Wilson Barbosa Martins
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Comendador Francisco
Souto Neto
Os 100 anos de Wilson Barbosa Martins
Francisco Souto Neto
À esquerda, minha tia-avó Antônia
(Ica) e à direita minha bisavó Tereza (Mana) Barbosa Martins. Entre ambas, a
minha trisavó Marcelina Barbosa Marques Martins. Sentada, Zuleica, filha de
Ica. Foto da década de 20 do século XX. Foto do livro "Origem Histórica e Bravura dos Barbosas", 2ª edição (1986) de Ledir Marques Pedrosa.
Meu primo Wilson
Barbosa Martins, nascido em Campo Grande, MS, em 21 de junho de 1917, é
advogado e político. Hoje, 21 de junho de 2017, ele está completando 100 anos
de idade. Wilson foi senador da República, deputado federal, prefeito de Campo
Grande e governador do Estado de Mato Grosso do Sul.
Wilson Barbosa Martins
Wilson Barbosa Martins em selo comemorativo.
Wilson Barbosa Martins em foto de Marcelo Victor.
Filiado à UDN,
foi eleito deputado federal pelo Estado de Mato Grosso uno. Quando do advento
do bipartidarismo no Brasil, aderiu ao MDB, que ajudou a fundar. Reeleito em
1966, foi cassado pela ditadura militar com base no Ato Institucional nº 5 de 7
de fevereiro de 1969. Foi presidente da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil,
secção Mato Grosso do Sul.
Wilson Barbosa Martins em 1939, na sua formatura em Direito
pela Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo.
Retornou à
política elegendo-se governador de Mato Grosso do Sul em 1982. Antes do fim do
mandato desincompatibilizou-se para disputar em 1986 a uma vaga no Senado da
República. Foi eleito e deixou o governo para Ramez Tabet, seu vice. Em 1994
disputou novamente o Governo do Estado e se elegeu no 1º turno.
Wilson casou-se
com sua prima Nelly Barbosa Martins. Tanto Wilson quanto Nelly eram primos da
minha mãe Edith Barbosa Souto, um parentesco de raízes fortes e profundas.
Nelly era filha do médico Vespasiano Barbosa Martins, de quem, obviamente,
Wilson era genro. Antes de me referir mais especificamente sobre Wilson, valem
algumas palavras a respeito de seu sogro Vespasiano.
Vespasiano Barbosa
Martins
Vespasiano
Barbosa Martins (1889 – 1965) foi médico e político. Intendente uma vez e
prefeito de Campo Grande por três vezes, governador revolucionário e senador
por dois mandatos. Tio Vespasiano, como o chamávamos, era irmão de minha bisavó
materna. Formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Casou-se com
Celina Baïs Martins. Partiu para a Europa, aperfeiçoou-se em Paris e Berlim e
participou de conferências na Itália.
Vespasiano Barbosa Martins
Em setembro de
1918 a Gripe Espanhola chegou ao Brasil e espalhou-se rapidamente por todo o
território nacional. Essa gripe foi uma pandemia do vírus influenza que se
espalhou por quase todo o mundo, tão letal quanto as pestes da Idade Média, e
estima-se que tenha vitimado entre 40 e 50 milhões de pessoas no planeta, nos
anos de 1918 e 1919.
Minha mãe foi
atingida pela gripe aos 7 anos, em 1919, e seu pai (meu avô materno) também.
Este sucumbiu à doença. Minha mãe recebeu a atenção desvelada de Tio
Vespasiano, seu tio-avô, que lhe dava assistência duas vezes ao dia. O sono
desse médico era todo fragmentado enquanto a “peste” perdurou em Campo Grande,
e ele dormia por volta de apenas quatro a cinco horas diariamente. Minha mãe
era loura, e quando menina seus cabelos eram de um amarelo muito claro, quase
branco, comum às crianças de origem germânica. Ela lembrava-se desse período e
contava que quando o tio entrava no seu quarto, ele lhe pergunta: “Como está
hoje a minha querida ‘alemoazinha’?”, o que ela, criança, detestava. Conseguiu salvar muitos pacientes, dentre ele
minha mãe. Não fosse isso, eu não existiria.
