O novo coronavírus, com aspecto de uma coroa.
Comendador Francisco Souto Neto
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CORONAVÍRUS E
PANDEMIA...
QUEM DIRIA?!
ou
TRUMP versus BOLSONARO
Francisco Souto Neto
Peste Negra, ou Morte
Negra, é como ficou conhecida uma das mais devastadoras pandemias da História.
Morreram entre 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia. Somente no continente
europeu, foi vitimado um-terço da população. O auge da peste ocorreu no século
XIV, entre os anos de 1346 e 1353, e ela foi transmitida ao ser humano através
das pulgas dos ratos-pretos, porém as pessoas ignoravam que eram os roedores os
transmissores da doença.
A peste negra na Idade Média
A peste na Idade Média em tela de Brueghel.
A peste na Idade Média em tela de Brueghel.
A peste na Idade Média numa antiga gravura.
Acredita-se que aquela peste bubônica tenha surgido nas planícies áridas da China. Os primeiros
registros datam de 1334 na província de Hubei, e foi se espalhando
principalmente pela rota da seda, alcançando a Crimeia. No total, a pandemia
pode ter reduzido a população mundial que era em torno de 450 milhões de
pessoas, para apenas 350–375 milhões em meados daquele século. A população humana
não retornou aos níveis pré-peste até o século XVII. Ásia, Europa, África: a Peste
Negra espalhou-se pelo mundo e continuou a aparecer de forma intermitente e em
pequena escala pela Europa até praticamente desaparecer do continente no começo
do século XIX. Os sintomas da Peste Negra (que era uma peste bubônica) incluem
inchaço dos gânglios linfáticos, que podem ficar grandes como ovos de galinha,
na virilha, na axila ou no pescoço. Eles eram sensíveis e quentes. Até hoje a
peste bubônica requer tratamento hospitalar urgente com antibióticos fortes.
Naqueles tempos
arcaicos de mentes toscas, as pessoas precisavam de um lenitivo para enfrentar
a peste. Sem contar ainda com recursos da ciência, surgiram então os Flagelantes,
um movimento religioso místico como reação à peste.
Gravura da Idade Média: flagelantes ferindo-se ao açoitarem as próprias costas
Afinal, as populações não
encontraram outro socorro senão no sobrenatural. Uma das nações mais avançadas
do mundo, a República Sereníssima de Veneza, que no século XIV tinha alcançado
um requintadíssimo nível na arquitetura e na arte em geral, contava com
numerosas equipes de dedicados médicos. Sua base científica era, obviamente,
muito primitiva. Por exemplo, eles passaram a usar um uniforme que se
completava com uma máscara na qual despontava um “nariz”, uma espécie de bico
de pássaro, com uns 30 ou 40 centímetros de comprimento. Esse “nariz” em forma
de bico era recheado de flores, porque todos acreditavam que o perfume afastava
a peste, mas também porque as flores ajudavam a disfarçar o cheiro da
decomposição dos corpos que se empilhavam por toda cidade.
A máscara e a indumentária de um doutor em Veneza.
Na minha mão, a miniatura em bronze de uma "máscara de doutor" (il Dottore) que comprei em Veneza, onde essas peças são hoje vendidas como obras de arte para decoração.
A pandemia do coronavírus (o COVID-19)
Na semana passada,
quando a Itália teve as fronteiras fechadas para evitar a proliferação do
coronavírus que, tendo ultrapassado as fronteiras da China, espalha-se
rapidamente pelo mundo, não puder deixar de pensar na peste da Idade Média. Na
sexta-feira passada, dia 13 de março de 2020, inúmeros outros países europeus
seguiram o bom exemplo da Itália e também fecharam as fronteiras. Até a Suíça,
o meu país predileto, isolou-se para tentar salvar seus cantões da contaminação
do povo pelo novo coronavírus, o COVID-19. Outros países europeus estão
buscando proteção atrás das fronteiras bloqueadas.
É claro que o novo
coronavírus não tem absolutamente nada em comum com as pestes da Idade Média.
São coisas completamente diferentes e, além disso, a peste bubônica do passado
foi muito mais letal do que este que é uma família de vírus que causam
infecções respiratórias, enquanto a peste bubônica é provocada pela bactéria Yersinia pestis e pode se disseminar
pelo contato com pulgas infectadas, conforme mencionei ao início deste artigo.
