotérica mais próxima, por coincidência em frente àquela agência bancária
fechada devido à contaminação pela peste.
Chegando à lotérica encontrei uma longa fila,
porque hoje é dia 20, ou seja, “dia de pagamento”. Tive que reclamar para que a
pessoa, atrás de mim, respeitasse uma distância de dois metros. Mesmo assim havia
muita gente ali acumulada, o que simboliza um atentado à saúde ou mesmo à vida
do próximo. Chegando minha vez, ao pretender pagar a dívida do meu inquilino,
fui informado de que não havia como pagar integralmente aquele valor, porque
entre o dia 2, do vencimento, e hoje, 20, transcorreram 18 dias, e juros teriam
que ser cobrados, porém aquela lotérica estava autorizada a receber apenas o
valor original de R$84,35. Os juros, uma insignificância de uns dois reais ou
menos, me seriam cobrados pela Copel no próximo dia 2 de dezembro. Contudo, eu
estava disposto a cortar o mal pela raiz e resolvi que eu fazia questão de
pagar tudo, integralmente, sem deixar absolutamente nenhum centavo pendente
para o próximo mês. Lembrei-me então de que a administração da Copel, com suas
diretorias e presidência, fica na Rua Coronel Dulcídio, entre a Rua Comendador
Araújo e a Av. do Batel, perto de onde moro. E foi para onde me dirigi.
Agora, o
problema com a Copel
Cheguei à Copel para pagar a malfadada dívida do
meu inquilino. Para minha surpresa, na portaria me informaram que lá não havia
ninguém que pudesse receber pagamentos. Nenhum caixa, nada. Lembrei-me então de
que existe um escritório da Copel na Rua Carlos de Carvalho, a poucas centenas
de metros dali. Disse eu ao atendente que então iria até lá para pagar a
dívida. Mas... o rapaz informou-me que aquele escritório da Carlos de Carvalho
estava fechado para reforma e que o único lugar onde eu poderia pagar a dívida
seria no bairro Novo Mundo.
Então eu teria que voltar à minha residência, pegar
o meu carro que não dirijo há meses, e ir a um bairro onde nunca estive antes,
sem saber nem em que direção da cidade se situa?! Não! Pedi então para falar
com alguma chefia, naquele prédio da Copel, que pudesse me orientar melhor
sobre a forma como resolver o problema, sem eu ter que fazer uma viagem a um
endereço que desconheço. A informação foi a de que não havia quem pudesse me
orientar. Profundamente irritado, disse ao rapaz que queria falar com algum
assessor, ou com um diretor, ou com o presidente, principalmente para entender
o porquê de usuários da Copel não terem quem os atenda ali, enquanto ocorre a
tal reforma do prédio da Carlos de Carvalho. Porém, não, ninguém poderia
atender-me.
É uma indignidade que as centenas de funcionários
que trabalhem naquele prédio de onze andares não tenham uma sala equipada para
receber todos os casos em que os usuários de energia elétrica precisem de
contato direto com com a empresa. Exigir que nós façamos uma viagem a esse bairro Novo
Mundo é uma afronta à população. E quem reside nos bairros em direção oposta a
Novo Mundo e precisa atravessar a cidade inteira para chegar a tal ponto de
atendimento? E nós, que moramos praticamente ao lado do prédio da Copel, termos
que nos resignar a não ser ali atendidos? O senhor presidente da Copel não tem
ao menos um pouco da sensibilidade para pôr fim a uma situação tão patética?
Oras bolas, enquanto o escritório da Carlos de Carvalho está fechado para
reforma, que crie um lugar decente no seu luxuoso prédio, num provisório canto qualquer,
para aí instalar um caixa que possa atender aos usuários da Copel, sem
obrigá-los a uma viagem de muitos quilômetros.
Se é tão grande a incompetência da Copel para resolver
problema tão simples, o que faria num caso dramático como o que estamos
presenciando no Amapá? Não seria por motivos pessoais que eu pararia de
defender a nossa Copel, pois sou contra as privatizações. Mas sua diretoria tem
a obrigação de tirar o seu traseiro do assento e tratar de encontrar soluções
urgentes para quem não aceita as regras ridículas que a empresa nos apresenta.
Ora, é um absurdo que não haja quem possa atender aos usuários aí na sede da
Coronel Dulcídio. Antes de incapacidade, isto é, de malemolência, é falta de
vontade ou competência para resolver até mesmo os mais simples problemas. Continuo
defendendo a Copel, mas não a atual administração.
O proprietário da administradora de imóveis que me
atende, hoje mesmo, nesse fim de tarde, tomou a iniciativa de solucionar para
mim o problema que deveria ter sido do meu inquilino, que não pagou sua conta
dentro do prazo.
Considero-me muito bem educado. Mas paciência tem limite, e a nossa indignação não
tem.
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UM ADENDO NO DIA SEGUINTE, 23.11.2020
Hoje descobri que tendo sido paga ontem a fatura de R$84,35 , ficaram ainda pendentes de pagamento duas faturas de meu inquilino, ambas em meu nome: uma de R$3,57 e outra de R$0,01 (um centavo), correspondentes aos juros pelo não pagamento no prazo correto, dos R$84,35 referidos acima. E teriam que ser pagas hoje, dia 23. Telefonei à Copel e fui muito bem atendido por dois funcionários: primeiro Sheila e depois Arthur. Ambos merecem votos de louvor por terem me orientado com grande boa vontade quanto a essas pequenas dívidas (insisto, não minhas!) que resolvi acatar para não ter o meu nome levado ao "cadastro de inadimplentes", o que jamais ocorreu em toda minha vida.
Os funcionários informaram-me que qualquer casa lotérica poderá receber a fatura de R$3,57 porém talvez se recusem a receber a de R$0,01. Então, para que eu tenha sucesso no pagamento de ambas, seria melhor pagar, nas caixas do banco, as cópias das faturas que ambos me enviaram através de e-mail. Entretanto, meu computador direcionou ambos os e-mails da Copel para a minha pasta de "lixo eletrônico". Encontrei-os ali, porém, ao serem direcionados para o "lixo eletrônico", seus anexos (isto é, as faturas) foram neutralizados. Voltei a telefonar à Copel, ocasião em que o atendente Arthur disse-me que eu deveria então anotar os números dos códigos de barras de ambas as faturas (um conjunto com 12 grupos de 4 dígitos cada para cada fatura) e, atenciosamente e com paciência, informou-me os 96 números.
Embora estivesse na hora de chegar o meu almoço (que é trazido à porta do meu apartamento diariamente), vesti-me, coloquei minhas luvas e a máscara para sair, e no exato momento em que chamei o elevador, o telefone tocou. Era o Sr. Luiz Augusto, cuja administradora da sua propriedade cuida dos meus imóveis, dizendo-me para eu não me preocupar, que ele já estava providenciando os dois pagamentos.
E, agradecido, eu finalmente pude relaxar, enquanto espero por um pronunciamento da Copel sobre minhas reclamações e sugestões. E que possam os seus dirigentes refletir também sobre o absurdo de gastarem papel e tinta para cobrar uma dívida no valor de um centavo. Quosque tandem abutere Catilina patientia nostra?
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