Conheci Tio
Vespasiano em 1953, aos 9 anos, em sua
casa em Campo Grande. Ele nos recebeu festivamente, deitado na rede
armada na ampla varanda de seu palacete que se situava em meio a um alto
arvoredo, no centro da cidade. Eu, ainda menino, percebia que ele era um homem
importante.
Mais tarde vim a saber que ele foi o prefeito de Campo Grande na época da Revolução de 1932.
Uniu-se ao Estado de São Paulo durante a Revolução Constitucionalista contra o
governo de Getúlio Vargas. Vespasiano deu apoio ao general Klinger, então
comandante do Exército Brasileiro estabelecido em Campo Grande, e que mandaria
suas tropas em auxílio aos paulistas. Foi quando houve a primeira cisão do
estado de Mato Grosso, sendo criado o estado de Maracajú. Foi quando Tio
Vespasiano assumiu a administração do governo do novo Estado, apoiado pelo
governo de São Paulo. Ao fim da Revolução, ele exilou-se primeiro na Argentina,
depois no Paraguai. De volta do exílio,
foi nomeado prefeito de Campo Grande em 1934 e no ano seguinte eleito para o
seu primeiro mandato como senador da República.
Busto em bronze de Vespasiano Barbosa Martins.
O atentado contra
Vespasiano
Na época em que
era senador, em 1936 Vespasiano Martins foi vítima de um atentado que o feriu
gravemente e ao senador João Vilas Boas. O crime foi encomendado por Mário Correia
da Costa, então governador de Mato Grosso. Vespasiano foi atingido por três
tiros, um no braço esquerdo, um no ombro direito e o outro na coxa. Ele e seu
companheiro do senado sobreviveram.
Foi mais uma vez
prefeito de Campo Grande em 1941, em 1945 fundou a UDN em Mato Grosso e foi
eleito senador mais uma vez. Graças a seus esforços, sua ideia da criação de um
novo estado ao sul de Mato Grosso frutificaram e tomaram corpo na década de 70.
Em 1977, no governo Ernesto Geisel, foi criado o estado de Mato Grosso do Sul,
do qual seu genro Wilson foi governador por duas vezes, conforme relatei
anteriormente.
No século XXI, Vespasiano Barbosa Martins torna-se nome de
comenda.
Voltemos a Wilson
Barbosa Martins
Em novembro de
1964, nas minhas férias no Banco onde trabalhava, resolvi ir conhecer Brasília,
que tinha sido fundada há apenas quatro anos. Viajei de ônibus... uma viagem
extremamente longa, mas inteiramente sobre asfalto, o que era coisa rara no
interior do Brasil.
Hospedei-me num
hotelzinho de madeira na Asa Norte e no dia seguinte fui almoçar com os tios da
minha mãe, Valério e Nadir Barbosa Martins. Tio Valério era médico do Congresso
Nacional e Tia Nadir era soprano. Ela cantara em óperas quando mais jovem. Após o almoço, meu tio levou-me para conhecer
alguns pontos turísticos da capital. Naquele tempo era permitido entrar no
Palácio da Alvorada e passear pelos seus jardins dos fundos.
À noite jantei
com os primos Wilson e Nelly, quando ele era deputado federal. Conheci então a
linda filha do casal, uma moça adolescente um pouco mais jovem do que eu, que
pegou seu violão e cantou “Guantanamera”.
Não tirei fotografias do nosso jantar, porque minha câmera fotográfica
não era dotada de flash, e fotografias não ficavam visíveis se fossem tiradas à
noite.
Abaixo, doze fotografias
tiradas por mim e por minha tia num passeio pelas atrações de Brasília quando a
cidade tinha apenas quatro anos. Era o mês de novembro de 1964, portanto, há
quase 53 anos. São fotos com mais de meio século, daí estarem descoradas.
Perspectiva da Esplanada dos Ministérios com Eixo Monumental (estação
rodoviária) em primeiro plano e, ao fundo, o Congresso Nacional. À direita, a
catedral. Foto Francisco Souto Neto em 1964.
Dr. Valério Barbosa Martins e Nadir Barbosa Martins,
tios-avós de Francisco Souto Neto.