Entretanto, o atual avanço do mal através do mundo, faz-me pensar nos horrores
dos povos medievais, tal como vimos numa das obras-primas do cineasta sueco
Ingmar Bergman, o filme “O Sétimo Selo”.
A Morte no filme "O Sétimo Selo", dirigido por Ingmar Bergman.
O encontro de Bolsonaro com Trump na Flórida
Até dia 13 deste corrente março de 2020, parece-me que não tínhamos nos conscientizado da dura realidade. O próprio
presidente brasileiro, antes de viajar para os Estados Unidos na semana
passada, declarava pela televisão que a epidemia (ainda não estava sendo
tratada como pandemia embora já o fosse) não era tão séria como a mídia vinha
alardeando, e ele queria fazer crer que, em outras palavras, o novo coronavírus
não seria muito mais do que "uma gripezinha". Um dos membros da comitiva, Fábio
Waingarten, secretário de Comunicação da Presidência da República, e que
aparece em fotos ao lado de Bolsonaro e entre o presidente Trump e o vice-presidente
dos Estados Unidos, testou positivo para o coronavírus. Dois outros integrantes
da comitiva de Jair Bolsonaro e que viajaram no mesmo avião presidencial,
tiveram confirmação no sábado 14 de março, de estarem também contaminados.
Fábio Waingarten entre Trump e Bolsonaro.
Fábio Waingarten entre Trump e Bolsonaro.
Fábio Waingarten (à direita) ao lado de Trump.
É claro que ante
tamanha evidência o presidente Bolsonaro mudou o seu discurso, que é o que ele
costuma fazer com grande frequência nos mais diversos assuntos ou temas. A
propósito, para esse presidente, dizer e desdizer é a coisa mais natural do
mundo. Um dos seus filhos também disse, depois desdisse, mais tarde voltou a
dizer para depois desdizer verdades e mentiras sobre a saúde do pai.
Bolsonaro diz e desdiz (agora protegendo-se com uma máscara)
De todo esse imbróglio,
o Estadão de 13 do corrente esclareceu: “Mesmo com o primeiro resultado do
exame de coronavírus tendo dado negativo, o presidente Jair Bolsonaro vai
repetir o teste no início da semana que vem. Ele também deverá ficar mais
alguns dias em isolamento no Palácio da Alvorada. A medida será necessária pelo
tempo que o presidente passou no avião e ao lado do secretário da Comunicação,
Fabio Wanjgarten, diagnosticado com a doença nesta quinta-feira (12). O
cardiologista Leandro Echenique afirmou que o presidente deverá ficar mais um
tempo em isolamento. ‘Ele segue de quarentena até o começo da próxima semana no
Palácio da Alvorada. Precisa ficar isolado pelo menos sete dias depois do
contato’, disse ele”.
Acrescente-se que
o presidente Trump, que afirmava peremptoriamente que não faria exames para
detectar contaminação pelo coronavírus, resolveu mudar de ideia. É lógico, porque
o contrário disso seria ignorância demasiada.
Impressões de Dione Mara Souto da Rosa e Rubens
Faria Gonçalves
Pelo menos todo
esse quiproquó serviu para alertar aos brasileiros de que a situação é séria e
requer que todos cumpramos os protocolos de procedimentos. O primeiro exemplo em minha família veio de minha sobrinha, a advogada Dione Mara Souto da Rosa, que deveria vir hoje, domingo
dia 15 de março, acompanhada da filha e do genro, para assistirmos a uma
habitual “sessão de cinema” no nosso home
theater. Perguntou-me ela através de e-mail: “Olá, Padrinho. Tudo bem? Você
acha que tudo bem mesmo irmos domingo à sua casa? Com toda essa questão da
pandemia não sei se é oportuno. Acho que também devemos evitar beijos e
toques de mãos. Tenho feito um cumprimento à moda oriental unindo as mãos para
dar ‘oi’. O afeto é o mesmo, mas é preciso seguir as prevenções. O que
você pensa?”.
Penso que minha
sobrinha está agindo conforme a situação requer. Aqui em casa passamos a evitar
contatos sociais e locais com aglomeração de pessoas, tais como cinemas,
reuniões e situações similares.