A catedral de Brasília em obras. Novembro de 1964.
Francisco Souto Neto na rampa que leva ao teto do Congresso
Nacional. Novembro de 1964.
O Museu Juscelino Kubitschek atrás de Francisco Souto Neto.
Francisco Souto Neto sentado numa Barcelona Chair no Palácio
da Alvorada. Atrás, refletida no espelho, a chamada “parede de ouro”. À
direita, ao fundo, tapeçaria de Di Cavalcanti. Novembro de 1964.
Francisco Souto Neto ao lado da capelinha do Palácio da
Alvorada.
Francisco Souto Neto conversa com um guarda ao lado da
piscina atrás do Palácio da Alvorada. Novembro de 1964.
Passeio de Francisco Souto Neto pelos jardins particulares ao
fundo do Palácio da Alvorada. Por incrível que pareça, em novembro de 1964 era
possível andar por dentro do referido palácio e passear pelos jardins que ficam
na parte dos fundos.
Por trás do Palácio da Alvorada, finalmente Francisco Souto
Neto encontra um local que era proibido ultrapassar. Novembro de 1964.
Era exatamente a hora em que o presidente descia a rampa do
Palácio do Planalto. Era proibido tirar fotos ali, mas de dentro do carro meu
tio-avô me disse: “Tire a foto rapidamente, que desta distância ninguém
perceberá”. Na aflição de fotografar depressa, quase ficou “cortada” a imagem
do presidente Marechal Castello Branco. Entretanto, nem com o auxílio de uma
lupa seria possível identificá-lo nesta foto, ao lado de três outros homens.
Depois disso,
revi Wilson e Nelly somente em 15 de março de 1983, quando ele tomou posse pela
primeira vez como governador de Mato Grosso do Sul.
Margarita Sansone noticia em sua coluna Zoom da Gazeta do
Povo.
Cartaz de Wilson Barbosa Martins na sua campanha ao governo
do Estado.
Edith Barbosa Souto e Francisco Souto Neto em casa, na sala
da biblioteca, com o cartaz de Wilson Martins entre a porta e os livros.
Edith Barbosa Souto e Francisco Souto Neto em casa, na véspera
da viagem a Campo Grande, com um cartaz comemorando a eleição do primo.
Viajei a Campo Grande na companhia de minha mãe, e quem nos
levou à solenidade de posse foi minha prima Terezinha Barbosa Macedo.
Fotografei e filmei em Super8 mudo a entrada de Wilson Barbosa Martins no
palácio do governo, seguido pela esposa Nelly, e da mãe de Wilson, a querida
Tia Adelaide (Adelaide de Souza Barbosa, minha tia-avó).
Minha mãe Edith Barbosa Souto e minha prima Terezinha Barbosa
Macedo (segurando minha filmadora Super8) no Centro Cívico de Campo Grande à
espera da hora da cerimônia de posse de Wilson Barbosa Martins como governador
de Mato Grosso do Sul.
Eu e minha mãe à espera da chegada do novo governador Wilson
Barbosa Martins.
Chega o novo governador Wilson Barbosa Martins, que ouve o
Hino Nacional.
A entrada da primeira-dama Nelly Barbosa Martins.
Em seguida, entre Tia Adelaide, mãe do novo governador,
acompanhada de um dos netos.
Wilson e Nelly reúnem alguns convidados em casa, ao redor da
piscina: minha mãe entre Naíde e Tia Adelaide, seguidas de Ruth, Nêmesis, Tia
Nadir e a primeira-dama Nelly Barbosa Martins.
Naquele tempo em
que poucas pessoas fotografavam, e raríssimas filmavam em Super8, meu filme
poderá interessar à História de Mato Grosso do Sul e pode ser visto neste link:
O irmão de
Wilson, Plínio Barbosa Martins, também fez carreira política e foi, igualmente,
prefeito de Campo Grande e deputado federal.
Abaixo, algumas fotos de quando Wilson foi deputado federal
ou senador da República. Não estão datadas, por isso não dá para situá-las nos
anos corretos.
Em
Brasília, o senador Wilson Barbosa Martins, governador de São Paulo Franco
Montoro, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.
Em
Brasília: Dante de Oliveira, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Wilson Barbosa
Martins.
Em
Brasília: Ulysses Guimarães e Wilson Barbosa Martins.
Em
Campo Grande, comemorando sua eleição para governador.
Wilson
Barbosa Martins reflexivo.
Wilson recentemente e
hoje
É interessante
notar que tudo quanto se publicou e ainda se publica sobre o político Wilson
Barbosa Martins, é só para enaltecer a sua vida pública... um político de boa
cepa, raríssimo nos dias atuais.
Eu me
correspondi com Nelly durante muitos anos e guardo algumas das suas cartas
manuscritas. Ela era escritora e publicou vários livros muito interessantes,
que mantenho em minha biblioteca. Era também uma sensível artista plástica.
Suas naturezas mortas eram pintadas com rara sensibilidade. Ela acompanhava a
minha coluna Expressão & Arte em jornais e revistas que eu lhe enviava
ocasionalmente. Entusiasmada com meu interesse pela arte, disse-me que ir me
enviar de presente um de seus quadros. Não houve tempo, porque logo depois
recebi o comunicado de seu falecimento aos 80 anos. Era o ano de 2003.
Wilson Barbosa Martins e Nelly sentados, por volta dos seus
80 anos de idade, com os familiares.
Wilson e Nelly numa das suas fazendas, ambos por volta dos 80
anos, vendo o rio passar.
Até há
aproximadamente dois ou três anos, por volta dos 97 anos de idade, Wilson
Barbosa Martins estava muito bem, comparecia a lançamentos de livros em noites
de autógrafos e a inaugurações de exposições. Minhas primas Terezinha Barbosa
Macedo e Ledir Marques Ferreira deixaram-me sempre inteirado das atividades do
nosso primo. Infelizmente ele sofreu um AVC e tem vivido rodeado pelos
familiares, mas já não recebe visitas, exceto dos mais íntimos. Na internet há
muitas notícias falsas sobre seu falecimento nos anos de 2006, 2009, 2012,
2016... é um absurdo e um desrespeito que os autores não retirem de circulação
essas notícias inverídicas.
Na semana
passada, dia 13, minha prima Terezinha enviou-me um artigo do Blog do Dante Filho, no qual o escritor
estampou o artigo denominado “Wilson Barbosa Martins”. Dante Filho inicia seu
artigo com um texto delicado e sensível, cujas palavras transcrevo:
“No próximo dia 21, o ex-governador
Wilson Barbosa Martins completa 100 anos de vida. Há muito tempo não o vejo.
Notícias que me passam aqui e acolá dizem que ele está em paz, num estado
semelhante ao do nirvana, num mundo exclusivo, sem dor, prazer, tristeza ou
alegria, sem consciência plena do mundo real. Independentemente do que seja,
acho que Wilson Barbosa Martins está integrado com a natureza, vivendo o máximo
da benevolência que a vida permite, ausente da pequenez cotidiana, integrado ao
cosmo spinoziano, como se diria. O que resta àqueles que o conheceram e
vivenciaram bons momentos com esse notável político de nosso Estado é a
memória, essa amiga mendaz dos que conseguem selecionar fatos para amoldá-los
às suas interpretações. É o que farei aqui.”
Aqui do Paraná envio meu abraço ao
querido primo neste dia que marca os 100 anos do seu nascimento, a ele que teve
uma vida admirável e realizou exemplarmente sua missão de desenvolvimento e
humanismo em prol do povo do Estado que sempre amou. Sei que ele não terá como
saber destas minhas palavras. Além disso, infelizmente Tia Adelaide, minha
prima Nelly e sua filha Celina já não estão mais entre nós. Mas seus demais familiares
e descendentes continuam e continuarão através do tempo.
É uma pena que tudo
passe tão depressa como um flash. Bem escreveu o dramaturgo e poeta espanhol do
século XVII Calderón de la Barca (1600 – 1681):
¿Qué es la
vida? Un frenesí. ¿Qué es la vida? Una ilusión, una sombra, una ficción; y el
mayor bien es pequeño; que toda la vida es sueño, y los sueños, sueños son.
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