Meu amigo Rubens
Faria Gonçalves também escreveu hoje e publicou em seu mural do Facebook as
seguintes palavras: “Sobre o coronavírus, mesmo que ele possa provocar apenas
uma gripezinha de fácil cura para os mais jovens, estes também correm o risco
de ser propagadores do vírus e, assim, contaminar um idoso ou qualquer outra
pessoa mais vulnerável, provocando consequências muito sérias e, em certos
casos, até mesmo a morte. Portanto, é responsabilidade e obrigação de TODOS
seguir as recomendações básicas divulgadas pelas autoridades médicas e outras
credenciadas em higiene e saneamento, seja para não adoecer seriamente, seja
para não se tornar um propagador do vírus. Mas SEM PÂNICO. Pânico só irá atrapalhar
a administração e resolução do problema tanto no plano individual quanto
coletivamente.”.
O
fato é que o mundo acaba de mudar radicalmente. Vivemos um novo tempo de novos
perigos, responsabilidades e ações. Cabe-nos, por ora, estarmos atentos às recomendações
básicas que nos estão sendo apresentadas pelas autoridades sanitárias... e, ainda assim, irmos navegando por
caminhos ameaçadores e imprevisíveis.
O tempora! O mores!
-o-
P.S.
Os nefastos acontecimentos com a
saúde pública mundial ampliam-se com a vertiginosa velocidade de uma grande
avalanche. A cada dia muda a face do planeta e impõe-se uma nova ordem mundial que
nenhum cidadão pode ignorar... Nenhum cidadão, muito menos um presidente da
República. Por isso, vejo-me compelido neste dia 17 de março de 2020 a
acrescentar este post scriptum ao meu
artigo. Abaixo, a transcrição de notícias de ontem no Estadão:
ORIENTADO
A FICAR EM ISOLAMENTO, BOLSONARO CUMPRIMENTA APOIADORES EM MANIFESTAÇÃO (O Estadão).
“Brasília - Orientado a ficar em isolamento até refazer testes para o
coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro passou de carro ao lado de
manifestantes no ato pró-governo deste domingo, na Esplanada dos Ministérios e,
na volta, foi ao encontro de apoiadores no Palácio do Planalto.
Ele cumprimentou com a mão e tirou selfies com manifestantes que se
aglomeraram em uma grade de proteção diante do Palácio do Planalto. Os
apoiadores de Bolsonaro gritavam contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e
o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, pediram o fechamento do
Congresso Nacional e apoio à ditadura.
Na sede do governo, Bolsonaro desceu a rampa para cumprimentar os
manifestantes. A participação dele no ato foi transmitida desde o início pelo
Facebook.
Os manifestantes gritavam "Fora Maia" e um deles chegou a
pedir que o presidente fechasse o Congresso Nacional. "Estamos juntos,
presidente, fecha o Congresso", gritou um apoiador.
"Não é um movimento contra nada, é a favor do Brasil", disse
Bolsonaro para câmera do celular. "Juntos podemos mudar o Brasil. Acredito
nessa terra maravilhosa que Deus me deu", continuou.
No início, Bolsonaro acenou para os manifestantes do alto da rampa do
Planalto. Em seguida, desceu e se aproximou. Primeiro, manteve distância, mas
em seguida se aproximou e passou a tocar os manifestantes com a mão. Ele ainda
pegava o celular das pessoas para fazer selfies. Em alguns momentos, chegou a
colar o rosto ao de apoiadores para fazer fotos”.
Irresponsabilidade
Irresponsabilidade
Irresponsabilidade
Irresponsabilidade
Além de todas essas afrontas e desprezo às orientações do seu próprio
governo, os jornais noticiaram ontem: “Sobe para 15 número de pessoas [da
comitiva presidencial durante o vôo, na semana passada, dos Estados Unidos ao
Brasil] que encontraram Bolsonaro e estão com o novo coronavírus”.
O próprio presidente corre ainda
o risco de contaminar-se e, pior, de estimular a contaminação ao declarar que o
coronavírus não é tão perigoso quanto propaga a mídia. Nunca se viu tamanha
irresponsabilidade. Que diferença das atitudes tomadas pelos chefes de governo
ao redor do mundo inteiro nesta nefasta pandemia.
Devo ainda acrescentar que manifestações
pedindo a queda dos demais Poderes da República (Legislativo e Judiciário) e
incitação à ditadura são crimes de lesa-pátria. Ao que parece ninguém sabe
disso, nem mesmo o próprio presidente.
-o-